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7.24.2014

Bicicleta: chegou a hora de baixar o imposto

BICICLETA SAO PAULO JT GERAL ESPECIAL Grupo "Pedalinas" de mulheres que se reunem para andar de bicicleta. As moças costuma se encontrar na Praça do Ciclista,
Em sinal das injustiças fiscais brasileiras, carga tributária sobre “magrelas” é o dobro da que incide sobre automóveis. Campanha pede isenção do IPI
Por Afonso Capelas Jr, no DCM
No final de junho o governo federal anunciou uma prorrogação, até certo ponto inesperada, no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos automotores. A medida tem a pretensão de proteger as montadoras e a indústria de autopeças da crise que se estabeleceu no setor nos últimos meses.
O efeito colateral é o fortalecimento do que chamo de “império do automóvel” nas cidades brasileiras. As consequências todos já sabemos: mais trânsito caótico, mais congestionamentos, mais poluição sonora e atmosférica, mais cidadãos estressados e doentes, menos qualidade de vida.
Aí fica a pergunta: porque não reduzir – ou até mesmo quase zerar – o IPI das bicicletas produzidas no Brasil? Com isto mais pessoas conseguiriam comprar sua magrela para usá-la, não só como lazer, mas principalmente como meio de transporte, aliviando o caos no trânsito urbano e talvez até melhorando a saúde de quem a usa.
No final do ano passado uma campanha foi iniciada pela rede Bicicleta para Todos, cujo lema é “Menos impostos, mais acesso”. A intenção maior é convencer o governo a quase zerar o IPI das bicicletas. A rede é formada por cicloativistas, além de mais de 120 empresas e organizações não governamentais de várias regiões do país.
Para incrementar a campanha, o Bicicleta para Todos desencadeou um abaixo-assinado que rola nas redes sociais pedindo o fim do IPI para as magrelas. Na petição a rede reivindica não somente a isenção do IPI, mas inclusive de peças e acessórios. O abaixo-assinado já conta com a adesão de mais de cem mil simpatizantes da campanha.
A rede fundamentou-se em uma pesquisa da empresa de consultoria Tendência, realizada a pedido da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas-Aliança Bike. De acordo com o estudo, a isenção de IPI reduziria em 9,1% o preço final da bicicleta importada e em 4,9% a daquela produzida ou montada fora da Zona Franca de Manaus: a fabricação no polo industrial amazônico já está isenta do imposto.
Com a eliminação do IPI e os preços mais baixos as bicicletas, tanto as importadas quanto as produzidas fora da Zona Franca de Manaus, teriam um crescimento na demanda formal prevista em mais de 11%. A íntegra desse estudo pode ser acessado no site do Bicicleta para Todos.
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Sabe-se que, atualmente, quando compra uma bicicleta, o brasileiro(a) chega a pagar mais de 70% de impostos por uma importada: além dos 10% de IPI estão embutidos no preço mais 18% de ICMS, 10,2% de PIS/Cofins e 35% de imposto de importação. Já as cargas tributárias dos automóveis nacionais são próximas a 32%. Os dados são da Aliança Bike.
Já os dados estatísticos da Associação de Ciclistas Urbanos da Cidade de São Paulo (Ciclocidade) mostram que, no Brasil inteiro, 30% dos usuários de bicicletas recebem salários menores que R$ 600 ao mês, menos que um salário mínimo. A Ciclocidade também informa que metade das pessoas que adquire uma bike a utilizam para locomoção diária nas ruas de suas cidades.
Então, a eliminação do IPI ou mesmo uma redução da taxa incentivaria mais pessoas a comprarem bicicletas para usá-las como meio de transporte nas pequenas e médias cidades brasileiras, e nas grandes cidades que já possuem ciclovias.
A campanha do Bicicleta para Todos já surtiu algum efeito. Em abril passado uma proposta de redução do IPI das bikes chegou à Câmara dos Deputados, embora até agora não tenha sido votada. A disposição dos deputados em tratar do assunto, entretanto, já é um avanço.
Por outro lado, o Paraná saiu na frente: acaba de reduzir de 18% para 12% o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no preço final das bicicletas comercializadas no estado. Quem se animar na luta por essa causa pode acessar o portal do Bicicleta para Todos. Lá é possível saber como participar da campanha, aderir ao abaixo-assinado e assistir (e divulgar) um vídeo sobre a campanha. Se gostou, divulgue.
http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/bicicletas-hora-de-zerar-imposto/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=bicicletas-hora-de-zerar-imposto

