Os Evangelhos são muito claros: Jesus morreu porque
confrontou o lucro do Templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres em
Israel , enfim, devido as questões econômicas e não teológicas como as elites gostam de pregar "mentiras" para a população...
por Alberto Maggi e Francisco Cornélio, no Brasil de
Fato e Outras Palavras – Sociedade e Mentiras sobre Jesus
Cruz (detalhe), Igreja do
Espírito Santo e de S. Alessandro Mártir, Arquidiocese de Portoviejo, Equador /
Arcabas (Jean-Marie Pirot)
Basta ler os Evangelhos para ver que as coisas são diferentes. Jesus
foi assassinado pelos interesses da casta sacerdotal no poder israelita da época de Cristo, aterrorizada
pelo medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a
riqueza acumulada às custas da fé das pessoas.
A morte
de Jesus não se deve apenas a um problema teológico, mas econômico. O Cristo
não era um perigo para a teologia (no judaísmo havia muitas correntes
espirituais que competiam entre si, mas que eram toleradas pelas autoridades),
mas para a economia. O crime pelo qual Jesus foi eliminado foi ter apresentado
um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um
Pai que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá.
Jesus
Cristo morreu pelos nossos pecados. Essa é a resposta que normalmente se dá
para aqueles que perguntam por que o Filho de Deus terminou seus dias na forma
mais infame para um judeu, o patíbulo da cruz, a morte dos amaldiçoados por
Deus (Gl 3,13).
Jesus
morreu pelos nossos pecados. Não só pelos nossos, mas também por aqueles homens
e mulheres que viveram antes dele e, portanto, não o conheceram e, enfim, por
toda a humanidade vindoura. Sendo assim, é inevitável que olhando para o
crucifixo, com aquele corpo que foi torturado, ferido, riscado de correntes e
coágulos de sangue expostos, aqueles pregos que perfuram a carne, aqueles
espinhos presos na cabeça de Jesus, qualquer um se sinta culpado … o Filho de
Deus acabou no patíbulo pelos nossos pecados! Corre-se o risco de sentimentos
de culpa infiltrarem-se como um tóxico nas profundezas da psiquê humana,
tornando-se irreversíveis, a ponto de condicionar permanentemente a existência
do indivíduo, como bem sabem psicólogos e psiquiatras, que não param de atender
pessoas religiosas devastadas por medos e distúrbios.
Na época em que Jesus era vivo, a
próspera economia do templo de Jerusalém, que o tornava o banco mais forte em
todo o Oriente Médio, era sustentada pelos impostos, ofertas e, acima de tudo,
pelos rituais para obter, mediante pagamento, o perdão de Deus. Era todo um
comércio de animais, de peles, de ofertas em dinheiro, frutos, grãos, tudo para
a “honra de Deus” e os bolsos dos sacerdotes, nunca saturados: “cães
vorazes: desconhecem a saciedade; são pastores sem entendimento; todos seguem
seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria” (Is 56,
11).
Quando os
escribas, a mais alta autoridade teológica no país, considerando o ensinamento
infalível da Lei, vêem Jesus perdoar os pecados a um paralítico, imediatamente
sentenciam: “Este homem está blasfemando!” (Mt 9,3). E os blasfemos
devem ser mortos imediatamente (Lv 24,11-14). A indignação dos escribas pode
parecer uma defesa da ortodoxia, mas na verdade, visa salvaguardar a economia.
Para receber o perdão dos pecados, de fato, o pecador tinha que ir ao templo e
oferecer aquilo que o tarifário das culpas prescrevia, de acordo com a
categoria do pecado, listando detalhadamente quantas cabras, galinhas, pombos
ou outras coisas se deveria oferecer em reparação pela ofensa ao Senhor. E
Jesus, pelo contrário, perdoa gratuitamente, sem convidar o perdoado a subir ao
templo para levar a sua oferta.
“Perdoai
e sereis perdoados” (Lc
6,37) é, de fato, o chocante anúncio de Jesus: apenas duas palavras que, no
entanto, ameaçaram desestabilizar toda a economia de Jerusalém. Para obter o
perdão de Deus, não havia mais necessidade de ir ao templo levando ofertas, nem
de submeter-se a ritos de purificação, nada disso. Não, bastava perdoar para
ser imediatamente perdoado…
O alarme
cresceu, os sumos sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus ficaram todos
inquietos, sentiram o chão afundar sob seus pés, até que, em uma reunião
dramática do Sinédrio, o mais alto órgão jurídico do país, o sumo sacerdote
Caifás tomou a decisão. “Jesus deve ser morto”, e não apenas ele, mas também
todos os discípulos porque não era perigoso apenas o Nazareno, mas a sua
doutrina, e enquanto houvesse apenas um seguidor capaz de propagá-la, as
autoridades não dormiriram tranquilas (“Se deixarmos ele continuar, todos
acreditarão nele … “, Jo 11,48). Para convencer o Sinédrio da urgência de
eliminar Jesus, Caifás não se referiu a temas teológicos, espirituais; não, o
sumo sacerdote conhecia bem os seus, então brutalmente pôs em jogo o que mais
estava em seu coração, o interesse: “Não compreendeis que é de vosso
interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?” (Jo
11,50).
Jesus não
morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas
pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que
interfira em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro:
vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro
inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre
consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os
homens completamente refratários à ação divina.
* Alberto
Maggi,
biblista italiano, frade da Ordem dos Servos de Maria, estudou nas Pontíficias
Faculdades Teológicas Marianum e Gregoriana de Roma e na Escola Bíblica e
Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversos livros, como A
loucura de Deus: o Cristo de João, Nossa Senhora dos heréticos
* * Francisco
Cornélio,
sacerdote e biblista brasileiro, é professor no curso de Teologia
da Faculdade Diocesana de Mossoró (RN). Fez seu bacharelado no Ateneo
Pontificio Regina Apostolorum, em Roma. Atualmente, está em Roma novamente,
para o doutorado no Angelicum (Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino),
onde fez seu mestrado
Edição: Tradução: Francisco Cornélio
https://www.brasildefato.com.br/2018/03/31/artigo-or-jesus-nao-morreu-pelos-nossos-pecados-e-sim-por-enfrentar-o-sistema/
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