As eleições municipais são um momento importante para tentar ganhar
espaços institucionais. Como os partidos de centro-esquerda caminharão para
este objetivo? Fragmentados ou mais unidos? Com que programas? Não há uma
discussão pública acerca dessa temática
por Aldo Fornazieri * no portal Brasil 24/7 – Sociedade e Lutas Populares Contra a Ultra-Direita no
Brasil
Foto no Brasil 24/7
O governo
vai mal e a oposição não vai bem: esta é a síntese persistente da atual
conjuntura. Que o governo vai mal não é novidade para ninguém. Basta olhar para
algumas coisas:
- ele produz um vendaval de atitudes agressivas e destutivas;
- não
tem uma agenda para a retomada da economia;
- ataca políticas públicas
consolidadas nas áreas sociais e ambientais;
- defende pautas que se chocam com a
maioria da opinião pública, a exemplo dos decretos do desarmamento;
- investe
contra a educação e a pesquisa;
- adota medidas que ferem a soberania nacional;
- se recusa a construir uma base congressual permanente e hostiliza os
congressistas etc..
A contra face de tudo isso é uma queda acentuada na
aprovação de Bolsonaro e do governo e o crescimento da reprovação.
Bolsonaro mesmo caótico, tem estratégia
Alguns
analistas dizem que Bolsonaro adotou o caos como método de governo. Outros
analistas e setores de esquerda chegaram a prognosticar uma queda iminente do
presidente há algumas semanas. Mas tudo indica que estamos longe disso.
Muitas
pessoas de esquerda se alimenta de ilusões, pois elas fornecem atalhos e
soluções fáceis, mas que nunca se concretizam. Então, como entender os
movimentos de Bolsonaro? Para quem atua no front político sempre é mais
prudente avaliar que o inimigo tem uma estratégia mesmo quanto ele parece
mover-se de forma caótica.
Se bem
sopesados todos os atos e movimentos de Bolsonaro pode-se dizer que eles
guardam uma coerência. A coerência consiste em alimentar e manter o núcleo duro
de sua base eleitoral satisfeito pelo cumprimento de promessas de campanha e
mobilizado, principalmente nas redes sociais, para defender o governo. Aqui
cabe uma pergunta: qual é o tamanho desse núcleo duro ideológico, de extrema-direita?
Talvez 20 ou 25% do eleitoral? Então, hipoteticamente, este seria o piso que o
governo se pôs para cair em termos de popularidade.
Mas qual
é o cálculo?
O cálculo é que com a aprovação da Reforma da Previdência (aqui
não importa muito que seja a proposta original de Paulo Guedes), estariam
lançadas as condições para uma retomada da economia. Na sequência o governo
investiria na aprovação da reforma tributária. Há que se notar que a agenda do
governo não destoa significativamente da agenda da maioria congressual que hoje
orbita em torno de Rodrigo Maia. Os atritos entre essa maioria e o governo
Bolsonaro são atritos por espaços de poder.
Se, por
hipótese, a Reforma da Previdência pode suscitar um crescimento em torno de 2 a
2,5% em 2020, então o governo teria condições de sobreviver, conseguindo
arrastar apoio paulatino, mas crescente no Congresso Nacional e recuperando
apoio na opinião pública.
O desemprego poderia começar a ceder.
Esta parece ser
a estratégia do governo e a oposição deveria considera-la. Bolsonaro ganharia o
bônus de colocar a economia na retomada sem fazer as concessões fisiológicas a
congressistas. Seria um ativo político considerável.
A
estratégia de Bolsonaro então se articula em dois pontos:
1) manter sua base
ideológica arregimentada e mobilizada para a travessia de um momento difícil;
2) apostar na retomada da economia.
Se não houver uma retomada minimamente
satisfatória da economia, a estratégia do governo fracassará.
Neste caso, a
crise política se alastrará, as tensões sociais aumentarão, o conflito entre o
governo e o Congresso se tornará mais agudo e um desfecho possível seria o
impeachment de Bolsonaro.
A
oposição, por outro lado, não tem uma estratégia
Na questão da Reforma da
Previdência, caminha à margem do processo. Os governadores da oposição parecem
precisar da reforma, modificada, claro, mas os partidos são contra tudo.
