Por todo
Brasil profissionais de saúde realizam manifestações em defesa do SUS
Atos presenciais e virtuais foram
registrados em pelo menos 18 estados brasileiros na manhã deste domingo
(21.jun)
por Caroline Oliveira no Brasil de Fato – Sociedade e Desprezo pela SUS e Saúde no Brasil
Os
protestos vão desde Itapipoca, Canindé e Sobral, no Ceará, até Porto Alegre, no
Rio Grande do Sul - Reprodução/Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares
O
Brasil é recordista mundial em mortes de profissionais de enfermagem por covid-19. De acordo com o Conselho Federal
de Enfermagem (COFEN), foram registrados mais de 200 óbitos até o dia 19 de
junho. Em média registrada em março, são duas pessoas mortas por dia. No caso
dos médicos, não é diferente: cerca de 140 óbitos, segundo o Sindicato dos
Médicos de São Paulo (SIMESP).
É diante
dessa realidade que são realizadas neste domingo (21) manifestações presenciais
e virtuais em cerca de 20 estados brasileiros em solidariedade aos
trabalhadores e trabalhadoras da saúde, organizadas por entidades ligadas ao
setor, como Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e Associação
Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia.
Segundo
Aristóteles Cardona Júnior, médico de família no sertão pernambucano e
integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, outro fator
mobilizador das manifestações foi a marca de 1 milhão de casos confirmados e 50 mil mortos por
covid-19 no Brasil, sem contar os números desconhecidos
em decorrência da subnotificação.
“É um marco triste nesse momento que a gente
vive. A gente sabe que não são todas as mortes por covid-19 que são evitáveis,
mas muitas poderiam ter sido evitadas se a gente tivesse uma atuação central e
organizada de combate. Não é o que a gente vê por parte do governo federal”,
afirma Cardona Júnior.
Para o
médico, as entidades têm avaliado a repercussão das manifestações de forma
positiva. “Primeiro, porque além das manifestações nas capitais, a gente também
conseguiu que houvesse a mobilização em muitas cidades do interior, cidades
médias, pequenas, em nosso país.” Segundo uma estimativa feita pela rede, os
protestos vão desde Itapipoca, Canindé (CE) e Sobral (CE) até Porto Alegre
(RS), passando por Caruaru (PE), e Pacaraima (RR), e Ilhabela (SP).
Os atos,
que contrastam com a invasão de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro
a hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), também
chamam a atenção para as declarações do capitão reformado “incentivando
agressões a trabalhadores de saúde em seu ambiente de trabalho”.
"Tem
um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma
maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que
fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são
compatíveis ou não", afirmou o presidente em suas redes sociais
recentemente.
Cardona Júnior
avalia a posição do presidente Bolsonaro como
“irresponsável”. “Não é só um desrespeito, é irresponsabilidade
de servir como disseminação da doença, como possível foco de transmissão. Não
começou agora, começou ao afirmar que só era uma gripezinha e que morreriam 800
pessoas no País. Agora, estamos aí, chegando a mais de 50 mil mortos e não
sabemos até onde tudo isso vai”, defende o médico.
Soma-se a
isso, as organizações alertam, a presença expressiva de militares do Ministério
da Saúde, “que vem comprometendo sobremaneira o trabalho técnico frente à
pandemia”, segundo as entidades. Dos 12 membros das Forças Armadas nomeados
para a pasta pelo ministro Eduardo Pazuello, nenhum tem formação em medicina,
destacam as entidades.
Na
avaliação de Cardona Júnior, falta uma condução técnica e necessária para “o
momento mais crítico da história do nosso sistema de saúde”. De acordo com o
integrante da rede, mesmo na época em que o deputado federal Luiz Henrique Mandetta estava a
frente da pasta, havia uma “condução com muitos pontos
positivos, mesmo havendo discordâncias políticas”.
“Mas
agora a gente não tem quem conduza. Basicamente a gente tem um ministério
ocupado por militares, a maior parte deles talvez todos sem experiência nenhuma
em saúde, a tirar pelo interino, o Pazuello, e que estão ali para cumprir o
papel de liberar a cloroquina para uso por médicos e médicas
do país, quando o mundo todo está mostrando que não tem
efeito, que não ajuda nos casos de infecção por covid-19”, afirma Cardona
Júnior.
Entre os
outros objetivos das manifestações, os organizadores reclamam da falta das
condições dignas de trabalho, caracterizadas pela
escassez de Equipamentos de Proteção individual (EPI) e de organização de
processos de trabalho que possibilitem menores impactos da exposição à doença
ou ao estresse causado pela pandemia.
As
entidades lançaram um manual com orientações gerais para os manifestantes que
foram às ruas neste domingo, como usar máscara o tempo todo, óculos de proteção
ou protetores faciais, álcool em gel e manter a distância mínima de dois metros
em relação aos outros manifestantes.
Edição: Lucas Weber
Publicado no Brasil de Fato em: 21 de Junho de 2020 às 14:22
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/06/21/por-todo-brasil-profissionais-de-saude-realizam-manifestacoes-em-defesa-do-sus
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