O Brasil indígena se mobiliza e luta para manter a vida em seu território
Um ano de intensas mobilizações e lutas vai chegando ao fim. Os povos indígenas de todo o país fizeram de Brasília um de seus principais campos de luta. Mais de 20 delegações de povos originários de todo o país, vieram para a guerra contra a PEC da morte e do genocídio, a 215, e outras ações que visam tirar direitos indígenas. Foi uma intensa construção de união, alianças e articulações entre os povos, formação política na luta e exigência de seus direitos.
Durante essa semana, 170 lideranças dos Estados do
Tocantins e do Pará estarão diariamente em Brasília numa intensa agenda
de caminhadas, reuniões, manifestações públicas, cobranças em
ministérios, depoimentos em audiências públicas, presença em auditórios
do Supremo Tribunal Federal. Estarão protocolando documentos, fazendo
rituais, visitando gabinetes. Tudo com um mesmo objetivo: denunciar as
ameaças que pesam sobre suas vidas e territórios como a PEC 215, o PL
1610, portarias e medidas provisórias que visam impedir a demarcação dos
territórios indígenas e abertura das terras demarcadas à exploração dos
recursos naturais, hídricos (hidrelétricas no rio Tapajós),
infraestrutura, agronegócio (MATUPIBA) e uma infinidade de iniciativas
do grande capital ávido de invadir e explorar as terras indígenas.
Conjuntura turbulenta
Esse final de ano promete. A tentativa de afastar a presidenta de suas funções está na mesa. Na mesa da Câmara, o presidente atual Cunha esperneia,
jurando inocência, de pés juntos. Já no Senado, o presidente aliada a Cunha, Calheiros está sentado
em incômoda cadeira, fazendo de contas que não é com ele.
Tem quem queira trabalhar até no recesso e tem quem
gostaria de ter recesso o ano inteiro. São os contrastes e contradições
de uma democracia capenga, movida a milhões em bancos do exterior e no
interior do combustível, via Petrobras. Mas se Deus é brasileiro, e as
olimpíadas são apenas no ano que vem, podemos dormir um sono sossegado,
que nenhum jato ou lama haverá de nos perturbar o sono.
Já os povos indígenas, que não podem ser culpados
pelo atual descalabro, nada têm a esperar. O agronegócio e suas
commodities, os ruralistas e suas ganâncias desmedidas, que lhes
garantem uma eterna Paris, querem fazer avançar seus batalhões em
múltiplas direções. Gostariam de ter sua estimada PEC 215 aprovada pelo
Congresso. Foram tão combativos contra os índios, e o mínimo que
esperavam era um pacote de Papai Noel com 215 velinhas.
Os povos indígenas não arredaram o pé de Brasília no
decorrer de todo o ano. Foram lutas lindas, juntando o Brasil raiz do
Pernambuco resistente ao Xingu insurgente. Dos Kayapó aguerridos aos
povos do cerrado e da Amazônia. Dos professores indígenas aos indígenas
nas universidades. Juntos construindo união e força na luta. Exigiram
respeito, mostrando dignidade. Avançaram em alianças, especialmente com
os povos e comunidades tradicionais. Ergueram a bandeira da ecologia
provando sua política de preservação ambiental, na prática.
Denunciaram as violências de que são vítimas em
inúmeros fóruns e tribunais nacionais e internacionais. Exigiram o
cumprimento da Constituição não permitindo nenhum retrocesso ou
supressão de direitos. “Resistiremos até o último índio”.
Os Krahô e Apinajé se negaram a participar dos Jogos
Mundiais Indígenas, realizado em Palmas, TO, no final de outubro.
Entenderam que seria uma insanidade participar dos jogos, com tanto
dinheiro em jogo, enquanto não existem verbas para demarcar as terras
indígenas e seus parentes Kaiowá Guarani estarem sofrendo um verdadeiro
genocídio. E esta semana estão em Brasília lutando pelos direitos de
todos os povos indígenas do país.
Gercília Krahô, que recentemente esteve na ONU para
defender os direitos dos povos originários desse país e denunciar a
omissão do governo brasileiro em demarcar e garantir as terras
indígenas, lembrou: “Falei que se não demarcarem as terras indígenas,
vamos unir os indígenas de todo o Brasil e do mundo e vamos demarcar nós
mesmos”.
Antônio Apinajé lembrou que “vamos fazer a nossa
parte. Nossa missão aqui é contra a PEC. A aprovação desse projeto irá
trazer um grande conflito em nosso país. E nós queremos a paz (…) Nesse
contexto da Conferência Mundial do Clima, queremos unir o nosso grito ao
grito da Mãe Terra. Basta de destruição. Sem a minha vida vocês também
não sobreviverão”.
Às vésperas da Conferência Nacional de Política
Indigenista, o governo tem a petulância de propor uma Medida Provisória
para acelerar projetos de desenvolvimento, ignorando o próprio órgão
indigenista e os povos indígenas. Desfaçatez. Açodamento e ignomínia.
Muito ritual e muita reza para afastar todos os males.
http://www.correiodobrasil.com.br/o-brasil-indigena-se-mobiliza/
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