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4.09.2016

Na Itália, crianças ganham pontos no boletim por usar bicicleta

Por Mauro Donato, para o site Diário do Centro do Mundo - Sociedade e Mobilidade

Enquanto isso, na Itália
Enquanto isso, na Itália...
Enquanto o ‘glossário do ano’ da revista Veja desta semana insiste em reforçar a falta de bom senso e classificar os adeptos da bicicleta em comunistas vagabundos, eleitores do PT, beneficiários do BNDES, a cidade italiana de Aprilia (próxima a Roma) incentiva os alunos a utilizarem a bicicleta de três a quatro vezes por semana para ir à escola. A recompensa? Pontos no boletim.
A ideia partiu do aluno Lorenzo Catalli, que no trajeto feito diariamente a bordo do carro do pai levantou a questão de como a vida se tornaria mais simples e menos estressante se todos pudessem dispensar o automóvel. Os dois criaram um esboço do projeto que posteriormente foi apoiado e desenvolvido pela Università La Sapienza, em Roma: um dispositivo instalado na bicicleta faz o registro de data, horário e a distância percorrida e calcula a quantidade de emissão de gás carbônico que seria lançada no ar se feita por carro.
As pedaladas são convertidas em pontuação como ‘prática de atividades extracurriculares’ e acrescidas na média final do aluno o que colabora na nota do Exame de Estado (algo semelhante ao nosso Enem que visa o ingresso no ensino superior). Exigência: mínimo de frequência de três vezes por semana indo de bicicleta para a escola. Batizado Bike Control, o sucesso foi tanto que a prefeitura deu apoio e financiou a campanha e lojas de bicicleta dão descontos para os alunos participarem do programa.
Não é um caso isolado, longe disso. Por todo o país o projeto Bici a Scuola é um conjunto de medidas que buscam incentivar o uso do meio de transporte sustentável entre os mais jovens. E também não é de hoje.
Desde 2013 a escola Merelli (Roma) promove a iniciativa de que pelo menos uma vez por semana pais pedalem com seus filhos até a instituição;
Na cidade de Cremona, a prefeitura cede bicicletas para os estudantes fazerem parte do projeto. Fornecidas em regime de comodato, a condição é que as magrelas devem receber manutenção dos próprios jovens e utilizadas em atividades didáticas externas;
Em Veneza, um projeto chamado Presto estimula pais e alunos a utilizarem suas bikes e isso conta pontos no GreenMile (milhas verdes) uma iniciativa de educação ativa à mobilidade sustentável. O acúmulo das milhas resulta em prêmios para as escolas e classes vencedoras na pontuação;
Em Milão, o Bici a Scuola foi tão bem aceito que desde outubro do ano passado pais decidiram organizar grupos para levarem seus filhos pequenos à escola juntos. Desdobramento: já há jovens voluntários realizando a tarefa de acompanha-los e o clima é de passeio;
Na cidade de Sestu (Cagliari), desde 2012 alunos de todas as séries recebem curso instruindo-os a fazerem uso do meio de transporte ecológico. Desde a escola primária as crianças aprendem regras de trânsito, sinalização dedicada a bicicletas e também manutenção simples.
Lembre que estamos falando de um país onde o ciclismo é um dos esportes mais populares (aliás o Bici a Scuola é uma iniciativa nacional apoiada pelo Giro d’Italia), onde o uso cotidiano da bicicleta é difundido há muitas gerações. Importante saber também que o sistema de avaliação nas escolas italianas, além das costumeiras provas, já conta com uma variedade de atividades extracurriculares que podem ser contabilizadas no ‘crédito de formação’, como a realização de trabalhos voluntários por exemplo, e ainda assim o uso da bicicleta se transformou em mais uma e de grande sucesso.
Por que no Brasil nada se faz nesse sentido, não se pensa em algo parecido? Temos ainda a vantagem do clima que propicia o uso da bike durante o ano todo, enquanto na Itália o inverno é rigoroso, com neve em muitas regiões. Então, repito, por quê?
É que a despeito de todas as vantagens e benefícios que a adesão a bicicleta traz em termos de respeito ao meio ambiente, de mobilidade sustentável, com todas as consequências positivas para o clima global, por essas bandas o uso da bike se transformou em peleja ideológica e ninguém quer ver seu filho ser xingado e atacado por uma besta motorizada e reacionária que acredita que a rua seja dele e que as ciclofaixas serem vermelhas são mais um sinal evidente do bolivarianismo instalado.
Ao passo que em muitos lugares pais e filhos estão pedalando juntos rumo à escola, no Brasil alguns genitores vão para a avenida ensinar suas crianças a xingarem políticos e ciclistas. Uma cretinice que só prejudica a todos. Mais bicicletas significa menos poluição, vida mais saudável, cidade mais amistosa.
Enquanto no mundo todo a bicicleta é um meio de transporte estimulado, aqui a revista Veja abastece seu leitor com o que há de mais retrógrado e desinformativo.
Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo 
 http://www.diariodocentrodomundo.com.br/na-italia-criancas-ganham-pontos-no-boletim-por-usar-bike-aqui-sao-comunistas-por-mauro-donato/

