A mídia recortou os minutos convenientes da gravação e desprezou os trechos nos quais a quadrilha relembra a roubalheira deles no governo FHC
Todos os 3 poderes sabiam do que se tratava (executivo, legislativo, judiciário)
Créditos da foto: Waldemir Barreto / Agência Senado
“Matar mulher é feminicídio; matar presidente é magnicídio; matar criança é infanticídio; matar de vergonha é Delcídio”
(Postagem no twitter)
As
gravações das conversas entre o Senador Delcídio do Amaral, Bernardo
Cerveró [filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró] e Edson
Ribeiro [advogado do ex-diretor], são reveladoras do quão entranhável é a
corrupção no estamento da política e dos negócios.
Se
aquelas conversas fossem divulgadas sem a identificação dos
interlocutores, ninguém hesitaria em reconhecer se tratar de um bando de
bandidos reunidos para arquitetar crimes. Este fato é, em si mesmo,
estarrecedor e escandaloso. A cassação do mandato de senador e a
expulsão de Delcídio do PT serão os desdobramentos naturais.
Tão
escabroso quanto este fato, entretanto, é a seletividade do condomínio
policial-jurídico-midiático de oposição, que recortou os minutos
convenientes da 1 hora e 35 minutos da gravação e desprezou os trechos nos quais a quadrilha relembra a podridão e a roubalheira deles na Petrobrás ainda no governo FHC.
Eles
fizeram menção, por exemplo, à dinheirama depositada em bancos suíços
originada de propina que receberam da empresa Alstom em 2001 e 2002,
quando Delcídio era diretor da Petrobrás e Cerveró seu gerente. E também
revelaram o nome do personagem que a décadas usa o lobista Fernando
Baiano como preposto: o espanhol Gregório Preciado, que é casado com uma
prima do senador tucano José Serra.
Qual
o procedimento policial e judicial instalado para investigar estes dois
aspectos reveladores da gênese da corrupção na Petrobrás? Resposta: -
nenhum! Houve cobertura midiática demonstrando jornalisticamente as
conexões e os tentáculos tucanos na corrupção na Petrobrás? Resposta:
nenhuma!
A
seletividade do condomínio policial-jurídico-midiático de oposição tem
sido uma norma de conduta. Os responsáveis pela Lava Jato na Polícia
Federal, no Ministério Público e no Judiciário simplesmente
desconsideram testemunhos, indícios e provas que implicam políticos
ligados ao PSDB e, além de não investigarem, arquivam as denúncias. E a
mídia oposicionista completa o serviço, acobertando a verdade inteira.
Foi
assim com Pedro Barusco, o ex-gerente que confessou ter começado sua
prática delituosa na Petrobrás na década de 1990, durante o governo FHC.
Diante da confissão deste funcionário corrupto que devolveu 100 milhões
de dólares roubados em 20 anos, qual a apuração da Lava Jato sobre o
período FHC? Resposta: - nenhuma!
Por
uma estranha discricionariedade, o inquérito contra o senador tucano
Anastasia foi arquivado, e a investigação sobre os 10 milhões de reais
transferidos pelas empresas implicadas na Lava Jato ao PSDB na gestão do
ex-presidente do Partido, Sérgio Guerra [já falecido], nunca prosperou.
Qual a reação midiática a isso? Resposta: - nenhuma!
O
chamado “mensalão” foi implacavelmente julgado para justiçar o período
dos governos do PT. Entretanto, como está a investigação do “mensalão”
mineiro, inventado pelo tucanato muitos anos antes? Resposta: -
paralisada, podendo prescrever, e os envolvidos estão “todos soltos”.
A
realidade não permite ilusões ou fanatismos alienantes: o Brasil está
enfrentando uma das maiores crises morais e políticas da sua história. A
corrupção é um fator desencadeante da corrosão moral que aflige o país.
O mais importante, porém, é que pela primeira vez tudo está sendo
investigado sem interferências do governo.
Esta
conquista civilizatória do Brasil, de identificar e castigar a
corrupção, poderá ser anulada por manobras maniqueístas do condomínio
policial-jurídico-midiático de oposição, que recorta e seleciona a
narrativa a ser construída, que visa preservar o PSDB e aniquilar o PT.
Isso é contraproducente, porque dos mais de 100 indiciados na Lava Jato
até agora, apenas 4 são identificados com o PT, e a imensa maioria
pertence a outros partidos políticos.
Delcídio
é um elo da corrupção histórica na Petrobrás; ele é o elo entre o
presente e o passado; o elo corrupto entre o período FHC e o período
Lula. Se, em razão disso, a Lava Jato não averiguar a raiz da corrupção
na empresa, será uma agressão à justiça e à democracia.
Mais
além da Lava Jato, é necessário um esforço de recomposição ética no
Brasil, porque a corrupção está disseminada inclusive em práticas
“legais”, ainda que imorais, em várias esferas da atividade pública nos
três Poderes.
Só
moralismo não resolve. Menos ainda o falso e seletivo moralismo. É
necessário encarar esta crise de frente. O Brasil está num “mandrake político”,
porque nenhuma força política se mostra crível como alternativa na
crise. O país está à beira do abismo político e moral que ameaça
produzir um forte estrago à economia nacional.
Este
momento de impasse é, também, um momento de rediscussão de um novo
ordenamento jurídico-institucional. A atual lógica, em especial quanto
ao sistema político, é uma das causas da transição inconclusa da
ditadura para um Estado de bem-estar social. O PMDB, Partido
individualmente minoritário, domina a ciência de navegar neste sistema
obsoleto e fisiológico, é um dos principais fatores do atraso e do
retrocesso.
É
urgente, por isso, se buscar o apoio da sociedade brasileira para a
convocação de uma Assembleia Constituinte autônoma e específica, que
discuta um novo ordenamento jurídico-institucional, começando pela
reforma política e pela democratização profunda do Estado.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Delcidio-e-um-elo-da-corrupcao-historica-na-Petrobras/4/35076
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog