“Quando a
gente olha para essas granjas de porcos, frangos ou mesmo de bovinos, estamos
falando de uma agricultura industrializada, fábricas de animais, que parecem
linhas de montagem. Então, com o sistema imunológico rebaixado e esse vírus que
atinge esses animais, o que acontece – segundo a pesquisa – é que ele contamina
o ambiente. Não é por acaso que nós usamos a expressão “com virulência” para
definir algo que se espalha de maneira extremamente rápida explica a professora
da USP Larissa Mies Bombardi
por redação da Rede Brasil Atual – Sociedade e Prováveis Causas
do Surgimento do Corona Vírus
Foto Gov.
Federal/Divulgação
Pesquisa avalia que morcegos
contaminados teriam inoculado vírus em porcos de granja na China. Confinamento
abaixa imunidade e favoreceu propagação do vírus
Há
conexões entre o modelo econômico mundial e da degradação ambiental com a pandemia de coronavírus, que já matou mais de 45 mil pessoas
em todo mundo. É o que aponta o pesquisador dos Estados Unidos, Rob Wallace, na
tese Big Farms Make Big Flu – em tradução
livre, Grandes Fazendas produzem Grandes Gripes.
A pesquisa tem abordagem diferente das que vêm
sendo produzidas, que tentam associar a origem do vírus causador da Covid-19 ao
mercado aberto de Wuhan, na China, em que são vendidos animais domésticos e
selvagens para alimentação humana, além de peixes, frutos do mar e suínos. Para
o pesquisador, o coronavírus estaria relacionado ao modelo de agropecurária industrializada que praticamente se
impôs no Brasil e no mundo.
Em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu
Cabañas, da Rádio Brasil Atual, na manhã desta quinta-feira (2), a
geógrafa e professora da Universidade de São Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi
resumiu o estudo. De acordo com a especialista em agrotóxicos, autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e
Conexões com a União Europeia, o argumento central da tese de Wallace é que, a
invasão das matas primárias no mundo, ou seja, áreas em que há uma sensível e
complexa rede de microorganismos, rompe barreiras que poderiam nos proteger de
alguns destes microorganismos eventualmente nocivos ao corpo humano .
A
hipótese que o estudo levanta é a de que o rompimento dessa proteção permitiu
com que os vírus atingissem os animais, nesse caso, os que estão em situação de
confinamento – como a criação de suínos e bovinos, por exemplo –, por terem um
sistema imunológico mais deprimido.
“Quando a gente olha para essas
granjas de porcos, frangos ou mesmo de bovinos, estamos falando de uma
agricultura industrializada, fábricas de animais, que parecem linhas de
montagem. Então, com o sistema imunológico rebaixado e esse vírus que atinge
esses animais, o que acontece – segundo a pesquisa – é que ele contamina o
ambiente. Não é por acaso que nós usamos a expressão “com virulência” para
definir algo que se espalha de maneira extremamente rápida explica a professora
da USP.
“O Rob
Wallace mostra é que, ao se espalhar tão rápido o vírus, não há tempo de se ter
respostas imunológicas, então temos esse descontrole, essa pandemia, que está
relacionada com a velocidade com que esses vírus se adaptaram a alguns animais
e sofreram uma mutação genética”, reforça.
Para
entender a relação do coronavírus com a China, onde
os primeiros casos da doença foram detectados, esse e outros pesquisadores têm
apontado para o criatório de porcos em ambientes considerados protegidos,
cobertos e suficientemente quentes para os porcos, mas também favorável à
moradia de morcegos.
Segundo o estudo, o vírus rompido pela degradação ambiental estaria presente nos
morcegos, que ao atacarem os porcos para sua própria alimentação, teriam
inoculado o vírus, já com sua genética modificada, o que permitiu sua
transmissão aos seres humanos.
“A humanidade está diante de uma bifurcação: o que
é que nós queremos dessa produção de alimentos? O que é prioritário para nós: o
lucro ou o alimento?”.
“Há muitas similaridades genética (na composição do
organismo) entre nós e os porcos”, ressalta Larissa. “Esses dois elementos
podem ter levado a isso que estamos vivendo hoje. Acho importante esse
levantamento porque traz também a dimensão de que a doença é um fenômeno
social. Essa é uma doença do capitalismo, desse modo de produção agrícola
industrializado. Éé uma consequência dessa escolha feita por uma parcela da
sociedade, que chegou a transformar alimento em commodities,
ou seja,
em moeda de troca, transformando vidas em moedas de troca”, contesta a
professora.
“É
importantíssimo que possamos entender que o fato de estarmos diante de uma
pandemia pode estar sim relacionado com a maneira que nós determinamos que a
agricultura seja enxergada no mundo”, relaciona a pesquisadora.
“Isso
mostra também que toda essa tecnologia, que está presente nessa agricultura
industrializada, ela não segura essa força imensurável, que é o risco de a
gente alterar algo que é um mecanismo tão complexo e sensível. Nós, enquanto
humanidade e país, estamos diante de uma bifurcação: o que é que nós queremos
dessa produção de alimentos? o que é prioritário para nós: o lucro ou o
alimento?”, questiona.
Publicado
02/04/2020 - 11h32
https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2020/04/coronavirus-agronegocio-modelo-predatorio/
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