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8.09.2015

Por que usamos o celular e redes sociais de forma excessiva?

Por Eduardo Guedes*
 
Adital - Sociedade e Relações Sociais

Não faz muito tempo, para falar com alguém precisaríamos ligar para o telefone fixo da pessoa. Conhecíamos as vozes dos pais, irmãos, filhos, marido ou esposa. Tínhamos uma certa disciplina e normas de etiqueta social, pois telefonar muito tarde para a casa de alguém significaria, possivelmente, acordar a sua família inteira. Tínhamos também um certo planejamento, pois marcar um encontro no final de semana exigia pontualidade no horário e local previamente acordado.

O mundo evolui. E evoluiu rápido, felizmente. O telefone fixo, que antes era patrimônio declarado no imposto de renda, deixou de ser a estrela da casa. Cada membro da família ganhou o seu telefone particular. Na verdade, mais do que isso, receberam poderosos computadores de bolso que funcionam como tocadores de músicas, despertador, e-mail, GPS, mensagens instantâneas, câmera fotográfica, gravador, entre milhares de outras funções.
Sem dúvida, não podemos negar os benefícios que o avanço das tecnologias de informação e comunicação (TICS) produziram e produzem. Desde as tecnologias mais antigas, como a pintura rupestre, o propósito original sempre foi otimizar o tempo, encurtar distâncias ou nutrir as relações humanas. Através do Waze, se consegue escolher as melhores rotas, fugir do transito e otimizar o tempo; com o WhatsApp, se compartilha momentos com fotos e emoticons enviados para a esposa, filhos ou outros familiares; e através das redes sociais se comunica com pessoas distantes com quem não falaria normalmente no dia a dia.
O curioso é que estas mesmas tecnologias que aproximam pessoas distantes, se mal utilizadas, também distanciam pessoas próximas, prejudicam o tempo e servem como gatilho de problemas relacionais. Na verdade, o problema não é a tecnologia em si, ou o tempo que se dedica, mas sim o uso abusivo e a forma com que se relaciona com a tecnologia. A esposa que briga com o marido pela mensagem que foi lida mas não foi respondida naquele mesmo instante; a família que mal conversa entre si durante os almoços de domingo, pois cada um prefere ficar mergulhado no mundo particular de seus dispositivos e apps; e as horas de sono perdidas em navegações intermináveis madrugada adentro no mural do Facebook.
O mundo das tecnologias é mesmo muito convidativo, benéfico e transformador, mas pode se tornar um universo raso, de muitas interações e pouca profundidade e, também , palco de fuga ou idealizações.
Assim como aconteceu com a chegada do jornal, o rádio e a televisão, a internet está atualmente transformando os hábitos da sociedade. Em paralelo à vida real há uma sociedade virtual, movida por meio das novas tecnologias. Em função disso, as pessoas também estão vivendo vidas paralelas: uma real e uma virtual. Através da internet, elas adicionam novos amigos, namoram, compram, trabalham, ganham dinheiro, pesquisam, estudam, escrevem mensagens no lugar de bilhetes ou cartas. O problema é que muitos agem como se tivessem de fato duas personalidades, o que na verdade é uma ilusão. A vida virtual é uma extensão da vida real e não um substituto ou uma alternativa.
O mecanismo do prazer, vivenciado através de redes sociais, estimula uma determinada área do cérebro conhecida como córtex cerebral e ativa um sistema de recompensa equivalente a se alimentar, dormir, praticar sexo, ganhar dinheiro etc. 
O uso abusivo destas tecnologias ativa o mesmo sistema neurobiológico, estimulado no consumo de álcool e drogas, liberando no corpo substâncias como a dopamina, que geram uma sensação de prazer. Entretanto, na prática, o usuário abusivo começa a, lentamente, substituir as relações na vida real pelo mundo virtual e passa a ter um comportamento repetitivo em busca das mesmas sensações de prazer vivenciadas anteriormente.
Em outras palavras: falar de si mesmo gera prazer. Nas conversas normais uma pessoa usa em torno de 30% do tempo para falar de si próprio em média. Nas redes sociais este indicador sobe para 90%, com possibilidade de um feedback instantâneo, pois muitas pessoas curtem ou comentam a foto ou a mensagem publicada. Entretanto, pesquisas indicam que mais da metade dos usuários ativos de redes sociais se consideram mais infelizes do que os seus amigos virtuais, pois substituem as relações na vida real pelo mundo virtual e vivem uma história editada, que não conseguem sustentar no dia a dia. No Facebook e Instagram, não existe crise financeira nem problemas conjugais, todos têm dinheiro, o emprego dos sonhos, o casamento perfeito, viagens maravilhosas, etc.
Vivemos realmente tempos barulhentos. Nossa cultura ensina que é preciso produzir sempre mais como indicador de sucesso ou felicidade. Dentro deste contexto, precisamos postar e compartilhar numa tentativa de gritar ao mundo o desejo de pertencimento e alimentar a satisfação do próprio ego. Nos casos mais graves, as redes sociais passam a ser um palco sombrio de fuga ou idealização, em uma peça de teatro inventada mas que sempre terá plateia cheia, virtual, longe da real.
*membro do Instituto Delete, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e especialista sobre o impacto das redes sociais no comportamento humano. 
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85965&langref=PT&cat=24