America Latina busca a neutralidade da influência política, social e econômica dos EUA

Por Alexandra Dibizheva/VdR - de São Paulo-sociedade e economia
A América Latina tem servido como um quintal para os EUA
A América Latina tem servido como um quintal para os EUA
Durante muitos anos, a América Latina sentiu na pele todas as “qualidades” da “boa vizinhança americana”. Cuba, Venezuela, México, Chile, praticamente todos os Estados da parte meridional do continente estiveram sob um rígido controle político, social e econômico dos EUA.
A doutrina Monroe, que definia a América Latina como uma sua zona de particular influência, continua a vigorar hoje. Não obstante as realidades políticas e econômicas terem mudado sensivelmente, os EUA não pretendem renunciar à anterior política de domínio. Os EUA chamaram sempre à América Latina o seu “quintal”. Este princípio foi lançado na famosa doutrina Monroe de 1823, que definiu a política externa dos EUA. Em relação ao seu vizinho do sul, Washington chamou a si o papel de “protetor” e, além disso, limitou claramente a esfera de influência dos Estados europeus, afirma o perito russo Serguei Ermakov:
– O sentido consiste em que os países europeus não devem, de forma alguma, ingerir-se nessa zona. Ela é definida como zona de influência exclusiva dos EUA. Algumas dezenas de anos depois, podemos afirmar que a atitude dos EUA não mudou. A América Latina para eles é uma zona de interesses especiais.
A América Latina era vista por Washington como uma quinta onde tudo se pode fazer. O continente meridional tornou-se uma espécie de campo experimental de futuros princípios da famigerada democracia americana, explica Nikolai Mironov, diretor-geral do Instituto de Projetos Regionais Prioritários:
– Foi precisamente nos países da América Latina que eles (EUA) elaboraram todos os mecanismos das intervenções, das “revoluções floridas”. Foi precisamente aí que tudo começou. Tiveram lugar numerosos golpes de Estado, por detrás dos quais estiveram os Estados Unidos. Incluindo o conhecido, na história, golpe de Pinochet, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende, que se orientava para outro bloco de política externa. Embora não completamente, mas mais para a Europa – disse.
Hoje previsível é a continuação da velha política dos EUA, que querem dominar esse continente, controlar todos os países e não lhes permitir uma política independente”. Hoje, a situação no continente latino-americano mudou. Começou pelo Brasil, Argentina, Chile, Peru. Todos os gigantes mundiais estão interessantes nos contatos comerciais com eles. Por isso, o outrora “quintal” poderá afastar os seus protetores. Os latino-americanos têm consciência hoje clara disso e tentam criar o seu próprio caminho comum, afirma Nikolai Mironov.
– Historicamente, os países latino-americanos sempre procuraram seu próprio centro de atração, que eles poderiam se apoiar e em torno do qual poderiam unir-se e contrapor-se aos EUA. Porque essa pressão – expansão econômica, domínio político, domínio cultural e social – nem sempre lhes agradou, principalmente tendo em conta os golpes militares e as repressões que várias vezes paratiram dos EUA.  Os latino-americanos inclinam-se mais para o seu centro. Por isso o mais provável é o aparecimento aqui de Estados fortes. Por enquanto é o Brasil. No futuro, poderá ser organizado outro bloco regional na América Latina, que irá procurar neutralidade com os EUA – acrescentou.
Semelhante situação não agrada nada a Washington. Mas, por enquanto, não se prevê vias fáceis para que os Latino Americanos a sua neutralidade no continente. Os americanos procuram preparar-se para isso.
A era de Monroe passou. E a América Latina está conseguindo ver a luz no fim do túnel.
http://correiodobrasil.com.br/ultimas/america-latina-tenta-se-livrar-da-influencia-economica-dos-eua/718277/

7.21.2014

Países ditos desenvolvidos são dominados por multinacionais dos alimentos

As multinacionais que controlam o agronegócio.

