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8.23.2016

WhatsApp, privacidade e autoritarismo

  • O planeta vive um imenso campo de batalha virtual. Entre os que lutam pelo direito à liberdade de expressão e à privacidade e os que tentam controlar o mundo e as pessoas por meio da bisbilhotagem

por Mauro Santayana para site Brasil Atual -  Sociedade e Controle da Internet 

Foto MICHAEL RADFORD/MGM
big_brother_1984_foto_direcao_Michael_Radford_mgm.jpgO mundo vigiado pelo Big Brother no filme '1984': profecia?
O STF, por meio do ministro Ricardo Lewandowski­, suspendeu, no mês passado, a proibição, que durou algumas horas, decretada por uma juíza do Rio de Janeiro, de funcionamento do WhatsApp em todo o território nacional. Espera-se que a sábia decisão regulamente definitivamente a questão, não apenas com relação ao aplicativo em questão, mas também a outros semelhantes, e evite que parte da Justiça continue procurando chifre em cabeça de cavalo e passando ridículo aos olhos do mundo. A decisão da juíza e sua suspensão pelo STF se desenvolvem no âmbito da contradição entre indivíduo e sistema descrita por George Orwell, em seu profético livro 1984.
A obra do escritor britânico – publicada em 1949 –, que deu origem ao termo Big Brother, tão nefastamente apropriado por uma produtora de vídeo holandesa para servir de título ao programa de televisão homônimo, é a representação de um líder autoritário e onipresente, por meio de aparelhos de televisão, instalados em todas as casas e ruas de uma hipotética nação do futuro.
Por meio dessas telas, esse líder prega a ideologia de um regime político opressivo e brutal, com as mentiras cunhadas pelo Miniver – o Ministério da Verdade. E opera, ao mesmo tempo, um sistema de monitoramento que vigia a cada passo tudo que é feito pelo indivíduo, a cada momento, esteja ele nas ruas, no trabalho ou fechado em sua própria casa.
Desde, pelo menos, o uso do recenseamento pelos romanos – o que, segundo Lucas, levou a família de Jesus a Belém – e o mito do massacre ordenado por Herodes para matar, ainda ­bebê, o "rei" dos judeus, que a informação é utilizada pelo sistema para vigiar, localizar e eliminar seus inimigos.
Da mesma forma que o anonimato na internet pode facilitar a comunicação entre criminosos, ele protege a vida de pessoas perseguidas por suas convicções políticas ou religiosas, tentando escapar, com suas famílias, da prisão, da tortura, do assassinato, em mãos de regimes ou governos ilegítimos e autoritários.
Desse ponto de vista, mesmo que apenas uma vida fosse salva em qualquer lugar do mundo, por meio do WhatsApp ou de outros aplicativos semelhantes, já estaria plenamente justificada a proteção do sigilo de suas mensagens, mesmo que outras vidas pudessem vir a ser eventualmente ameaçadas por esse mesmo segredo, em outras circunstâncias.
Segundo divulgado pela mídia, o ministro da Justiça do governo ainda interino, Alexandre de Moraes, pretende enviar ao Congresso projetos de lei que levem empresas estrangeiras a instalar suas sedes no Brasil, e a utilizar tecnologia que possibilite a decriptação (decodificação de dados criptografados) das informações trocadas pelos usuários. A não ser que se trate de discurso para a plateia, essa é hipótese absurda e descolada da realidade.
Primeiro, porque a decisão de instalar ou não aqui uma sede ou representação é estritamente mercadológica e, para muitas empresas internacionais de internet, o Brasil ainda é um mercado secundário e periférico. Segundo, porque a internet não tem fronteiras. Google, Facebook, Telegram, WhatsApp não precisam instalar uma unidade em cada país para atender consumidores do mundo todo da mesma forma. E terceiro, porque seus produtos foram desenvolvidos exatamente para impedir, tecnológica e deliberadamente, por meio de criptografia automática e avançada – e a não gravação de dados – que qualquer um, incluídas as autoridades, possa ter acesso às informações trocadas entre os usuários.
Ao contrário do que as autoridades pensam, muita gente escolhe usar um programa como o Telegram e o WhatsApp não para trocar informações, simplesmente, ou por uma questão de "popularidade", mas para assegurar que suas mensagens se mantenham em sigilo. Isso porque coloca a sua privacidade em nível tão prioritário quanto o da facilidade no acesso ou agilidade de utilização. E não apenas com relação a alguém que possa eventualmente ter acesso físico ao seu computador, tablet ou telefone móvel, mas principalmente no contexto de que essa informação não possa ser interceptada, quando está circulando entre um ponto e outro da rede, pelos numerosos braços do Big Brother de governos cada vez mais autoritários.
As empresas que fornecem esses programas e aplicativos não fazem isso apenas porque sabem que esse apelo à privacidade é um importante, imprescindível, ponto de venda na conquista de novos usuários, em um ambiente empresarial extremamente complexo e altamente competitivo. Mas também porque ficaria­ tremendamente caro registrar e guardar os dados relativos à troca de bilhões de mensagens por dia, tornando proibitivo o preço do serviço para consumidores. Mesmo que, eventualmente, fosse possível proibir e bloquear, no Brasil, o uso de certos aplicativos para impedir a comunicação entre bandidos ou "terroristas", por exemplo, isso seria ainda, absolutamente inócuo.
Não há um, mas centenas de programas, até mesmo na Deep Web (internet "invisível", cujo conteúdo não é indexado a mecanismo de busca) – e surgem novos todos os dias –, que permitem a comunicação criptografada e sem monitoramento. E centenas de outros programas, como VPN (redes para uso privativo, mas que usam a internet como meio de tráfego), que custam pouco mais de R$ 1 por dia e possibilitam ao usuário acessar a internet e todo tipo de aplicativos como se estivesse, virtualmente, em outro país – logo, fora do alcance da jurisdição das autoridades brasileiras.
E, finalmente, porque há, neste momento, dezenas de fundações e associações, e milhares de cientistas e hackers trabalhando de graça, de modo voluntário e colaborativo, 24 horas por dia. Denodados, criativos, eles aplicam tempo e esforços ao desenvolvimento de softwares gratuitos, voltados para assegurar e facilitar o anonimato e a privacidade na internet. E se dedicam à defesa de ideais como liberdade de pensamento, de expressão, política e de comunicação, cada vez mais ameaçada pelo avanço, em muitos lugares do planeta, do sistema representado pelo imenso Big Brother midiático-governamental do fascismo, da manipulação, da vigilância, do controle e do autoritarismo.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/120/whatsapp-privacidade-e-autoritarismo-4140.html

