Moro sobrevive, mas foi só o
primeiro round
"A
ida do ministro Sergio Moro à CCJ do Senado hoje (18/jun) foi o primeiro round
de uma luta que pode estar longe de acabar", avlaia Helena Chagas, do
Jornalistas pela Democracia; para ela, Moro atacou a divulgação das mensagens
trocadas entre ele e membros da Lava Jato e "apostou na narrativa de que
se trata de uma trama", mas perdeu a calma em alguns momentos e deixou
lacunas em sua narrativa"
por Helena Chagas para Os Divergentes no portal
brasil 24/7 – Sociedade e Destruição da lava jato na Sociedade
Brasileira
A ida do
ministro Sergio Moro à CCJ do Senado hoje foi o primeiro round de uma luta que
pode estar longe de acabar. O ex-juiz da Lava Jato não saiu nocauteado. Ele
repetiu dezenas de vezes a palavra “sensacionalista” para se referir à
divulgação das conversas pelo The Intercept e apostou na narrativa de que se
trata de uma trama para acabar com a Lava Jato. Mas Moro caiu em provocações,
perdeu a calma em alguns momentos e deixou lacunas em sua narrativa.
As
intervenções da oposição, notadamente dos senadores Humberto Costa (PT-PE),
Fabiano Contarato (Rede-ES) e Angelo Coronel (PDS-BA), tiveram claramente dois
objetivos: tirar Moro do sério e levá-lo a se comprometer com afirmações que
poderão ser contestadas futuramente em novos vazamentos do The Intercept.
No
primeiro caso, os oposicionistas foram bem sucedidos diversas vezes. Moro deu
respostas atravessadas e chegou a confrontar senadores como Contarato, que
questionou sua imparcialidade no julgamentos de casos nos quais teve
papel de condução, como o do ex-presidente Lula. Embora o senador tenha
ressalvado não estar questionando a Lava Jato como um todo, o ministro reagiu
de forma agressiva: “O senhor defende então a anulação de tudo? Devolvermos o
dinheiro para o Renato Duque, o Paulo Roberto?”.
Mais
adiante, Moro disse ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) que ele estava
“fantasiando” e que deveria se informar melhor sobre uma suposta influência sua
na discussão da dosimetria das penas no TRF4. Teve uma altercação com Humberto
Costa mais adiante, quando fez críticas ao The Intercept, afirmando estar,
desde o domingo do primeiro vazamento, “esperando grandes revelações
bombásticas que não vieram”.
Num
comportamento que, para alguns senadores, beirou a arrogância, Moro citou por
diversas vezes um artigo de um autor americano sobre o assunto que teria como
título “O incrível escândalo que encolheu”.
O ex-juiz
da Lava Jato pode estar certo. Ou não. Nesse caso, ao decretar antecipadamente
o fim do caso The Intercept, pode ter pisado numa casca de banana que lhe foi
jogada no caminho. A respeito da conversa vazada em que recomendava não
melindrar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com uma investigação, disse
que esse caso não estava sequer na sua alçada – o que levou seu inquisidor,
Humberto Costa, a considerar a situação de estar tentando interferir nele mais
grave ainda. Irritado, Moro recusou-se, inclusive, a responder a segunda
intervenção de Costa.
Sergio
Moro também foi indagado sobre conversas com o TRF-4, que considerou
“fantasias”, e não confirmou nem negou a autenticidade das mensagens vazadas,
afirmando que elas “podem”ter sido adulteradas. Escapou dessa resposta ao dizer
que saiu do Telegram em 2017 e não tem mais os textos. Ao ser instado por
Angelo Coronel a autorizar que o próprio Telegram as divulgue, ou a pedir que o
procurador Deltan Dallagnol o faça, desconversou.
O que
ficou do depoimento de Moro – ou, ao menos, de suas primeiras quatro horas –
foi a sensação de que a crise da Vaza Jato não acabou.
https://www.brasil247.com/blog/moro-sobrevive-mas-foi-so-o-primeiro-round
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