Especialistas alertam para os problemas causados pelo colesterol alto

O consumo de fibra solúvel ajuda a reduzir a absorção de colesterol na corrente sanguínea

Por  

Por Redação, com ABr – de Brasília:

Considerado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia como grave problema de saúde pública, o colesterol alto não tem sintomas, a menos que a situação seja grave. Neste sábado, quando é promovido o Dia de Combate ao Colesterol Elevado, voluntários da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Associação de Pacientes com Hipercolesterolemia Familiar estiveram no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, fazendo a medição da dosagem de colesterol e dando orientações sobre alimentação.

O colesterol é um lipídio que auxilia no bom funcionamento do organismo, mas, em excesso, torna-se perigosoO colesterol é um lipídio que auxilia no bom funcionamento do organismo, mas, em excesso, torna-se perigoso
 A campanha é voltada especialmente para quem tem hipercolesterolemia familiar, ou seja, quem tem o problema de colesterol alto por origem genética. Segundo a cardiologista Tânia Martinez, a doença faz com que os membros da família estejam sujeitos ao infarto precoce, que ocorre antes dos 30 anos e, em alguns casos, até na adolescência.
A especialista explica que, embora não haja estatísticas, a estimativa é que uma em cada 250 pessoas apresenta o problema que, se não identificado e tratado, provoca um número muito grande de mortes evitáveis, e principalmente entre os jovens.
Segundo a SBC, a boa notícia é que o tratamento de hipercolesterolemia familiar é fácil e muito eficiente e a identificação das famílias com a tendência genética também. Se em uma família há registro de duas ou mais pessoas que tiveram infarto, principalmente antes dos 40 anos, e se o pai e a mãe de uma criança têm colesterol elevado e precisam de tratamento, é recomendável o acompanhamento do nível de colesterol dos filhos. Em muitos casos, é possível identificar o problema antes dos 10 anos.
– É muito importante que as pessoas com parentes que tenham tido infarto ou derrame em idade precoce e quem apresentam algum outro fator de risco, como pressão alta, tabagismo, que seja diabético, tenham o colesterol dosado – aconselha Tânia. Se a doença for tratada precocemente, a pessoa tem grandes chances de levar uma vida normal e evitar infarto.
A médica esclarece que, embora a dieta possa ajudar, quando o problema é familiar geralmente é necessário tratamento com remédios. A preocupação com o consumo de  alimento como verduras, frutas, legumes e fibras e a recomendação de atividade física intensa sempre é importante.
O colesterol é um lipídio que auxilia no bom funcionamento do organismo, mas, em excesso, torna-se perigoso, sobretudo para os maiores de 60 anos, e pode causar doenças cardiovasculares, como infarto.
– Só quando o colesterol passa de uma concentração ideal é que começa a se depositar nas artérias. Começa a fazer umas estrias gordurosas e depois umas placas de gordura e ai as placas, dependendo da área do corpo, coração ou cérebro, promoverão eventos como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, angina – explica Tânia.
Há dois tipos de colesterol: o “bom” (HDL) e o “ruim” (LDL). O consumo de fibra solúvel ajuda a reduzir a absorção de colesterol na corrente sanguínea. Esse tipo de fibra é encontrado na aveia, maçã, pera, ameixa e no feijão.
Peixes como truta, sardinha, atum, salmão, linguado, entre outros, são aliados contra o colesterol alto, pois contêm altos níveis de ômega-3, os ácidos gordos, que podem reduzir a pressão arterial e o risco de desenvolvimento de coágulos sanguíneos. Outros alimentos que ajudam a manter o bom colesterol e a evitar o mau são azeite e castanhas, iogurtes e suco de laranja.
http://correiodobrasil.com.br/especialistas-alertam-para-os-problemas-causados-pelo-colesterol-alto/