Por Darío Aranda, Do jornal Pagina 12 - globalização

Três empresas controlam 53% do mercado mundial de sementes, seis empresas de agrotóxicos dominam 76% do setor, e dez corporações controlam 41% do mercado de fertilizantes. Com nomes próprios e cifras de lucros, um relatório internacional lança dados concretos sobre as multinacionais do agronegócio.
"A concentração de poder corporativo das corporações e privatização da pesquisa devem ser discutidas como temas principais na busca de soluções para o problema de quem nos alimentará", afirmou Kathy Jo Wetter, coordenador da pesquisa dos EUA, ao destacar uma das principais "falácias" do agronegócio: "É uma grande mentira que este modelo agroindustrial pode lutar contra a fome no mundo." E levantou a necessidade de acabar com os oligopólios e fortalecer outro modelo.
O Grupo ETC é uma referência no estudo das corporações do agronegócio. Com três décadas de trabalho e escritórios no Canadá, EUA e México, emite periodicamente artigos sobre todos os cinco continentes com base em cruzamentos de informações oficiais de governos e empresas. "Sementes, solos e camponeses. Quem controla os insumos agrícolas? ", resume o estado de coisas das multinacionais do agronegócio.

Estudo

Ele detalha que três empresas controlam mais da metade (53%) do mercado mundial de sementes. Trata-se da Monsanto (26%), DuPont Pioneer (18,2%) e Syngenta (9,2%). As três empresas faturam 18 bilhões de dólares por ano. Entre o quarto e décimo lugar aparecem a companhia Vilmorin (do grupo francês Limagrain), Winfield, a alemã KWS, Bayer, Dow AgroSciences e as japonesas Sakata e Takii.
O relatório observou que as grandes empresas já compraram a maior parte das outras empresas que forneciam as sementes em seus países de origem. Ele observa que a nova estratégia é adquirir e estabelecer parcerias com empresas da Índia, África e América Latina. Citam, como exemplo, o caso da estadunidense Arcadia Biosciences e a argentina Bioceres.
O Grupo ETC alerta que o cartel de sementeiro promove a privatização das sementes pela "proteção mais rigorosa da propriedade intelectual", e o desencorajamento da prática tão antiga quanto a agricultura: guardar sementes da colheita para usar nas próximas plantações.
O quadro legal impulsionado pelo agronegócio e governos se chama UPOV 91 (União Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais), que proíbe a troca de variedades entre agricultores.

Agrotóxicos

A indústria de agroquímicos também está em poucas mãos. Dez empresas controlam 95% do setor. Syngenta (23% de participação no mercado e 10 bilhões de faturamento anual), a Bayer CropScience (17% e 7,5 bilhões), a BASF (12% e 5,4 bilhões de dólares), a Dow AgroSciences (9,6% e 4,2 bilhões de dólares) e Monsanto (7,4% e 3,2 bilhões de dólares por ano).
Entre o sexto e décimo lugar estão a DuPont, Makhteshim (adquirida pela chinesa Agroquímicos Empresa), a australiana Nufarm e as japonesas Sumitomo Chemical e Arysta LifeScience. As dez empresas faturam 41 bilhões por ano.
O relatório observa o crescimento exponencial de agrotóxicos nos países do sul. Os autores questionam o aumento da exposição a produtos químicos e impactos na saúde pública.
"O oligopólio invadiu todo o sistema alimentar", resumiu Kathy Jo Wetter, do escritório do Grupo ETC nos EUA, e defendeu "implementar regulamentações nacionais em matéria de concorrência e estabelecer medidas que defendam a segurança alimentar global."
Criticou o discurso empresário que promete acabar com a fome baseado no modelo agrícola atual: "é uma grande mentira argumentar que intensificando a produção industrial com as tecnologias do Norte (sementes transgênicas, agrotóxicos e genética animal promovidas pelas corporações) a população mundial terá comida para sobreviver. "

Fertilizantes

Em relação aos fertilizantes, dez empresas controlam 41% do mercado e faturam 65 bilhões de dólares. Trata-se das empresas Yara (6,4%), Agrium Inc (6,3), a empresa Mosaic (6.2), PotashCorp (5.4), CF Industries (3.8), Sinofert Holdings (três , 6), K + S Group (2,7), Israel Chemicals (2,4), Uralkali (2.2) e Bunge Ltd (2%).
O Grupo ETC também analisou a indústria farmacêutica animal: sete empresas têm 72% do mercado global. Quanto ao setor dedicado à indústria de genética animal, quatro empresas dominam 97% das pesquisas e desenvolvimento em aves (frangos de engorda, galinhas poedeiras e perus).
Silvia Ribeiro, diretora da América Latina do Grupo ETC, reforçou a necessidade de outro modelo agrícola: "A rede camponesa de produção de alimentos é largamente ignorado ou invisível para os formuladores de políticas que tratam de questões em relação à alimentação, agricultura e crise climática. Isto tem de mudar, os agricultores são os únicos que realmente têm a capacidade e a vontade de alimentar os que sofrem com a fome."

