Entra-se na fase final, que consiste em inviabilizar o mercado de
títulos para a Petrobras e, com isso, forçar a venda das reservas do pré-sal
por Luís Nassif no GGN – sociedade e o golpe 2016 em
ação
O presidente da Petrobras, Pedro Parente (aquele do
apagão no governo Fernando Henrique Cardoso em 1989, lembram-se?), virou o fio.
E não propriamente pela política de preços com reajuste diário. Sua estratégia
de esvaziamento da Petrobras se tornou muito óbvia, tornando-o vulnerável a
qualquer investigação, assim que o país sair do torpor atual
A lógica:
Passo 1 – Petrobras é uma empresa sem
problemas de crédito, cujas colocações de títulos no exigente mercado norte-americano
tiveram uma demanda várias vezes superior. Mesmo assim, Parente optou por
vender ativos para antecipar pagamento de dívidas, comprometendo a receita
futura da empresa.
Passo 2 - Praticou uma política de
preços para derivados visando viabilizar a competição dos importados, gerando
uma capacidade ociosa de 25% nas refinarias próprias. Ou seja, entregou mercado
de graça (ou não) para a concorrência, ao mesmo tempo que está colocando
refinarias à venda.
Passo 3 – Fechou um acordo bilionário,
de US$ 3 bilhões, com acionistas norte-americanos, muito superior ao que o
próprio mercado esperava.
Passo 4 - agora, entra-se na fase
final, que consiste em inviabilizar o mercado de títulos para a Petrobras e,
com isso, forçar a venda das reservas do pré-sal.
Como fica nosso quebra-cabeças:
Peça 1 – a jogada da Eletrobras
Pedro
Parente segue o mesmo modelo de atuação da 3G – de Jorge Paulo Lehmann – na
Eletrobras. No artigo “A 3G e o negócio
do século com a Eletrobras” detalhei essa estratégia.
Primeiro,
fincou posição na empresa, tendo acesso ao conselho. Depois, divulgou estudos
para justificar um valor contábil ridículo. Uma companhia com ativos avaliados
em 400 a 600 bilhões de reais, com dividas de 39 bilhões e passivos ocultos de
64 bilhões, mas que podem ser liquidados por um terço disso, cujo controle
poderia ser comprado por R$15 bilhões.
A 3G é um
sócio minoritário da Eletrobrás. A empresa está sendo preparada para ser
vendida aos chineses. No plano de privatização está embutido a descontratação
da energia. Ou seja, a possibilidade de toda a energia produzida pela empresa
ser jogada no mercado livre – com a previsível explosão das tarifas.
Sem
investir um tostão, os grandes acionistas, como a 3G e o grupo Jabbur, ganharão
literalmente bilhões de dólares com a mera valorização de sua participação.
Peça 2 – a jogada da Petrobras
Parente
fez pior ainda. Sua estratégia é inviabilizar o mercado de crédito
internacional para a Petrobras. E, com isso, tornar inevitável a venda de
ativos e a posterior privatização da empresa por preço vil.
A SEC
norte-americana exige, anualmente, o preenchimento do relatório 20-F, uma
espécie de prestação de contas ao mercado, com perspectivas e riscos das
empresas listadas em Bolsa.
Esses
relatórios listam alguns fatores de risco. E, depois, tentam demonstrar como a
estratégia adotada visará criar um ambiente positivo para a empresa. Todo
relatório busca apresentar uma visão positiva da empresa e expectativas
favoráveis à implementação da estratégia adotada.
Parente
montou um relatório tão alarmista, que ficaram nítidas, como as impressões
digitais no guardanapo de um sujeito que se lambuza de ketchup, suas intenções
em relação à empresa.
A
colocação desses papéis depende fundamentalmente da previsibilidade do
investimento. O que Parente faz é apresentar uma série infindável de fatores
imprevisíveis, visando fechar o mercado para a empresa.
1.Dramatiza problemas
trabalhistas
Na página
16, o relatório diz que os planos da Petrobras incluem a venda de
aproximadamente US$ 21 bilhões em ativos, para melhorar a liquidez. Essa venda
obrigará a transferir os funcionários para outras áreas da empresa, “o que pode
gerar custos adicionais, inquéritos judiciais relativos a ações trabalhistas,
greves e pode prejudicar nossa reputação”.