O nosso vício na internet tem cura?

por : Diario do Centro do Mundo - Sociedade e Tecnologia
josh
Publicado na BBC Brasil.
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 Quase todas as ruas em quase todas as grandes cidades do mundo estão lotadas de pessoas usando seus celulares, alheias à presença dos outros. É um comportamento que não existia poucas décadas atrás.
Acabamos nos acostumando ao fato de que compartilhar o mesmo espaço físico não significa mais compartilhar da mesma experiência. Onde quer que estejamos, levamos conosco opções muito mais interessantes do que o lugar e o momento que vivemos: amigos, familiares, notícias, imagens, modismos, trabalho e lazer cabem na palma da mão.
Mas como questiona o fotógrafo Josh Pulman, autor do ensaio Somewhere Else (em algum outro lugar, em tradução livre), cujas fotos são exibidas com esta reportagem: “Se duas pessoas estão andando juntas, cada uma prestando atenção a seu telefone, elas estão realmente juntas?”
Faz parte do ser humano ter uma profunda vontade de se conectar. Mas será que esse dom pode nos prejudicar em algum momento? É possível ficar “conectado em excesso”? E o que isso significa para
nosso futuro?
A vida por um fio

Desde sua invenção, o telefone tem sido um motor de agitação social e um foco de ansiedade tecnológica. Imagine a cena através dos olhos do século 19, quando as primeiras estruturas de telefonia começaram a ser instaladas: quilômetros e quilômetros de fios pendurados nas laterais das ruas, perfurando todas as casas. As paredes estavam sendo violadas: o santo lar, ligado a uma nova espécie de interação humana.
“Em breve não seremos mais do que gelatinas transparentes”, lamentou um jornalista britânico em 1897, temendo a perda da privacidade.
Mas, enquanto os primeiros medos em relação ao telefone podem ter sido exagerados, eles também foram um tanto proféticos. Se no fim do século 19 e durante o século 20 nossa vontade foi de plugar todos os locais de trabalho e lazer em redes, o século 21 emerge com o desejo de uma interconexão de nossas mentes nessa trama.
E estamos começando a sentir os efeitos disso.
Assim como seu antepassado no século 19, o telefone celular nasceu como um símbolo de status para as pessoas afluentes e ocupadas. Com o tempo, o luxo se tornou universal. Passamos a entremear a disponibilidade constante no nosso conceito de espaço público e privado, na nossa linguagem corporal e na etiqueta cotidiana.
Ficar incontactável se tornou a exceção, algo fora deste mundo – mas também uma fonte inesgotável de ansiedades.
E, como a história se repete, a todo momento recebemos alertas sobre possíveis efeitos prejudiciais da comunicação móvel.
Um desses avisos veio com a notícia de que um homem de 31 anos foi recentemente internado para se tratar de um “distúrbio de vício em internet”, por causa de seu uso excessivo do smartphone.

