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11.28.2015

A construção do Brasil livre

Por Mauro Santayana para revista Carta Capital, de blog do Alok - Sociedade e Nação Livre   
  • O Brasil precisa de um projeto para a construção de uma nação soberana, não de uma pinguela que nos encaminhe aos estábulos de nossos novos senhores
Os partidos políticos são como os homens. 
Eles nascem, envelhecem, algumas vezes, sem ter sequer crescido, e mudam, também, de posição.
Há outros que conhecem Glória e Poder e depois murcham, fenecem, quando não desaparecem por simples inanição.
Há aqueles que surgem das circunstâncias da hora, da resistência e das barricadas, para fazer História.
Há os que se organizam – ou se reorganizam, vergonhosamente - para impedir que a História se faça, que ela avance, e que com ela caminhem os povos e a Humanidade.
E há aqueles que fazem de tudo para conservar as coisas como estão. Mesmo que se disfarcem do novo, mesmo que se disfarcem de novo, e sob seus estandartes desfilem jovens atléticos de dentes brilhantes, seus olhos serão velhos como a morte, e de sua boca exalará o ódio, a violência e a podridão.
Há os partidos ideológicos. 
E há os que são circunstanciais e os fisiológicos. 
Os que foram formados por uma determinada classe, como as antigas agremiações agrárias, proletárias, industriais. 

E os oportunistas, que não se incomodam em mudar de nome, de marca, de história, como se trocassem de camisa - os que renegam origem e passado em troca de eventuais benesses do momento, sem nenhuma preocupação moral com o amanhã.
O MDB surgiu como uma frente de oposição ao regime militar que chegou ao poder com o Golpe de 1964.
Participou da Campanha das Diretas Já e da eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República.
Teve papel fundamental, sob a liderança do Deputado Ulisses Guimarães, na promulgação da Carta Constitucional de 1988.
Depois disso, transformou-se em esteio da governabilidade, foi negociando, com os governos de turno, apoios, em troca de cargos e benesses, e acabou, majoritariamente, transformando-se no que é agora.
Em 1982, acompanhamos, por meio de amigos do Movimento Democrático Brasileiro, a formulação e redação de um documento com o nome Esperança e Mudança.
Um texto que apresentava um programa nacional e desenvolvimentista, soberano e autônomo, que defendia a queda dos juros, o uso estratégico do estado na construção do desenvolvimento, a diminuição da desigualdade e nossa integração com a América Latina.
Agora, 33 anos depois, o PMDB acaba de lançar um documento chamado Uma Ponte para o Futuro, a ser usado, em tese, como base para seu próximo Programa de Governo.
De sua leitura, depreende-se que ele pretende inviabilizar o Estado, diminuir as conquistas sociais, entregar o que resta de patrimônio nacional aos estrangeiros, fazer com que o Brasil saía do BRICS, e vire as costas à América Latina   
Ao lançar esse texto - por mais bem intencionados que possam eventualmente estar alguns de seus autores - a direção do PMDB rompe, definitivamente, com o pouco que ainda existia de seus antigos  compromissos  com o país e com o povo brasileiro.
A legenda escreve um claro, inequívoco,  definitivo atestado de abandono dos ideais que lhe deram origem.
E deixa uma prova incontestável, para a História, de sua rendição e de sua entrega àqueles que, do exterior, cobiçam e pretendem se assenhorear definitivamente do Brasil, de nossos recursos naturais, de nosso mercado interno, de nossa população, de nossas perspectivas de futuro.
No momento em que a China, com 4 trilhões de dólares em reservas internacionais em caixa,  se prepara para assumir – com uma economia majoritariamente estatal e nacionalizada, sem rendição ao discurso único ou ao TPP - a posição de maior economia do mundo; em que Pequim estabelece uma aliança com Moscou para a “construção” e o desenvolvimento de todo um novo continente, a Eurásia, com todas as oportunidades que esse projeto oferece; que o primeiro-ministro hindu – país que acaba de enviar, por méritos próprios, uma sonda à órbita de Marte - é recebido como o líder de uma potência mundial, na Grã-Bretanha; que o Brasil constrói com a Suécia uma nova geração de caças supersônicos para sua Força Aérea e forja o casco de seu primeiro submarino atômico; boa parte da atual geração de brasileiros se acovarda e se submete, entusiasta e pateticamente, – com base em um discurso tão frouxo, quanto mentiroso e hipócrita - à acoplagem secundária e abjeta da quinta maior nação do mundo ao projeto de domínio “ocidental”, como um mero mercado de produtos e serviços e fornecedor de commodities, defendendo o abandono do projeto do BRICS e de nossa liderança na América Latina, para fazer o país retornar, inapelavelmente, em pleno século XXI, à condição de colônia.
O que o Brasil precisa, neste momento – como no momento da redemocratização - é de um programa de união nacional, desenvolvimentista e socialmente justo, que estabeleça um caminho próprio para o país, em um novo mundo cada vez mais desafiante, multipolar e competitivo.
De um projeto para a construção de uma nação soberana e forte - que nas áreas de defesa e de infra-estrutura e de energia já está em andamento - e não de uma pinguela que nos encaminhe como cordeiros para o estábulo de nossos novos senhores de Washington e de Bruxelas.
http://blogdoalok.blogspot.com.br/2015/11/mauro-santayana-pinguela-e-o-estabulo.html

