Uma das hipóteses levantadas para explicar o óleo cru chegando sem parar
ao litoral do Nordeste é uma malsucedida transferência entre navios (
ship-to-ship). O monitoramento desse tipo de operação pelo Estado brasileiro,
em águas brasileiras, é tido como precário
por Hugo Souza no site Come
Ananás – Sociedade, Governo Federal e
Notícias Falsas na Imprensa
Imagem: Cosco
Um
navio-tanque cuja empresa controladora está sob sanção dos EUA, e que neste ano já passou por Venezuela e Singapura, está neste momento ancorado na baía
da Ilha Grande, em Angra dos Reis, segundo monitoramento do site Marine
Traffic. O governo brasileiro afirma que o óleo que ora
emporcalha o Nordeste brasileiro tem “assinatura” venezuelana. Bombonas com óleo e com inscrição de
Singapura foram encontradas no litoral do Nordeste em
meio ao desastre ambiental.
Bombona com óleo achada em
Alagoas.
Localização atual do Cosgrand
Lake, segundo o site Marine Traffic
O
Cosgrand Lake, que transporta óleo cru, tem bandeira do Panamá e é operado pela
Pan Cosmos, que é uma subsidiária integral da COSCO Shipping Tanker (Dalian),
companhia que no dia 25 de setembro de 2019 foi incluída pelos EUA num rol de
empresas e pessoas punidas por violarem punições unilaterais estabelecidas por
Washington. As punições impostas pelos EUA via Ordem Executiva 13846 aplicam-se
à COSCO Shipping Tanker (Dalian), outras empresas listadas e “e
a quaisquer entidades de sua propriedade”.
Segundo os EUA, todos os navios operados pelas
empresas punidas no fim de setembro desligaram seus transponders em algum
momento em 2019, visando, supostamente, desaparecer intencionalmente para o
monitoramento via satélite.
A Reuters informou que entre setembro e outubro 14
navios-tanques da Cosco navegaram com os transponders desligados
em águas internacionais. A revista På Kryss, a mais antiga
publicação nórdica especializada em navegação, diz que o Cosgrand Lake foi um deles,
navegando sem rastreamento no Atlântico Sul.
O governo brasileiro afirma que está investigando
30 navios suspeitos pelo vazamento. Estão “no radar” precisamente petroleiros
que em algum momento sumiram para os radares. Os nomes dos petroleiros
“suspeitos” não foram divulgados.
É numa filmagem feita precisamente em Singapura em
2013 que o Cosgrand Lake aparece aos 23 segundos do vídeo, inserido em reportagem sobre o
tema pelo site Come Ananás, que mostra uma colisão entre dois outros navios. Em
pelo menos dois sites há informação da época dando conta de que por pouco o
Cosgrand Lake não se envolveu no acidente.
Transferência de óleo entre navios poderia ter
causado vazamento no Nordeste
Após o
anúncio pelos EUA da punição à COSCO Shipping Tanker (Dalian), a Bloomberg
chamou atenção para o “limbo
geopolítico” em que os navios-tanques da empresa passavam a se
encontrar. Isso porque não ficou claro se o óleo já carregado nestes navios
poderiam ser entregues ou se teriam que ser transferidos no mar para
petroleiros que não foram punidos, por mangueiras de alta pressão. O método é
conhecido como transferência entre navios (ship-to-ship) considerado arriscado,
exigindo operação de equipe especializada.
Uma
das hipóteses levantadas para explicar o óleo chegando sem parar ao litoral do
Nordeste é uma malsucedida transferência ship-to-ship. O monitoramento desse
tipo de operação pelo Estado brasileiro, em águas brasileiras, é tido como
precário. O site Come
Ananás mostrou, na reportagem parte IV da Vaza Óleo, que há pelo
menos um acidente recente durante uma operação ship-to-ship no Brasil, e que
este acidente não foi notificado às autoridades brasileiras.
Outro
navio-tanque da COSCO Shipping Tanker (Dalian) que caiu no “limbo geopolítico”
no fim de setembro, quando passava perto pela costa do Nordeste, e vindo de
Singapura, é o Da Yuan Hu, que atualmente se encontra ancorado na costa norte
da América do Sul.
Último itinerário do petroleiro
Da Yuan Hu.
Pela
ordem: as manchas de óleo começaram a chegar às praias do Nordeste no final de
agosto, início de setembro/2019 – e continuam chegando, um mês e meio depois. A
punição americana à COSCO Shipping Tanker (Dalian) só aconteceu no dia 25 de
setembro de 2019.
Mesmo
antes da punição, porém, e como mostrou o site Come Ananás no primeiro capítulo da Vaza Óleo, as transferências de petróleo
ship-to-ship pela China triplicaram entre agosto e setembro, indicando
estratagema dos chineses precisamente para tentar evitar punições dos EUA por
transporte de petróleo de países punidos (Irã e Venezuela).
Em abril, o site especializado em transportes
marítimos Argus noticiou que a PDVSA determinou aos navios-tanques que vão
buscar petróleo na Venezuela que desligassem seus transponders.
O diretor
do Programa de Energia da China no Instituto de Estudos Energéticos de Oxford,
Michal Meidan, disse à Bloomberg que “é altamente provável que esses volumes
transferidos ship-to-ship e de óleo da Malásia sejam na verdade petróleo
iraniano ou venezuelano”.
Com medo de punições pode ter sido vazado o óleo no
Nordeste
Por
último, uma informação não menos importante: no dia 5 de agosto de 2019,
semanas antes das manchas de óleo cru começarem a dar na costa do Nordeste, os
EUA endureceram as sanções contra a Venezuela, o que ligou o alerta das
companhias de seguros de transporte marítimo.
Estas
companhias, espalhando certo pânico no mercado de “crude oil tankers”,
começaram a avisar as empresas que operam petroleiros que seus seguros subiriam
no telhado caso fossem pegas transportando óleo venezuelano. Isso porque a nova
rodada de sanções abrange inclusive pessoas físicas ou jurídicas que forneçam
“assistência material ou serviços de apoio” aos navios-tanques que sejam
flagrados e punidos pelos EUA.
No dia 7
de setembro de 2019, a associação internacional de seguradoras Shipowners Club
fez circular uma “orientação para conformidade com
sanções dos EUA” no qual afirma que “os membros são
aconselhados a garantir o cumprimento de todos os regimes de sanções
aplicáveis, sejam eles originários das Nações Unidas, União Europeia ou
unilateralmente por um único Estado”.
Outra
hipótese para explicar o desastre ambiental no Nordeste é o descarte de
petróleo sancionado, para evitar flagrantes.
Para ver
reportagem completa do caso “vazamento de róleo cru no nordeste”, acessar:
https://comeananas.com/petroleiro-singapura-nordeste/
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