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3.26.2019

Brasil, organização social e influências da geopolítica global


As entidades mais representativas populares diminuíram a atuação social, setores do judiciário, grupos partidários ligados à elite brasileira conservadora e militares (forças armadas e polícias militares) articularam ações, para se empoderaram junto à população, de forma a buscar efetivo controle e maior participação social...

por Adhemar T. Vieira F. no blog Mangue do Cachoeira – Sociedade e Democracia Brasileira Golpeada

Para ser pensada a situação da sociedade brasileira atual, são analisados e refletidos processos sociais, jurídicos, econômicos, mercantis e militares a partir de 2008 ou somente nos últimos 10 anos, período em que países perderam ou ganharam a influência social e econômica vigente como nações organizadas, em organização ou desorganização, como por exemplo, a França, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, Nicarágua, México, EUA, Argentina, Brasil, Venezuela e Japão entre outros.
Ocorrem intensas disputas econômicas e militares, que atingiram diretamente a organização social de vários países nitidamente na Rússia, China, Índia, Brasil, Líbano, Síria, Emirados Árabes, Nicarágua e Venezuela entre outros. As disputas econômicas aconteceram após a queda do muro de Berlim, marco civilizatório profundo no ocidente e oriente, que rompeu o status quo existente durante esse período.
A influência militar e econômica dos EUA, próximo a abertura dos países da famosa “cortina de ferro” do chamado bloco soviético, cresceu vertiginosamente, resultando na polarização de países que juntamente com os EUA, detiveram elevada participação no comércio inter-nações ou entre blocos econômicos e mercantis a partir do ocidente para o oriente, principalmente entre produtores de petróleo, produtos industrializados, tecnologia de ponta e agropecuária extensiva (agronegócio).
A abertura comercial e industrial da China, a partir do oriente para o ocidente sem o poderio bélico dos ditos países desenvolvidos, modificou radicalmente o fluxo do comércio mundial alterando-o completamente, mesmo com as guerras dos EUA e Rússia por controle e apropriação do petróleo e gás, como por exemplo, a guerra no Afeganistão, Iraque, Síria além da participação em golpes de estado, principalmente na América Latina, África e Oriente Médio,  entre outras disputas por território, visando o comércio global e suas riquezas.
Na América Latina, os países detentores de grandes reservas de petróleo como Brasil (pré-sal) e Venezuela (maior reserva mundial), atualmente são os mais disputados e cobiçados. É possível notar, que para entendimento e análise da situação atual no Brasil, se faz necessário pensar a situação do comércio global, no período de 10 anos mencionado anteriormente, sem o qual haveria dificuldades no entendimento da disputa social, econômica, jurídica, parlamentar e militar em nosso país.
Imagem do Centro Latino Americano de Políticas Estratégicas na internet
Quanto aos aspectos mercantis refletidos acima, a oscilação no preço do petróleo vincula-se diretamente ao fluxo global de capitais, influência econômica e militar regional, tanto na América Latina, como na África, Ásia, Oriente Médio, Europa e América do Norte, pelos EUA e aliados, sendo a participação africana importante neste fluxo, mas em menor proporção.
Fatos fragmentados incidem de maneira profunda e determinante na estrutura social brasileira, bem como na América Latina, desestruturando a frágil organização política e social atual. Como os EUA, aliados europeus e Japão tem maior presença comercial no Brasil, perderam gradativamente participação e influência comercial, assim como militar no Oriente Médio, Ásia e África para países como China, Rússia, Índia e África do Sul. Desta forma, tendem a buscar novas regiões onde possam manter o comércio e presença militar sob sua influência e domínio.
Aspecto Social e Políticas Públicas
É razoável o entendimento da frase: “O Brasil é a bola da vez”. No Brasil, a gigantesca reserva de petróleo pré-sal, plantio intensivo da soja, criação de animais (gado/suíno) e beneficiamento, exploração do ferro e alumínio, manganês e nióbio, alguns produtos industrializados com tecnologia avançada (veículos principalmente), reservas de água, entre outros bens em menor proporção, intensificam a circulação de capitais no país, por grupos econômicos nacionais e estrangeiros. As disputas para apropriação desses bens geram grandes conflitos internos, com elevada participação de grupos estrangeiros, principalmente EUA, China, países europeus e Japão, em maior proporção.
Quanto ao aspecto social brasileiro, a enfraquecida organização sindical, atividades jurídicas vinculadas ao Estado, principalmente no nível federal e atividades jurídicas privadas vinculadas a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), grupos religiosos da igreja católica e pentecostal, grupos políticos de várias tendências a nível federal, movimentos sociais agrários como MST (Movimento dos Sem-Terra) e urbanos como MTST (Movimento dos Sem-Teto) entre outros movimentos mais organizados e ativos, compõem o frágil tecido social vigente na atualidade.
Imagem política pública na internet
