O bispo
alemão disse que será preciso muita coragem por parte da igreja católica para
poder "caminhar ombro a ombro" com os leigos e discutir questões como
a ordenação sacerdotal, o celibato e o lugar das mulheres na Igreja
Engajar os leigos nas discussões sobre poder clerical, moralidade sexual da Igreja e estilo de vida dos padres não seria
fácil. Mas ele disse estar convencido que isso seria bem sucedido
por Christa Pongratz-Lippit, no La Croix
International e revista ihu
on-line – Sociedade e Abuso de Poder na Igreja Católica
Bispo
alemão afirma que o abuso de poder está no DNA da Igreja
Um dos
mais recentes bispos nomeados da Alemanha
levantou as sobrancelhas chamando por uma “nova teologia” como uma resposta urgente às revelações de abuso
de poder por parte do clero.
“Nós
ainda não percebemos plenamente que a crise da confiança está pesando sobre a
estrutura da Igreja com uma força absoluta”, alertou o bispo Heiner Wilmer,
SCI, em uma recente entrevista no jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Aos 58
anos, lidera a diocese de Hildesheim, no nordeste da Alemanha, apenas desde
setembro, mas essa não é a primeira vez que ele se torna manchete com suas
declarações sinceras.
Wilmer, que foi superior geral e
professor de uma ordem missionária mundial, conhecida como os Dehonianos (Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de
Jesus) antes de se tornar bispo, recebeu críticas com apenas três meses no seu
novo emprego quando ele disse à Kölner Stadt Anzeiger que o abuso de poder estava no DNA da Igreja.
“Eu contava
com as críticas, mas não que muitas pessoas ficariam estressadas”, admitiu na
sua última entrevista no Süddeutsche Zeitung, publicada em 12-06-2019.
“Minha
declaração (que foi em dezembro de 2018) acertou um nervo, causando mais dores
que eu imaginava. Mas eu mantenho o que disse”, disse o bispo.
A coragem para ouvir e mudar
O bispo
alemão disse que será preciso muita coragem por parte da igreja católica para
poder "caminhar ombro a ombro" com os leigos e discutir questões como
a ordenação sacerdotal, o celibato e o lugar das mulheres na Igreja.
Wilmer, que é padre há 32 anos, disse
estar "apaixonadamente" comprometido com o celibato. Mas ele
disse: "deve ser feito para brilhar mais radiantemente". A melhor
maneira de fazer isso, ele argumentou, era torná-lo voluntário, em vez de
obrigatório, como é hoje.
Ao mesmo
tempo, o bispo disse que é crucial que as mulheres sejam colocadas em posições de liderança na Igreja e recebam maiores
responsabilidades.
"Não
podemos mais simplesmente dizer que a questão da ordenação de mulheres foi
decidida de uma vez por todas, e ponto final", disse o bispo Wilmer.
Da mera sobrevivência ao despertar fascínio pelo
Evangelho
Disse também que isso é crucial
para a Igreja se tornar uma comunidade que levanta as pessoas. E ele falou que,
mais decisivamente para ele, que o Evangelho deve ser proclamado de uma forma
que fascine as pessoas.
“Nós
precisamos achar as brasas sob as cinzas para brilhar novamente, e começar com
os anseios das pessoas por segurança e paz. Nós devemos dar-lhes espaço para crescer, espaço para
desenvolver e espaço suficiente para respirar", disse ele.
Alertou
que quem está somente interessado na sobrevivência da Igreja “já está perdido”.
O mais recente bispo da Alemanha também
disse esperançosamente que o procedimento sinodal da conferência nacional dos
bispos começou.
Engajar os leigos nas discussões sobre poder clerical, moralidade sexual da Igreja e estilo de vida dos padres não seria
fácil. Mas ele disse estar convencido que isso seria bem sucedido.
A Igreja deve sair da moralização para
libertar as pessoas
Arcebispo Wilmer, que estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana
em Roma e tem doutorado em Teologia na Universidade de Freiburg, na sua nativa
Alemanha, argumentou que uma imagem excessivamente exaltada da Igreja foi uma
das razões que levaram à terrível extensão da violência sexualizada,
que agora vem à tona.
“Nós
estamos muito longe, interessados em polir a imagem da Igreja e falhamos
em ver o ser humano. Eu acho uma terrível verdade!”, ele disse.
O bispo
lamentou que no último século a Igreja “resvalou” na forma de proclamar o Evangelho, levando as
pessoas a ver simplesmente uma instituição centrada na moralidade sexual.
"Nós
permitimos que a Igreja se deteriorasse em uma instituição moral focada no que pode ou não acontecer debaixo dos
lençóis", disse ele, ao mesmo tempo em que enfatiza que o sexto mandamento não é o único mandamento.
Wilmer disse que a mensagem de Jesus Cristo “não foi
primordialmente moral”, mas objetivava libertar
e redimir os seres humanos.
“No Evangelho de São Mateus ele não fala ‘se vocês se juntarem, serão
a luz do mundo’ ou ‘se estiverem conforme as normas sexuais, vocês serão o sal da Terra’. Ele usou o indicativo e não o condicional ou
imperativo, e disse ‘Vocês são o sal da
Terra e a luz do Mundo
como vocês são’”, disse o
bispo.
Ele
destacou que Jesus tinha um incrível senso
de beleza.
“Ele viu
a fantástica beleza em um aleijado e faz ele sentir essa beleza e levantar sua
cabeça”.
Abuso de poder, tão antigo como o Evangelho,
precisa ser tratado teologicamente
Argumenta que a Igreja esqueceu
que os abusos de
poder são tão antigos quanto o
Evangelho, apontando muitos exemplos no Novo
Testamento, incluindo como os discípulos brigavam sobre quem seria o
primeiro entre eles.
Wilmer notou que a reação da Igreja à crise de abusos até agora foi aplicar
disciplina e o direito canônico, aumentando a prevenção, a comunicação e
trabalhando juntos com o judiciário e autoridades estatais.
“Isso tudo é bom e correto, mas nós ainda não alcançamos o enfrentamento fundamental do problema”, disse.
Na sua
visão, isso requer que a Igreja pergunte a si mesmo o que a crise de abuso de poder significa na
“forma como falamos sobre Deus, a Igreja e na forma como proclamamos o
Evangelho”.
Alegou
que silenciar os abusos sexuais
por parte do clero foi consequência de uma excessiva exaltação da sacralidade
da Igreja. Assim a violência sexual
foi vista como algo que suja a santidade da Igreja e foi acobertada.
“Nós
devemos descer para ver a Igreja
pecadora, mas também enfrentarmos o problema teologicamente”, disse ele.
Ele
concluiu advertindo que, se a Igreja não encontrar uma maneira de colocar essas
reformas em prática, ela se tornará marginal.
Tradução: Wagner Fernandes de Azevedo
*Heiner Wilmer da diocese de Hildesheim,
Alemanha, disse que o abuso de poder clerical está destruindo o
catolicismo.
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/590389-bispo-alemao-afirma-que-somente-uma-nova-teologia-pode-salvar-a-igreja
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