A política externa norte-americana

  • Será que tudo é lindo na política externa norte-americana como cita a imprensa dos EUA

  • A grande mídia corporativa dos EUA apoia a política externa do governo apresentando um mundo distorcido ao público norte-americano


Por DAVE LINDORFF - para CounterPunch, publicado no site Carta Maior- Sociedade,  Geopolítica dos EUA e a  Imprensa (fonte no final do texto)

Créditos da foto: Pete Souza 
Pete Souza
Seria a mídia corporativa norte-americana notadamente composta por órgãos de propaganda ou agências de notícias?

Aqui estão alguns pontos a se considerar e, então, o leitor pode decidir. Confira algumas perguntas abaixo e verifique como a mídia corporativa dos EUA geralmente produz suas respostas:
1. Se o Estado Islâmico ou a Al Qaeda deliberadamente atacam civis, como no recente episódio em Paris, indiscriminadamente matando dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
 
2. Se os EUA deliberadamente atacam civis, como no caso do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, Afeganistão, matando indiscriminadamente dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

3. Se o governo chinês assume o controle de uma ilha minúscula, reivindicada por outra nação, e ali instala uma base militar, seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

4. Se o governo dos EUA assume o controle e, em seguida, se recusa a renunciar uma porção de uma minúscula ilha, propriedade de outro país, neste caso Cuba, e ali instala uma base militar (como tem feito já por décadas, no caso da Baía de Guantánamo) seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

5. Se a líder de um partido que ganha a eleição nacional, mas anuncia que, na verdade, é ela que tomara todas as decisões importantes para o governo recém eleito, como Suu Ky anunciou que fará em Mianmar, seria esse um exemplo de comportamento antidemocrático ou de caudilhismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não

6. Se um país estrangeiro coloca mísseis apontados para outra nação no território de um país adjacente ao país-destino, como fez a URSS em Cuba, seria essa uma ameaça para o país de destino, no caso os EUA?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

7. Se os EUA colocam mísseis na Polônia apontados pra Rússia, como fizeram, ou colocam armamento nuclear na Alemanha, também tendo a Rússia como alvo, o que foi feito, seriam essas ameaças para a Rússia?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

8. Se o Irã proporciona assistência militar aos rebeldes de um país vizinho como Iêmen e tal grupo, os Houthis, com sucesso derrubam um autocrata do poder, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

9: Se os EUA financiam organizações dentro de outro país que organizam protestos, marchas e atentados sangrentos que, finalmente, derrubam o governo eleito, como os EUA fizeram na Ucrânia, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

10. Se o Irã, signatário do Tratado de não Proliferação Nuclear, pretende desenvolver capacidade de refino do urânio-235, o que um dia poderia ser usado para fabricar armamento nuclear, mas concorda com inspeções e supervisão internacional, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: não, já que existe outra poderosa nação com armamento nuclear no Oriente Médio, com a capacidade de obliterar totalmente o Irã — ou seja, Israel.
Resposta da mídia: Sim

11: Se Israel, que nunca assinou o Tratado de não Proliferação, se recusa a permitir inspeções em suas instalações nucleares, é conhecido por ter centenas de armas nucleares, bem como os aviões e mísseis para enviá-los a qualquer lugar, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

