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2.23.2021

Os lobos sem disfarce dilapidam a Petrobrás

Os que lutam pela vida, a única posição consequente é denunciar de modo incansável, tanto os oportunistas de dentro como os de fora do governo...

A atual política de preços praticada pela Petrobrás merece um único adjetivo: criminosa...

por redação do site A Nova Democracia – Sociedade e Desmanche do Patrimônio Brasileiro

  Guedes, Mourão e Bolsonaro. Foto na internet

A luta silenciosa travada no “ninho da serpente” entre a dita ala econômica, ligada ao ministro Paulo Guedes, e a ala militar, capitaneada pelos generais do Planalto, ganhou na não-recondução do atual presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e sua substituição por mais um militar, episódio inédito na maior estatal brasileira. A tragédia brasileira, que se aproxima dos 250 mil mortos no contexto da pandemia, ganha ares de comédia grotesca quando vemos sair, da boca de Bolsonaro, o slogan “O petróleo é nosso”. Enquanto os democratas e humanistas de ocasião, através dos articulistas do monopólio de imprensa, fazem a indecente defesa do todo-poderoso “deus-mercado”, no altar do qual não importa que sejam sacrificados os interesses da imensa maioria da nação. No que se refere à política econômica, os senhores defensores da democracia estão, ora vejam, à direita do capitão-do-mato Bolsonaro!

A atual política de preços praticada pela Petrobrás merece um único adjetivo: criminosa. Esta política tem como responsável o próprio trio no governo. Bolsonaro, Paulo Guedes e Mourão, que deram continuidade à espúria política de Temer após o impeachment de Dilma, dolarizando o preço do petróleo e derivados, atrelando automaticamente seus reajustes no mercado interno às oscilações ocorridas em âmbito mundial. Como qualquer colegial sabe, o preço da produção de energia impacta toda a cadeia produtiva, com efeitos imediatos e perversos sobre a população mais humilde. Para piorar, esta dolarização se dá num contexto de forte perda de valor da moeda brasileira, o que torna o combustível mais caro, reforça a inflação e a carestia, que golpeia por sua vez o poder de compra das famílias e constrange a economia, num círculo de ferro que estrangula o País, para benefício de um punhado de especuladores nacionais e estrangeiros, do setor exportador, sobretudo o “agronegócio”, que se torna mais competitivo à medida em que o real se barateia diante do dólar. A inflação, portanto – que atinge com particular violência os que vivem de salário -, é uma doença estrutural da economia brasileira, cuja base última repousa no latifúndio monocultor de um lado e na subjugação aos países ditos ricos de outro. E o problema é tão grave que o Brasil consegue, nestes dias, combinar alta inflacionária com recessão, numa espécie de casamento de desgraças que devora o nível de vida do povo. É falsa, portanto, sob todos os aspectos, a velha cantilena que vê no aumento do consumo popular o vilão da inflação. Esta disparou em 2020, simultaneamente à deterioração da renda média dos brasileiros, que recuou 20% no mesmo período, o que significa brutal transferência de renda aos detentores de capital, como os grandes bancos e empresas.

Manifestação contra o governo federal. Foto na internet

Como se vê, estamos diante de um problema bem mais abrangente do que a questão dos caminhoneiros, e que constitui, de fato, um material explosivo na situação nacional. Porque tampouco Bolsonaro - o bravateiro, poderá levar até o fim o seu aceno populista, sob pena de perder o apoio da Faria Lima (Wall Street tupiniquim) e ver cair o governo. E é interessante perceber que para estes colarinhos-brancos perfumados, nada valem as milhares de vidas sacrificadas na pandemia, o crime de lesa-humanidade de Manaus, a sabotagem à vacinação, a defesa escancarada do fascismo e da tortura, o fato de que alguns milhões de brasileiros passem fome ou tenham que recorrer à lenha e ao carvão para cozinhar (porque também preço do gás de cozinha disparou, o que tem a ver, ademais, com o desmonte das refinarias perpetrado pelo governo federal). Até aí, os yuppies estavam “fechados com Bolsonaro”, comemoravam outro dia mesmo, a aprovação pelo Congresso da autonomia do Banco Central, mecanismo que visa blindar a política econômica das “pressões”, leia-se, da situação concreta de pressionar a sociedade em favor do capital, como se vê agora, por exemplo, ainda que em outra esfera, no que se refere à Petrobras. Mas, basta que se nomeie uma figura do desagrado do dito mercado (até o momento, apenas isso aconteceu) ameaçam roer a corda, derrubam o preço das ações das empresas públicas e preveem toda sorte de instabilidade econômica.