Marcio Pochmann: Recessão, direitos sociais e trabalhistas no Brasil

  • A redução dos direitos voltou a ser entoada, sob o coro dos patrões. A terceirização e a “simplificação” trabalhista apontam para a precarização das relações de trabalho no Brasil

por Marcio Pochmann, para Revista do Brasil - Sociedade e Análise dos direitos sociais e trabalhistas brasileiros (fonte no final)

Foto ADONIS GUERRA/SMABC
Mercedes_Paralisacao_foto_Adonis_Guerra_SMABC.jpgTrabalhadores da fábrica da Mercedes, em São Bernardo do Campo, param contra demissões
Desde a transição da sociedade agrária para a urbana e industrial, iniciada na década de 1930, aos dias de hoje, o Brasil conheceu quatro distintas recessões econômicas, com impactos decisivos sobre os direitos sociais e trabalhistas. De todas, constata-se que em duas delas houve o sentido geral de reação organizada da sociedade que permitiu a ampliação dos direitos da classe trabalhadora, enquanto em apenas uma percebeu-se o retrocesso. Na atual recessão, os direitos sociais e trabalhistas voltaram a ser ameaçados, exigindo resposta firme e consistente do conjunto dos trabalhadores.
Na grande recessão do início da década de 1930, por exemplo, o envolvimento dos trabalhadores se mostrou fundamental para a difusão de uma diversificada e heterogênea legislação social e trabalhista. Com isso, somente no ano de 1943, com a implementação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os trabalhadores urbanos passaram a deter inéditos direitos sociais e trabalhistas.
Na sequência, a grave recessão do início dos anos de 1980 descortinou uma nova etapa de lutas dos trabalhadores voltada para a proteção das ocupações, bem como a redução da jornada de trabalho, entre outras reivindicações. O resultado disso foi a aprovação pela Constituição Federal de 1988 do novo patamar dos direitos sociais e trabalhistas.
Dois anos depois, contudo, a recessão do início da década de 1990 implicou retrocesso aos direitos da classe trabalhadora. Com a adoção do receituário neoliberal, o objetivo de enfraquecer o mundo do trabalho foi alcançado, mostrando-se fundamental para evitar a reação organizada da sociedade ao rebaixamento das condições e relações de trabalho.
Desde o ano de 2015 que o Brasil convive com a quarta recessão econômica, cujos efeitos têm sido a ampliação do sofrimento humano, sobretudo dos trabalhadores que passaram a ter rendimento menor e ocupações a menos. O desemprego generalizado e a pobreza crescente apontam para direção inversa à verificada nos anos 2000.
Tal como nos governos neoliberais durante os anos de 1990, a velha cantilena da redução dos direitos sociais e trabalhistas voltou a ser entoada pelo governo sob o coro dos patrões. Não apenas a nova lei da terceirização, como a simplificação trabalhista propostas apontam para a uberização das relações de trabalho no Brasil.
O propósito atual de enxugar os direitos sociais e trabalhistas assenta-se na ideia de que quanto menor o custo de contratação do trabalho pelo empregador, maior a possibilidade de elevar a competitividade da empresa, permitindo, na sequência, elevar o nível de emprego. Mas ao mesmo tempo em que o emprego da mão de obra é custo para o patrão, também é o rendimento para os ocupados.
Com menor rendimento e maior flexibilidade contratual, os trabalhadores consomem menos ainda, fazendo contrair, em consequência, o consumo. E, por sua vez, a provocação da queda da demanda na economia como um todo, fazendo aumentar o desemprego da força de trabalho. Retrocesso em cima de retrocessos.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/120/recessao-e-os-direitos-sociais-e-trabalhistas-8939.html

