Rede Globo era meio-campo na negociata para viabilizar a continuidade
dos milhões em propinas para os direitos de transmissão de emissoras, após a
troca da Presidência da CONMEBOL, entidade de futebol na América do Sul
Foto: Reprodução GGN
No terceiro
dia de audiências do julgamento "FIFAgate" no Tribunal Federal do
Brooklyn, em Nova York, o jornalista que vem acompanhando o caso e transmitindo
ao vivo pelo Twitter, Ken Bensinger, do BuzzFeedNews, narrou que o esquema de
propina da Globo com os cartolas para a tramissão dos campeonatos da
Libertadores e Sul-Americana estavam sendo negociados "para muito além de
2022".
Bensinger
ironizou: "Em um comunicado na terça-feira, a Globo disse que não 'faz ou
tolera pagamentos de propinas'. Mas hoje, Burzaco disse que a TV Globo pagou
parte dos US$ 15 milhões de suborno para os direitos 2026 e 2030 da Copa do
Mundo".
A informação
foi dada na tarde desta quarta-feira (15) por Alejandro Burzaco, empresário
argentino da Torneos y Competencias (ex TyC) e, após se entregar, uma das
maiores testemunhas de acusação dos investigadores.
Ele arrolou
a Globo, até então mencionada apenas indiretamente, e também a Televisa, a
Media Pro, a Fill Play, a Traffic e a Fox Sports. E, ainda, narrou encontros do
então diretor da Globo Esporte, Marcelo Campos Pinto, com cartolas do esquema
(Julio Humberto Grondona, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero) para negociar
as propinas.
Nesta
quarta, o repórter do BuzzFeedNews seguiu transmitindo trechos dos depoimentos
dados no Tribunal Federal do Brooklyn pelo Twitter. Como grande parte das
acusações se tratavam de figuras argentinas do futebol, muitas mensagens foram
publicadas em espanhol pelo jornalista.
O jornal
GGN noticiou que a
TV Globo, Televisa e Torneos [y Competencias] concordaram em pagar US$ 15
milhões (ver em https://jornalggn.com.br/noticia/julgamento-caso-fifa-diretor-da-globo-esporte-fechou-propinas-pessoalmente)
ao vice-presidente da FIFA na época,
Grondona, pelos direitos de transmissão das Copas do Mundo 20126 a 2030 no
Brasil e na América Latina.
Mas em
outro dos pontos altos das acusações dos depoentes, Ken Bensinger trouxe outro
contra a rede Globo: o esquema de corrupção da FIFA e emissores de televisão da
América não tinha data para acabar.
Durante
um jantar no Hotel Cipriani, no Rio de Janeiro, em 2014, o empresário argentino
e o dirigente esportivo paraguaio, Juan Ángel Napout, ex-presidente da
CONMEBOL, e outros empresários do futebol tratavam de "estender para a
Globo e Torneos [y Competencias] os contratos da Libertadores e da Copa
Sul-Americana muito além de 2022", narrou o jornalista, sobre o depoimento
de Burzaco.
"E,
claro, os subornos. Sempre os subornos", completou:
No
terceiro dia de audiências, quando os polêmicos depoimentos do argentino ainda
seguiam pela agenda do Tribunal de Nova York, o repórter trouxe detalhes sobre
o acordo pela Globo, Televisa e Torneos de pagamento de US$ 15 milhões a Julio
Humberto Grondona, que foi vice-presidente Executivo da FIFA.
O
dirigente argentino que também ocupava a Presidência Financeira da FIFA recebeu
as quantias pelo banco Julius Baer, na Suíça. "As três companhias se
encontraram em Zurique, durante um encontro do comitê executivo da FIFA.
Burzaco não informou os nomes dos dois funcionários da Televisa e da TV Globo
presentes. Ele chamou as empresas de "parceiras". A propina para
Grondona foi paga de uma só vez, disse Burzaco, e os US$ 15 milhões entraram
por uma 'sub-conta' no banco Julius Baer da Suiça", publicou.
No artigo (post),
Bensinger conta que em junho, um ex-banqueiro do Julius Baer e do Credit
Suisse, Jorge Arzuaga, se declarou culpado de ajudar Burzaco a esconder
pagamentos a Grondona, usando subcontas nos bancos @
Os
detalhes dessas negociatas foram contados pelo argentino Burzaco ontem no
Tribunal:
"Quando
[Eugenio] Figueredo assumiu a Presidência da CONMEBOL [em 2013], os
funcionários decidiram que os subornos da Libertadores e Sul-Americana não
seriam mais retirados dos preços dos contratos dos torneios, mas que deveriam
aparecer já com os valores somados, disse Burzaco. Para isso, a T&T vendeu
seus direitos à sua subsidiária T&T holandesa abaixo do preço do mercado e,
em seguida, recebeu o pagamento da TV Globo pelos direitos de transmissão dos
torneios. Uma parcela desse dinheiro foi usada para pagar propinas aos
funcionários da CONMEBOL, disse Burzaco".
Burzaco
conta que, em outra ocasião, segundo o repórter, em setembro de 2014, o
argentino se encontrou com Napout, Luis Bedoya, então vicepresidente de la
CONMEBOL, e Hernan Lopez e Carlos Martinez, da Fox Sports, em um restaurante
grego em Miami para discutir a extensão dos direitos da Libertadores e
Sul-Americana e quanto custaria.
"Mas
uma das preocupações, disse Burzaco, foi a questão dos pagamentos da TV Globo
pelos direitos de T&T holandesa, que era a tática para gerar a propina.
Todos naquele almoço sabiam que parte do financiamento para os subornos veio
desse acordo", seguiu contando o repórter.
Daquela
negociata, milhões de propinas foram distribuídos aos envolvidos:
Nos
vocabulários para o esquema de propinas, chamavam o então vice-presidente
Executivo e Presidente Financeiro da FIFA, Grondona, de "El Papa" e
Ricardo Teixeira como "Brasileiro". Nas publicações, o jornalista do
BuzzFeedNews afirmou que o depoimento de Burzaco seguiria hoje, no quarto dia
de julgamento do FIFAgate.
https://jornalggn.com.br/noticia/globo-negociou-propina-com-cartolas-para-muito-alem-de-2022-diz-testemunha
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