A turma protegida pela Lava
Jato: bancos, FHC, Guedes, Álvaro Dias e
Onyx
Diálogos publicados
pela parceria entre Intercept e
El País revelam que a Lava
Jato tinha um cuidado especial com o setor bancário. Enquanto a construção civil foi
devassada pela operação, ampliando a crise econômica e o desemprego do país, os
grandes bancos foram poupados. Mesmo sabendo que o setor bancário é o meio pelo
qual o dinheiro de corrupção circula, a Lava Jato pouco fez contra ele. Os
grandes bancos continuaram a lucrar com a roubalheira...
por João Filho no The Intercept
Brasil e Rede Brasil Atual –
Sociedade, Lava Jato e Proteções
Corruptas
reprodução no portal Rede Brasil Atual
Deltan: “Fazer uma ação contra um
banco pedindo pra devolver o valor envolvido na lavagem, ou, melhor ainda,
fazer um acordo monetário, é algo que repercutiria muito, mas muito, bem”
Intercept – A Lava Jato foi muito bem
sucedida em vender a imagem de imparcial e implacável contra a corrupção. Os
procuradores e o ex-juiz Sergio Moro se empenharam para manter a opinião
pública acreditando nisso, como ficou claro pelas publicações da Vaza Jato.
Hoje, sabemos que a operação não era nem tão imparcial, nem tão implacável
contra a corrupção assim. Alguns políticos e setores econômicos contaram com a
leniência dos procuradores.
Lula, por
exemplo, era uma obsessão, um alvo a ser eliminado da corrida eleitoral nem que
para isso fosse necessário infringir a lei. Já FHC era visto como um “apoio
importante”, cujas denúncias deveriam ser tratadas com muito cuidado. Esses são
os casos mais simbólicos, mas há uma infinidade de exemplos que indicam
que a força-tarefa trabalhava com dois pesos e duas medidas.
Nos
últimos três meses, a Vaza Jato deu luz a alguns dos protegidos pela Lava Jato.
Trago a seguir um compilado com algumas das figuras que contaram com uma
abordagem, digamos assim, mais carinhosa.
Lava Jato
Tinha Cuidado Especial com Bancos Grandes
Diálogos
publicados pela parceria entre Intercept e El País revelam que a Lava Jato tinha um cuidado
especial com o setor bancário. Enquanto a construção civil foi devassada pela
operação, ampliando a crise econômica e o desemprego do país, os grandes bancos
foram poupados. Mesmo sabendo que o setor bancário é o meio pelo qual o dinheiro
de corrupção circula, a Lava Jato pouco fez contra ele. Os grandes bancos
continuaram a lucrar com a roubalheira.
“O
Banco, na verdade os bancos, faturaram muuuuuuito com as movimentações
bilionárias dele”, escreveu o procurador Pozzobon em mensagem enviada aos colegas. O banco citado é o Bradesco, e
as movimentações milionárias são de Adir Assad, um lobista condenado por
lavagem de dinheiro e envolvido em diversos casos de corrupção. Os procuradores
sabiam que o Bradesco tinha ciência de que o lobista possuía uma conta no banco
para lavar dinheiro “a rodo”. Na sequência da conversa, Pozzobon responde a sua
própria pergunta: “E o que o Bradesco fez? Nada”.
Sabendo que o Bradesco lucrava
calado com a corrupção do doleiro, o que a Lava Jato fez? Nada também. O banco
saiu impune.
Na
proposta de delação premiada do ex-ministro Palocci entregue à força-tarefa, o
nome do Bradesco aparece 32 vezes. O do banco Safra aparece outras 71. Mas a delação foi rejeitada pelo Ministério Público. O procurador Carlos
Fernando Lima a chamou de “fim da picada” por não trazer provas
suficientes. O fato
causou estranhamento à época, porque, como se sabe, falta de provas nunca foi
um problema para a Lava Jato. Agora ficou mais fácil entender por que a delação
de Palocci não caiu nas graças dos lavajatistas.
Dallagnol
também mostrava-se preocupado em poupar os bancos nas investigações.
Diferentemente das grandes construtoras, que não saíam das manchetes de
corrupção e tinham seus executivos presos, os bancos contaram com a morosidade
da Lava Jato. Nos diálogos com procuradores, Dallagnol deixou claro que os
bancos não sofreriam uma devassa, mas receberiam propostas de acordo: “Fazer
uma ação contra um banco pedindo pra devolver o valor envolvido na lavagem, ou,
melhor ainda, fazer um acordo monetário, é algo que repercutiria muito, mas
muito, bem”. Toda aquela volúpia punitivista contra as construtoras não
era a mesma para os bancos.
