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6.21.2023

Governo Federal 2023: Articulações com Câmara Federal, Pontos Bons e Fracos

Rui Costa não tem jogo de cintura, é muito limitado nas articulações com a Câmara Federal e Senado. Por exemplo, não recebe políticos, movimentos sociais, ou pessoas sábias e habeis da sociedade brasileira, tornando-se isolado dentro do Governo e Casa Civil 

por Chico Alves no Uol e Mangue do Cachoeira – Sociedade e Governo Federal Desarticulado

  Foto no Ateliê de Humanidades_internet

Lemos, assistimos e ouvimos informações através da mídia e rede digital, como está atuando o novo Governo Federal em 2023, sob vários aspectos da administração federal.

Acompanhamos em 2002 a administração petista, que na época, com Lula a frente, era o partido de centro esquerda mais atuante e que mais aproximava-se da população historicamente excluída na sociedade brasileira. São os que levam o “fardo nas costas”, como vemos ao longo da civilização no Brasil e em diversos países, suportando as explorações das classes alta e média alta.

Também vimos que o PT e coligados procuram fazer várias articulações para se manterem como força politica a frente da administração pública federal. Por exemplo, na primeira administração petista (2003) alguns membros do PT não aceitaram a aproximação com a elite e mantiveram distanciamento da população mais vulnerável, praticamente fazendo com que surgisse o PSOL em 2004, através de alguns parlamentares mais ativos junto a classe mais oprimida. Fato marcante na existência petista que conhecemos.

A segunda administração federal petista, a partir de 2006, teve que “ceder por demais seus anéis, para não perder os dedos”. Naquele momento o tal do “mensalão” no Congresso fez estragos, ameaçando com o impeachment o presidente. E o partido petista, para se manter no poder, teve que se aproximar mais ao centro e coligando-se com partidos de direita, deixando os ideais de esquerda a distancia, que tanto o fortaleceu para que pudesse chegar ao poder . Foi uma decepção para as pessoas que querem o bem das populações mais vulneráveis e obviamente do país.

Com a Dilma (também conhecida como madame de ferro), a situação foi complicando-se, pois a ex-presidenta não sabe fazer articulação como Lula que veio da pobreza e teve sua formação política-social no movimento sindical , principalmente. A difícil vida de Lula, sua sobrevivência como ser vivo, o moldou acostumando-se a superações difíceis, que muito poucas pessoas talvez consigam algo semelhante. Por não terem passado por “esses caminhos das pedras”, a natureza os privilegiou o presidente atual. Aqui vale lembrar o lendário Pepe Mujica, que confessou ter a personalidade e sabedoria que acompanhamos a distancia, moldada depois que passou 13 anos preso na ditadura uruguaia, ou após atuação na luta armada.

No desempenho atual de Lula e seus seguidores, a articulação política está a cargo de Alexandre Padilha, que aparentemente está se saindo bem. Já Rui Costa, chefe da casa civil complica-se, dificultando a vida do Governo.

Aí é que está “o calo no sapato de Lula e seguidores”.

Esta pessoa é a versão masculinizada de Dilma ex-chefe da Casa Civil de Lula, no segundo governo (2006).

Rui Costa não tem jogo de cintura, é muito limitado nas articulações com a Câmara Federal e Senado. Por exemplo, não recebe políticos, movimentos sociais, ou pessoas sábias e habilitadas na sociedade brasileira que eventualmente poderiam auxiliar o Governo, tornando-se isolado dentro da Casa Civil. Esse tipo de ação lembra a Dilma, tanto como ex- Chefe da Casa Civil de Lula, como ex-presidenta. E deu no que deu. Levou impechment pelas costas.

Na entrevista abaixo do deputado federal Whashington Quaquá (RJ), ele descreve o Rui Costa e sua atuação fraca. Claro que nem tudo o que Quaquá diz na entrevista tem fundamento ou é a melhor sugestão para as ações do Governo Federal, mas ele tem sua parcela de razão. Para articular com uma Câmara Federal, que já foi descrita por alguns do centro esquerda como a pior Câmara na história brasileira republicana (pós-monarquia). E com razão, tem que haver “muito jogo de cintura”, esperteza e sabedoria, para poder avançar os projetos populares ou do interesse da sociedade brasileira, que venham a beneficiar a população mais vulnerável, assim como as melhores práticas governamentais. A constante luta está sendo contra os capitalistas poderosos, tanto na área pública, quanto privada. Neste quesito, a Câmara Federal e o Banco Central, aparentemente, são os que dão as maiores dores de cabeça ao Governo.

E pelo “andor da carruagem”, o Lula volta a cometer os mesmo erros de ter na articulação política alguém que mais atrapalha do que ajuda nessa penosa função.

Segue a entrevista que Quaquá com algumas perguntas e resposta que deu para o UOL. A entrevista completa poderá ser vista no endereço eletrônico citada na fonte** abaixo.

Vice-presidente do PT: 'Relação do (Ministro) Rui Costa com Congresso é uma tragédia'

Se você pega um pedaço do orçamento, digamos R$ 20 bilhões, que é 20% do investimento que o governo federal tem, e determina os locais em que podem ser investidos, estabelece as políticas que podem ser feitas em educação, saúde, etc... Ao deixar isso transparente, eu não vejo nenhum problema

 Washington Quaquá (PT-RJ), vice-presidente nacional do PTImagem: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Não faltam reclamações quanto aos métodos que o governo Lula (PT) usa (sem sucesso) para tentar formar base de apoio no Congresso. Entre os críticos mais ferozes está alguém que faz parte da cúpula do próprio Partido dos Trabalhadores: o deputado Washington Quaquá (RJ), vice-presidente da legenda.