2.Lança dúvidas sobre o
Compliance
A
Petrobras está pagando centenas de milhões de dólares a escritórios de
advocacia norte-americanos, para montar seu programa de compliance.
Na página
18, mesmo após a Lava Jato, Parente diz que “para nós é difícil garantir que
todos os nossos funcionários e contratados, aproximadamente 185.000, seguirão
nossos princípios éticos”. E aí, a dramatização inacreditável. “Qualquer
um que não siga – de fato ou que aparentemente não siga – tais princípios ou
que não cumpra as obrigações de governança ou regulatórias aplicáveis pode
prejudicar nossa reputação, limitar nossa capacidade de obter financiamento ou
afetar de maneira negativa os resultados de nossas operações e condição
financeira”.
3.Coloca em dúvida seus próprios
relatórios financeiros
Na página
19, o relatório lança dúvida sobre todos os relatórios financeiros dos últimos
anos, inclusive o último, de 2017: “Qualquer falha em manter nosso controle
interno sobre relatórios financeiros pode afetar negativamente nossa capacidade
de reportar nossos resultados financeiros em períodos futuros com precisão e em
tempo hábil”.
4.Lança incertezas sobre as ações
do Departamento de Justiça
O
relatório revela a informação reservada, de que a empresa já está sob a lupa do
Departamento de Justiça norte-americano (DoJ), nos mesmos moldes da Embraer. Ou
seja, todos as informações estratégicas da empresa ao alcance do DoJ.
Diz o
relatório: “O DoJ [Departamento de Justiça dos EUA] está realizando uma
investigação semelhante e, tanto a sindicância interna quanto as demais
conduzidas pelo governo a respeito de tais questões, estão em curso. Apesar de
nossa total cooperação com tais investigações, há o risco de que seu alcance
seja expandido ou de que as autoridades decidam realizar uma denúncia formal na
esfera civil ou criminal”.
E trata
de jogar mais imprevisibilidade no caldeirão:
“Pode ser
exigido de nós o pagamento de multas ou outras assistências financeiras, além
do cumprimento de medidas liminares, determinações ligadas a condutas futuras
ou, ainda, a imposição de outras multas, que podem surtir efeito material
adverso. Também é possível que informações que prejudiciais à nossa imagem e
aos interesses venham à tona durante as investigações de corrupção deflagradas
pelas autoridades brasileiras”.
5.Lança incertezas sobre as
multas pagas
Diz, à
página 20:
“Se, no
futuro, surgirem informações adicionais substanciais demonstrando que, em
retrospectiva, nossos ativos pareçam ter sido consideravelmente subestimados ou
superestimados em nossas demonstrações financeiras, é possível que sua
reformulação seja exigida, o que pode ter um efeito material adverso nos
resultados de nossas operações e condição financeira, além de afetar o valor de
mercado de nossos valores mobiliários”.
6.Incertezas sobre as concessões
públicas
“Caso
alegações que envolvam um valor significativo e para os quais não tenhamos
provisões sejam decididas em nosso desfavor, ou caso as perdas estimadas se
revelem significativamente superiores às provisões disponíveis, o custo
agregado de decisões desfavoráveis pode ter efeito adverso significativo sobre
os resultados das nossas operações e condição financeira. Também podemos estar
sujeitos a disputas judiciais e processos administrativos ligados a nossas
concessões e demais autorizações governamentais, que podem resultar na
revogação de tais concessões e autorizações governamentais. (…)”
7.Incertezas sobre os passivos
fiscais
“No
futuro, pode ser que tenhamos de lidar com situações semelhantes nas quais
nossa interpretação das leis fiscais possa ser diferente da interpretação das
autoridades fiscais ou, ainda, em que as autoridades fiscais contestem nossa
interpretação e possamos ter de assumir provisões e custos não previstos”.
8.Incertezas sobre
desinvestimento e o fluxo futuro
Explicita
a estratégia óbvia de reduzir o fluxo de resultados com a venda de ativos:
“A
impossibilidade de implantar com sucesso nosso programa de desinvestimento pode
ter um impacto negativo em nossa empresa, nos resultados de nossas operações e
condição financeira, inclusive nos deixar com liquidez limitada em curto e
médio prazo. Além disso, a venda de ativos estratégicos sob nosso programa de
desinvestimento resultará na diminuição de nossos fluxos de caixa advindos de
operações, o que pode ter impacto negativo em nossa perspectiva de crescimento
operacional de longo e médio prazo”.
