2019: ditadura
explícita deixa de ser uma hipótese distante e remota no Brasil
por Renato Rovai no Brasil
24/7 – Sociedade e autoridades
brasileiras disputando o poder
Desde
antes do impeachment ilegal e canhestro aplicado pelo lava-jatismo, a mídia e
políticos oportunistas que escrevo isso quase como um mantra.
Um golpe
começa com um alvo e vai ampliando seus objetivos até engolir parte, inclusive,
dos que participaram da armação. Até mostrar aos ingênuos e mal intencionados
que eles foram usados de diferentes maneiras para que o arbítrio se
consolidasse.
Só para
ficar em dois exemplos de 1964, os jornais que defenderam o golpe militar,
depois foram censurados pelos ditadores. Carlos Lacerda, ex-governador da
Guanabara, que achou que seria o beneficiado imediato da queda de Jango foi
perseguido e acabou sofrendo um “acidente” que o levou a morte.
O golpe
16 não está sendo diferente. Ele, que era só para tirar a Dilma e levar o Brasil
a voltar a crescer, se tornou um monstro que já engoliu vários algozes da
ex-presidenta.
Só para
ficar em três exemplos, os tucanos foram dizimados na eleição de 18, Temer já
tem vários inquéritos nas costas e teve que passar uns dias na prisão e a Globo
que achava que ia ser dona do butim, atualmente recebe menos verba publicitária
do governo federal que Record e SBT.
Mas isso
não é o mais importante.
O que
mais chama a atenção é que os verdadeiros beneficiários do golpe parecem não
estar satisfeitos com o que conseguiram e querem muito mais.
Primeiro
é o Supremo, depois o Congresso
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal, mesmo quando acovardados e cúmplices da tragédia, nunca são preservados em regimes autoritários. E o episódio de ontem de guerra explícita entre Alexandre de Moraes e Dias Toffoli contra o lavajatismo e parte dos militares deixou isso claro.
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal, mesmo quando acovardados e cúmplices da tragédia, nunca são preservados em regimes autoritários. E o episódio de ontem de guerra explícita entre Alexandre de Moraes e Dias Toffoli contra o lavajatismo e parte dos militares deixou isso claro.
Ao que
tudo indica, como ontem já havia alertado em artigo para este blog (https://www.brasil247.com/pt/colunistas/renatorovai/390461/O-que-est%C3%A1-por-tr%C3%A1s-da-guerra-Antagonista-x-STF.htm),
o episódio da censura de reportagem de O Antagonista (repito o que disse ontem,
não consigo achar outra palavra que não seja censura para definir o que
ocorreu) não deveria ser analisado sem as suas circunstâncias.
O que
parece estar por trás é uma guerra entre o lava-jatismo e o Supremo, com
destaque especial para o seu presidente, Dias Toffoli, que é tratado como
inimigo pela turma de Curitiba.
Uma reportagem do Buzz Feed de
ontem, cuja fonte provavelmente foram os ministros Dias Toffoli, Alexandre de
Moraes ou alguém muito próximo a eles, revelou que a citação que levou à
matéria de Crusoé, “o amigo do amigo do meu pai” teria sido uma exigência dos
procuradores de Curitiba pra que Toffoli ficasse refém deles se porventura
viesse tentar algo a favor de Lula.
Ou seja,
olhar a floresta é sempre melhor do que ficar apenas focando na árvore.
Se for ao
menos meia verdade, já é um escândalo.
Junte-se
a isso a reação do general Paulo Chagas à operação de busca e apreensão na sua
casa e o pedido que seria protocolado hoje pela manhã – e foi adiado – de
impeachment dos ministros Moraes e Toffoli assinado pelos senadores Alessandro
Vieira (Cidadania-SE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Lasier Martins
(Podemos-RS), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Reguffe (sem partido-DF), e já se pode
dizer no mínimo que o episódio de ontem não foi apenas um caso de censura.
Guerra
nos porões do golpismo
O que
está acontecendo é uma guerra nos porões do golpismo. O grupo da Lava Jato que
opera também no Congresso e na mídia, com senadores como Randolfe Rodrigues e
veículos como O Antagonista, parece ter se juntado com parte das Forças Armadas
para combater Toffoli e o Supremo.
O
presidente do Supremo ao decidir reagir com seu mais novo escudeiro, Alexandre
de Moraes, foi ingênuo e partiu para a guerra jogando como se combatesse a
esquerda ou o PT. Se deu mal.
O outro
lado parecia já ter informações de que faltava apenas algo como a reportagem
publicada para que Toffoli mordesse a isca e pudesse ser pescado com a
solidariedade de muitos.
Se
Toffoli imaginava que mostraria força ao encarar a batalha, saiu-se bem menor e
fraco dela.
A Lava
Jato e os militares mostraram que ainda têm bala na agulha.
Nos
próximos dias o cerco pode se fechar contra o Supremo com o avanço desse pedido
de impeachment e mais uns (en)quadros de generais daqui e de acolá.
A
despeito de o Supremo ter participado do golpe contra Dilma e manter o
ex-presidente Lula preso de forma abjeta, sabendo que ele não cometeu o crime
pelo qual foi condenado, isso não é bom para o fiapo de democracia que restou
ao Brasil nos embates dos últimos três anos.
A
ditadura explícita é muito pior do que isso. E para ser explícita ela precisa
mudar ou fechar este Supremo para depois ir para cima do Congresso.
Os
autoritários não sabem governar com limites institucionais. Entre outras coisas
porque pretendem enfiar goela abaixo do povo medidas impopulares e ilegais.
O que
está em jogo não é apenas a censura a um veículo de comunicação de
especuladores, como tentei dizer ontem.
Esta
crise atual pode nos levar a afundar muito mais no poço que foi cavado por
alguns que hoje estão sendo engolidos por ele. É uma crise dentro da crise.
E neste
grave momento do país as esquerdas e o campo progressista se tornaram apenas
espectadores. Só estão conseguindo olhar e torcer, esperando que o pior não
aconteça. Não é culpa de ninguém. A situação é que é grave demais. E a política
se tornou um mero detalhe.
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/renatorovai/390621/Ditadura-expl%C3%ADcita-deixa-de-ser-uma-hip%C3%B3tese-distante-e-remota.htm
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