Candidatos
ao Planalto concentram atenções e relegam escolha para o Legislativo ao segundo
plano. Apesar de ser disputada com menos importância, eleição dos novos
deputados e senadores é decisiva para o futuro presidente eleito e o país
por Deutsche Welle (DW) e Rede Brasil Atual – Sociedade e Importância do Congresso Nacional
Foto de Gustavo
Bezerra/PT na Câmara
Acompanhado da baixa visibilidade
das eleições para o Legislativo, Diap aponta ainda que taxa de renovação deve
ser a mais baixa desde 1990
Fernando Haddad
ou Jair Bolsonaro? Ciro Gomes e Geraldo Alckmin ainda vão conseguir
reagir? Ao acessar o noticiário brasileiro, o leitor ou telespectador pode ter
a impressão de estar em 1989, quando a eleição foi avulsa, apenas para
presidente. Com a disputa para o Planalto monopolizando
o noticiário, outra eleição vem recebendo menos importância do que
merece: a escolha dos 513 deputados da Câmara e de dois terços do Senado.
Em 2014, não foi diferente. Com um pleito
presidencial marcado por mais uma disputa entre PSDB e PT e a morte de um
candidato, o processo de escolha dos membros
do Congresso também foi relegado ao fundo do noticiário.
A partir de 2015, no entanto, os deputados e
senadores eleitos no ano anterior fizeram sentir sua importância. Em meio ao
enfraquecimento do Executivo, os membros do Congresso afastaram uma presidente,
arrancaram amplas concessões de outro em troca de proteção legal, aprovaram uma
extensa reforma sobre as relações
trabalhistas e criaram um novo fundo público de campanhas – duas
iniciativas rejeitadas pela maioria da população –, entre outras
pautas controversas.
"Embora
no Brasil o presidente da República seja mais forte do que é nos Estados
Unidos, nosso Congresso também tem muitos poderes", explica o sociólogo Sérgio
Abranches, que cunhou o termo "presidencialismo de coalizão" para
definir o complexo sistema brasileiro, em que os presidentes muitas vezes
acabam se tornando reféns dos humores do Legislativo. Em 2015, em meio a um
conflito com Dilma Rousseff sobre a renegociação de dívidas dos Estados, o
então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), resumiu a importância do
Parlamento: "A palavra final será do Congresso Nacional".
Mas mesmo
com tanto poder, o Congresso raramente recebe da população o mesmo acompanhamento
que a Presidência. Em janeiro, uma sondagem da empresa de pesquisas Ideia Big
Data apontou que 79% dos eleitores não se lembram dos candidatos nos quais
votaram para o Congresso em 2014.
Naquela
eleição, dos 513 deputados eleitos, 299 registravam pelo menos uma ocorrência
judicial contra si. Eles também estavam longe de representar a composição da
população: 80% eram homens brancos. Apenas 10% eram mulheres. Foi esse
Congresso que tentou aprovar projetos de anistia de caixa 2 e criou novos mecanismos
eleitorais que já estão reforçando a influência de caciques partidários nas
eleições e dificultando a possibilidade de renovação.
"Se
o Brasil – eu, você, imprensa, partidos, sociedade civil organizada –
transferisse 20% da atenção que dá aos candidatos presidenciais para a eleição
no Congresso Nacional, eu acredito que teríamos uma democracia mais forte,
instituições mais sólidas e um país melhor", afirmou o analista político
Lucas de Aragão, da consultoria Arko Advice.
Milhares
de candidatos
Em 2018,
8.953 candidatos se apresentam para as 567 vagas abertas no Congresso. Um
eleitor paulista, por exemplo, tem 1.686 opções para deputado federal. Nenhuma
pesquisa nacional contemplou como os eleitores vêm se posicionado em relação à
eleição da Câmara, mas algumas sondagens estaduais mostram que uma boa parte
tem demonstrado pouco interesse na disputa, em contraste com a disputa
presidencial. No Espírito Santo, uma sondagem no final de setembro apontou que
61% dos eleitores ainda não haviam definido em quem votar para deputado
federal. Em Goiás, eram 73% dos eleitores.