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Relação normal ou patológica? Casos como esse levantam outras questões: com que frequência suas mãos se mexem involuntariamente com a intenção de pegar seu celular ou de alcançar o lugar onde você normalmente o deixa? Como você reage ao som de cada nova mensagem – ou à ausência dele?
Não são perguntas com respostas definitivas.
Traçar o limite entre hábito e patologia significa decidir o que queremos dizer com os termos “normal”, “saudável” e “aceitável”.
E se a tecnologia excede em algo, é justamente em mudar velhas normas rapidamente.
Passei anos tentando avaliar nosso relacionamento com a tecnologia e ainda me vejo sendo puxado em duas direções diferentes.
Por um lado, como disse o filósofo Julian Baggini, “o homem pode estar mudando, mas em muitos aspectos ele continua o mesmo”. Podemos ler romances da Grécia Antiga e compreender quando o autor fala de raiva, paixão, patriotismo e confiança, por exemplo.
Por outro lado, as tecnologias digitais significam que as relações com os outros e com o mundo foram estendidas e ampliadas para um nível nunca antes experimentados.
Como argumentam filósofos como Andy Clark e David J. Chalmers, a mente é uma colaboração entre o cérebro na cabeça e equipamentos como o telefone nas mãos. O “eu” é um sistema complexo que envolve as duas coisas.
É esse impacto exponencial de tecnologia da informação que representa o maior problema para tudo o que julgávamos ser normal, equilibrado, autoconhecido e auto-regulado.
Vivemos em uma era em que nossas patologias são aquelas do excesso.
 Dando um tempo
Será que precisamos de uma desintoxicação? Bem, isso não necessariamente funciona, nem para a saúde física nem para a saúde mental.
O melhor é encarar os fatos e começar a aproveitar a intimidade de um relacionamento que só tende a ficar cada vez mais próximo: aquele entre os cérebros de cada indivíduo e as redes de automação que estão sendo tecidas entre eles.
Afinal, estamos despejando nossas horas e minutos não apenas em uma tela, mas sim na mais complexa e abrangente rede de mentes humanas que já existiu, cada uma mais capaz do que o computador mais rápido.
Se fico fascinado, impressionado, superenvolvido, distraído e deliciado com tanta frequência, é por que há outras pessoas lá fora peneirando e refratando esse mundo de informações de volta para mim.
Só conseguirei mudar isso se puder encontrar outras pessoas com quem posso formar novos hábitos e novos modelos de funcionar.

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http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-nosso-vicio-na-internet-tem-cura/

Governos da América Latina vivem série de tentativas de golpe

Países têm sido alvo dos chamados 'golpes suaves', que tentam derrubar as administrações através de ações violentas, guerra psicológica e econômica
 
por Redação RBA - Sociedade e Poder na América Latina
 
Cancilleria de Equador
presidentes.jpgGovernos da América Latina eleitos por bases populares enfrentam resistência conservadora constante
 
São Paulo – Nos últimos meses, os governos latino-americanos têm sido alvo dos chamados "golpes suaves" promovidos pela direita nacional e internacional, que tentam derrubar as administrações dos líderes progressistas através de ações violentas nas ruas, greves, e guerra psicológica e econômica.
Os casos mais emblemáticos ocorrem atualmente contra os governos de El Salvador, Brasil, Equador, Bolívia, Argentina e Venezuela. Nesses países, setores da oposição têm o mesmo modus operandi, incluindo a promoção de campanhas de difamação, desinformação e medo; bem como denúncias de supostos atos de corrupção e violações dos direitos humanos.
Sob esses argumentos, aqueles que se opõem aos governos progressistas na região têm chamado manifestações de rua violentas, com as quais eles têm procurado desacreditar os esforços dos respectivos governos, desestabilizar as nações, justificar intervenções dos agentes externos e derrubar os chefes de estado.
De acordo com o cientista político americano Gene Sharp, o golpe suave tem quatro fases definidas: aquecer as ruas, fratura institucional, deslegitimação e desestabilização.
Normalmente, o golpe suave é executado como a única maneira de chegar ao poder, devido à falta ou ausência de apoio popular nas eleições.
Em informações listadas no site do jornal equatoriano El Telegrafo, o diretor do Centro Andino de Estudos Estratégicos, Mario Ramos explica que uma das principais ferramentas utilizadas são os meios de comunicação e redes sociais para alcançar as massas.
"É uma estratégia muito inteligente. Usa psicologia de massa, a mídia e as redes sociais, por isso é chamado suave, porque não é o golpe clássico", diz.
El Salvador, na América Central, sofreu mais um ataque orquestrado pela direita, na semana passada: grupos de oposição forçaram um boicote do setor dos transportes para tentar criar o caos e promover um golpe de Estado contra o presidente legítimo, Salvador Sanchez Ceren.. Verdadeiras quadrilhas criminosas forçaram os trabalhadores a paralisar suas atividades sob ameaça e assassinaram nove motoristas que não obedeceram às suas ordens.
No Equador, o governo do presidente Rafael Correa tem enfrentado a violência promovida pela direita contra a reforma da chamada Lei de Redistribuição da Riqueza e Ganhos Extraordinários. Mesmo tendo anunciado a suspensão temporária da tramitação proposta, as hostilidades continuam. "Eles vão continuar tentando (desestabilizar), gerar violência e o pânico econômico, eles têm tentado todos esses meses", disse Correa.
Na Venezuela, a escalada da direita teve várias fases, como a guerra econômica, caracterizada pela especulação de preços e a escassez de alimentos básicos. Em 12 de fevereiro, o presidente venezuelano Nicolas Maduro denunciou uma nova tentativa de golpe. O plano teria início após a publicação na imprensa de um manifesto apelando para um governo de transição.

