No livro
“É Golpe, Sim! – Terceiro turno sem urnas, o ataque aos direitos sociais e o
entreguismo”, elaborado em meados de 2016, enfatizávamos o caráter
essencialmente golpista do impeachment
por Adão Villaverde (*) para Sul21
– Sociedade e Expoliações do Golpe 2016
Figura do site Sul21
Convidado
de honra de credenciadas entidades portuguesas recebi o chamamento para lançar,
nas cidades de Lisboa e Coimbra, a publicação “Resistência, Utopia e Construção
da Hegemonia” e apresentar o capítulo 3 do livro “É Golpe, Sim!”, que aborda
especificamente a “Crítica ao Entreguismo e ao Modelo Tecnologicamente
Dependente”.
Como
professor, deputado e testemunha desta era que nos foi dado viver, sinto-me, de
certa maneira, compensado pela repercussão da narrativa que atrai interesses na
Europa, agora em Portugal, como já ocorreu na França e na Espanha. Comprova-se,
assim, que o conteúdo do nosso registro não resultou em uma caracterização
gratuita, para consumo interno partidário.
Mas,
acima da recompensa ao esforço pessoal, está a importância da dimensão que esta
exposição alcançará através da reverberação acadêmica do seminário “Brasil: a
questão democrática e a soberania”, programado para o dia 4 de abril em Lisboa
e dia 5 em Coimbra, com o objetivo “dar ciência aos graves retrocessos
ocorridos com o Estado Democrático de Direito em solo brasileiro”.
No
convite assinado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Lisboa, pelo
Coletivo Andorinha e pela Associação Pró Vítimas, estes organizadores do
seminário lembram que “vários movimentos sociais denunciam o ataque à
democracia no Brasil”. O comitê organizador frisa: “A presença do deputado Adão
Villaverde, com sua reconhecida trajetória e larga experiência, certamente vai
contribuir para elucidar os participantes deste evento”. E consideram a
participação deste parlamentar gaúcho como de “grande interesse para
portugueses e para os brasileiros residentes em Portugal”.
No livro
“É Golpe, Sim! – Terceiro turno sem urnas, o ataque aos direitos sociais e o
entreguismo”, elaborado em meados de 2016, enfatizávamos o caráter
essencialmente golpista do impeachment de Dilma Rousseff que, naquela época,
era contestado com a falácia difundida, junto à opinião publicada, pela aliança
oposicionista parlamentar, empresarial e judicial, e sobretudo midiática, que
condenava a presidenta legitima pelos supostos equívocos enlaçados em certo
“conjunto da obra’, do pecado das pedaladas fiscais à invocadas irregularidades
em suplementações orçamentárias. Sem crime algum de responsabilidade, portanto.
Contra a
versão de falsa legalidade das classes dominantes, era imprescindível afirmar e
reafirmar que houve um golpe. O livro foi uma denúncia desta brutalidade, mas
também oferecia subsídios para a necessária reflexão para o enfrentamento da
situação de ilegitimidade e exceção que passamos a viver.
Na realidade,
foi um golpe sem armas, prática já usada na América Latina por evidente
inspiração externa e que foi articulado no país por essa aliança de forças
conservadoras e as elites da Casa Grande.
Não
tínhamos dúvida que o golpe foi contra Dilma, o PT, a esquerda, o resultado das
urnas, a democracia e os projetos sociais que vinham mudando o país e visava,
ao final, eliminar Lula politicamente, impedindo sua reeleição. Evidentemente
só assim, sem a legitimidade do voto, a direita e o conservadorismo imaginavam
construir um atalho para o poder.
Nosso
livro serviu, desde o início, como um registro histórico obrigatório acerca do
atentado ao Estado Democrático de Direito e a violação da Carta Magna do país
que consubstanciaram a usurpação do poder por um interino ilegítimo, cercado de
asseclas investigados por corrupção.
Mas é,
entretanto, o seu terceiro capítulo, com a condenação do entreguismo, que tem
obtido maior repercussão fora do país, origem dos mercados internacionais que
globalizam o neoliberalismo.
O capitulo
investe em ressaltar os danos da dependência tecnológica do país (notabilizada
principalmente com a extinção do Ministério de Ciência e Tecnologia) como uma
evidência da lógica de diminuição da soberania e da entrega da exploração de
nossas enormes riquezas naturais, como a Amazônia e o pré- sal, aos
exploradores transnacionais.
Já
“Resistência, Utopia e Construção da Hegemonia”, lançada na Feira do Livro de
Porto Alegre no final do ano passado, é uma publicação composta por um texto
principal que desenvolve a ideia do título e mais 15 artigos nossos publicados
em jornais no final de 2016 e ao longo de 2017 e que fazem uma reflexão sobre
os acontecimentos da era neoliberal que se seguiu ao golpe contra a democracia,
e repercute nas políticas aplicadas no Rio Grande do Sul e em sua capital,
Porto Alegre.
Na
contracapa, o sociólogo gaúcho Rodrigo Azevedo instiga uma definição essencial:
“Seguir adiante passa por nos amarrarmos aos mastros da institucionalidade
democrática, pela recomposição dos espaços de participação popular e pela
revalorização da política parlamentar feita com ética e com compromisso com os
de baixo. Esta é a trajetória, e este o compromisso do Deputado Adão
Villaverde, que nos brinda aqui com importantes reflexões sobre a conjuntura e os
desafios para o novo período que se abre, no Brasil e no mundo”.
No
prefácio o professor José Vicente Tavares propõe uma ponderação elogiosa, que
me honra muito : “A lição de Adão Villaverde, retomando os clássicos da ação
histórica, é nos estimular a exercitar a Política e a pensar a Política. Nesse
passo, readquirimos nossa capacidade coletiva de imaginar um futuro de
solidariedade, de respeito à diferença e de busca da equidade para as novas
gerações de brasileiros e de brasileiras. Adão Villaverde nos convida ao
trabalho, árduo e necessário, de “reinventar nossos sonhos de História e de
Humanidade”.
Sim, não
podemos jamais desistir das utopias que nos fazem avançar, apesar dos
obstáculos e dos tropeços na nossa jornada contra o ódio, a barbárie e o fascismo.
(*) Professor, engenheiro,
deputado estadual (PT/RS)
https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2018/03/narrativa-sobre-o-golpe-de-2016-a-dependencia-tecnologica-e-o-entreguismo-atraem-interesse-europeu-por-adao-villaverde/
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