Páginas

4.30.2023

Brasil está com a economia estagnada a vários anos e a Índia avança

A Índia emergente e o Brasil sub-mergente

O Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas

por José Eustáquio Diniz Alves* no Eco Debate e IHU Unissinos

    Foto da Ïndia na Internet                                                            Foto do Brasil na internet

A Índia já foi palco de uma das civilizações mais criativas e prósperas do mundo. Mas, nos últimos séculos, este país bastante importante do Sul da Ásia, ficou para trás em relação ao mundo Ocidental e em relação ao seu ainda mais gigantesco vizinho chinês. A despeito do tamanho, a Índia é considerada uma nação de renda baixa, tendo a renda média por habitante inferior a US$ 10 mil.

Contudo, a Índia está a caminho de se tornar uma nação de renda média no mundo e já é a terceira maior economia, atrás apenas da China e dos EUA, quando se considera a renda em poder de paridade de compra. Embora a Índia tenha enormes desafios para vencer a pobreza, a fome e a degradação ambiental, o país tem se destacado nos indicadores econômicos. A Índia se tornou o país mais populoso do mundo em abril de 2023, tendo passado a China e possui a maior população em idade produtiva da comunidade internacional.

O contraste com o Brasil é gritante. O gráfico abaixo mostra a participação da economia brasileira e indiana no PIB global entre 1980 e 2028. Nota-se que, em 1980, o PIB brasileiro representava mais de 4% do PIB mundial e o PIB indiano menos de 3% do PIB global. Mas a partir do início dos anos de 1990, a Índia ultrapassou o Brasil e foi deixando para trás o maior país em território da América do Sul.

Atualmente, o PIB do Brasil representa menos de 3% do PIB global e o PIB da Índia representa mais de 7%. Em algum momento da década de 2030, o PIB da Índia deve alcançar 10% do PIB global, enquanto a economia brasileira deve encolher para menos de 2%. Portanto, não é incorreto dizer que a Índia é um país emergente, pois cresce mais do que a média mundial e o Brasil é um país sub-mergente, pois cresce menos do que a média global.

Os dados do FMI mostram que a Índia tem um desempenho econômico muito acima do brasileiro. O gráfico abaixo mostra as taxas anuais de crescimento do PIB em 4 décadas. O Brasil só apresentou taxas ligeiramente superiores às indianas nos anos de 2000 e 2008. Em 2020, durante a pandemia da covid-19 a recessão foi maior na Índia, mas nos anos seguintes o país asiático se recuperou, enquanto o Brasil patina.

Em 1980, o Brasil tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil e a Índia uma renda de US$ 1,2 mil, perfazendo uma diferença de 9,4 vezes, conforme mostra o gráfico abaixo com dados do FMI de 1980 a 2028, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp). Em 1990, a diferença tinha caído para 6 vezes. Em 2023, a renda brasileira ficou estimada em US$ 15,2 mil e da Índia em US$ 7,4 mil.

Fazendo uma projeção até 2045, considerando um crescimento médio do PIB per capita de 0,7% ao ano para o Brasil e de 4,2% ao ano na Índia, os dois países teriam renda, respectivamente, de US$ 18 mil e US$ 19 mil. Ou seja, a renda per capita da índia ultrapassaria a renda brasileira em 2043.

É claro que toda projeção está sujeita à alteração, dependendo da dinâmica econômica nacional e internacional, mas os dados parecem indicar que a Índia está superando a “armadilha da pobreza”, enquanto o Brasil está preso à “armadilha da renda média”.

A figura abaixo mostra que a China deve contribuir com 22,6% do crescimento global no quinquênio 2023-28 e a Índia vem logo em seguida com 12,9%. Os EUA aparecem em 3º lugar, com 11,3% e o Brasil com uma contribuição de apenas 1,7% para o crescimento global. É cada vez menor o peso do Brasil na economia internacional e a política externa brasileira precisa levar estes dados em consideração.

Mas como foi mostrado no artigo “A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios eco-ssociais”, publicado no portal Ecodebate (Alves, 10/08/2022): “A Índia já é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa e ocupa o 2º lugar quando se considera as emissões por área. Como se projeta grande crescimento demo-econômico nas próximas décadas, a perspectiva é que os problemas ambientais do país se agravem bastante no médio e longo prazo.

A Índia já sofre com os eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas letais de calor. Não será fácil resolver de forma simultânea os problemas sociais e ambientais. Mas, com certeza, o aprofundamento da transição demográfica deve ajudar a mitigar as crises e a facilitar a adaptação para o novo cenário da crise climática e ambiental global.

Artigo publicado na revista Plos Climate (29/04/2023) diz: “Devido aos encargos sem precedentes na saúde pública, agricultura e outros sistemas sócio-econômicos e culturais, as ondas de calor induzidas pelas mudanças climáticas na Índia podem impedir ou reverter o progresso do país no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS)”

Em síntese, o Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas.

Porém, em um futuro não muito distante, a crise climática e ambiental pode retroceder o desenvolvimento ou colocar uma significativa limitação para o bem-estar humano em praticamente todos os países do mundo.

Referencial Bibliográfico

ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022.

Ramit Debnath, Ronita Bardhan, Michelle L. Bell. Lethal heatwaves are challenging India’s sustainable development, Plos Climate, April 19, 2023.

*José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente

Publicado no IHU Unissinos: 27 Abril 2023

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/628184-a-india-emergente-e-o-brasil-submergente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves