Páginas

6.10.2014

O tempo que gera a vida

Leonardo Boff* - vida
Há um livro curioso do Primeiro Testamento, o Eclesiastes (em hebraico Coélet), que não menciona a eleição do povo de Deus, nem a aliança divina, sequer a relação pessoal com Deus. Representa a fé judaica inculturada na visão grega da vida. Possui um olhar agudo sobre a realidade assim como se apresenta e nutre a reverência para com todos os seres.  Há uma passagem assaz conhecida que fala do tempo: "Há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e  tempo de colher, tempo de rir e tempo de chorar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de guerra e tempo de paz" e por aí vai (c. 3,2-8). Há muitas formas de tempo. Precisamos nos libertar de um tipo de tempo dominante, aquele dos relógios.  Todos somos reféns deste tipo de tempo mecânico. Conhecem-se relógios — o primeiro foi o relógio do sol, já há 16 séculos. Supõe-se que foram os asiáticos que, por primeiro, inventram o relógio. Em 725 da nossa era, um monge budista maquinou um relógio mecânico que à base de baldes de água fazia uma rotaçãocompleta em 24 horas. No Ocidente atribui-se a outro monge, um beneditino, depois papa Silvestre II (950-1003), a invenção do  relógio mecânico atual.
Hoje, ninguém anda sem algum tipo de relógio mecânico, que mede o tempo a partir das rotações da Terra ao redor do Sol. Mas essa visão mecânica do tempo do relógio estreitou nossa percepção dos muitos tempos que existem, como referidos pelo Eclesiastes acima. Foram os cosmólogos modernos que nos despertaram para os vários tempos. Tudo no processo da evolução possui o seu timing. Não respeitando certo timing, tudo muda, e nós mesmos não estaríamos aqui para falar do tempo.
Assim, por exemplo, imediatamente após a primeira singularidade, o Big Bang,  a explosão imensa (mas silenciosa, pois não havia ainda o espaço para recolher o estrondo) ocorreu a primeira expressão do tempo. Se a força gravitacional, aquela que faz expandir e ao mesmo tempo segurar as energias e  as partículas originárias (a mais importante das quatro existentes) fosse por milionésimos de segundo mais forte do que se apresentou, retrairia tudo para si e causaria explosões sobre explosões e tornaria o universo impossível. Se fosse, por milionésima parte de segundo, um pouco mais forte, os gazes se expandiriam de tal forma que não ocasionariam a sua condensação e  não teriam surgido as estrelas, os elementos todos que compõem o universo, nem haveria o Sol, a Terra e a nossa existência humana.
Mas ocorreu aquele tempo necessário para o equilíbrio entre a expansão e a contenção que acabou  abrindo um tempo  para surgir tudo o que veio posteriormente. Houve um exato tempo em que se formaram as grandes estrelas vermelhas, dentro das quais se forjaram todos os tijolinhos que compõem todos os seres. Se esse tempo exato fosse desperdiçado, nada mais teria acontecido.
Houve um tempo exatíssimo em que naquele dado momento deveriam surgir as galáxias. Se tivesse faltado aquele tempo, não surgiriam os cem bilhões de galáxias, os bilhões e bilhões de estrelas, em seguida os planetas como a Terra. Num exatíssimo momento de alta complexidade de sua evolução, irrompeu a vida. Perdido esse tempo, a vida não estaria aqui irradiando. Tudo apontava para a irrupção da vida lá na frente. O celebrado físico Freeman Dayson diz: "Quanto mais examino o universo e estudo os detalhes de sua arquitetura, mais vejo a evidência de que o universo de alguma forma pressentia que nós estávamos a caminho".
Há pois tempos e tempos, e não apenas o tempo escravizante e mecânico do relógio. A Igreja guardou o sentido da diversidade dos tempos.  Para cada tempo  do ano, se Natal, se Quaresma ou Páscoa, há a sua cor específica.
Geralmente, vivemos os tempos das quatro estações com as transformações que ocorrem na natureza. Na nossa infância interiorana, os tempos eram bem definidos: janeiro-abril - tempo das uvas, dos figos, das melancias,dos melões; tempo de maio, o plantio do  trigo; e outubro-novembro, tempo de sua colheita.
Nós, crianças, esperávamos com ansiedade dois tempos sociais, nos quais a vila toda se reunia para uma grande confraternização: a festa da polenta e a dos passarinhos. Como as matas eram virgens, abundava todo tipo de pássaros, que eram caçados especialmente para a festa. A outra era a buchada, comida com pão e vinho, em longas mesas, seguida de cucas e geleias.
Estes tempos e outros conferiam distintos sentidos para a vida. Havia a espera do tempo, sua vivência e sua recordação.
O universo inteiro tem o seu tempo, que se concretiza em dois movimentos que se dão também em nós: nossos pulmões e nossos corações  se expandem e se contraem. O mesmo faz o universo mediante a gravidade: ao mesmo tempo que se dilata ele é segurado, mantendo um equilíbrio sutil que faz tudo funcionar harmoniosamente. Quando perde esse equilíbrio, é sinal que prepara um salto para a frente e para cima rumo a uma nova ordem que também se expande e se contrai.
Cada um de nós tem seu tempo biológico, determinado não pelo relógio mecânico mas pelo equilíbrio de nossas energias. Quando chegam ao seu clímax, que  pode ser com 10, 15, 50, 90 anos, se fecha o nosso ciclo e entramos no silêncio do mistério. Dizem que é aí que habita Deus, nos esperando com os braços abertos como um Pai e Mãe, cheio de saudades.
*Leonardo Boff é teólogo e escritor. - leonardo Boff
http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2014/06/09/cada-um-tem-seu-tempo-e-depois-entra-em-silencio/

Miséria no mundo cresce e riqueza bate o maior recorde de toda a história

     
   Por Redação - do Rio de Janeiro - Sociedade
Os níveis médios de pobreza superam, em muito, os da riqueza
Os níveis médios de pobreza superam, em muito, os da riqueza
O número de milionários no mundo, hoje, é o maior do que em qualquer outro momento da história do Homem. Mas, enquanto o número total de domicílios milionários atinge os 16,3 milhões em 2013, de acordo com a consultoria de gestão Boston Consulting Group, a miséria assume sua face mais desesperadora na maior parte dos países de continentes como a África, a Ásia e a América Latina.
A riqueza privada do planeta – dinheiro administrado por instituições de gestão de fortunas e bancos voltados para alta renda – cresceu 14,6% de 2012 para 2013, passando de US$ 132,7 trilhões para US$ 152 trilhões. O total equivale a quase dez vezes o PIB dos EUA, a maior economia do planeta. Em contrapartida, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU), ainda estima que 1,57 bilhão de pessoas vivam em estado de “pobreza multidimensional”, o que representa cerca de 30% do universo da população avaliada.
Enquanto o vigor dos mercados de ações, a estabilidade das economias industrializadas (EUA e Europa) e as políticas monetárias favoráveis da parte dos bancos centrais elevam o número de bilionários, estes mesmos fatores, em decorrência do sistema capitalista, atira à miséria um número exponencialmente maior de pessoas.
A crise financeira mundial, iniciada em 2008, fez mal apenas aos mais pobres, porque neste período, até 2014, a riqueza privada do planeta cresceu 60%, ou US$ 60 trilhões, de uma base inicial de US$ 92,4 trilhões. O número de domicílios milionários no planeta subiu para 1,1% do total de domicílios, ante 0,7% em 2007.
Ricos em profusão
Os EUA têm o maior número de domicílios milionários (7,1 milhões), bem como o maior número de novos milionários (1,1 milhão). A maior concentração de domicílios milionários está no Qatar (17,5%), seguido pela Suíça (12,7%) e Cingapura (10%).
Os fortes mercados de ações favoreceram as economias industrializadas, que têm grandes bases de ativos, enquanto as emergentes dependem mais da criação de riqueza nova, estimulada pelo crescimento e pelo nível alto de poupança.
A riqueza privada cresceu em dois dígitos nos EUA e na Austrália, enquanto emergentes como o Brasil experimentaram crescimento muito mais fraco. A China reforçou sua posição como segunda nação mais rica do planeta, atrás dos EUA.
Embora a riqueza privada nos EUA tenha chegado a US$ 46 trilhões em 2013, valor duas vezes superior ao registrado na China (US$ 22 trilhões), as projeções para 2018 mostram que os chineses terão a maior expansão global.
A riqueza privada chinesa crescerá em 84%, para US$ 40 trilhões em 2018. O país, no entanto, continuará atrás dos Estados Unidos, onde a riqueza privada crescerá 17%, para US$ 54 trilhões em 2018, de acordo com as projeções.
O Japão ocupava o terceiro posto em 2013, com US$ 15 trilhões, seguido pelo Reino Unido e pela Alemanha.
O Brasil não estava entre os 15 primeiros em nenhum dos dois anos analisados.
Miséria aos montes
O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de US$ 1 por dia (PPP) e pobreza moderada como viver com entre US$ 1 e US$ 2 por dia. Estima-se que 1,1 bilhão de pessoas no mundo tenham níveis de consumo inferiores a US$ 1 por dia e que US$ 2,7 bilhões tenham um nível inferior a US$ 2.
Segundo estudo da ONU, dos dez países mais pobres do mundo nove estão na África e um na América Central. No Continente Africano concentram-se São Tomé e Príncipe, com 170 mil habitantes; Serra Leoa, com 6 milhões de pessoas; Burundi, com 8,5 milhões de habitantes; Madagáscar, com 22 milhões de habitantes; Eritreia, com 5,4 milhões de habitantes e um PIB per capita de pouco mais de US$ 600; Suazilândia, com uma população de pouco mais de 1 milhão e a taxa de pobreza que atinge os 69.2%; o Congo, com 68 milhões com uma taxa de pobreza de 71.3%; o Zimbábue, com uma população de quase 13 milhões e a Guiné Equatorial, com 720 mil habitantes a taxa de pobreza é de 76.8%.
Na América Central fica o Haiti, o país mais pobre do mundo, onde quase 80% da população vivem com menos de US$ 2. A taxa de desemprego, estimada, ronda os 40%. O país está em reconstrução desde o sismo que abalou a ilha em 2010 que, segundo o governo matou 316.000 pessoas e provocou estragos no valor de 8 biliões de dólares, cerca de 120% do PIB. A taxa de pobreza atinge os 77% numa população com pouco mais de 10 milhões de habitantes. O PIB per capita é de perto de US$ 1 mil.
http://correiodobrasil.com.br/ultimas/niveis-de-riqueza-batem-recorde-mas-perdem-longe-para-a-miseria-no-mundo/709601/
 

Ciclista é mais feliz do que motorista ou piloto de veículos?

por Redação EcoD
156 300x183 Pesquisa revela que ciclista é mais feliz do que motorista
Uso da bicicleta pode ter benefícios além daqueles associados à saúde e mobilidade normalmente citados. Foto: bilobicles bag
Pessoas que usam a bicicleta nos seus deslocamentos diários são geralmente mais felizes do que aqueles que dirigem carro ou utilizam transporte de massa. A conclusão consta do estudo Mood and mode: does how we travel affect how we feel?, que avaliou como o transporte escolhido afeta o nosso humor e bem estar.
O estudo oferece insights sobre formas de melhorar os serviços de transporte existentes, ao priorizar investimentos em áreas que tragam mais resultados positivos.
“Nossos resultados sugerem que o uso da bicicleta pode ter benefícios além daqueles associados à saúde e mobilidade normalmente citados”, dizem os autores.
“Valorizar a experiência emocional no trânsito pode ser tão importante quanto melhorar os recursos de serviços tradicionais, como rodovias e tempo de viagem”, acrescentam.
Depois dos ciclistas, os passageiros de carro são o segundo tipo de viajante mais feliz. Os condutores de automóveis ficaram em terceiro lugar.
Por último, aparecem os pilotos e passageiros de ônibus e trem, considerados os mais infelizes.
O baixo entusiasmo nestes casos, diz a pesquisa, tem a ver com o trajeto mais longo ou menos confortável e, principalmente, com os congestionamentos.
* Publicado originalmente no site EcoD.
http://envolverde.com.br/noticias/pesquisa-revela-que-ciclista-e-mais-feliz-que-motorista/