Pagaremos todos a altíssima conta do golpe 2016
por Tereza
Cruvinel no Jornal do Brasil –
Sociedade e Sobras do Golpe 2016
Foto da internet
Depois de quebrar a espinha do governo, que se
rendeu em pânico no domingo à noite, atendendo a todos os pleitos, a greve
caminhoneira persistia ontem, por vários motivos. Entre eles, a existência de
focos seduzidos por agentes da extrema-direita com a pregação de que a
resistência derrubará Temer e trará o golpe militar. Isso é real, sobram
evidências. Outro motivo, a percepção de que o acordo negociado, apesar do
custo altíssimo, é uma meia-sola, pois o problema voltará. Vai estourar no colo
do próximo governo mas os candidatos a presidente se esconderam, fugiram do
assunto. Mau sinal.
A
normalização da vida será lenta num país que esteve à beira do infarto, com as
artérias vitais bloqueadas. Se o governo não tivesse errado tanto, a greve
justa poderia ter sido mais curta, com menor custo e a restauração mais rápida.
Houve a indiferença inicial aos pedidos de negociação, nos dias 14 e 16, depois
a precipitação na quinta-feira, 24, quando o Planalto fechou um acordo sem
garantias, com parte das entidades. Na sexta-feira Temer falou grosso, mandando
tropas às estradas, e no domingo falou fino, entregando os pontos.
Agora vêm
os problemas para tirar do papel o acordo que não passa de uma pinguela. Num
movimento disperso e sem comando unificado, caminhoneiros renitentes diziam
ontem que o desconto de R$ 0,46 no preço do diesel era pouco mas a maioria quer
ver logo é o resultado na bomba. Não será fácil para o governo garantir que os
donos de postos observem a diferença trazida pela não cobrança da CIDE e do
PIS-Cofins. A Petrobras poderia ajudar, sem que isso significasse ingerência.
Sob Dilma, e depois sob Temer, os bancos privados continuaram cobrando juros
altíssimos apesar da queda na taxa Selic. Baixando seus juros, os bancos
públicos (CEF e Banco do Brasil) ajudaram a puxar para baixo as taxas dos
outros. A BR Distribuidora, em sua rede de postos, poderia seguir o exemplo. Os
distribuidores privados terão que também honrar o acordo ou perderão
clientes.
O Senado
entrou pela noite votando matérias que trancam a pauta para chegar logo às MPs
do acordo, mas haverá uma batalha. A oposição proporá a busca de outras fontes
de recursos para bancar o subsídio do diesel, como antecipa o senador Lindbergh
Farias, do PT. “PIS-Cofins são contribuições que financiam a seguridade social.
Então, em vez de tirar dos mais pobres, proporemos elevar de 20% para 25% a
contribuição sobre o lucro dos bancos. E ainda suspender, até o final deste
ano, a isenção fiscal dada às petroleiras, e só isso garantirá uma receita de
quase R$ 8 bilhões”. Como a base do governo, de esgarçada passou a rota nesta
crise, haverá peleja. Qualquer sinal de rompimento do acordo pode virar
faísca.
A votação
da MP que proíbe a cobrança de pedágio de caminhões vazios será problemática,
mas este problema será empurrado. As concessionárias privadas de rodovias
estaduais ou federais vão exigir mudanças em seus contratos, que não previam
esta perda de receita. Muito provavelmente, vão pedir aumento no preço dos
pedágios. Pagaremos todos.
O acordo
é meia-sola porque apenas ganha tempo. Depois do congelamento do preço do
diesel por 60 dias, com desconto de R$ 0,46, os aumentos serão mensais até o
final do governo, o que custará o rombo de R$ 10 bilhões. Mas para depois, não
há solução. Uma ação popular foi apresentada ao MPF ontem por várias entidades
pedindo a suspensão do leilão do pré-sal marcado para o dia 7 de junho e
mudança na política de preços da Petrobras. O fogo contra Pedro Parente
continua alto, agora com nova denúncia envolvendo um sócio. A Comissão Geral
que o Congresso fará hoje, com a participação dele e do ministro Moreira
Franco, será termômetro da nova temperatura política.
Sobre
tudo isso, sobre o que farão se eleitos nesta área, e mesmo sobre a conspiração
golpista, que parece muito amadora, não vimos os presidenciáveis se pronunciar.
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica-2/noticias/2018/05/28/agora-os-escombros/
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