9.Incertezas sobre as eleições
“As
eleições no Brasil ocorrem a cada quatro anos, e as mudanças nos representantes
eleitos podem levar a uma mudança dos membros de nosso conselho de
administração nomeados pelo acionista controlador, o que pode impactar ainda
mais a gestão de nossa estratégia e diretrizes de negócios.
Além
disso, o governo federal brasileiro pode tentar alcançar alguns de seus
objetivos macroeconômicos e sociais através de nós”.
10.Incertezas sobre corrupção
política
“Nossa
condição financeira e resultado das operações podem ser prejudicados pelos
seguintes fatores e pela reação do governo federal brasileiro a tais fatores:
(...) -alegações de corrupção contra partidos políticos, agentes eleitos ou outros
agentes públicos, incluindo alegações feitas relativas à investigação da Lava
Jato;
11.Incertezas sobre a economia
“Historicamente
o cenário politico tem influenciado o desempenho da economia brasileira e
crises políticas tem afetado a confiança de investidores e do público em geral,
o que resultou num declínio econômico e aumentou a volatilidade dos títulos
emitidos no exterior por empresas brasileiras. (...) qualquer desdobramento na
investigação da Lava Jato (previsível e imprevisível) poderia prejudicar
relevantemente a economia brasileira assim como nossos resultados operacionais
e condição financeira”.
12.Incertezas sobre novas
denúncias
Assim que
assumiu a Petrobras, Parente contratou a Pinheiro Neto para um pente fino nos
e-mails da empresa – remontando ao começo da década de 2.000. Já foram
identificados e-mails de políticos com solicitações para a empresa. Agora, o
escritório tenta estabelecer relações de causalidade entre os e-mails e obras.
Tudo indica que haverá uma leva de novas denúncias, levantadas agora pela
própria gestão Parente, visando tornar a Petrobras mais vulnerável ainda.
No
relatório à SEC, há indícios:
“Atualmente,
funcionários eleitos e outros funcionários públicos no Brasil estão sendo
investigados por alegações de condutas antiéticas e ilegais identificadas
durante a investigação Lava Jato realizada pela Procuradoria Federal do Brasil.
O resultado potencial dessas investigações é desconhecido (...) Tais alegações
podem levar a mais instabilidade, ou novas alegações contra funcionários do
governo brasileiro e outros podem surgir no futuro, o que poderia ser
relevantemente prejudicial para nós. Não podemos prever o resultado de tais
alegações nem seu impacto na economia brasileira”.
Peça 3 – o desfecho do fechamento do mercado
Velho
parceiro do PSDB na área de energia, no governo Fernando Henrique
Cardoso, o deputado baiano José Carlos Aleluia (DEM) apresentou projeto
de lei autorizando a Petrobras a vender até 70% das áreas não concedidas da
camada pré-sal.
Justificou assim:
“Entre os
ativos passíveis de serem desinvestidos, os campos de petróleo são uma opção
especialmente interessante, porque, além de angariarem recursos para abater a
dívida, agregam parceiros para dividir os investimentos necessários para
colocar esses campos em produção. No caso dos campos contratados no regime de
cessão onerosa, a sua transferência viria para o bem da Petrobras e do Brasil,
pois permitiria a antecipação da extração do petróleo que jaz enterrando nas
profundezas do pré-sal”, justificou.
Peça 4 – o desafio das instituições
STF
(Supremo Tribunal Federal), Procuradoria Geral da República (PGR), TCU
(Tribunal de Contas da União), AGU (Advocacia Geral da União) foram personagens
centrais do impeachment, em nome de uma suposta moralidade.
Agora,
estão em andamento jogadas capazes de transformar a corrupção apurada pela Lava
Jato em troco. Não se trata se contrapor estatismo e liberalismo. O que se tem
são negociatas em andamento, com reflexos perpétuos sobre o país, na forma de
aumento dos cistos de energia, vulnerabilidades na oferta de combustíveis.
Vai ser o
grande teste para se saber se essas autoridades foram apenas conduzidas pelos
ventos das manifestações populares, ou compactuam com esse jogo.
http://www.contextolivre.com.br/2018/05/xadrez-de-como-pedro-parente-prepara-se.html
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