Neste
cenário, são os atuais membros do Congresso que largam com vantagem. Analistas
apontam que a taxa de renovação do Congresso deve ser baixa, mesmo que
pesquisas indiquem que a maioria da população aponte não se sentir representada
pela classe política.
Neste
pleito, 79% dos deputados e 32 senadores concorrem à reeleição. Se considerados
os deputados que se lançaram ao Senado e os senadores que fazem o caminho
inverso, 85% dos atuais parlamentares tentam conquistar votos para permanecer
no Congresso.
Baixa
renovação
Segundo o
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), com tantos nomes
disputando a reeleição, a taxa de
renovação da Câmara deve ser a mais baixa desde
1990. A estimativa é que somente entre 35% e 40% das vagas recebam novos
ocupantes. Em 2014, o índice foi de 43%. Entre os 32 senadores que concorrem à
reeleição, 26 aparecem bem posicionados nas pesquisas para conquistarem mais um
mandato – destes, 17 foram citados na Lava Jato.
Para
Antônio Augusto de Queiroz, analista do Diap, parlamentares em exercício largam
com uma ampla vantagem: com bases eleitorais consolidadas, cabos
eleitorais fidelizados, nome e número conhecidos, entre outros fatores. Com a
reforma eleitoral, os atuais parlamentares ainda obtiveram uma vantagem
adicional: o encurtamento do tempo de campanha, que caiu de 90 para 45 dias,
dificultando ainda mais a tarefa de candidatos novatos. Os veteranos também
passaram a concentrar o grosso dos recursos do novo fundo de campanhas.
Mesmo as
eventuais "novas caras" do Congresso devem ter um aspecto familiar.
Em 2014, 85% dos deputados de primeira viagem que tinham menos de 35 anos tinham parentesco com outros políticos.
Outros novatos incluíam membros de siglas nanicas, que incharam o número de
partidos no Congresso para 28 siglas, dificultando ainda mais a formação e
estabilidade de coalizões no Parlamento.
"Se
o presidente da República não tiver base parlamentar, ele não governa. Não
basta eleger o presidente da República. Se você não eleger um bom Congresso, o
presidente não vai conseguir fazer o que ele pretende", afirmou a
professora de direito constitucional Adriana Ancona de Faria, da PUC-SP.
Guia para
escolha do Congresso
Diante
desse quadro, algumas iniciativas tentam chamar a atenção para a "outra
eleição". Uma delas é a Um Novo Congresso, movimento apoiado por 30
entidades e ONGs. No seu texto de apresentação, o grupo aponta como, na sua
visão, o cenário chegou a esse ponto. "Nenhum dos atuais 513 deputados e
81 senadores foi enfiado goela abaixo de nenhum de nós. Ninguém foi obrigado a
escolher esse ou aquele candidato, essa ou aquela candidata. Gostemos ou não, o
atual Congresso Nacional é resultado exclusivo das nossas próprias
escolhas", diz o texto.
A
iniciativa disponibilizou um guia para que eleitores formem grupos e
"rodas de conversa" para discutirem suas escolhas para o Congresso.
Entre as sugestões, o movimento aponta que essas rodas podem elaborar listas
com opções de candidatos, eliminando aqueles que estão implicados com atos de
corrupção ou filiados a siglas nanicas sem qualquer programa para reduzir a
desigualdade social.
Outra
ferramenta é o Detector de Ficha de Político, um aplicativo para celular
criado pelo site Reclame Aqui, que permite que os usuários fotografem o rosto
do político em qualquer lugar – como folhetos – com o celular. O aplicativo,
então, identifica o político fotografado e revela imediatamente quais processos
de corrupção ou improbidade administrativa ele responde na Justiça.
"Só
o engajamento da cidadania será capaz de alterar esse quadro, escolhendo
pessoas com perfil e vocação republicanas e 'denunciando' os atuais que não
honraram suas propostas de campanha", aponta Antônio Augusto de Queiroz,
do Diap.
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/10/disputa-pela-presidencia-ofusca-eleicao-crucial-a-do-congresso
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