De fato, o regime ideal destes parasitas, que vivem em enclaves de riqueza tão luxuosos quanto vigiados, é o de Pinochet. Bolsonaro sonha, também, com isso, e é o programa que aplicará caso seu golpe tenha êxito. O problema é que, para chegar até lá, é preciso angariar base de massas, convencer os militares e afagar constantemente o mercado, coisa que não conseguirá desta forma de ação.

O compromisso de Bolsonaro, nosso Bonaparte de boteco, é, em primeiro lugar, com ele mesmo e com sua gangue (bolsonaristas). Acossado pelas investigações sobre os crimes que cometeu antes e depois de assumir a presidência, tem no golpe de estado não só um projeto político como a única ficha de salvação pessoal. Para pensar concretamente: saindo do Planalto, sem os recursos que o cargo lhe oferece de blindagem legal como presidente, ele não terá forças para enfrentar a avalanche de denúncias que o espera, e a cadeia será seu destino certo. A permanência no cargo, portanto, incluída a reeleição (como mera etapa intermediária do golpe-2016, ou mesmo como pretexto para realizá-lo) é para ele questão de vida ou morte política. Para os generais, tão corruptos e genocidas quanto ele, o problema se apresenta sob outra ótica, já que, como militares, sua vida não depende deste ou daquele governo, senão que estará assegurada até que os derrube e enterre os privilégios após a ditadura de 1964. Para estes, o problema político é: pretendem impôr uma política fiscal e orçamentária que sirva aos seus objetivos, cujo problema imediato é deter a explosão social iminente, ambiente em que podem perder o controle da situação para a extrema-direita bolsonarista, além de verem as autênticas forças democráticas e populares crescerem neste processo. Por isso, e também, como pano de fundo, pela ligação orgânica entre as Forças Armadas e os detentores do capital, representados pelos maiores conglomerados comerciais, que repousa em causas bastante objetivas (para eles é chave, inclusive a fim de manter a condição de principal força da América do Sul, evitando o desmanche completo do parque industrial nacional e estrangeiro no país), os generais são pela abrangente intervenção econômica estatal, a qual corresponde, na superestrutura, uma centralização maior de poder no executivo. Só ver a atuação no governo, a constante busca por compensação monetária e benesses, ou a adesão aos valores de Bolsonaro, como faz o moralista da alta classe média (defensores do ex-juiz Moro, por exemplo), de fato , nada conseguirão explicar quanto ao que está acontecendo no país . Os generais e o capitão (Jair Messias) convergem, hoje - ainda que persigam objetivos distintos - para a mesma defesa de maior centralização política e intervenção econômica. São uma espécie de inimigos inseparáveis, que somente buscam benefícios pessoais.

Para além disso, só há o caminho dos sucessivos massacres e das traições, nas mãos dos mecenas de farda ou de colarinho branco, através de polícias militares com a alta patente bem remunerada e o baixo clero controlado.

Os que lutam pela vida, a única posição consequente é denunciar de modo incansável, tanto os oportunistas de dentro como os de fora do governo. Nenhuma concessão aos humanistas de ocasião, democratas de salão, que em nome de defesa da constituição, pregam isto sim, a continuidade dos seus privilégios! Somente com Bolsonaro fora da administração pública federal, assim como os militares, genocidas e entreguistas, culpados pelas centenas de milhares de mortos e pela fome! A única alternativa é a luta e mobilização independente das massas populares.

Publicado na A Nova Democracia: 23 fevereiro 2021

Fonte:     https://anovademocracia.com.br/noticias/15243-editorial-os-lobos-sem-disfarce