“No
campo, o discurso foi recebido como um passe livre para desmatar. Em novembro,
mês seguinte à vitória de Bolsonaro nas urnas, a derrubada na Amazônia aumentou
406% em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo cálculos da ONG Imazon,
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia”, relata o excelente repórter
Bernardo Esteves
por Ricardo Kotscho *, no Balaio do Kotscho e para
o Jornalistas pela Democracia – Sociedade e Meio Ambiente em Destruição no Brasil
Foto no Brasil 24/7
São
tantos escândalos, barbaridades e balbúrdias em série que só agora, no final do
mês de julho/2019, consegui ler a matéria “O Meio Ambiente como estorvo”, publicada na
revista Piauí de junho.
No melhor
estilo das grandes reportagens das falecidas revistas Realidade e Brasileiros,
o repórter Bernardo Esteves faz uma completa autópsia, passo a passo, da
destruição do Meio Ambiente, deflagrada pelo alucinado neonazifascista Ricardo
de Aquino Salles no ministério do mesmo nome.
Último
ministro a ser nomeado por Bolsonaro e o primeiro a colocar em prática o
projeto do governo para fazer do país uma terra arrasada, onde vale só a lei do
mais forte, Salles aparece pouco no noticiário porque a concorrência de insanos
é grande, mas ninguém melhor do que ele exerce o papel de exterminador do
futuro da nova ordem.
Ex-diretor
jurídico da Sociedade Rural Brasileira e fundador do movimento Endireita
Brasil, Salles é o homem certo no lugar certo para executar as promessas de
campanha de Bolsonaro: acabar com a fiscalização e as multas, liberar armas
para os agroboys, detonar as reservas florestais e fazer da Amazônia uma terra
de ninguém.
A
reportagem lembra que dez dias após a sua nomeação, Salles foi condenado por
improbidade administrativa durante sua gestão como secretário de Meio Ambiente
em São Paulo, no governo de Geraldo Alckmin, denunciado por beneficiar empresas
de mineração ao alterar os mapas e a minuta do decreto de zoneamento numa área
de proteção ambiental na Várzea do Rio Tietê.
Uma das
primeiras medidas de Salles foi cancelar a multa aplicada a Jair Bolsonaro pelo
fiscal do Ibama José Olímpio Augusto Morelli, quando Bolsonaro ainda era
deputado, por pescar em área da marinha protegida na baía de Angra dos Reis.
Morelli
foi sumariamente demitido, como centenas de outros servidores que cometiam o
crime de cumprir a lei.
As
lambanças do ministro estão por trás das dificuldades encontradas nas
negociações finais do Acordo Mercosul-União Européia, esta semana, no Japão,
como se poder constatar neste trecho da reportagem:
“No fim
de abril, uma associação de promotores de Justiça e procuradores que atuam nos
estados divulgou uma carta que enumerava medidas do governo Bolsonaro que lhes
pareciam enfraquecer o arcabouço jurídico de proteção ao meio ambiente. Na
mesma semana, 602 pesquisadores publicaram na revista Science um apelo para que
a União Européia condicionasse suas negociações comerciais com o Brasil à
redução do desmatamento, ao respeito aos direitos indígenas e à proteção
ambiental”.
Foi isso
que a primeira ministra alemã Angela Merkel cobrou de Bolsonaro, e levou o
general Augusto Heleno a mandá-la “procurar a sua turma”.
Bolsonaro
completou a grosseria ao dizer que o Brasil tinha lições a dar à Alemanha.
No final,
o capitão valente cedeu em tudo a Merkel e ao primeiro ministro francês
Emmanuel Macron para não voltar do Japão de mãos abanando.
Mas quem
garante que o governo brasileiro vai cumprir sua parte no acordo?
Se
depender de Ricardo Salles, que exonerou 21 dos 27 superintendentes regionais
do Ibama responsáveis pelo comando de fiscalização nos estados, o problema do
desmatamento será resolvido brevemente: não haverá mais florestas para
derrubar.
Vale a
pena ler as 11 páginas da alentada reportagem de Bernardo Esteves, que
entrevistou 58 pessoas e rodou o Brasil, para denunciar o completo
desmantelamento do plano interministerial lançado pelo governo Lula, em 2004,
que conseguiu reduzir em 84% a derrubada da cobertura florestal na Amazônia.
No
governo Temer, antes mesmo de Bolsonaro liberar a esquadrilha das moto-serras
da bancada ruralista, a taxa voltou a aumentar.
Entre
agosto de 2017 e julho de 2018 foram desmatados 7.900 quilômetros quadrados, o
maior índice anual dos últimos dez anos.
Antes de
assumir o ministério, Ricardo Salles nunca tinha ido à Amazônia. Em sua
primeira visita, posou para fotos ao lado de colheitadeiras numa plantação
ilegal de soja transgênica em terras indígenas.
Como o
piloto de um trator desembestado, o ministro segue à risca as ordens do capitão
que prometeu, no dia da sua eleição, em outubro, “tirar o Estado do cangote de
quem produz”, para “botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”.
“No
campo, o discurso foi recebido como um passe livre para desmatar. Em novembro,
mês seguinte à vitória de Bolsonaro nas urnas, a derrubada na Amazônia aumentou
406% em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo cálculos da ONG Imazon,
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia”, relata o excelente repórter
Bernardo Esteves, que eu não conhecia.
Dá para
imaginar o tamanho do estrago ambiental, se o capitão Jair Messias Bolsonaro
chegar ao final dos quatro anos de mandato.
Vida que
segue.
* Ricardo Kotscho
é
jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o
Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
Artigo publicado em 30 julho 2019
https://www.brasil247.com/blog/terra-arrasada-revista-piaui-denuncia-passo-a-passo-da-destruicao-do-meio-ambiente
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