12: Se uma pessoa revela, por dinheiro, a uma potência estrangeira, o funcionamento interno do sistema de interceptação de sinais da Agência de Segurança Nacional (NSA), bem como as identidades de centenas de agentes da inteligência secreta dos EUA, como fez o espião israelense Jonathan Pollard, seria ele um inimigo dos Estados Unidos?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

13. Se uma pessoa revela, em ato de princípio e enquanto denunciante, sem compensação financeira, a espionagem ilegal e inconstitucional contra cidadãos americanos da NSA, como fez Edward Snowden, agora exilado, seria ele um inimigo dos Estados Unidos que deve, portanto, ser castigado?
Resposta objetiva: não
Resposta da mídia dos EUA: Sim

14. Se terroristas pró-Estado Islâmico em Paris disparam contra feridos, vítimas de seus atentados de terror, seria esse um exemplo da barbárie e um crime digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

15: Se vídeos mostram as forças de defesa israelenses atirando na cabeça de um palestino, ferido e deitado na rua, seria esse é um exemplo de barbárie e um crime de guerra digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta de mídia dos EUA: Não (não foi sequer noticiado)

Evidentemente que essa lista poderia continuar, mas as evidências tornam óbvio e incontestável que a grande mídia corporativa dos EUA trabalha em sintonia, essencialmente apoiando a política externa dos EUA e apresentando um determinado mundo para público norte-americano, de forma muito distorcida e pró-governo.
Porque isso acontece, uma vez que essas agências de notícias são, majoritariamente, não diretamente financiadas ou controladas pelo governo, como são em países onde se espera que a mídia seja arma de propaganda, é uma história complicada, que vem há muito tempo sendo explicada claramente por especialistas como Noam Chomsky e Edward Herman.

Independente da lermos sobre o assunto, a realidade é clara para qualquer um que preste a mínima atenção: a mídia dos EUA, particularmente quando trata de assuntos externos, mas também quando trata de assuntos como a inteligência e a espionagem doméstica, não pode ter nossa confiança por apresentar a verdade, nem algo que minimamente se aproxime da verdade.

Gostaria de salientar aqui que evidências sólidas em torno desse desrespeito intencional a verdade por parte da mídia corporativa podem ser encontradas aqui em nossa própria e humilde organização de pequenas notícias, ThisCantBeHappening!. Nos últimos quatro anos, nós denunciamos:

* O papel da CIA em orquestrar o caos sectário e terrorista no Paquistão

* O papel central da justiça e da inteligência norte-americanas na coordenação do esmagamento brutal do movimento Occupy nas cidades por todo os EUA.

* O conhecimento prévio e total falta de preocupação ou ação do FBI sobre os planos bem documentados em Houston que tratavam dos grupos conhecidos e não identificados que conspiravam para assassinar líderes do movimento Occupy por meio de "rifles de longo alcance". (O FBI enviou memorandos sobre esta trama para escritórios regionais do FBI e pro quartel-general, mas nunca agiu para impedi-la e nunca prendeu qualquer um dos envolvidos na trama).

* A administração Obama deliberadamente escondendo provas forenses dos médicos legistas turcos que mostravam que membros da força de defesa de Israel executaram brutalmente Furkan Dogan [5], um garoto americano de 19 anos a bordo da embarcação humanitária em Gaza, Mavi Marmara, e não fizeram nada para punir os assassinos.

* O assassinato, pelas mãos de um agente do FBI, de um jovem imigrante checheno, Ibragim Todashev, na Flórida, que havia sido interrogado por tal agente e por um policial de Boston em seu próprio apartamento (Todashev pode ter tido provas de que o FBI tinha trabalhado com os irmãos Tsarnaev antes da explosão da maratona de Boston). Série em três partes: perguntas obscuras 1, perguntas obscuras 2 e perguntas obscuras 3.

Essas e outras histórias, que foram relatadas e publicadas, e que foram amplamente cobertas pelos meios de comunicação alternativos, não foram nem ao menos mencionadas pela mídia corporativa dos EUA. Assim como a maioria dos importantes comunicados são ignorados sem qualquer aviso pela imprensa corporativa. Tais informações, portanto, não chegam a grande parte da população americana que obtém suas informações inteiramente através das fontes corporativas tradicionais.