Aquecimento Global Ameaça Saúde da População no Planeta

  • O aquecimento do planeta vai causar milhões de morte adicionais entre 2030 e 2050, prevê a Organização Mundial da Saúde. As recentes epidemias globais de micróbios patógenos como a dengue e a zika, veiculados pelos mosquito Aedes Egypti, são apenas uma das muitas consequências do fenômeno. Outras deverão surgir.
Por Armelle Bohineust do  jornal Le Figaro para o site 24/7- Sociedade e Efeitos do Aquecimento Global na Saúde (fonte no final do texto)

 (photo: )Aquecimento global. Ele ameaça também a nossa saúde

A saúde, um item amplamente esquecido da COP21? 

A Conferência Mundial do Clima em Paris que aconteceu em 11 de dezembro de 2015, e o tema esteve longe de ser o centro das discussões da cúpula. No entanto, os efeitos da mudança climática sobre a saúde são muitos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê 250 mil mortes adicionais por ano, entre 2030 e 2050, um excesso de mortalidade devido principalmente à desnutrição crescente (com a redução das terras agrícolas), malária, diarreias e ao estresse relacionados ao calor.

Poluição, mosquitos, tuberculose
O aquecimento de algumas áreas favorece, em particular, o desenvolvimento de insetos portadores de doenças graves. O mosquito Aedes Egypti que transmite a dengue já se infiltrou na França , ao longo do vale do Ródano. Com o aquecimento climático, ele vai se espalhar ao ponto que uma em cada duas pessoas, segundo a OMS, estará exposta a este risco em 2080. Mas a doença está longe de ser desprezível, relembra Robert Sebbag, vice-presidente responsável pelo acesso aos medicamentos nos países em desenvolvimento da Sanofi. Nos adultos, ela causa dores, febres e náuseas muito desagradáveis podendo ser fatal em crianças. A malária, que faz 600 mil vítimas por ano, amplia também seu campo de ação. Ela deveria se instalar em áreas montanhosas até então preservadas do calor, tais como cordilheira dos Andes na América do Sul ou a região do Kilimanjaro na Tanzânia, aponta Robert Sebbag.
Além disso, a degradação do ar leva ao aumento de doenças respiratórias, alerta a OMS, que acusa a poluição atmosférica de causar milhões de mortes por ano. E as migrações relacionadas ao clima têm muitas consequências sanitárias, destaca Robert Sebbag, ao apontar o estresse infligido a estas populações ou a explosão da tuberculose em suas fileiras.
Para além de seu impacto humano, esta deterioração da saúde pública vinculada ao aquecimento tem um custo, relembra a OMS. Os danos diretos para a saúde sem contar as despesas em setores determinantes para a saúde tais como a agricultura, a água e o saneamento, estão avaliados entre 2 e 4 bilhões de dólares por ano até 2030.
http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/251110/Aquecimento-global-Ele-amea%C3%A7a-tamb%C3%A9m-a-nossa-sa%C3%BAde.htm