Nassif diz que prisão de Aécio
será choque de realidade para o PSDB
"Se não há motivos para manter presa Andrea
Neves, existem motivos sólidos para a prisão de Aécio Neves. Solto, ele ficará
articulando com colegas do Senado e com o Ministro Gilmar Mendes maneiras de
impedir as investigações", diz o jornalista Luis Nassif, editor do jornal
GGN; "Sua provável prisão finalmente trará o PSDB para a realidade
política, constatando a impossibilidade total de bancar uma organização
presidida por Temer. Mais relevante: quebra o elo da possível parceria com o
Judiciário e fecha a porta para o que parecia ser a saída planejada do
impeachment"
por Luis Nassif, no jornal GGN para Brasil 247 –
Sociedade e Crise entre Poderes
No Novo Testamento (Atos 9), quando Saulo (depois chamado
Paulo) cai de seu cavalo na estrada para a cidade de Damasco e recebe a visita do próprio Jesus, se
convertendo ao cristianismo.
Assim como na economia, todo processo político
caótico tem momentos de corte, uma espécie de fundo do poço, no qual há duas
possibilidades:
Na primeira possibilidade, todos os grupos
majoritários se sentirem perdedores. Aí se começa a abrir o espaço para o
diálogo; ou
Na segunda possibilidade novas rodadas
radicalizantes, e movimentos oportunistas ou de esperneio dos grupos que serão
expelidos do poder.
Há sinais no ar, tênues embora, de que possa se
estar entrando na primeira alternativa enfatizo que há sinais tênues
ainda.
Ainda se está a quilômetros de distância de um
referencial mínimo, que aponte os novos rumos. Mas o ciclo da subversão
constitucional aparentemente começa a se esgotar.
Nesse período terrível, aconteceu de tudo, com
externalidades negativas em todos os setores, novos poderosos montando uma
caçada ideológica no serviço público, procuradores desvairados entrando com
ações contra escolas e reuniões políticas, movimentos de ultradireita saindo
das profundezas e investindo contra avanços civilizatórios e a quase consumação
do mais execrável pacto político da história: o que permitiria a uma
organização criminosa apossar-se do estado brasileiro e livrar-se da justiça em
troca de reformas radicais enfiadas goela abaixo da opinião pública.
Parecia que todos os filtros de uma sociedade
civilizada haviam sido desativados, até os básicos, o olhar crítico sobre os
puxa-sacos, a desconfiança contra os exibicionistas, o pudor em tratar com
governantes notoriamente corruptos.
A própria lava jato se tornou um
centro escandaloso de vaidade e oportunismo, com procuradores se comportando
como blogueiros teens (na expressão feliz de Nina Lemos), aproveitando a
visibilidade dada pelo Ministério Público Federal para surfar no universo
rentável das celebridades.
Figuras que deveriam estar atrás das grades, como
Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e o próprio Temer, e seus
seguidores, como Laerte Rímoli, Elsinho Mouco, o submundo jornalístico que se
manteve à tona graças a Eduardo Cunha, Aécio Neves, Michel Temer (https://goo.gl/E8Hsf3) comportavam-se como os
conquistadores imbatíveis, como piratas do Caribe em cima dos destroços da constituição.
As delações da JBS foram como uma bomba de nêutron,
desmontando toda a armação política-midiática erigida nos últimos anos, o
discurso pseudo-moralista que derrubou uma presidente eleita e caiu a ficha de
parte do golpe, da inviabilidade de um pacto político com uma organização
criminosa para promover o desmonte das redes de proteção social brasileiras.
A delação da JBS se abateu sobre o procurador geral
da república Rodrigo Janot como a luz que derrubou Paulo do cavalo, a caminho de
Damasco, e lhe mostrou o rumo. Em uma tacada só, exibiu o amadorismo
exibicionista da lava jato e suas fixações, reassumiu o protagonismo da
operação, a ponto de deixar o procurador publico Dallagnoll com síndrome de
abstinência, passando a opinar até sobre o caso JBS para não perder espaço para
o chefe da PGR Janot.
Nos últimos dias, o portal da PGR divulgou o
questionamento de leis de municípios que vetaram material sobre ideologia de
gêneros nas escolas, a criação de cotas para negros nos concursos do MPF, a
PFDC (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão) encaminha pedido de
informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para o Itamaraty, sobre a
inconstitucionalidade de leis que proíbem discussões sobre gênero em escola.
Os próximos capítulos permitem um pouco de fé nos
novos tempos:
Momento 1 – o desembarque do PSDB
Se não há motivos para manter presa Andrea Neves,
existem motivos sólidos para a prisão de Aécio Neves. Solto, ele ficará
articulando com colegas do senado e com o ministro Gilmar Mendes maneiras de
impedir as investigações.