De saída, Quaquá tem uma avaliação sobre o trabalho de um dos principais articuladores do governo, o ministro da Casa Civil. "A relação de Rui Costa com o Congresso é uma tragédia", disse ele à Uol.

Além de lamentar que o titular da Casa Civil não recebe os deputados que procuram no Executivo, o vice-presidente do PT refuta o discurso feito por Costa na Bahia, menos-prezando a atividade parlamentar que ocorre em Brasília.

Quaquá sugere ao governo que estabeleça uma cota de emendas e as libere aos deputados e senadores. Isso, acredita ele, resolveria encrencas como a discussão sobre a saída de Daniela Carneiro do Ministério do Turismo, a pedido do União Brasil. Comenta-se que 50 deputados da legenda iriam para a oposição se isso não acontecesse. "Conversa fiada", diz o deputado petista. "Se o governo der R$ 50 milhões para cada deputado do União Brasil, 90% deles vão votar com a gente". (Há lideres políticos que acham que por menos compra-se esses parlamentares).

Outra orientação ao governo: tratar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) não como um chantagista. Quaquá descreve Lira como um "fenômeno político brasileiro", uma espécie de "presidente do sindicato dos parlamentares". "Tem sido muito justo com o Brasil", afirma o vice-presidente do PT. (sic)

UOL - O sr. acha que o governo deveria aceitar o pleito do União Brasil, que exige a saída da ministra do Turismo, Daniela Carneiro?

Washington Quaquá - Eu acho que a Daniela contempla o Rio de Janeiro, é uma mulher evangélica, é da Baixada Fluminense. Ela e o Waguinho (marido de Daniela, que é prefeito da cidade fluminense de Belford Roxo) foram muito leais ao presidente Lula na campanha, ele apoiou o Lula a vida inteira.

Outra coisa: não é isso que vai resolver os problemas da base do governo. O que vai resolver é emenda parlamentar. Deputado quer fazer parte do orçamento, manejar uma parte do orçamento para a base dele, para o município dele, para o estado dele. Isso é justo. Eu não acho injusto, porque o Brasil dá muito poder ao Parlamento. O Parlamento quer compartilhar (esse) poder.

Se você pega um pedaço do orçamento, digamos R$ 20 bilhões, que é 20% do investimento que o governo federal tem, e determina os locais em que podem ser investidos, estabelece as políticas que podem ser feitas em educação, saúde, etc... Ao deixar isso transparente, eu não vejo nenhum problema. É isso que vai resolver a base do governo, não quer ministério.

Por que acha que isso não está sendo colocado em prática?

Não sei. Acho um erro do governo.

Os caciques do União Brasil dizem que querem o Ministério do Turismo e ameaçaram levar 50 deputados para a oposição?

Mentira. Eles não controlam ninguém ali. Isso é conversa fiada (talvez chantagem). Se o governo der R$ 50 milhões para cada deputado do União Brasil, 90% deles vão votar com a gente.

O sr. já deu essa sugestão à equipe do governo, ao presidente Lula?

Já falei com o [ministro Alexandre] Padilha, já falei com o líder [deputado José Guimarães], não estive com o Lula ainda, mas já mandei recado.

Falou para o Rui Costa?

Não. Não ando falando com o Rui. Eu acho a relação do Rui Costa com o Congresso uma tragédia.

O que ele deveria fazer e não faz?

Primeiro, receber os deputados. Tratar os deputados como parte do poder da República. E aquele discurso que ele fez lá na Bahia foi uma tragédia. Falou sobre Brasília e sobre os deputados, falando que aquilo lá é um circo, uma Disneylândia. Até parece que na Bahia nós [do PT] não fazermos aliança com a Assembleia de lá, inclusive de maneira correta. Ministro de Estado não pode fazer graça, tem que medir o que fala.

O sr. acha que o ministro Padilha está se conduzindo bem. O problema é o ministro Rui Costa?

Sou amigo do Padilha e gosto muito dele. Mas precisa primeiro entender o presidente [Arthur] Lira como um fenômeno político brasileiro. Hoje, o presidente da Câmara é o presidente do sindicato dos parlamentares, ele representa os interesses dos parlamentares. Não tem mais um Ulysses Guimarães, que defendia teses. Hoje você tem um cara que defende o mandato dos deputados. Lira faz isso muito bem.

Então, ele tem hoje maioria na Câmara e tem sido um cara muito justo com o Brasil. Eu digo isso porque ele deu estabilidade ao Bolsonaro, e ele quer dar estabilidade ao Lula, ele quer entregar a estabilidade ao país. Precisa tratar o Lira como parceiro da estabilidade, não como um adversário, entendeu?

Eu acho que o erro do governo hoje é tratar o Lira não como um parceiro da estabilidade, mas como um chantagista. Tem que entender o momento que a gente vive no país, o momento institucional do país. Entender que a Constituição de 1988 permitiu que os parlamentos municipais, estaduais e o nacional tenham um poder grande e que é preciso compartilhar poder com esse parlamento.

 *Chico Alvescolunista do UOL

Publicado no Uol: 13/06/2023

**Fonte https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2023/06/13/vice-presidente-do-pt-relacao-de-rui-costa-com-congresso-e-uma-tragedia.htm