Para reduzir a concentração

O Grupo ETC alerta que a concentração do mercado de alimentos gerou uma alta vulnerabilidade no sistema alimentar global. "É hora de desempoleirar tirar o pó das regulamentações nacionais em matéria de concorrência e começar a considerar medidas internacionais para garantir a segurança alimentar mundial", exige o relatório, enfim, tirar o poder que as multinacionais criaram e pretendem continuar controlando o  comércio mundial.
Recomenda que, para a alimentação e agricultura, o nível de concentração de quatro empresas não deve exceder uma cota de 25% do mercado e uma só empresa não deve ter mais de 10%. Propõe proibir qualquer empresa a venda de sementes cuja produtividade depende de agrotóxicos da mesma empresa. Recomenda aos governos implementar políticas de concorrência que incluam fortes disposições antitruste combinadas com ações concretas para proteger os pequenos produtores e os consumidores. Solicita a Comissão de Segurança Alimentar da ONU avalie seriamente a capacidade do modelo industrial (agronegócio) e fortaleça com medidas concretas a rede de alimentos dos camponeses, “a fim de garantir com êxito a segurança alimentar."

Para ler legendas e créditos, passe o mause sobre a imagem


http://www.carosamigos.com.br/index.php/economia-2/4186-as-multinacionais-que-controlam-o-agronegocio

Política dos EUA é uma confusão, descreve Chomsky

O renomado intelectual Noam Chomsky resumiu, em uma entrevista, a política interna americana com apenas duas palavras: 'pura selvageria.'
 
Por Jacob Chamberlain, Do CommonDreams.com - sociedade

Enquanto o Congresso decide, essa semana, se vai reinstituir um auxílio desemprego de emergência para milhões de americanos ou se aprovará as negociações de uma lei agrícola que cortaria bilhões dos programas de vale-refeição, o renomado ativista e intelectual Noam Chomsky resumiu, em uma entrevista, a política interna americana com apenas duas palavras: ‘pura selvageria.’
“A recusa de proporcionar um padrão de vida mínimo para as pessoas que encontram-se nessa monstruosidade – isso é pura selvageria”. Falou, durante uma entrevista com a HuffPost Live. “Não há outro jeito de dizer.

Vale-refeição

O Washington Post relatou que as atuais negociações da lei agrícola estão pedindo, para a próxima década, a eliminação de $9 bilhões no fundo para o vale-refeição pelo Programa de Assistência Suplementar Nutricional (SNAP), “de acordo com diversos assessores que estão familiarizados com as negociações e que não são autorizados a falar publicamente sobre os detalhes.”
As mudanças iriam diminuir as assistências para, no mínimo, 800.000 famílias, com cortes de até $90 por mês. “Essa é a última semana de feira do mês.”, disse a senadora Kirsten Gillibrand para o Washington Post.
Os Republicanos haviam, originalmente, pedido cortes de $40 bilhões e Democratas, cortes de $4 bilhões. A negociação, que tem uma conclusão esperada para a próxima semana, só é apresentada dois meses depois que os legisladores americanos permitiram um estímulo separado para que a SNAP chegasse ao fim, cortando uma parcela universal de $5 bilhões no financiamento, que arrancou a assistência alimentícia de $47 milhões de beneficiários do vale-refeição, sendo 49% deles crianças.

Fim do auxílio desemprego

Enquanto isso, mês passado, o Congresso acabou com o auxílio desemprego emergencial de longo prazo para 1.3 milhões de americanos, um “salvador de vidas” para muitos que estavam procurando por empregos por um longo período de tempo e dependiam desses benefícios para sobreviver.
Na terça, o Senado, sem muito compromisso, passou uma votação para promover a lei que reinstaura os auxílios desemprego. Mas mesmo que essa lei seja aprovada no Senado, irá enfrentar forte oposição quando chegar na casa dos representantes republicanos.
“Desigualdade tem sido um sério problema por muito tempo,” disse. “A desigualdade, agora, está em um nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920... ou até mais antigamente. Isso é muito grave.”
Qualquer crescimento nos últimos anos foi para os 2% mais ricos da população. Adicionando que uma grande parte da população está vivendo abaixo da linha da pobreza, enquanto que no topo da sociedade, os lucros estão crescendo para os ricos.