Além disso, a prisão terá um simbolismo especial.
Como era possível a uma sociedade que se pretendia
civilizada conviver com a exposição pública de Aécio, flanando sobre a justiça,
mandando adversários para a cadeia – como o episódio do jornalista Jorge Carone
-, com investigações paralisadas sobre aliados, sob suspeita de tráfico de
cocaína? Como seria a democracia brasileira com a falta de limites de Aécio e
seus amigos?
Sua provável prisão finalmente trará o PSDB para a
realidade política, constatando a impossibilidade total de bancar uma
organização presidida por Temer. Mais relevante: quebra o elo da possível
parceria com o judiciário e fecha a porta para o que parecia ser a saída
planejada do impeachment.
Ao se inviabilizar politicamente, paradoxalmente, o
PSDB se habilita para um passo mais maduro, em busca de entendimento. O duro é
localizar no partido alguma liderança que, mesmo de longe, tenha a dimensão de
um Mário Covas ou Franco Montoro.
De sobra, interrompe a articulação do chanceler
Aloysio Salles com o governo Donald Trump nos EUA, de abrir brechas para a
invasão da Venezuela. A ideia fixa de Aloysio – criticando Maduro diariamente,
como se não houvesse outro tema no Itamarty - não é apenas falta de imaginação
e conhecimento para outros temas diplomáticos: cumpre o roteiro do guru José
Serra. Em vez da tradição diplomática de bom senso brasileira, a buscar uma
solução para um país que se desmancha, o papel de gendarme da volta do grande
cacete norte-americano.
Aloysio e Serra se valem da perda total de
substância ideológica do PSDB, da ausência de pensadores internos que conduzam com
clareza o partido , para montar suas jogadas pessoais com o Grande Irmão do
norte (EUA). São os últimos vagidos de políticos que perderam a dimensão de
país.
Momento 2 - A denúncia de Michel Temer
Mal empossado presidente, Michel Temer levou para
dentro do governo seus quatro operadores particulares: José Yunes, Sandro
Mabel, José Felipelli e Rodrigo Loures.
A maneira como foi bajulado pelos grupos de mídia
se constitui em um dos episódios mais vergonhosos da história do jornalismo,
cujo ápice foi o programa exibido na rede Bandeirantes Roda Viva, com o
presidente fora da lei.
Poucos imaginavam seu nível de mediocridade e de
falta de noção. E aí Deus mostrou, pelo menos uma vez, que ainda é brasileiro.
Criou-se tal desorganização institucional com o golpe, que um político mais
habilidoso e ousado – como o próprio Aécio - poderia ter conduzido o país ao
estado de exceção amplo e se perpetuado no poder. Felizmente, se entregou a
Temer a responsabilidade do pós-golpe.
A denúncia próxima da PGR (Janot) contra Temer
repõe nos eixos um mínimo de dignidade na política. Hoje em dia, é visível em
qualquer cidadão, mesmo o menos politizado ou o que não da a mínima para a
politica, o sentimento de vergonha de ver o país governado por uma pessoa da
dimensão e do caráter de Temer e sua turma.
Para se acreditar em um país sério só faltaria o
MPF investigar os negócios da FIFA-Globo, do IDP de Gilmar Mendes com o
Tribunal de Justiça da Bahia e o enriquecimento ilícito do senador José Serra.
Momento 3 - diretas já ou Constituinte
A entrevista de Joesley Batista à revista Época é
arrasadora. Com todas as ressalvas que se possa fazer, expõe de maneira ampla o
apodrecimento final do modelo político.
Com a saída do PSDB do jogo de apoio a Temer, resta
saber qual será o tamanho do centrão para resistir ao Supremo Tribunal Federal
e à denúncia contra Temer e ao clamor das ruas.
Entra-se, agora, nos momentos cruciais que
definirão a travessia para o novo ciclo político.
Há na algumas alternativas visíveis no horizonte de
Brasilia:
Eleições indiretas com Rodrigo Maia. Será uma
tentativa de dar continuidade à quadrilha de Temer, mas com alguns acenos para
setores de oposição. E eleições em 2018.
Eleições indiretas com Tasso Jereissatti. A delação
da JBS destruiu essa ponte.
Eleições diretas-já.
Qual a resultante das eleições diretas, não se
sabe. Entra-se em um daqueles momentos em que Deus joga dados e tudo pode
ocorrer.
Às forças democráticas resta o desafio de construir
uma alternativa política e econômica viável, os estudiosos trazendo seus
diagnósticos, as lideranças conversando e definindo os contornos de um novo
pacto. Ou então, o caos.
https://www.brasil247.com/pt/247/minas247/301688/Nassif-diz-que-pris%C3%A3o-de-A%C3%A9cio-ser%C3%A1-choque-de-realidade-para-o-PSDB.htm
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