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10.22.2015

Alguns programas de TVs brasileiras levam a violência para crianças e jovens

O fato de se apresentarem como 'jornalísticos' faz com que alguns programas de tv's escapem da classificação indicativa, oferecendo às crianças e jovens um festival de ódio e violência


Por Laurindo Lalo Leal Filho -
para Agências Carta Maior e Adital - Sociedade e Violência Infântil na Mídia
São exatamente 1936 violações de direitos cometidas em um mês no rádio e na TV, por apenas 30 programas.
Os autores dessa façanha não são os personagens, geralmente negros e pobres, apresentados com estardalhaço diariamente pelos programas policialescos.
São os próprios apresentadores, em conluio com repórteres e produtores, além de determinadas autoridades, sob o comando dos dirigentes das emissoras que abrem espaços para essas aberrações.
A constatação está numa pesquisa realizada pela Andi – Comunicação e Direitos, uma organização social que há 21 anos trabalha para dar visibilidade na mídia a questões relacionadas aos direitos das crianças e dos adolescentes. Entre outras ações criou o projeto "Jornalista Amigo das Crianças”que já reconheceu com essa qualidade 392 profissionais em atuação no país.
Os chamados programas policialescos entraram na mira da Andi diante das seguidas violações cometidas contra os direitos da infância e do adolescente.
Realizada a pesquisa constatou-se que as violações, em nove categorias de direitos, vão muito além dessas faixas etárias atingindo toda a sociedade.
Exemplos não faltam.
A presunção de inocência, uma das categorias selecionadas pela pesquisa, é constantemente violada.
No programa Balanço Geral da TV Record, uma chamada diz "Pai abandona filho em estrada do RS” e o apresentador acrescenta "um pai abandonou uma criança nas margens de uma rodovia? Fez!”.
Apesar do desmentido do pai, a acusação constitui um claro desrespeito à presunção de inocência, garantida no artigo 5º da Constituição brasileira.
O estímulo à violência como forma de resolver conflitos é outra marca desses programas.
Como neste exemplo pinçado pela pesquisa na Rádio Barra do Pirai AM, programa Repórter Policial.
Uma pessoa acaba de ser presa pela policia e o apresentador anuncia "Então, a praga acabou de ser grampeada. Não seria o caso, né? Passa logo fogo num cara desse ai! (...) Então, é uma pena que ele não reagiu, porque a rapaziada passaria fogo nele de uma vez e ‘tava’ tudo certo”.
Só nesse caso são violadas cinco leis brasileiras, cinco acordos internacionais firmados pelo Brasil e um código de ética profissional.
Entre elas a Constituição Federal ("não haverá pena de morte...”), o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão (é considerada infração ao regulamento "incitar a desobediência às leis ou às decisões judiciárias” e "criar situação que possa resultar em perigo de vida”) e o Código de Ética dos Jornalistas Profissionais ("O jornalista não pode usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime”).
Outra categoria: discurso de ódio e preconceito.
No programa Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes, o apresentador José Luiz Datena faz enquete para saber quem acredita em Deus e diz: "...ateu eu não quero assistindo o meu programa. Ah mas você não é democrático. Nesta questão não sou não, porque um sujeito que é ateu, na minha modesta opinião não tem limites, é por isso que a gente tem esses crimes por ai...”.
Só com essas frases o apresentador violou seis leis brasileiras, três pactos multilaterais firmados pelo Brasil e mais uma vez o Código de Ética dos Jornalistas, além de desrespeitar princípios e declarações internacionais de defesa da liberdade de expressão.
E ainda ignorar os muitos crimes de Estado, guerras e outras violências que foram cometidos ao longo da história, e ainda o são, em nome de supostas causas religiosas.
O fato de se apresentarem como "jornalísticos” faz com que esses programas escapem da classificação indicativa de horários para determinadas faixas etárias do público telespectador.
Passam a qualquer hora oferecendo às crianças e jovens um festival de ódio e violência.
Na verdade, de jornalismo têm pouco.
São programas de variedades, espetacularizando fatos dramáticos da vida real com tentativas até de fazer um tipo grotesco de humor.
Numa edição gaúcha do programa Balanço Geral, por exemplo, o apresentador Alexandre Mota ao narrar a morte de um suspeito pela policia fingia chorar copiosamente clamando, de forma irônica, pela vinda dos defensores dos direitos humanos.
Em seguida, estimulado por uma repórter passa a sambar alegremente diante das câmeras.
Artigo publicado na Revista do Brasil, edição de outubro de 2015