Tradução por Allan Brum
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Tudo-e-lindo-na-politica-externa-norte-americana/12/35067

Enfim, um tucano preso. Motivo? Se filiou ao PT! E agora...

  • A prisão de Delcídio escancara que a corrupção na Petrobras não começou com o PT e nem respeita partidos, embora a justiça pareça fazer de conta que não enxerga isso



Por Najla Passos, para Boletim Carta Maior de SP - Sociedade e Disputa de Poderes no Brasil

Créditos da foto: Geraldo Magela / Agência Senado 
Geraldo Magela / Agência Senado

Mal a imprensa anunciara, na quarta (25/nov), a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no senado, na 20ª  fase da operação lava jato, a piada pronta já se espalhava pelas redes sociais:

- Hoje é um dia histórico para o país... finalmente um tucano foi preso!

- Verdade? Não acredito... o que ele fez?

- Um monte de coisas que não devia... mas, principalmente, se filiou ao PT!

A piada serviu para o regozijo para boa parte da militância petista, que jamais enxergou em Delcídio “um dos seus”. Mas não reflete toda a verdade. Como também não o fazem as manchetes dos jornalões que estamparam a prisão do “senador petista”.

Delcídio não é exatamente petista. Nem tão pouco tucano. É uma espécie de ser híbrido – meio petista, meio tucano – cuja prisão escancara que a corrupção na Petrobras não começou com a chegada do PT e nem respeita siglas partidárias, embora a justiça pareça não querer enxergar isso.

Natural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, Delcídio é aquele tipo de político que tem bom trânsito entre partidos diversos. No início da carreira, atuou na Eletrosul, na Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia e foi presidente do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce, que viria a ser privatizada mais tarde pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

Em 1994, foi nomeado ministro de Minas e Energia pelo então presidente Itamar Franco, que tinha Fernando Henrique Cardoso à frente da Fazenda. Durante o governo do tucano de FHC, se filiou ao PSDB e acabou assumindo a diretoria de Gás e Energia da Petrobrás. Foi lá que ele conheceu Nestor Cerveró, que atuava como seu sub-diretor, e hoje o acusa de pressioná-lo a se calar na delação premiada.

Também foi nesta época que ele começou a se relacionar com Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como um dos principais operadores do esquema da Petrobrás, que, em delação premiada, afirmou que foi Delcídio quem indicou Cerveró para a diretoria da estatal, já em tempos de governo petista.

Em 2001, quando o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso caminhava para o fim, aceitou o cargo de secretário de Estado de Infraestrutura e Habitação no governo do Zeca do PT. Em 2002, candidato ao Senado, já pelo PT, e foi eleito com cerca de 500 mil votos.

Amigos de ontem 

No parlamento, Delcídio manteve os amigos que trazia do passado tucano. Sempre foi muito próximo do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual e apontado pela Forbes como a 13ª maior fortuna do país. Esteves, que também foi preso nesta quarta, é aquele amigo do peito do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Amigo ao ponto de pagar as despesas da lua de mel do tucano, quando foi a Nova York em 2013.

Esteves também é sócio de Pérsio Arida, eleito presidente interino do BTG nesta quinta (26). Arida é um dos economistas gurus de Fernando Henrique Cardoso, sócio do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Oportunity, e ex-marido de Elena Laudau, a ex-diretora do BNDES que ajudou FHC a promover as privatizações que até hoje escandalizam o país.

Inclusive, foi com financiamento do BNDES que, em 1997, o Banco Oportunity comprou percentual da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), apontada como uma das principais financiadoras do “mensalão tucano” – aquele mensalão anterior ao petista, no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que nunca vai à julgamento... Em 2005, na presidência da CPI dos Correios, o senador pelo PT Delcídio Amaral ajudou o PSDB a silenciar as denúncias sobre o caso.

Amigos de hoje

Mas se Delcídio tem boas relações com os tucanos, também as têm com muitos petistas. Não por acaso é o líder do governo no Senado, o que, pelo menos teoricamente, o qualifica como parlamentar em fina sintonia com linha política adotada pela presidenta Dilma Rousseff no momento, além de dotado de grande capacidade de articulação em outros ninhos.