EUA estão na lista dos paraísos fiscais dos" Panamá Papers"

  • As pessoas agora querem ir para os EUA ocultar os seus bens, seja por motivos legítimos ou obscuros
Do site DW, para Diário do Centro do Mundo - Sociedade e Economia Ilegal
 Quando alguém pensa em lugares para abrigar dinheiro legal ou ilegal dos olhos curiosos das autoridades governamentais, logo vêm à mente destinos como Suíça, Luxemburgo ou as Ilhas Cayman. Mas, diferentemente do estado americano de Nevada, nenhum deles foi parar na lista dos dez paraísos fiscais mais populares do planeta, de acordo com os Panama Papers.
O vazamento, entretanto, mostra apenas os dados de uma empresa, a Mossack Fonseca, e, portanto, não é representativo. Mas não é por acaso que Nevada esteja entre os principais paraísos fiscais do mundo e alguns refúgios fiscais tradicionais não estejam.
“Nevada faz propaganda entre os estrangeiros como um refúgio sigiloso”, explica Jason Sharman, professor da Universidade de Griffith, na Austrália, autor de uma extensa pesquisa sobre os paraísos fiscais.
Paraíso sigiloso
O que torna Nevada, onde fica Las Vegas, não apenas um paraíso para jogadores, mas também para pessoas que desejam abrigar sua fortuna, é fato de o estado fornecer o máximo de sigilo e flexibilidade com um mínimo de compromisso.
“Nevada é uma jurisdição muito popular para trustes”, ressalta Peter Cotorceanu, especialista em imposto americano no Anaford, escritório de advocacia sediado em Zurique, que presta assessoria a clientes ricos sobre questões fiscais internacionais. “Trustes são muitas vezes utilizados por pessoas que querem o anonimato.”
“Nevada é interessante porque fornece a aparente respeitabilidade da principal economia do mundo, ao invés de ser uma ilha tropical estigmatizada, e tem disposições de sigilo mais fortes do que os paraísos fiscais tradicionais”, observa, por sua vez, Sharman.
“O estado é algo único”, acrescenta. “Porque divulga abertamente sua falta de cooperação com autoridades federais dos EUA, mas, sem dúvida alguma, não deixa nada a dever quando se trata em fornecer sigilo financeiro para as empresas”, sublinha.
“Nos EUA, quase nenhum estado requer propriedade detalhada para organização empresarial”, diz Scott Dyreng, especialista em direito tributário e contabilidade da Universidade de Duke.
Surpreendentemente, enquanto Washington liderou o combate internacional contra o sigilo dos paraísos fiscais em 2010, criando o Foreign Tax Compliance Act (Fatca), lei que obriga as instituições financeiras estrangeiras a revelar detalhes sobre titulares de contas americanas às autoridades fiscais dos EUA, o próprio governo americano tem sido relutante em fazer o mesmo em relação a estrangeiros que possuem ativos nos EUA.
Dois anos atrás, a OCDE lançou uma iniciativa de transparência modelada segundo o Fatca para a troca de informações entre autoridades fiscais sobre contas no estrangeiro. Quase todos os paraísos fiscais tradicionais assinaram o tratado. Mas os EUA até agora se recusam a aderir ao acordo multilateral.
“Oficialmente, os EUA argumentam que não há necessidade de fazê-lo, pois uma abordagem bilateral já seria suficiente”, salienta Omri Marian, perito em tributação internacional na Universidade da Califórnia.
“Na realidade, porém, acho que há uma pressão política considerável contra os esforços de transparência financeira”, acrescenta Marian. “Republicanos no Congresso americano introduziram projetos de lei para revogar o Fatca, e até mesmo processaram o governo para suspender a execução da Fatca. O argumento padrão contra ela é a privacidade financeira.”
Com a maioria dos outros esconderijos financeiros tradicionais tendo aderido ao acordo da OCDE, os EUA, de repente, se encontram na posição desconfortável de se tornarem um destino preferido para ativos ilegais.
“Isso é exatamente o que aconteceu agora”, constata Cotorceanu. “Antes, havia muitos países em questão, mas com a iniciativa de transparência da OCDE e com a adesão a ela de países como Suíça, Cingapura e todas as ilhas offshore, os EUA, de repente, foram deixados como o único player realmente grande ainda fora desse sistema. As pessoas agora querem ir para os EUA ocultar os seus bens, seja por motivos legítimos ou obscuros.”
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/eua-estao-na-lista-dos-paraisos-fiscais-dos-panama-papers/