O capital financeiro internacional e nacional, bem como setores do
empresariado produtivo, já fecharam com Bolsonaro, no segundo turno. Boa parte
da mídia oligárquica também. O mal denominado "centro", na verdade
uma direita raivosa e golpista, ante a ameaça de desaparecimento político,
começa, da mesma maneira, a aderir, em parte, ao fascismo tupiniquim, tentando
sobreviver das migalhas políticas que poderiam obter, caso o Coiso e Mourão, o
Ariano, ganhem
por Marcelo
Zero* para 24/7 – Sociedade e Interferência dos EUA nas Eleições 2018 no
Brasil
Imagem
no 24/7
O crescimento do fascismo bolsonarista na reta
final, turbinado por uma avalanche de fake news disseminadas pela internet, não
chega a surpreender
Trata-se
de tática já antiga desenvolvida pelas agências americanas e britânicas de
inteligência, com o intuito de manipular opinião pública e influir em processos
políticos e eleições. Foi usada na Ucrânia, na "primavera árabe" e no
Brasil de 2013.
Há
ciência por trás dessa manipulação.
Alguns
acham que as eleições são vencidas ou perdidas apenas em debates rigorosamente
racionais, em torno de programas e propostas.
Não é bem
assim.
Na
realidade, como bem argumenta Drew Westen, professor de psicologia e
psiquiatria da Universidade de Emory, no seu livro "O Cérebro Político: O Papel
da Emoção na Decisão do Destino de uma Nação", os sentimentos
frequentemente são mais decisivos na definição do voto.
Westen
argumenta, com base nos recentes estudos da neurociência sobre o tema, que, ao
contrário do que dá a entender essa concepção, o cérebro humano toma decisões
fundamentado principalmente em emoções. O cérebro político em particular,
afirma Westen, é um cérebro emocional. Os eleitores fazem escolhas fortemente
baseados em suas percepções emocionais sobre partidos e candidatos. Análises
racionais e dados empíricos jogam, em geral, papel secundário nesse processo.
Aí é que
entra o grande poder de manipulação pela produção de informações de forte
conteúdo emocional e as fake news.
Os
documentos revelados por Edward Snowden comprovaram que os serviços de
inteligência dos EUA e do Reino Unido possuem unidades especializadas e
sofisticadas que se dedicam a manipular as informações que circulam na internet
e mudar os rumos da opinião pública.
Por
exemplo, a unidade do Joint Threat Research Intelligence Group do
Quartel-General de Comunicações do Governo (GCHQ), a agência de inteligência
britânica, tem como missão e escopo incluir o uso de "truques sujos"
para "destruir, negar, degradar e atrapalhar" os inimigos.
As
táticas básicas incluem injetar material falso na Internet para destruir a
reputação de alvos e manipular o discurso e o ativismo on-line. Assim, os
métodos incluem postar material na Internet e atribuí-lo falsamente a outra
pessoa, fingindo-se ser vítima do indivíduo cuja reputação está destinada a ser
destruída, e postar "informações negativas" em vários fóruns que
podem ser usados.
Conclusão
(1) injetar todo tipo de material
falso na internet para destruir a reputação de seus alvos; e (2) usar as
ciências sociais e outras técnicas psicossociais para manipular o discurso
on-line e o ativismo, com o intuito de gerar resultados que considerados
desejáveis.
Mas não
se trata de qualquer informação. Não. As informações são escolhidas para causar
grande impacto emocional; não para promover debates ou rebater informações
concretas.
Uma das técnicas mais usadas
tange à "manipulação de fotos e vídeos", que tem efeito emocional
forte e imediato e tendem a ser rapidamente "viralizadas". A vice
Manuela, por exemplo, tem sido alvo constante dessas manipulações. Também
Haddad tem sido vítima usual de declarações absolutamente falsas e de
manipulações de imagens e discursos.
A abjeta
manipulação de imagens de "mamadeiras eróticas", que estariam sendo
distribuídas pelo PT, é uma amostra de quão baixa pode ser a campanha de
"truques sujos" recomendada pelas agências de inteligência
norte-americanas e britânicas.
Muito
embora tais manipulações sejam muito baixas e, aos olhos de uma pessoal
racional, inverossímeis, elas têm grande e forte penetração no cérebro político
emocional de vastas camadas da população.
Nada é feito ao acaso. Antes de
serem produzidas e disseminadas, tais manipulações grosseiras são estudadas de
forma provocar o maior estrago possível. Elas são especificamente dirigidas a
grupos da internet que, por terem baixo grau de discernimento e forte
conservadorismo, tendem a se chocar e a acreditar nessas manipulações
grotescas.
