Com tanto interesse em torno do Jambu, surgiu a dúvida sobre os
riscos à soberania nacional na biodiversidade amazônica
por
Lilian Campelo em Brasil de Fato e Sul21 – Sociedade e Plantas
Brasileiras e Patentes
Figura Sul21. O registro da
patente é obrigatório para quem pretende fazer estudos de plantas; caso contrário
terá que pagar multa
A
substância espilantol, extraída do Jambu e que provoca a sensação de dormência
na boca, é foco de interesse de pesquisadores. O Jambu é encontrado na Amazônia
e muito utilizada na culinária, ainda pode ser opção para um novo
anestésico, principalmente para a área de odontologia.
A
planta, que tem diversas outras propriedades medicinais é estudada por
pesquisadores e acadêmicos de todo mundo. Para que os estudos sejam
preservados, são feitos registro de patentes.
De acordo
com o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável
pelo cadastramento de produtos e pela concessão de patentes para todos os tipos
de produtos no Brasil. Existem 433 pedidos e concessões de patentes
relacionados ao Jambu solicitadas não apenas pela autarquia, mas também por
outras instituições de patentes pelo mundo, requeridos por centros de
pesquisas, empresas e organizações.
O Japão
possui 137 solicitações e patentes concedidas referentes a planta, equivale a
32,16%. Logo após os EUA apresenta 102 pedidos e patentes (23.94%), França com
55 (12,91%), Espanha 36 (8,45%) e China 26 (6,10%). O Brasil registra 15
patentes e pedidos que estão sendo analisados relacionados ao Jambu, um
percentual de 3,52%, atrás da Alemanha com 10 pedidos e patentes (2,35%) e
Grã-Bretanha com sete (1,64%).
Com tanto interesse em torno do
Jambu, surgiu a dúvida sobre os riscos à soberania nacional na biodiversidade
amazônica.
Inclusive, há alguns anos surgiu rumores na internet sobre pesquisadores da
UFAM (Universidade Federal da Amazônia) que tiveram que interromper os estudos,
pois a patente era americana.
A
reportagem do site Brasil de Fato procurou
a UFAM e conversou com o Pró-Reitor de Inovação Tecnológica, Waltair Vieira
Machado para saber se o registro patentes do Jambu, de alguma forma, foi
impedimento para pesquisadores da universidade.
“Não, até
onde nós sabemos porque o processo ainda não está muito claro, (…) não me
consta que eles tenham sido impedidos por algum procedimento legal ou por
coerção ainda que velada, eles se sentiram desestimulados pelo fato de estarem
trabalhando num processo que já está protegido industrialmente nos EUA e alguma
partes da Europa também”, disse Machado.
Patentes
O
registro de patente é uma concessão pública de apropriação exclusiva de
produtos e processos, mas quando a solicitação deriva de acesso ao patrimônio
genético da biodiversidade brasileira, o diretor da Universitec – Agência de
Inovação da Universidade Federal do Pará (UFPA) – Gonzalo Enríquez, afirma que
o pesquisador, seja representado por pessoa física ou jurídica, precisa
realizar o cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento
Tradicional Associado (SisGen).
“O SisGen
é uma instância, no qual, obrigatoriamente, o pesquisador tem que patentear e
registrar seu produto, porque senão ele está incorrendo numa contravenção, ele
tem que pagar multa entre mil reais e dez milhões de reais”, completa Enríquez.
Ele ainda
alerta, “não podemos impedir que um pesquisador de origem estrangeira que está
registrado no Brasil legalmente, que é professor da universidade, realize
patenteamento porque o patenteamento vai ficar no Brasil”.
O Sistema
é uma plataforma eletrônica e o cadastro deve ser realizado antes de se
encaminhar o pedido de propriedade intelectual ou da remessa ao exterior da
pesquisa e foi criado por meio do Decreto nº 8.772, que regulamenta a Lei nº
13.123, também conhecida como Lei da Biodiversidade, que dispõem sobre o acesso
e proteção ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado.
Biodiversidade
Para o
professor Waltair Vieira Machado, pró-reitor de Inovação Tecnológica da
UFAM, a legislação não protege de forma eficaz os direitos intelectuais e
industriais e acaba sendo “um tanto quanto restritiva e romântica” sobre a
disponibilidade da natureza e argumenta.
“Na nossa
tentativa de protegermos os direitos dos povos tradicionais nós acabamos
cerceando o desenvolvimento industrial em determinado produto que se faz
bastante necessário a saúde de nós brasileiros, principalmente dos amazônidas e
estamos limitados por causa de alguns desses entendimentos”, disse o
pró-reitor.
O assunto
sobre o acesso e patentes da biodiversidade genética brasileira é complexo e
gera diversas discussões. Na análise do diretor da Universitec, é necessário
que os pesquisadores cadastrem suas pesquisas para, além de proteger seus
estudos, também o façam sobre o conhecimento dos povos tradicionais.
“Precisamos
informar aos pesquisadores, professores, aos que realizam pesquisa sobre
patrimônio genético elas que têm de ser cadastradas, porque o Brasil tem que
proteger o seu conhecimento, seu patrimônio genético e o conhecimento tradicional
também tem que ser protegido, é um valor enorme que o Brasil tem o conhecimento
tradicional de suas plantas, de seus produtos e da biodiversidade, aí que está
realmente a grande riqueza da Amazônia”, disse Gonzalo Enríquez.
https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2018/06/a-planta-amazonica-jambu-tem-433-patentes-espalhadas-pelo-mundo/
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