Neste
quadro político piorado com o locaute, o governo zerou a credibilidade e ficou
completamente refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo
por Tereza Cruvinel para
JB –
Sociedade e Locaute x Golpistas 2018
Foto da internet
O que o Brasil viveu nestes cinco dias não será esquecido. Os
custos ainda são inestimáveis mas nenhuma outra greve foi tão onerosa, afetou
tão largamente a população e tantos setores da economia. Imagens como as de
hectolitros de leite derramado ou de frangos se devorando calaram fundo. Greve
ou locaute, agora o governo foi a nocaute. No rescaldo político, vem aí o fogo
alto do Congresso contra Temer, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, e sua
política de preços. Como atravessar os sete meses que restam? Esta é a
questão.
Ao
desarticular o movimento com emprego das Forças Armadas o governo evitou o
colapso em marcha mas os erros anteriores, que permitiram a visita do caos, não
serão perdoados. Nem pelos aliados, nem pelo tal mercado, para não falar no
povo. Por isso ainda são incertos os desdobramentos.
Na terça-feira
o Congresso fará uma Comissão Geral, sessão especial bicameral para
debater a política de preços, a greve/locaute e a conduta temerária
do governo. Podia discutir os próprios erros, pois também contribuiu.
Foram convidados Parente, o ministro da Minas e Energia, Moreira Franco e o
presidente do Cade, Alexandre Barreto. Será um espetáculo do gênero “como
chutar um cachorro morto”. Dizer que é oportunismo eleitoral não altera a
questão. Navio furado, ratos em fuga. Como fizeram com Dilma, para dar a
cadeira a Temer.
O
deputado Miro Teixeira diz que se o Congresso fosse sério faria o impeachment
de Temer. Colocou a ordem pública em risco e o remédio final, a ação militar,
embora necessária, foi arriscada: poderiam ter ocorrido confrontos e levante de
outros setores criando uma convulsão. Mas todo mundo acha tarde para uma
eleição indireta, faltando 120 dias para o pleito. A oposição vai
aposentando o “Fora Temer”: nenhum pretexto deve ser dado a quem chama os
militares, agora tão assanhados, em todos os apertos. O mais importante é
garantir as eleições. Mas a terceira denúncia da PGR está no radar.
A grande
base que fez o impeachment já estava rota, mas agora ruíram também as relações
de cúpula. A trombada de Temer com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi
feia. Querendo ser o pai da solução, acusa o governo, o
pré-candidato pelo DEM aprovou a emenda zerando o PIS-Cofins sobre o diesel.
Viu-se depois que o governo tinha razão, o custo fiscal seria de R$ 12 bilhões,
não de R$ 3,5 bilhões. Maia criticou duramente o emprego das tropas (“coisa de
governo fraco”) e condenou a política de preços de Parente.
O governo
precisa agora do presidente do Senado, Eunício Oliveira, para derrubar a emenda
do PIS-Cofins no projeto de reoneração. O Senado porá preço: “a política de
preços da Petrobras é que está errada. Temos que abrir a planilha”, diz
Eunício, que é do MDB do B. Não apoia Henrique Meirelles, mas Ciro Gomes.
Pedro
Parente é um queridinho dos tucanos mas uma corrente se alinha com o senador
Cássio Cunha Lima: “Chegaremos ao tempo em que o presidente da Petrobras é quem
nomeará o presidente da República? Parece que caminhamos pra isso. Se o senhor
Pedro Parente não se demite, que seja demitido, pelo bem do Brasil.” Na
sexta-feira boatos de que Parente se demitiria agitaram o mercado. Ele e outros
no governo negaram mas o Congresso quer sua cabeça.
A
esquerda ficou inicialmente aturdida pela eclosão de um movimento autonomista,
de onde ecoava a pregação de intervenção militar. Depois, percebendo a
fragmentação, a esquerda se achegou. O MST levou comida às rodovias, as
centrais sindicais declararam apoio, bem como as frentes Brasil Popular e Povo
Sem Medo, o PT e o PSOL. O PT ainda foi à forra verbal, comparando os
aumentos de Lula/Dilma com os de Temer/Parente. Candidatos de centro se
calaram.
Neste
quadro político piorado, o governo zerou a credibilidade e ficou completamente
refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo do poço.
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica-2/noticias/2018/05/27/os-estertores/
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