Fonte: Adital - http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=86902

Carta Maior

Agência de publicação eletrônica multimídia que nasceu por ocasião da primeira edição do Fórum Social Mundial, em janeiro de 2001.
Twitter @cartamaior

Os humildes ensinam a classe média como sobreviver em comunidade


Por *Hilaine Yaccoub, ** para site 247 - Sociedade e Distribuição de Renda (fonte do texto no final)

Lições da Comunidade (ou favela)

Sobre o que vivi e aprendi ao conviver “de perto e de dentro” com moradores de uma comunidade (favela) carioca

A maior parte dos antropólogos realiza o chamado “trabalho de campo” para observar e apreender dados sobre os fenômenos que se propões estudar. Dentro desta metodologia, denominada Etnografia, convivemos com o grupo, moramos no lugar, participamos de sua vida cotidiana, criamos laços de amizade e confiança para só então entrar na lógica de pensamento daquele público. Comigo foi assim ao vivenciar por quase 4 anos a vida cotidiana de uma rede social de moradores de uma favela no Rio de Janeiro. Aqui eu conto duas situações que me inspiraram a escrever minha tese e mudaram minha forma de ver minha profissão, meu estilo de vida e sobretudo a função da minha existência. Ninguém passa pelo “campo” imune. A gente se transforma, não há dúvidas.

Estava sentada na copa da casa de Vaninha quando o telefone tocou e ela atendeu: “claro, venha, eu tenho leite aqui, não precisa trazer não, mas aveia eu não tenho (risos). Tá bom, vem que tô te esperando”. Ela desligou e perguntei o que houve. “A moça que trabalha lá na banca de Crê (apelido de Cleonice, sua irmã mais velha que vende doces e água de coco na praça) está precisando fazer um mingau de aveia e o gás acabou, aí ela pediu (emprestado) minha boca do fogão, então ela vem a essa hora fazer o mingau”. Era sábado à noite (bem tarde) e isso a impossibilitava de comprar um botijão.

Durante o tempo que permaneci em contato íntimo com a rede social na qual me inseri percebi que esta era uma prática corriqueira. Os pedidos de ajuda ou suporte em emergências cotidianas aos vizinhos e integrantes da rede chegava a ser prosaico. Era visto por eles como algo “natural”, algo que fazia parte da vida cotidiana e precisava ser resolvido na ordem do dia, sem dramas. Na verdade, fazer parte da rede era saber lidar com situações desse tipo com “bastante naturalidade”.

Eu tinha, portanto, um cenário: a rede social na qual de alguma forma eu fazia parte ou pelo menos era assim que meus interlocutores me percebiam. Consciente disso, precisava então juntar as peças do quebra-cabeça e perceber como suas ações recíprocas traduzem uma forma própria de agir, que pode, sob vários aspectos, convergir para um estilo de vida que se insere numa perspectiva de vanguarda do mundo contemporâneo. A favela está na vanguarda da economia de compartilhamento e no consumo colaborativo. É um valor intrínseco que deveria servir de exemplo para muitas sociedades. Estaria eu diante de uma resposta ou alternativa para o “consumismo” moderno e individualista? Meu primeiro passo para responder a esta pergunta foi compreender bem a dinâmica dessas práticas.