Desta maneira, as políticas públicas nos níveis federal, estadual e municipal nas áreas de educação tanto pública como privada, saúde, trabalhista, mobilidade (tanto transporte público como privado), segurança (a nível federal e estadual principalmente), aspectos ambientais na área rural e urbana, são profundamente influenciadas pelos detentores de bens e capitais, como descritos anteriormente. Os movimentos organizados da sociedade civil e militar estão à mercê desses conglomerados e grupos, que exploram a grande movimentação do capital. É perceptível o caos propagado pela mídia conservadora através de emissoras de televisão, jornais, revistas, rádios e rede social, controlados por grupos familiares em sua maioria, formados a partir da ditadura militar nos anos 60, 70 e 80. Essa estratégia é direcionada com o intuito de fragilizar alguns setores da sociedade, permitindo a influência ou mesmo domínio de outros grupos econômicos que atualmente não estão inseridos nas disputas, principalmente os estrangeiros. Como as plataformas digitais e impressas independentes tem pouca penetração na população, prevalecem informações distorcidas ou mesmo inverídicas (fake news).
Judiciário e Participação Social Conservadora
A atuação intensiva do judiciário na sociedade, através principalmente do Supremo Tribunal Federal (STF) em temas diversos, mas pontualmente atuantes e influenciadores no contexto econômico e social, voltado objetivamente às questões de âmbito político, distorcem o conturbado processo político partidário, onde de forma limitada, os movimentos sociais avançaram sua participação efetiva junto à população, contrapondo às classes conservadoras que detém o poder político e econômico. O STF propiciou em setores do judiciário, ações paralelas à Constituição, inclusive a margem da Carta Magna (como por exemplo, a Lava Jato entre outras), amplamente divulgado pela mídia conservadora. As correntes políticas de centro-direita não tiveram condições de sobrepujar estas ações na alta esfera do judiciário, assim como os movimentos sociais e grupos políticos de centro-esquerda, tanto na atuação sindical dos trabalhadores, como grupos religiosos ou o próprio judiciário privado representado pela OAB, até mesmo os movimentos agrários populares organizados (por exemplo, o MST), entidades em atividades da saúde ou associações da área de educação, tornaram-se refém na atuação da alta esfera do judiciário.
Imagem do STF omisso no Brasil-internet
Outros setores sociais de maior importância como militares (força armada e polícia militar), grupos organizados ligados à mobilidade de carga (como por exemplo, caminhoneiros) tiveram espaço para atuação social, em um país com suas entidades mais representativas em confronto predatório. O crime organizado, valendo-se dessa situação e ligado principalmente aos presídios extremamente massificados e em frangalhos, insurgiu-se contra o Estado em vários pontos do país com suas estruturas abaladas, oportunizando o surgimento de milícias que inicialmente confrontaram o crime organizado, posteriormente passaram a atuar de maneira articulada em determinados nichos sociais, fragilizando e obtendo controle desses setores à margem da sociedade.
Imagem Operação Lava Jato no Brasil-internet
Como as entidades mais representativas populares diminuíram a atuação social, setores do judiciário, grupos partidários ligados à elite brasileira conservadora e militares (forças armadas e polícias militares) articularam ações, para se empoderaram junto à população, de forma a buscar efetivo controle e maior participação social. Ocorre dessa forma a deposição da presidenta eleita e através de divulgação intensiva da mídia conservadora, ligada as classes sociais que detém poder e capital, grupos partidários de centro-direita avançam a participação e influência junto a população, possibilitando que setores políticos ultrarradicais de direita, patrocinados por recursos ilícitos de caixa 2, milícias e fake news (notícias falsas) conseguissem vencer as eleições para o Congresso e presidência no ano de 2018.
Democracia e radicalidade de grupos populares autênticos
A sociedade brasileira entra em um período jamais visto no país, com a fragilização e desarticulação dos movimentos populares representados por sindicatos, judiciário privado (OAB), igrejas de todas as tendências proativas a população, organizações de classe do funcionalismo público e movimento popular agrário, entre outros movimentos articulados junto à população. O caminho a retomar para novamente fortalecer os movimentos populares e organizações de classe será longo e árduo, pois ocorre o empoderamento das entidades conservadoras de centro direita e ultrarradicais, tanto junto a setores civis como militares, grandes grupos empresariais, organizações vinculadas ao capital (bancos privados e financeiras), partidos políticos de direita e ultradireita, milícias e crime organizado. A população se sente “traída” por grupos partidários tanto de direita como ultradireita, neste período confuso da sociedade brasileira, sem entender o processo político e social. Também perderam a confiança no alto escalão do judiciário que vinha procurando demonstrar neutralidade, revelou-se conservador, político e elitista. A atuação dos movimentos sociais e grupos populares organizados tende a ser radical, no sentido de buscar a organização social desarticulada, como forma de uma democracia justa e ativa, para uma população desestruturada e sem rumo certo, neste momento conturbado no país. O resgate das práticas previstas na Carta Magna é premente e socialmente urgente para restabelecimento da dignidade e justiça social.
Imagem da democracia fragilizada no Brasil
Através da atuação articulada e radical, o “eterno retorno” às estruturas sociais com pilares sustentáveis, é o “caminho das pedras” que os movimentos sociais e organizações de classe almejam atualmente, mesmo com níveis de desemprego elevados e perdas enormes nos direitos e renda média dos trabalhadores, prejuízos significantes na educação, saúde, mobilidade, construção civil e pequenas atividades familiares rurais, além da ameaça de grandes perdas na previdência social. Faz-se necessário realimentar as forças no médio e longo prazos, por caminhos difíceis e tortuosos, poderão novamente ser restabelecidas a participação popular autêntica, livre dos corruptos e derrotados, restabelecendo as estruturas sociais fragilizadas.