As pesquisas e os trabalhos que levaram o Brasil a dominar completamente o
ciclo do urânio contaram com a liderança e o forte protagonismo de Othon
por Wadih Damous para Diario do Centro do Mundo – Sociedade e Tecnologia
Nuclear Brasileira
Foto: Othon
Pinheiro e Wadih Damous
Com a frase do título acima, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva,
genial cientista brasileiro e considerado o pai do nosso programa nuclear, se
despediu da conversa que tivemos na última segunda-feira, 13 de novembro,
quando me deu a honra de receber-me em sua casa no Rio de Janeiro.
Impressiona como o patriotismo e o compromisso com o
povo brasileiro desse senhor de 78 anos, condenado a 43 anos de prisão –
o que, na prática, é prisão perpétua -, permanece rijo e impermeável à
perseguição política que sofre. Cumprindo prisão domiciliar para tratamento de
um câncer de pele, os olhos de Othon brilham ao falar do projeto ao qual se dedica
atualmente.
Em parceria com Paulo Leone, tido pelo almirante como um dos mais brilhantes
engenheiros do país, Othon trabalha na criação de um hidroturbogerador,
equipamento capaz de operar em baixas quedas d’água, gerando energia barata em
áreas isoladas do Brasil.
Nascido na cidade de Sumidouro, no interior do estado do
Rio de Janeiro, e criado no “Brasil profundo”, como gosta de dizer, às margens
do Rio São Francisco, ele ingressou na Marinha aos 15 anos de idade.
Depois de atingir o oficialato como engenheiro naval, fez vários cursos de
pós-graduação em engenharia e em tecnologia nuclear no Brasil e no
exterior, o que o dotou de sólida formação acadêmica.
Depois de assinado o programa nuclear com a Alemanha, ele,
ao lado de uma equipe que, como faz questão de destacar, se notabilizava
pelo engajamento e por não temer desafios, trabalhou em inúmeros projetos,
dentre eles o que culminou na criação de um tipo revolucionário de centrífuga.
As pesquisas e os trabalhos que levaram o Brasil a dominar completamente o
ciclo do urânio contaram com a liderança e o forte protagonismo de Othon.
Acerca da possibilidade de o Brasil produzir artefatos
nucleares, ele é taxativo : “temos todas as condições de fabricá-los, mas
apenas como inibidores de concentração de forças que por ventura venham
a nos atacar. Mas só seria necessário se o cenário mudasse. No momento,
vivemos em paz no continente e uma eventual produção da bomba desequilibraria a
correlação de forças entre os países da região.”
Após a ida para a
reserva da Marinha, em 1994, Othon chegou a ser aprovado em primeiro lugar
entre os 16 doutores que concorreram para duas vagas na CNEN- Comissão Nacional
de Energia Nuclear. Como as regras do concurso, porém, não garantiam
ao primeiro colocado a nomeação e um amigo seu se dizia prejudicado, resolveu
apresentar sua desistência em favor do amigo.
Desde então se lançou no ramo da consultoria, realizando
inúmeros trabalhos técnicos nas áreas de energia, principalmente. Em dezembro
de 2004, é procurado pela empresa Andrade Gutierrez, que havia vencido a
licitação para a construção de Angra III, mas depois da escavação paralisara as
obras. No trabalho feito para a empresa, Othon deixou claro a importância para
o país da construção da usina do ponto de vista econômico e energético.
Mal podia imaginar
que ali começaria seu calvário, uma vez que esse trabalho seria criminalizado
pelo Ministério Público, mesmo que sua conclusão tenha se dado em dezembro de
2004. Como se sabe, o almirante só assumiu a presidência da Eletronuclear no
final de 2005. Nem a extensa folha de serviços prestados à nação nem as
evidências temporais foram capazes de impedir que o MP e o Judiciário
sucumbissem à pressão dos interesses internacionais contrariados pelo trabalho
de Othon. Ao contrário, o seu brilhantismo, reconhecido pelo juiz justiceiro
Marcelo Bretas do Rio de Janeiro, serviu de agravante da pena.
A partir daí o
estado de exceção em que vivemos não fez por menos. De uma dosimetria de pena
absurda de 43 anos a mentiras como a presença de telefone na cela (como justificativa
para a não concessão de habeas corpus) e a acusação de ter feito contato com
empresas quando estava em prisão domiciliar, tudo seguiria o roteiro voltado
para o aniquilamento moral do acusado.
Até ações flagrantemente ilegais, como a visita de
integrantes do MP à clínica na qual se tratava a esposa do almirante, que sofre
de Alzheimer, com o objetivo de, através da violação do segredo médico,
comprovar sua enfermidade, foram praticadas. Até que, ao ver a filha também
injustamente condenada a 14 anos, Othon, tomado pela revolta, tentou o
suicídio, na cela em que se encontrava, usando cadarços de uma bermuda. Acabou
salvo pela pronta intervenção de um oficial que a tudo assistira pelo circuito
interno de imagens.
Depois de mais de dois anos preso, Othon, que agora tem a
chance de cuidar de sua saúde e de sua esposa, continua trabalhando pelo
Brasil. E não resta dúvida de que ele tem lugar cativo na história. Já seus
algozes, como o justiceiro Marcelo Bretas, com todo seu deslumbramento por ser
adorado por globais, parlamentares da esquerda que a direita gosta, como
apontaria Brizola, e os procuradores fascistas do Ministério Público se
não forem condenados ao esquecimento pela posteridade – pois são figuras
medíocres-, serão lembrados como inimigos do povo brasileiro.
Wadih Damous – deputado federal e ex-presidente da OAB no
Rio de Janeiro
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/almirante-othon-gente-quer-e-felicidade-do-povo-por-wadih-damous/
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