Impostos

Contudo, os bloqueios impostos para os programas de serviço público, que muitos dizem ser essenciais para os necessitados nos Estados Unidos, não tem “nada a ver com maçãs podres no Congresso,” falou o estudioso da vida ao jornal HuffPost Live. “São problemas profundamente estruturais que tem conexão com o assalto neoliberal à população, não só americana mas mundial, que tem ocorrido na geração passada. Algumas áreas conseguiram escapar, mas ele se espalhou.”
Disse também:
Anos atrás era costume dizer que os Estados Unidos é um país de um partido – o partido do negócio – com duas facções, Democratas e Republicanos. Isso não é mais verdade. Ainda é um país de um partido – o partido do negócio – mas só com uma facção. E não é a Democrata, são os Republicanos moderados. Os chamados Novos Democratas, que são a força dominante no partido Democrático, são o que eram os Republicanos Moderados décadas atrás. E o resto do partido Republicano tem só flutuado para fora do espectro, se escondido, comentou Chomsky.

http://www.carosamigos.com.br/index.php/economia-2/3847-chomsky-descreve-politica-interna-americana-em-duas-palavras-pura-selvageria

Sociedade brasileira pressiona índios isolados no Acre-Brasil

Etnia indígena desconhecida da Amazônia faz primeiro contato e corre riscos.