De fato, há um valor por trás dessas práticas: a empatia. Para eles, os “favelados” (como costumavam se autodenominar), esse valor é “colocar-se no lugar do outro” constantemente. Isso fica evidente nos discursos e nas explicações que meus interlocutores me deram, pois todos me responderam que, dependendo das circunstâncias, todas aquelas situações ou pedidos de ajuda poderiam partir deles próprios, sendo assim “obrigatório” ajudar, emprestar e se doar – formas de valorização do coletivo que se sobrepõe ao indivíduo. No caso, por exemplo, dos “mais abastados” (e a rede social é heterogênea em relação às posições socioeconômicas locais), essa empatia vem acompanhada da memória, uma vez que ao auxiliarem outros integrantes, lembram do seu próprio passado de escassez e dificuldades quando não tinham alimentos em abundância ou não podiam presentear seus filhos, por exemplo. Nesse caso, a “batalha da vida” nunca é esquecida e os que estão à volta pedindo remetem aos problemas pelos quais todos já passaram. Os dramas do presente, vividos por outrem, relembram os dramas próprios e, desse modo, motivam a performance dos atores, pois estes conhecem os sentimentos e expectativas que caracterizam os papéis sociais em cena.

Lembro de uma ocasião em que uma moça (uma jovem senhora de aproximadamente 45 anos) estava indo para a festa de formatura de sua filha. Ela demonstrava ansiedade e inquietação. Era empregada doméstica e sua aflição tinha uma razão: não teve tempo de arrumar o cabelo e fazer a maquiagem para uma ocasião tão importante. Ela passou na Associação e contou em tom dramático que não poderia ver sua filha se formar no colégio porque não queria fazer a menina “passar vergonha”. Vaninha, mais que depressa, mandou Fafá correr até sua casa e pegar o estojo de maquiagem e disse veementemente: “você vai sim, é uma conquista dela e sua, você não pode perder”. Fafá saiu correndo pela rua Darcy Vargas para pegar o estojo de maquiagem de Vaninha. Enquanto isso, deu-se início a um tipo de interrogatório entre Vaninha e a mulher: se havia roupa adequada, sapatos, bolsa etc, se além da maquiagem precisava de mais alguma coisa, como faria o penteado do cabelo etc. Quando a moça deixou a sala, Vaninha virou-se para mim e disse: “Eu sei muito bem o que é isso, a gente ter vergonha, não ter uma boa roupa para botar e deixar de ir nos lugares porque dá vergonha mesmo. Imagine você perder a formatura de um filho, é uma coisa que quase não se vê, é uma conquista dela também, ela precisa estar persente, e ainda mais para filha não ter a mãe do lado nessa hora!? Não pode ser assim, ela tem que ir e a gente dá um jeito”.

Não pude acompanhar todo o desenrolar da história, mas em outra ocasião perguntei à Vaninha qual tinha sido o desfecho e ela me disse que a mulher foi à formatura, tal como devia.

Estamos diante de muito apego e sim, é preciso rever nossos valores. O que de fato importa para você se soubesse que amanhã às 19:45h você irá morrer? Sair correndo e comprar uma bolsa? Foque nas pessoas, foque nas emoções, foque nas experiências. As coisas são apenas meios.

*Hilaine Yaccoub é doutora em Antropologia do Consumo (UFF- RJ), Mestre em Antropologia do Consumo (UFF- RJ), pós graduada em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais (ENCE-IBGE) e formada em ciências sociais (UFRJ). Consultora independente, pesquisadora e palestrante. É Professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Instituto Europeu de Design (IED) e Instituto Infnet (RJ). Co-criadora do MBA em Estratégias e Ciências do Consumo da ESPM RJ.

**Este texto é parte da minha tese de doutorado intitulada “Lições da Favela: As economias de compartilhamento de bens e serviços na Barreira do Vasco – RJ, defendida em janeiro de 2015 pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFF, linha de pesquisa Antropologia do Consumo.

