Páginas

6.21.2022

Amazônia: terra sem governo e sem lei

O assassinato bárbaro de Bruno e Dom revelou ao mundo que Amazônia é uma terra sem lei

“Vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês”; “Índios em reservas são como animais em um zoológico” (Jair Bolsonaro 2019)

Equipes de busca do Exército na região do Vale do Javari, no Amazonas. (Superintendência Regional de Polícia Federal no Amazonas/Reprodução)

por Alcyr Cavalcanti * na Tribuna da Imprensa Livre – Sociedade e Brasil Sem Governo e sem Constituição

A policia federal nega que existam mandantes no caso do assassinato do jornalista Dom Phillips, e que os culpados estão sendo presos, mas as organizações em defesa dos povos da Amazônia afirmam que existem sim mandantes e exigem apuração mais detalhada. O assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira no Vale do Javari (AM) veio trazer ao mundo o absoluto descontrole que o Brasil tem sobre a Amazônia, explorada por todas as formas por narcotraficantes, garimpeiros, madeireiros, pescadores, todos eles de forma ilegal e criminosa põem em risco a soberania nacional, principalmente no atual governo.

“Vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês”; “Índios em reservas são como animais em um zoológico” (Jair Bolsonaro 2019)

O vice-presidente Hamilton Mourão foi designado pelo presidente como uma espécie de “xerife” para controlar o imenso território que compreende nove estados Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Rondônia e Roraima. Mourão é general da reserva e preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, comandou a 2a Brigada de Infantaria da Selva e seu pai é amazonense, portanto seria a pessoa indicada para comandar as buscas, se o governo tivesse interesse.

As buscas começaram com índios da Equipe de Vigilância Indígena do Vale do Javari e só depois é que policiais e bombeiros começaram a procurar. O Conselho Nacional é mais um órgão totalmente ineficiente, visto que o desmatamento continua a crescer cada vez mais, garimpos ilegais a cata de ouro e metais preciosos, e principalmente o narcotráfico que age em toda a região, principalmente com aeroportos clandestinos e usando os rios da região para o transporte de cocaína oriunda da Colômbia, Peru e Bolívia. Para o general a Amazônia é um região inóspita, frase de rara infelicidade que vem provar que é uma terra sem lei, ocupada por diversas formas de criminalidade, que ditam as regras na região e controlam tudo que possa atrapalhar seus negócios fora da lei.

Ato em São Paulo cobra justiça por Dom e Bruno. (Nelson Almeida/AFP)

Dominic Mark Phillips estava fazendo matérias para o The Guardian em companhia do indigenista Bruno Pereira que estava licenciado da FUNAI, e conhecia profundamente aquela região, e tinha denunciado várias vezes madeireiras e garimpos ilegais, além do cada vez mais crescente comércio da venda de drogas. O Clã do Golfo uma enorme rede criminal da Colômbia que explora principalmente o narcotráfico cresceu exponencialmente com o governo de Ivan Duque. O Clã tem um verdadeiro exército muito bem armado, derivado de uma dissidência das Auto Defesas Unidas da Colômbia AUC e domina boa parte do território amazônico.

Desmatamento da Amazônia brasileira. (Marizilda Cruppe/Amazon Watch/Amazônia Real)

O assassinato brutal do indigenista e do jornalista inglês veio trazer ao mundo o fracasso do governo brasileiro em controlar seus territórios, o que supõe em alguns casos certa conivência das autoridades. Para Ailton Krenak “não é a natureza que oferece perigo no Vale do Javari, mas os invasores e sua ganância que se espalham com ervas daninhas, com a indisfarçável negligência ou mesmo cumplicidade do poder público.

O que o mundo inteiro quer saber quem está por trás das mortes e qual a real motivação para tanta barbárie.

Publicado na Tribuna da Imprensa Livre por MAZOLA em 20jun2022

*ALCYR CAVALCANTIJornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Fonte: https://tribunadaimprensalivre.com/revelado-ao-mundo-que-amazonia-e-uma-terra-sem-lei-por-alcyr-cavalcanti/