E ele é, de fato, figura influente no parlamento. Preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das mais importantes do parlamento. E é membro efetivo das Comissões de Serviços de Infraestrutura, Agricultura e Reforma Agrária, Ciência e Tecnologia, Ambiente e Defesa do Consumidor e da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o que não é pouco.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido não irá tratar Delcídio com a mesma solidariedade que prestou ao ex-tesoureiro João Vaccari, outro petista preso pela lava-jato. Segundo ele, são casos diferentes, porque Delcídio agiu por conta própria, em atividades não partidárias.

Por que não Cunha?

Delcídio é o primeiro senador da república a ser preso no exercício da função desde a redemocratização do país, em 1985. Conforme o Ministério Público, ele ofereceu R$ 50 mil e uma rota de fuga para que o comparsa Cerveró não apontasse sua participação no esquema da Petrobrás na delação premiada que acertou com a justiça.

Uma gravação feita pelo filho de Cerveró, Bernardo, durante uma reunião realizada em um hotel em Brasília para discutir a fuga, há cerca de 15 dias, atesta a participação inequívoca de Delcídio no planejamento da fuga, que o Ministério Público classificou como crime de obstrução à Justiça.

Dúvida de fato, nas instâncias dos poderes em Brasília, é só mesmo acerca da legitimidade ou não da sua prisão, já que a lei diz que um senador em cumprimento de mandato só pode ser preso em flagrante. Mas o próprio Senado reconheceu, já na noite desta quarta, por 59 votos a 13, a validade da polêmica decisão tomada antes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos corredores do Congresso, não falta quem associe o precedente aberto ao caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado pela mesma lava-jato. Não se tem notícia de que Cunha oferecera rota de fuga a nenhum dos condenados pela operação, mas é praticamente consenso que ele tem empreendido uma manobra após a outra para evitar que ele próprio seja investigado.

Para muito além da base do PT

Eduardo Cunha não é o único preocupado com os desdobramentos da prisão de Delcídio. A tal gravação que comprova que o senador tentara obstruir o trabalho da Justiça expõe vários outros ditos “homens importantes” da república. E para muito além das esferas do PT. Entre eles, o espanhol Gregório Marin Preciado, um velho parceiro do senador José Serra (PSDB-SP), casado com uma prima do tucano e ex-sócio dele em negócios imobiliários.

Na gravação, Delcídio atesta que Preciato é o espanhol que participou das negociações do pagamento de propina de R$ 15 milhões pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobrás. Um Espanhol que, ainda segundo ele, a justiça brasileira não teria conseguido identificar.

Aliás, conforme Delcídio, Preciato é muito mais do que um operador do esquema, mas sim a verdadeira cabeça. “O Fernando [Baiano] está na frente das coisas e atrás quem organiza é o Gregório Marin [Preciato]”, afirma. Na gravação, Delcídio também registra a preocupação de Serra de que as denúncias cheguem até o amigo-parente.

“O Serra me convidou para almoçar outro dia, ele rodeando no almoço, rodeando, rodeando, porque ele é cunhado do Serra”, disse Delcídio, acusando o tucano de tentar extrair dele informações sobre as investigações.

Preciado é próximo a Serra desde que foi membro do Conselho de Administração do Banespa, de 1983 a 1987, enquanto o tucano era o secretário de Planejamento de São Paulo. Na campanha de 1994, quando Serra concorreu ao Senado, Preciado chegou a fazer doações eleitorais para ele.

Ele caiu em desgraça quando o governo tucano chegou ao fim. Como aponta o livro Privataria Tucana, de Amauri Ribeiro Junior,  foi um dos alvos da CPI do Banespa, por conta de supostas operações irregulares no banco. Também foi acusado de se beneficiar da amizade com o ex-tesoureiro do PSDB e então diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, que lhe conseguira um abatimento de R$ 73 milhões em uma dívida. 
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Enfim-um-tucano-preso-Motivo-Se-filiou-ao-PT-/4/35063



Ventos e furacões neoliberais voltam na Argentina...e agora...