Mas
estamos falando dos grandes. Os pequenos bancos não contavam com a mesma
benevolência. Em maio deste ano, quando três executivos do Banco Paulista foram
presos, Pozzobon deixou claro que a estratégia era pegar leve com os grandes.
Enquanto os pequenos tinham seus executivos indo para cadeia, aos grandes
seriam oferecidos acordos: “Chutaremos a porta de um banco menor, com fraudes
escancaradas, enquanto estamos com rodada de negociações em curso com bancos
maiores. A mensagem será passada!”
Nessa
mesma época, Dallagnol enchia o seu pé de meia dando palestras para CEOs dos
grandes bancos do país. Em apenas uma palestra vendida para a Febraban, o
procurador recebeu quase o mesmo valor de um mês de salário. Essa palestra foi
feita um dia depois de Pozzobon afirmar no Telegram que o Bradesco sabia que a
conta de Assad servia para lavagem de dinheiro. O tema da palestra? Prevenção e
combate à…lavagem de dinheiro.
Se
houvesse uma Lava Jato da Lava Jato, as palestras de Dallagnol para os bancos
seriam tranquilamente configuradas como propinas em troca de proteção nas
investigações. Nós conhecemos bem os métodos lavajatistas. Dallagnol já teria
sofrido até mesmo uma condução coercitiva.
Fernando
Henrique Cardoso Recebeu Proteção
Fernando
Henrique Cardoso também não conheceu o lado implacável da Lava Jato. Os
procuradores não investigaram mais profundamente os casos de corrupção
envolvendo o ex-presidente e seu governo. E não foram poucas as vezes que o nome do ex-presidente
apareceu nas investigações.
A ordem
veio de Sergio Moro, que recomendou a Dallagnol que não prosseguisse com as
investigações contra FHC para não “melindrar alguém cujo apoio é importante”.
Como os desejos de Moro soavam como ordens para Dallagnol, as investigações
foram engavetadas.
Imagem na internet
Uma
operação de caráter essencialmente político precisava articular alianças
políticas e usava o seu poder para protegê-las. Não foi à toa que
recentemente FHC chamou as publicações da Vaza Jato de “tempestade em copo
d`água”. A aliança segue firme.
Álvaro
Dias Foi Protegido
Durante
as investigações, o nome de Álvaro Dias, do Podemos, surgiu em dois episódios
como beneficiário de propinas. Em um deles, o ex-candidato a presidente foi
acusado de receber propina para ajudar a melar a CPI da Petrobras. O ex-senador
chegou a prestar depoimento para Moro em 2017 sobre o caso, mas o ex-juiz e o então procurador Diogo Castor pegaram tão leve que nem chegaram a
perguntar se ele havia recebido a
propina.
Em outro
episódio, e-mails do advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán indicavam que
Álvaro Dias teria recebido R$ 5 milhões em propina para pegar leve nas
perguntas aos investigados na CPMI de Carlos Cachoeira, o empresário do jogo do
bicho. O caso não mereceu uma investigação mais profunda, e
Dias jamais virou um investigado.
Em 2014,
um doleiro condenado pela Lava Jato estava prestes a apontar Álvaro Dias como o
padrinho político de Alberto Youssef, outro doleiro também condenado pela
operação. Em depoimento, o doleiro passou a descrever quem seria o seu
padrinho, mas foi interrompido pelo juiz Sergio Moro: “A gente não está
entrando nessas identificações, doutor”. O doleiro quis continuar, disse que
não estava “citando nomes”, mas o juiz interrompeu novamente: “Se a gente for
descrever e falar as características, daí não precisa falar o nome, né?” O UOL entrou em contato com o advogado de Meirelles, que confirmou que o padrinho político de
Youssef era mesmo Álvaro Dias.
Depois de
ser poupado pela operação em várias oportunidades, o ex-senador passou a última
campanha presidencial inteira tendo como principal bandeira a defesa da Lava
Jato. Prometeu até o cargo de ministro da Justiça para Sergio Moro.
A
simbiose entre Álvaro Dias e Lava Jato é mesmo fascinante. Até a nova assessora de imprensa contratada por Sergio Moro, por exemplo,
trabalhou durante muitos anos com Álvaro Dias no Senado.