Marcela Belchior - Jornalista da Adital - povos livresA Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que, no último dia 29 de junho, um povo indígena que vive isolado na Selva Amazônica brasileira estabeleceu contato pela primeira vez com indígenas Ashaninka, da Aldeia Simpatia, e com funcionários do órgão. A comunicação ocorreu na Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no Estado do Acre, próximo à fronteira com o Peru. A Funai não publicou fotos do encontro.
Segundo a Fundação, o contato se deu com a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira (FPE Envira) e com o sertanista José Carlos Meirelles, membro da Assessoria Indígena do Governo do Acre. Em nota, o órgão afirma que a Frente vinha acompanhando a aproximação dos índios isolados desde o último dia 13 de junho e que a permanência do grupo na região ocorre de forma pacífica. Líderes da tribo Ashaninka, que divide o território com essa tribo e outras também isoladas, teriam pedido ajuda ao governo e a organizações não governamentais (ONGs) para controlarem o que eles considerariam "invasão” de suas terras.
No momento, a equipe da FPE Envira, juntamente com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), do Alto Rio Juruá/Secretaria Especial de Saúde Indígena, está na área para dar início ao Plano de Contingência para Situações de Contato. Os funcionários da Funai encontram-se no local levantando informações por meio de intérpretes, para que haja maior conhecimento desse grupo indígena recentemente distinguido. A quantidade de membros da tribo desconhecida pela Funai é incerta.
O órgão comunica que a Política de Proteção aos Índios Isolados da Funai tem a premissa do não contato, respeitando a autodeterminação dos povos e realizando o trabalho de proteção territorial com a presença destes. No entanto, são previstas ações de intervenção (planos de contingência) quando o grupo indígena isolado procura estabelecê-lo.
Segundo Leonardo Lenin, membro da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, em entrevista ao portal Amazônia real, o que se realiza na política do não contato é proteção territorial. Isso se faz por meio de um trabalho no entorno, observando como o grupo isolado impacta a ocupação territorial dos Ashaninka, tentando compensar problemas, mitigar relações e sensibilizar o grupo já assentado para a proteção dos índios isolados. Outra medida importante é garantir a proteção da saúde desse povo ainda não conhecido. "Esses grupos podem sofrer decréscimo populacional por doenças que eles não adquiriram ainda”, alerta Lenin.
De acordo com a organização Survival Internacional, organização que trabalha pelos direitos dos povos indígenas em todo o mundo, os índios isolados fizeram contato por conta do alastramento da extração ilegal de madeira nas terras e do narcotráfico. Isso provocou sua aproximação com a aldeia assentada Simpatia, dos Ashaninka, chegando a saquear a tribo, levando consigo panelas e facões das malocas indígenas.
O diretor da Survival, Stephen Corry, afirmou, em reportagem da organização: "Tanto o Peru como o Brasil garantiram que parariam a exploração madeireira ilegal e o tráfico de drogas que estão empurrando índios isolados para novas áreas. Eles fracassaram. Os traficantes até ocuparam um posto de guarda do governo destinado a monitorá-los. Os índios isolados agora enfrentam o mesmo risco genocida de doenças e da violência, que caracterizou a invasão e ocupação das Américas durante os últimos cinco séculos. Ninguém tem o direito de destruir esses índios”.
Segundo a revista Carta Capital, o clima ficou tenso entre os índios "desconhecidos” e os Ashaninka, levando o Governo do Acre a realizar uma operação de segurança com apoio do Exército e da Polícia Federal na fronteira. Em nota divulgada no último dia 17 de junho, o governo informou que a chamada "Operação Simpatia” consistiu em averiguar as ameaças que a comunidade recebia dos índios isolados.
Em entrevista à Adital, Gil Rodrigues, integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), avalia com cautela esse primeiro contato. "Porque isso pode causar muitos prejuízos, como a perda de membros desse povo”, afirma. Ele diz preocupar-se com a falta de um plano de trabalho que norteie a comunicação da Funai nesse caso e em situações anteriores.
Rodrigues opina que seria mais prudente atuar na garantia de proteção territorial, preferindo a Funai estabelecer contato com os responsáveis pelo avanço da extração de madeira, além do governo peruano, e não com a tribo indígena. "São esses territórios que garantem sua sobrevivência”, destaca. Segundo o indigenista, esse tipo de situação tem se expandido na área. "Inclusive, temos feito várias denúncias para que a Funai possa ter um olhar mais sensível para aquela região. E isso tem um agravante por ser zona de fronteira”, aponta.
Os Ashaninka e outros grupos
Na aldeia Simpatia vivem, hoje, pelo menos 70 índios Ashaninka, sendo a maioria deles mulheres e crianças. A comunidade está localizada na Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, regularizada pela Funai com 232.795 hectares. Na reserva existem seis aldeias Ashaninka, onde moram 420 índios da etnia. Os indígenas Ashaninka pertencem à família linguística Aruak (ou Arawak).
Na região do Alto Envira, da fronteira com o Peru, conhecida como Paralelo 10, em 30 anos de pesquisas, três grupos de índios isolados foram avistados, denominados pela Funai como o povo da cabeceireira do Riozinho, o povo do Rio Xinane e o povo do Rio Humaitá. Há um quarto grupo isolado no Acre, que é denominado pelo órgão de Mashco-Piro. Com o contato na aldeia Simpatia, a Fundação tenta qualificar os índios desconhecidos por meio de intérpretes, para que haja maior conhecimento do grupo e sua língua.
Saiba mais sobre índios isolados no Brasil
- A Amazônia brasileira é o maior reduto de tribos indígenas isoladas no mundo, com estimativa de abrigar 77 grupos.
- No Estado do Acre, estima-se que existam cerca de 600 índios pertencentes a quatro grupos diferentes.
- A postura dessas tribos de não manter contato com outros povos indígenas e não-índios pode ser resultado de anteriores encontros negativos e da contínua invasão e destruição de sua floresta.
- Grupos isolados que vivem no Estado do Acre são provavelmente sobreviventes do ciclo da borracha, quando muitos índios foram escravizados para explorar a matéria-prima do local.
- Nada ou pouco se sabe sobre esses povos isolados. Alguns deles já dispararam flechas contra pessoas estranhas às tribos e contra aviões ou simplesmente evitam contato, recolhendo-se floresta adentro.
- Alguns grupos isolados beiram à extinção, com apenas alguns indivíduos restantes. Pequenos grupos que vivem principalmente nos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Maranhão são sobreviventes da grilagem de terras, quando foram alvejados e mortos por madeireiros, fazendeiros e outros. Hoje, eles ainda são deliberadamente caçados e suas florestas estão sendo rapidamente destruídas.
- Grandes projetos de construção de hidrelétricas e estradas, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo brasileiro, representam graves ameaças. As represas de Jirau e Santo Antônio, em construção no rio Madeira, Rondônia, estão muito próximas de vários grupos de índios isolados.
- Relatório recente aponta que os índios estão abandonando suas terras devido ao barulho e à poluição das obras de construção das hidrelétricas.
- Todos são extremamente vulneráveis a doenças como gripe ou resfriado, que são transmitidas por pessoas de fora e para as quais os índios não apresentam resistência imunológica.
 http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=81563

7.19.2014

Os BRICS podem mudar a geopolítica do mundo ?