Na
realidade, o que vem acontecendo hoje no Brasil revela um alto grau de
sofisticação manipulativa, o que exige treinamento e vultosas somas de
dinheiro. De onde vem tudo isso? Do capital nacional? Ou será que há recursos
financeiros, técnicos e logísticos vindos também do exterior?
É óbvio
que isso demandaria uma investigação séria, a qual, aparentemente, não acontecerá.
Só haverá investigação se alguém da esquerda postar alguma informação duvidosa.
O capital
financeiro internacional e nacional, bem como setores do empresariado
produtivo, já fecharam com Bolsonaro, no segundo turno. Boa parte da mídia
oligárquica também. O mal denominado "centro", na verdade uma direita
raivosa e golpista, ante a ameaça de desaparecimento político, começa, da mesma
maneira, a aderir, em parte, ao fascismo tupiniquim, tentando sobreviver das
migalhas políticas que poderiam obter, caso o Coiso e Mourão, o Ariano, ganhem.
Trata-se,
evidentemente, do suicídio definitivo da democracia brasileira e de uma aposta
no conflito, no confronto, no autoritarismo e no fascismo, o que levaria a
economia e a política brasileiras ao profundo agravamento de suas crises.
Contudo,
esse agravamento da crise político-institucional e econômica, que
inevitavelmente seria acarretado pela vitória do protofascista Bolsonaro,
poderá ser útil aos interesses daqueles que querem se apossar de recursos
estratégicos do país e de empresas brasileiras.
O caos e
a insegurança podem ser úteis, principalmente para quem está de fora. Vimos
isso muitas vezes no Oriente Médio. No limite, o golpe poderá ser aprofundado
por uma "solução de força", bancada pelo Judiciário e pelos
militares. Desse modo, seria aberta a porteira para retrocessos bem mais amplos
que os conseguidos por Temer. Retrocessos principalmente do ponto de vista da
soberania nacional.
Do ponto
de vista geoestratégico, o prometido alinhamento automático de Bolsonaro a
Trump, seria de grande interesse para os EUA na região. Como se sabe, a
prioridade estratégica atual dos EUA é o "grande jogo de poder contra
China e Rússia", entre outros. Bolsonaro, que já prometeu doar Alcântara
ao americanos e privatizar tudo, poderia ser a ponta de lança dos interesses
dos EUA na região, intervindo na Venezuela e se contrapondo aos objetivos
russos e chineses na América do Sul.
Por isso,
parece-nos óbvio que há um dedo, ou mãos inteiras, de agências de inteligência
estrangeiras, principalmente norte-americanas, na disputa eleitoral do Brasil.
O modus operandi exibido nessa reta final é idêntico ao utilizado em outros
países e demanda recursos técnicos e financeiros e um grau de sofisticação
manipulativa que a campanha de Bolsonaro não parece dispor.
A CIA e
outras agência estão aqui, atuando de forma extensa.
Cabe às
forças progressistas se contrapor, de forma coordenada, a esse processo
manipulativo. E a resposta não pode ser apenas contrapor racionalidade ao ódio
manipulativo. A resposta, para a disputa do cérebro político, tem de ser também
emocional.
O ódio
anti-PT, antiesquerda, antidemocracia, antidireitos, anti-igualdade etc., que
anima Bolsonaro e que foi criado pelo golpismo e sua mídia fake, tem desse ser
combatido pela projeção de sentimentos antagônicos, como esperança, amor,
solidariedade, alegria e felicidade.
Eles
projetam um passado de exclusão, violência e sofrimentos. Nós temos de projetar
um futuro de segurança e realizações.
Quanto à
campanha sórdida de difamação e manipulação, orientada de fora, o nosso lema
deve ser o mesmo de Adlai Stevenson, o grande político democrata dos EUA, que
propôs ao republicanos: "Vocês parem de falar mentiras sobre os Democratas
e eu pararei de falar a verdade sobre vocês".
O Coiso, Mourão,
o Ariano, e a "famiglia" Bolsonaro só falam aberrações chocantes,
devidamente comprovadas. Não são fake news. Assim, basta expô-los a sua própria
verdade. Derreterão como vampiros na luz do sol.
* Marcelo Zero
-
sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do
PT no Senado
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/marcelozero/371202/Tem-dedo-da-CIA-nas-elei%C3%A7%C3%B5es-do-Brasil.htm
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