A
greve geral foi uma greve parcial.
Foi mal preparada e foi a frio. Isto é: uma
greve geral só terá sucesso se for precedida por uma intensa preparação em
mobilizações e greves generalizadas de categorias.
O PT,
maior partido da oposição, se alimenta de uma coisa principal: o Lula preso. A
manutenção da prisão de Lula é conveniente para o PT, pois assim tem a bandeira
do “Lula Livre”. O partido mantém a retórica da vitimização, mas não consegue
apontar para a construção de uma saída política. Não consegue propor uma
estratégia para galvanizar os diversos setores sociais. Não consegue se
reconectar com as imensas camadas que vivem nas periferias urbanas. O “Lula
Livre” não se traduziu numa campanha de massa e nem em mobilizações populares.
Se a campanha é importante em termos de proselitismo político, ela é inefetiva
em termos de capacidade de pressionar o STF e outros poderes a ponto de proporcionar
a liberdade de Lula.
Nem a maioria do STF, nem os generais que pressionam o
Supremo para manter Lula preso temem o PT.
No jogo
político, um ator ganha efetividade em suas proposições se for capaz de se
fazer temido pela sua força, pela sua astúcia e pela sua competência. Sem essa
capacidade nos partidos de oposição, a militância do PT e da esquerda em geral
é alimentada pela ilusão de que Lula será libertado pelo Supremo através de um
habeas corpus ou que as revelações do The Intercept terão a força de anular o
processo e de colocar Moro na cadeia.
Se não houver foco, se não houver uma
mudança de rumos em torno da questão Lula, corre-se o risco de que haja uma
segunda condenação em segunda instância antes que ele conquiste a liberdade em
função da primeira condenação.
O PT e a
oposição em geral se alimentam de expectativas geradas por acontecimentos que
lhes são externos, por fatos que não produzem e nem controlam. Alimentam a
ilusão de que um fato fortuito qualquer colocará Lula em liberdade ou derrubará
Bolsonaro.
As ilusões produzem a sensação de que é possível vencer sem
lutar
Há algo
incompreensível na atitude das esquerdas quando se trata de pressionar
instituições como o STF e o Congresso a partir de mobilizações de rua. As
esquerdas mostram-se totalmente apáticas nessa prática. A extrema-direita
bolsonariasta, com seu conteúdo fascistóide, não teme em pressionar as duas
instituições, tanto nas redes sociais, quanto nas ruas. Várias análises de
esquerda derrapam para um mi mi mi lamuriento que termina por condenar não só o
conteúdo, mas também a forma da pressão em si sobre o STF e o Congresso como se
isso ferisse a democracia de morte.
É legítimo e necessário pressionar, a
partir das ruas, com conteúdo e formas democráticos, qualquer instituição do
Estado, ainda mais se for considerado que a democracia está capturada por
elites políticas, econômicas e funcionais.
Os bolsonaristas fizeram duas
manifestações políticas neste ano e as oposições nenhuma. Não se pode
considerar os protestos das universidades e os do dia 14 de junho como feitos
dos partidos de oposição.
Excetuando
o Nordeste, a centro-esquerda e a esquerda estão bastante fragilizadas em
termos de presença institucional.
As eleições municipais são um momento
importante para tentar ganhar espaços institucionais.
Como os partidos
caminharão para este objetivo? Fragmentados ou mais unidos? Com que programas?
Não há uma discussão pública acerca dessa temática. Os partidos funcionam,
ainda e desgraçadamente, na era da comunicação instantânea e planetária, como
sociedades secretas.
Por outro
lado, existe a política no plano nacional que tem elevado grau de autonomia em
relação às eleições municipais.
Três atores se movimentam mirando 2022:
Bolsonaro, Moro e Dória. O governador de São Paulo é o mais desenvolto e o mais
explícito nessas movimentações. Quais as linhas de força das oposições? Não se
vencem eleições presidenciais com estratégias de última hora.
*Aldo Fornazieri - cientista político e professor da
Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP)
https://www.brasil247.com/blog/o-governo-vai-mal-e-a-oposicao-nao-vai-bem
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