Ninguém quer voltar ao
trabalho, não. Falaram que esse não é o acordo que fizeram [internamente], não
estão satisfeitos
por Fábio Góis por
Congresso em Foco na
revista ihu on-line – Sociedade e Greve Geral Contra Golpe 2016
Ao
contrário do que o governo tem dito sobre a greve dos
caminhoneiros, que está no oitavo dia, o segundo acordo com a
categoria não deve colocar fim à mobilização tão cedo. A opinião é do
presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo
Silva, para quem os condutores de caminhão paralisados Brasil afora
não querem medidas provisórias e medidas negociadas com o Congresso, mas sim a
imediata redução do preço dos combustíveis na bomba.
Para José Araújo, que responde por centenas
de milhares de caminhoneiros, a situação ainda é de paralisia na atividade e de
disposição para a mobilização. “Está praticamente tudo parado
ainda. O pessoal não aceitou o acordo”, disse José Araújo ao Congresso
em Foco, explicando que são muitos os posicionamentos entre os milhares de
caminhoneiros ainda mobilizados Brasil. Ele diz estar difícil até reunir
informações sobre o quadro grevista, dada a inabilidade do governo nos
primeiros dias de negociação com os grevistas e a multiplicidade de reações.“É
complicado, sabe? Difícil até a gente dar entrevista. Eu participei das
reuniões da semana passada. Ontem [domingo], não fui convidado e não
participei. Esse acordo que foi feito ontem, das três medidas provisórias,
ninguém está respeitando não. Os caras querem que reduza mais [o preço] do óleo diesel.
A situação é complicadíssima”, acrescentou.
Falando de São Paulo com a reportagem, José
Araújo diz estar em linha direta com 15 pontos de concentração espalhados
pelo país. O dirigente passou boa parte da semana passada em Brasília,
onde participou de reuniões na Casa Civil e não assinou, a exemplo do
presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José
da Fonseca Lopes, a primeira proposta de acordo apresentada pelo governo.
“Ninguém quer voltar ao trabalho, não. Falaram que
esse não é o acordo que fizeram [internamente], não estão satisfeitos. Fica
difícil até falar para vocês [imprensa]. Está muito difícil mesmo. Estou aqui
na capital [SP], não tem gasolina.
Eu rodei e não achei gasolina, muito raro achar um posto que tenha. As entregas
de gasolina estão sendo mais para empresas de ônibus e assim por diante”,
relatou.
Ele disse ainda que a insatisfação da categoria
permanece mesmo depois de alguns grupos terem conseguido, em reuniões neste
domingo (28), garantias como redução dos impostos sobre o diesel e do preço do
frete e a não cobrança de pedágio para caminhões sem carga. Desde então, o
presidente da Abcam tem dado entrevistas sobre o acordo e dito que boa
parte dos caminhoneiros se desmobilizou. Segundo a entidade, a
expectativa é que a greve esteja totalmente desmobilizada até amanhã (29), algo
que não combina com o que diz o colega José Araújo.
“Está
tudo bagunçado. É muita liderança querendo falar. Um fala uma coisa, outro fala
outra. A categoria já está se revoltando com os próprios representantes. Isso
fica mal para quem trabalha sério. Eu trabalho direito, sério, mas quando se
fala em sindicato envolve o nome de todo mundo. Quando se fala em sindicato
pelo meio, fica pior ainda. Porque, queira ou não queira, não pode existir uma
categoria em que todo mundo manda. Tem que haver uma regra, quem responda por
eles”, pondera.
Redução na bomba
Para o
presidente da Unicam, a receita para o fim da greve
é simples: “Eles [caminhoneiros] querem que seja reduzido o preço do diesel na
bomba. E não o que vai acontecer daqui a 30 dias, 60 dias. Não tem um posto que
mudou [o preço] e disse que daqui em diante o preço vai ser ‘x’. Eu fiz um
cálculo aqui sobre aquela medida de [redução] 46 centavos: em mil quilômetros,
a economia é de 170 reais no frete. Não dá em nada, não muda nada. Eles não vão
ganhar nada no mês”, reclama.
Ainda
segundo o dirigente, criou-se uma polêmica no âmbito da própria categoria, pois
não há um discurso unificado sobre a greve.
Nesse sentido, ele lembra que representantes das empresas transportadoras
tomaram a frente das negociações da semana passada, e por isso não assinou o
acordo segundo o qual a paralisação
seria suspensa por 15 dias. “Eu sabia que não ia voltar, como não voltou.
Aliás, aumentou [a adesão à greve]. Eu fiz o certo. Está aí a prova. Do mesmo
jeito que estava parado de manhã está agora”, acrescentou.
José Araújo comentou ainda a
postura do presidente da Petrobras, Pedro Parente, em não
modificar a política de preços dos combustíveis, que se baseia na variação do
preço internacional do petróleo e do câmbio. Nesse sentido, completa o
dirigente, o próprio presidente Michel Temer dá demonstrações de
fragilidade.
“Mantém-se
o Pedro Parente fazendo
uma anarquia dessa toda e está lá, belo e folgado. E o governo ainda apoiando!
O Temer seria um secretário dele. O Pedro Parente está mandando.
Acho que tem que mudar a política de preços. Tem que mudar, sim! Agora,
deixá-lo lá [na Petrobras] com um rombo de cinco bilhões de reais, se
não me engano… É um absurdo um negócio desses. E não é só o diesel. E a
gasolina? E os derivados? Tem que mudar todo o sistema, se não nossa categoria
não vai parar com muita facilidade, não”, vaticinou.
Depois de
dias de negociação, governo e lideranças grevistas fecharam acordo para reduzir
em R$ 0,46 o litro do óleo diesel. Desse total, R$ 0,16 serão obtidos por meio
da eliminação da cobrança da Cide (R$ 0,05 sobre o litro do combustível)
e do PIS/Cofins (R$ 0,11) até o fim do ano. Os R$ 0,30 restantes serão
subvencionados pelo Tesouro, em pagamentos compensatórios à Petrobras e
outras empresas que vendem o combustível, inclusive os importadores.
http://www.ihu.unisinos.br/579424-o-pessoal--nao-aceitou-acordo-a-greve-continua
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