Fonte do texto: https://www.brasil247.com/pt/247/favela247/201924/A-favela-est%C3%A1-na-vanguarda-da-economia-colaborativa.htm

El Nino: a região sul tem fortes chuvas e tempestades de granizo, na região central do país o sol tem mais intensidade

  • El Niño deste ano deve se igualar ao mais forte já registrado, alerta Nasa

    • A região sul sofre com fortes chuvas e tempestades de granizo, moradores da região central do país buscam formas de se proteger do sol, enfrentar as altas temperaturas e a baixa umidade

Fenômeno climático é caracterizado pelo aquecimento fora do normal das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial
 
por Paula Laboissière, da Agência Brasil - Sociedade e Meio Ambiente (fonte no final)
nasaImpactos do El Niño serão melhor observados do espaço do que em qualquer outro ano, por meio do uso de satélites
Brasília – O El Niño registrado no período 2015/2016 deve se igualar ao de 1997/1998, o mais forte já identificado até o momento. O alerta é da agência espacial norte-americana (Nasa, na sigla em inglês). O fenômeno climático é caracterizado pelo aquecimento fora do normal das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial.
A Nasa informou ainda que, neste ano, os impactos do El Niño em todo o mundo serão melhor observados do espaço do que em qualquer outro ano, por meio do uso de satélites e de superprocessadores de dados. “Nas duas últimas décadas, fizemos grande progresso em reunir e analisar dados que podem ajudar os pesquisadores a entender mais os mecanismos e os impactos globais desse fenômeno”.
No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que as variações climáticas registradas nas últimas semanas são resultado do El Niño e confirmou que o fenômeno este ano está mais intenso que o normal. Enquanto a Região Sul sofre com fortes chuvas e tempestades de granizo, moradores da região central do país buscam formas de se proteger do sol, enfrentar as altas temperaturas e a baixa umidade.
http://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2015/10/el-nino-deste-ano-deve-se-igualar-ao-mais-forte-ja-registrado-alerta-nasa-5944.html

A política (sic) brasileira e possíveis futuros lances

  • Eduardo Cunha, figura catalisadora do golpismo, deverá ser abatida pela sua própria volúpia

    • Retirar Cunha da presidência do Congresso é também enfraquecer a oposição golpista

      • O difícil será o esgotamento da dicotomia falsamente fabricada pelos ricos de que o PT/Governo Federal são os "lobos maus" da história atual brasileira 


por Francisco Fonseca*- para site Carta Maior - Sociedade e Poder da Elite e Popular (fonte no final do texto)
 
Lula Marques
A conjuntura política brasileira assemelha-se a um jogo de xadrez cujos jogadores são amadores, isto é, ou não há claras estratégias e táticas ou as contradições das “jogadas” torna turva a inteligibilidade do jogo; os lances são por vezes confusos; e quem estava próximo a vencer se vê, repentinamente, na iminência da derrota e vice-versa. Isso tudo ocorre numa incrível rapidez e com lances complexos e muitas vezes bizarros, a ponto de as análises tornarem-se rapidamente obsoletas.

Tanto da parte da coalizão governista como da oposicionista, com suas respectivas bases sociais (frações de classes sociais, grupos de interesse, interesses corporativos e sua emaranhada teia) há um sem-número de contradições. Exemplos marcantes: a política econômica de tonalidade neoliberal de um governo que se elegeu contrariamente ao rentismo e ao neoliberalismo; e o apoio da oposição simultaneamente ao golpismo e a tudo o que representa a figura do deputado Eduardo Cunha.

Nesse mar de lances sinuosos, de lado a lado, o papel do Supremo Tribunal Federal, apesar da obtusidade de figuras como Gilmar Mendes e outros, e das próprias ilegalidades cometidas no julgamento do Mensalão e na atual Operação Lava Jato, tem sido e, tudo indica, será ainda mais crucial. É fundamental observar que todas as afrontas aos direitos civis, políticos, trabalhistas e sociais estão sendo ou serão objeto de deliberação do STF.

A grande aliança golpista no Brasil é composta pelo “baixo clero” parlamentar representado por Eduardo Cunha (que implica articulação de negócios de variadas ordens); pelos principais partidos derrotados nas eleições e em franca decadência (PSDB e DEM); pela grande mídia desde há muito golpista; pelo rentismo sedento por recuperar seus já altos lucros; pelas frações do capital vigorosamente articuladas ao capital internacional; pelas classes médias superiores, fortemente elitistas e arrivistas; pelo sem-número de “inocentes úteis”; e por todos os conservadores e reacionários, de estratos distintos, que objetivam a derrota dos direitos (notadamente aos pobres), da esquerda, do PT e particularmente de Lula.

Ao STF, como se viu nas decisões tomadas em 13/10/2015, barrando os descalabros da presidência imperial, antiinstitucional e antidemocrática no Congresso de Eduardo Cunha, cabe assegurar o Estado de Direito Democrático e o ethos efetivo da Constituição de 1988, não deixando que o fogo alto dos perdedores das últimas quatro eleições presidenciais queime a democracia política e social, que ainda está à procura de consolidação.

Embora o Supremo seja marcado por enormes contradições e histórica ligação com os poderes dominantes, reitere-se, nesse momento histórico – por razões distintas e complexas – têm cumprido função crucial ao barrar, forma e conteúdo, a onda reacionária em diversas dimensões e perspectivas. Mas ainda é cedo para afirmar peremptoriamente que as posições do STF de fato impedirão os retrocessos, a começar pelo golpismo do impeachment, ou contribuirão para tanto, em escalas distintas. Aparentemente sim.

Por outro lado, a figura catalisadora do golpismo, Eduardo Cunha – mas também de Aécio Neves, ambos caricaturas deprimentes da vida política nacional –, em razão de sua posição institucional e de seu papel agregador do que há de mais obtuso em termos de interesses políticos, econômicos e civis, deverá ser abatida pela sua própria volúpia. Enquanto pertenceu ao baixo clero nutriu-se do anonimato que lhe permitiu transitar pelo pântano do tráfico descarado de influência. Ao assumir a ribalta do Parlamento, o ralo até então escondido fora aberto, exalando o que todos sabiam ou desconfiavam, mas não podiam provar.

Esse lance (a provável cassação de Cunha) – talvez um dos poucos méritos da antiinstitucional e politizada Operação Lava Jato – permite novas jogadas do governo. Afinal, abater Cunha é abater também a oposição golpista.

Vencer o front político/institucional permitirá ao governo e ao PT avançar rumo a três outros fronts: a economia, com a saída de Joaquim Levy, indicando com isso reversão, mesmo que progressiva, do fiscalismo/rentismo; a tentativa de formalizar um novo pacto de classes entre o empresariado nacional (ou cujas decisões empresariais sejam tomadas no Brasil) e os trabalhadores, excluindo-se o rentismo; e a (re)aproximação com os movimentos sociais populares e com as políticas de corte progressista e de esquerda. Sem isso, aliás, o definhamento do governo, mesmo que não seja derrubado, será marcante.

Embora conjecturas, trata-se de lances possíveis permitidos pelas recentes decisões do STF, que incluem também o bloqueio ao financiamento privado de campanhas; pelo definhamento de Eduardo Cunha e tudo o que isso representa; pela reforma na coordenação política do governo (com profissionais da negociação política e pelo maior protagonismo do ex-presidente Lula) no contexto da reforma ministerial; pelo aumento do sentimento de que impeachment é golpe: dos partidos de oposição, da mídia, e das classes médias e superiores; pelo esgotamento da dicotomia falsamente fabricada de que o PT/Governo Federal são os “maus” da história.

Não se deve, por fim, desprezar o potencial lesivo de Moro, Cunha e da mídia, entre outros, que podem estabelecer novos lances que conturbem ainda mais o ambiente político, notadamente contra o Governo Dilma e os direitos sociais e políticos...o entreguismo do pré-sal etc.

A conjuntura alterou-se favoravelmente à manutenção do governo – até por razões internacionais, caso da exclusão do Brasil do Mercosul e da Unasul, caso haja o golpe –, o que implica possibilidade ímpar de derrotar os golpistas, construir novos pactos e criar novas correlações de força.

Mas o xeque-mate ainda está aberto!

*Prof. de ciência política da FGV/Eaesp e PUC/SP

Créditos da foto: Lula Marques
 http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-fluidez-da-conjuntura-politica-e-os-proximos-lances/4/34791