Um jovem pesquisador brasileiro sustenta: EUA e Europa querem minar a aliança das periferias, porque não aceitam dividir poder global com os BRICS
Por Gabriel Elizondo, correspondente da Al Jazeera no Brasil - Globalização
Oliver Stuenkel (na foto abaixo) fez parte da delegação brasileira para o fórum acadêmico Track II, em preparação para a Cúpula de Nova Délhi para líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), que aconteceu em março de 2012.
Stuenkel é especializado nas relações do Brasil com a Índia, mas também foca mais amplamente suas pesquisas nos BRICS. Ele é atualmente professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Também coordena um blog chamado Post Western World, que olha como as potências emergentes estão mudando o mundo.
Abaixo, estão partes de minha entrevista com Stuenkel, na qual ele lança luz sobre o Brasil e as perspectivas e desafios que os BRICS enfrentam. Ele também contraria aqueles que dizem que os BRICS falharam.

Oliver Stuenkel
Oliver Stuenkel: Ser parte dos BRICS é muito importante por que o conceito tem implicações geopolíticas. O país é visto como uma ameaça potencial aos poderes estabelecidos. E o Brasil tradicionalmente tem estado distante das áreas e temas mais importantes do mundo. Nunca fora visto antes como uma ameaça potencial, ou um país poderoso, com impacto relevante na situação global. Mas ser parte dos BRICS muda esta percepção, em algum grau. A aliança faz do Brasil um ator muito mais importante, na perspectiva europeia e norte-americana.

Penso que há, no Brasil, uma grande consciência de que ser parte dessa aliança, ou grupo, pode permitir participar, por exemplo, no debate sobre a emergência da Ásia. Isso é importante porque, até a inclusão da África do Sul, os BRICS eram basicamente três países (China, Rússia e Índia) que fazem parte da massa territorial da Eurásia. O Brasil é muito distante deles, geograficamente. Combinado com o fato de que Rússia, Índia e China se conhecem há muito tempo, isso contribuiu para o fato que, até a África do Sul se juntar, o Brasil manter-se como um estranho. A inclusão dos sul-africanos ajudou os BRICS a assumirem dimensão global, capaz de representar mais continentes. Também fez com que o Brasil se sentisse menos excluído.
A China ultrapassou os Estados Unidos, como maior parceiro comercial do Brasil. A relação do Brasil com os BRICS tornou-se mais importante que a relação com os Estados Unidos, ou até mesmo o Mercosul?
Stuenkel: É difícil responder isso, mas o governo brasileiro continua a focar na sua própria região. Existe um forte reconhecimento, no Brasil, de que o país sempre será parte da América do Sul e de que os laços econômicos e políticos com essa região sempre serão uma prioridade. No que diz respeito aos Estados Unidos, acredito que há uma divisão na liderança brasileira. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a maioria dos políticos diriam que os EUA eram absolutamente uma prioridade. Mas agora, com os governos de Rousseff e Lula, existem pessoas tentando equilibrar as duas. Acredito que o Brasil nunca escolher entre os BRICS ou os Estados Unidos – sempre haverá um certo equilíbrio.
Você acredita que os Estados Unidos e a Europa prefeririam que os BRICS fracassassem?
Stuenkel: No lado norte-americano, acho que existe um interesse forte em reduzir os laços entre o Brasil e o resto dos BRICS. Acredito existir um entendimento claro de que o fortalecimento destas relações é problemático… Repare que há muito poucas alianças poderosas no mundo sem nenhuma participação europeia ou norte-americana. Os BRICS são a única. E esse não é o interesse dos Estados Unidos.
Você vê evidências de interesses poderosos tentando dividir os BRICS?
Stuenkel: Existem esforços, nos Estados Unidos, para enfraquecer as relações entre o Brasil e os outros países do BRICS. Vemos isso na mídia. É muito difícil encontrar hoje qualquer comentarista norte-americano ou europeu que fale que o BRICS pode ser algo bom, a ser apoiado. A visão dos comentaristas e acadêmicos norte-americanos e europeus sobre o BRICS é muito mais cética que a Índia, por exemplo — onde há um novo grupo de pensadores emergindo.
Qual o maior desafio que o BRICS enfrenta?
Stuenkel: Articular uma visão comum, para mostrar ao resto do mundo que é uma aliança poderosa, que pode construir uma visão clara do que quer… Também acho que os BRICS precisam ser mais inovadores, porque agora estão sendo comparados a experiências passadas como o G7 e mesmo a União Europeia e OTAN. Muitas pessoas dizem “os BRICS não se parecem com a UE ou com a OTAN – por isso, vão falhar”. Acredito que o verdadeiro desafio para é pensar fora do padrão, considerar novas ideias, criar algo que nem existe ainda e não entrará em xeque quando algum problema bilateral entre seus membros aparecer.
Se forem capazes de fazer isso, quais serão os resultados?
Stuenkel: Se os BRICS forem capazes de falar com uma só voz em qualquer situação que envolva assuntos globais, vão se converter imediatamente em construtores de agenda e numa voz muito poderosa, que nem os Estados Unidos, nem a União Europeia poderão ignorar. Seria a primeira vez que teríamos uma alternativa séria à narrativa das potências estabelecidas sobre como ver o mundo. O controle do discurso global pelos norte-americanos ainda é bastante forte, porque os países emergentes não são capazes de articular uma visão alternativa nesse ponto. Os BRICS podem mudar isso.
Algumas pessoas dizem que os BRICS já falharam, por não terem estabelecido narrativa e visão unificadas. Você concorda?
Stuenkel: Não. Acho que existe, nos Estados Unidos e na Europa, interesse em assegurar que os BRICS não estabeleçam uma narrativa. Muitas análises que procuram criar uma imagem de que o BRICS são incapazes de encontrar essa visão comum. É bastante natural que países que começaram a se reunir formalmente há apenas quatro anos ainda tenham problemas a resolver. Nunca chegará o dia em que concordem em tudo, assim como a União Europeia e a OTAN não concordam em tudo.
Por que alguém que vive fora dos países do BRICS deveria se importar com eles, ou com o fato de se encontrarem anualmente como um grupo?
Stuenkel: Porque os BRICS têm o potencial de se tornarem uma voz muito importante. Não é possível resolver as mudanças climáticas, nem lidar efetivamente com a instabilidade financeira global, sem eles. Se estes cinco países disserem: “temos uma posição comum quanto às mudanças climáticas”, isso será de importância crucial para a próxima cúpula sobre o tema, e para o próprio debate global.
Onde você vê os BRICS em 2030?
Stuenkel: Em 2030, das quatro maiores economias do mundo, três serão países do BRICS. Eu acho que isso irá mudar fundamentalmente o mundo.
http://outraspalavras.net/posts/por-que-os-brics-podem-mudar-a-geopolitica-do-mundo/

7.08.2014

Quando a imagem diz mais que as palavras

Gráfico da miséria brasileira e a concentração de renda
miséria
A paisagem da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com a favela Rio das Pedras em primeiro plano, no olhar do premiado fotógrafo Luiz Morier, é o gráfico exato da miséria, da concentração de renda e da falência de um sistema que permite a coexistência, em uma mesma cena, da miséria humana e do crime ambiental cometido por pobres e ricos. Ambos lançam seus esgotos sem tratamento nas lagoas de Marapendi. Ambos convivem com a degradação do solo, do ar, das águas e da capacidade humana de se indignar.
http://correiodobrasil.com.br/fotos/grafico-da-miseria-brasileira-e-a-concentracao-de-renda/557467/

7.06.2014

Plebicito para decidir os rumos do Brasil em 2014 ?



Mês que vem começa a propaganda eleitoral compulsiva e compulsória. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro).
Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: "Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?” Adianto aqui a minha resposta: eu sou.
Não será a primeira vez que isso acontece. Em 2002, o presidente FHC queria que o Brasil integrasse a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), monitorada pelos EUA. O povo brasileiro foi consultado em plebiscito. Foram coletados 10.234.143 votos em 46.475 urnas em todo o país. O resultado comprovou a vontade popular: 98,32% dos eleitores se manifestaram contra a entrada do Brasil na Alca.
No mesmo plebiscito havia outra pergunta: se o Brasil deveria ceder o território de Alcântara (MA) para os EUA instalarem uma base militar. Resultado: 98,54% votaram contra. O acordo foi anulado.
Outros plebiscitos foram convocados: em 2000, sobre a dívida externa; em 2007, sobre a privatização da Vale do Rio Doce (que só piorou após sair do controle do Estado).
A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje!
A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e de outras demandas populares.
Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa, e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras.
Participe desde já! Esta é a forma e o momento de mudarmos o sistema político do Brasil, que hoje monopoliza em mãos do Congresso a convocação de plebiscitos e referendos.
Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados em sua cidade, bairro, sindicato, movimento social ou partido político. Faça de seu computador uma arma para o aperfeiçoamento de nossa democracia! Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos: www.plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte / Email: plebiscitoconstituinte@gmail.com
Frei Betto é escritor, autor do romance "Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/ twitter:@freibetto.

Frei Betto

Escritor e assessor de movimentos sociais