Paulo
Guedes Escapou Ileso da Lava Jato
A
força-tarefa descobriu que uma empresa do ministro fez pagamento a um escritório de fachada, suspeito de lavar dinheiro
para esquema de distribuição de propinas a agentes públicos no governo do
Paraná. Segundo
os investigadores, essa empresa de fachada emitia notas fiscais frias para
justificar o recebimento de dinheiro e gerava recursos em espécie para o
pagamento de propinas. Uma denúncia sobre o caso chegou a ser apresentada, mas
nem o ministro nem ninguém da sua empresa foi denunciado. Curiosamente, os
responsáveis por outras duas empresas que participaram do esquema foram presos,
denunciados e viraram réus.
Carlos
Felisberto Nasser, o operador do esquema, era o responsável pela empresa de
fachada que recebeu grana de Paulo Guedes. Durante buscas da Polícia Federal na
sua casa, Nasser confessou que a sua empresa não existia e que os recursos
colocados nela foram usados em campanhas políticas. Mas, em junho de 2018,
poucos meses do início da campanha presidencial, Sergio Moro anulou esse
depoimento. O juiz declarou que o interrogatório foi ilegal, porque o acusado não
foi informado pelo MPF que tinha o direito de ficar calado. Detalhe: Nasser é
advogado. É o tipo de prudência que não se espera de um juiz
conhecido por infringir a lei reiteradamente.
À época
da descoberta, Guedes já era o grande nome da campanha do Bolsonaro,
apresentado como o fiador da política liberal do candidato. Era o homem que
tornou a extrema direita palatável para o mercado. Uma denúncia contra Guedes
seria avassaladora para Bolsonaro, que passou a campanha explorando o fato de
estar distante dos acusados na Lava Jato. Ou seja, se por um lado a operação se
esforçava em tirar Lula do páreo, por outro poupava a candidatura que levaria
Sergio Moro ao ministério da Justiça. Registre-se que foi Guedes quem convidou Sergio Moro pessoalmente para integrar o
governo.
Caixa 2
de Onyx Lorenzoni Não Aparece na Lava Jato
Você já
conhece esse episódio. É talvez o mais representativo da frouxidão moral de
Sergio Moro e da seletividade da Lava Jato.
Ainda
juiz, Moro disse que “caixa 2 é pior que corrupção”. Depois que virou político e seu
colega de governo Onyx Lorenzoni, do Democratas,, confessou ter cometido crime
de caixa 2, Moro passou a dizer que “caixa dois não é tão
grave quanto corrupção”.
A Vaza
Jato revelou que Onyx, que ocupa o ministério mais importante do governo
Bolsonaro, também contou com a tolerância dos procuradores da operação. Em
diálogo com um militante de um movimento anticorrupção, Dallagnol confessou que sabia que Onyx aparecia na
lista de beneficiários de caixa 2 da Odebrecht: “Já sabia, mas tinha que fingir
que não sabia, o que foi na verdade bom… rs”.
Dallagnol
não apresentou nenhuma denúncia contra Lorenzoni. Varrer essa corrupção para
debaixo do tapete seria estratégico, já que o deputado era considerado o
principal aliado político da campanha pelas “Dez medidas contra a corrupção” —
uma obsessão de Dallagnol. Se o Brasil tem hoje um chefe da Casa Civil
reincidente em caixa 2, é graças à passada de pano da Lava Jato.
A
implacabilidade da Lava Jato contra a corrupção era seletiva. Para alguns
setores econômicos e políticos ela atuava como um “tigrão”, mas para outros
estava mais para “tchuchuco”. A operação selecionava os casos de corrupção que
iria combater a partir dos seus próprios critérios políticos. O brasileiro que
achou que a Lava Jato estava passando o Brasil a limpo foi enganado.
Sergio Moro e Dallagnol Foram
Messiânicos no Golpe 2016
Dallagnol
e Sergio Moro se viam numa jornada messiânica para salvar o Brasil. Tentaram
derrubar ministro do STF, fizeram lobby para emplacar PGR, influenciaram a
campanha presidencial, enfim, brincaram de Deus. Mas não é o Deus cristão. É um
mais parecido com aquele do Bolsonaro. Um Deus que deseja criar um monumento para si. Um Deus acima de tudo, com viés
ideológico.
https://www.redebrasilatual.com.br/destaques/2019/08/a-turma-protegida-pela-lava-jato-bancos-fhc-guedes-alvaro-dias-e-onyx/
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