*Reportagem do Vermelho reproduzida pela Carta Maior
http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2015/08/governos-da-america-latina-vivem-serie-tentativas-golpe-397.html

O Brasil assumiu a posição de 16º país mais desigual na distribuição de renda, no planeta

Combater desigualdades no capitalismo é como andar de bicicleta em um trânsito caótico

Sem avanço na base material da economia, a distribuição menos desigual da renda torna-se mais distante
 
por Marcio Pochmann*, para a RBA - Sociedade e Distribuição de Renda
Memória EBC / ABr
Promulgação-Constituição-1988.jpgConstituição de 1988 aproximou Brasil do Estado de bem estar social, barrado pela economia em crise
Os anos 2000 trouxeram uma novidade desconhecida no século 20, destacada não apenas pelos brasileiros, como também por organismos internacionais: a combinação entre crescimento econômico, democracia política e distribuição de renda.
Desde 2013, contudo, os sinais de estagnação da economia nacional apontam para a perda da eficiência da distribuição de renda. Não apenas houve aumento na quantidade de pessoas na condição de miséria, como também estancou o movimento de queda no grau de desigualdade da renda.
Neste ano de 2015, com a recessão econômica, as conquistas sociais obtidas nos anos 2000 passaram a estar ameaçadas. Isso porque o combate às desigualdades no capitalismo parece ser como "andar de bicicleta, sem poder parar de pedalar", uma vez que sem o crescimento econômico, a repartição menos desigual do fluxo de renda torna-se muito mais difícil.
O ineditismo dos anos 2000 em relação ao enfrentamento da pobreza e desigualdade de renda concentrou-se na ação política organizada em torno do estímulo ao crescimento econômico compromissado com melhora no padrão distributivo, por meio da sofisticação das políticas públicas.
Entre as décadas de 1960 e 1970, por exemplo, o vigor do crescimento econômico foi muito maior, porém com a democracia política ausente, por força da Ditadura Militar (1964 – 1985), a distribuição "menos desigualitária" da renda não existiu. Pelo contrário, o país que conseguiu situar-se na oitava economia mais rica do mundo em 1980 respondia simultaneamente pela terceira posição no ranking mundial da desigualdade de renda.
Nos anos de 1980 e 1990, a democracia política foi reposta, com a implementação da Constituição Federal de 1988, a mais avançada em termos de posicionamento em termos da construção do Estado de bem estar social. Todavia, a inexistência do crescimento econômico no período simplesmente tornou impraticável redistribuir o que não se produzia.
Assim, as décadas de 1980 e 1990 foram consideradas as piores de todo o século passado. O País retroagiu em 2000 do posto de oitava economia mais rica do mundo para a 13ª, enquanto a desigualdade de renda estancou em patamar mais elevado.
Por isso que a primeira década do século 21 trouxe emblematicamente conquistas sociais fundamentais, permitindo que o país avançasse para o posto de sétima economia mais importante do mundo, concomitantemente com a queda na desigualdade de renda. Se nos anos de 1980 era considerada a terceira nação mais desigual do mundo, na década de 2000, o Brasil assumiu a posição de 16º mais desigual do planeta.
Sem haver avanço na base material da economia, a distribuição menos desigual da renda torna-se mais distante, uma vez que os segmentos mais poderosos da sociedade aproveitam o momento de debilidade dos segmentos mais vulneráveis para avançar a apropriação dos recursos.
Isso pode ser percebido atualmente pelo poder do setor rentista no País, que por meio das elevadíssimas taxas de juros aumentam suas participações na renda nacional em detrimento dos trabalhadores que convivem com queda no nível de emprego e redução do poder de compra dos salários.
Sem a mudança deste cenário econômico desfavorável, as conquistas dos anos 2000 correm o sério risco de encolherem em 2015.
* Professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2015/08/combater-desigualdades-no-capitalismo-e-como-andar-de-bicicleta-8464.html