  • IBM, Telecom e ONU, as ligações da futura chanceler neoliberal argentina

  • Em decisão inesperada, Mauricio Macri eleito novo presidente, anunciou que a chefa de sua diplomacia será a atual mão direita de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU


PorMartín Granovsky, para o jornal diário Página/12 - Sociedade e Geopolítica Sul-Americana
 
Gustavo Ferreira / MRE
A cadeira não foi dada nem a um economista argentino como Alfonso Prat-Gay, nem para um diplomata de carreira como Rogelio Pfirter. Tampouco para o secretário de Relações Internacionais do PRO, Diego Guelar. Na designação mais surpreendente das que realizou até agora, Mauricio Macri anunciou que o Ministério de Relações Exteriores será ocupado por Susana Malcorra, a atual chefa de gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
 

Créditos da foto: Gustavo Ferreira / MRE

“É uma persona preparada, de proceder correto, capaz de se atualizar rapidamente com os detalhes da política exterior argentina”, disse ao jornal Página/12 um diplomata que conviveu com ela em Nova York.

Malcorra não milita no PRO, o partido liberal de Macri, e tampouco foi sugerida pelos aliados social-democratas da União Cívica Radical radicalismo, embora tenha antigas simpatias com relação a este partido.

É uma executiva que conhece por dentro não só o sistema de decisões da ONU como também o âmbito das indústrias de serviços dos Estados Unidos. Fez carreira na IBM, que antes do surgimento de empresas como Apple e Google era o símbolo da modernidade norte-americana.

Quem conhece o mundo das indústrias de serviços dos Estados Unidos pode entrever as ideias básicas da política exterior, comercial e de defesa de Washington – ainda mais se complementa essa bagagem de conhecimentos com um posto de observação no edifício novaiorquino da ONU.

Nascida em 1954, em Rosário, ela fez sua carreira universitária nessa cidade, e foi a única mulher formada em engenharia eletrônica na sua turma. Aos 61 anos, Malcorra exibe um currículo que mostra uma longa carreira na IBM, desde os postos mais baixos, em 1979, até a cúpula da filial argentina da multinacional, 14 anos depois. Chegou a conduzir a relação com o setor público, o coração da firma. Ao deixar a empresa, em 1993, ela passou a trabalhar na Telecom, com Juan Carlos Masjoan, outro ex-IBM. Na Big Blue – o gigante azul, como a empresa é conhecida – Masjoan foi um duro competidor de Ricardo Martorana, o ascendente executivo e lendário vendedor que terminou envolvido no escândalo IBM-Banco Nación, pelo pagamento de subornos do setor privado ao Estado, em 1994.

Na ONU, sua especialidade continuou estando vinculada com a logística. Malcorra é chefa de gabinete do secretário-geral, e antes foi subsecretária do Departamento de Apoio às Atividades Externas. Suas funções eram a de ajudar na execução das missões de paz da ONU em todo o mundo, um dispositivo que já supera as 120 mil pessoas, entre militares, policiais e civis, segundo informação da própria Secretaria Geral.

Malcorra chegou à ONU em 2004, com o ganês Kofi Annan. Foi funcionária de Operações, logo diretora executiva adjunta do Programa Mundial de Alimentos – que não é a FAO (Departamento das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, presidido pelo brasileiro José Graziano) –, mas sim a estrutura de operações humanitárias ou de emergência. Agregou, nesse período, conhecimento a respeito de operação de contingência em crises humanitárias como as da Costa do Marfim, Serra Leone e Haiti, ao seu currículo de experiências na indústria de serviços.

No mês passado, Malcorra moderou um painel sobre “Ética para o desenvolvimento” no qual também participaram o economista argentino Bernardo Kliksberg e o atual ministro do Trabalho, Carlos Tomada.

Em 2014, ela disse que a agenda da ONU este ano estaria voltada à tarefa pendente de buscar a paz na Síria, à definição das metas de desenvolvimento e à cúpula do clima de Paris.

As bombas e os assassinatos em massa fizeram com que essa agenda fosse alterada, e agora Malcorra deverá enfrentar esses temas a partir do seu novo cargo de ministra, a segunda chanceler da Argentina, desde que Susana Ruiz Cerutti ocupou o cargo, no final do governo de Raúl Alfonsín.
 Tradução: Victor Farinelli

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/IBM-Telecom-e-ONU-as-ligacoes-da-futura-chanceler-argentina/6/35057