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4.30.2014

Crime organizado põem em risco avanços do Estado e do sistema democrático


Marcela Belchior - Adital

O crime organizado tem ganhado cada vez mais terreno na América Latina. Tecendo uma rede de poder entre mercados ilegais, a colaboração do Estado e uma violência massiva, a máfia é hoje considerada negócio em expansão. A conclusão é do centro de pesquisa independente internacional Woodrow Wilson Center, que divulgou documento que estrutura o funcionamento das facções criminosas no continente.
Intitulado "A rebelião das redes criminais: o crime organizado na América Latina e as forças que o modificam” (La rebelión de las redes criminales: El crimen organizado en América Latina y las fuerzas que lo modifican), de autoria Juan Carlos Garzón Vergara, o estudo aponta que as redes criminosas figuram, hoje, como atores estratégicos relevantes no hemisfério sul, reconfigurando as fronteiras territoriais, tendo um forte papel na economia e penetrando nas estruturas políticas e sociais. A máfia poria em jogo os avanços alcançados na construção do Estado e do sistema democrático.
A publicação aponta que os grupos favoreceriam a formação de mercados locais ilegais, fator comum na América Latina, que apresentam uma série de vantagens a essas facções: permitem um fluxo de caixa constante de fácil acesso e a contratação de mão de obra local (que provê essas organizações de base social), são veículos efetivos para a lavagem de dinheiro e sua interação com a informalidade potencializa a capacidade de infiltração na economia legal.
De acordo com o estudo, o crime opera em nível local, como máfias e em plano nacional e regional como empresas, com estruturas mais fluidas e menos hierárquicas. O tradicional "capo”, chefe das facções, compartilha poder com lideranças intermediárias, que permitiriam a conexão do crime organizado com instituições legais.
A pesquisa aponta ainda que a motivação do crime organizado é econômica e não política, ou seja, seu objetivo não é tomar o poder, mas usar o poder para o desenvolvimento das economias ilegais. A violência, nesse caso, seria uma ferramenta da máfia e não um fim em si mesmo. O crime organizado não se baseia no simples confronto com o Estado, mas se estrutura a partir de conexões entre o legal e o ilegal, o formal e o informal, em um contexto de debilidade institucional e deterioração da cultura da legalidade.
Nos últimos anos, as organizações criminais teriam modificado suas estratégias, por quatro motivos. Um deles seriam os vazios de poder, que resultam da implosão das estruturas criminais e da ação do Estado contra esses grupos, também a disponibilidade de redes clandestinas com experiência no tráfico de bens e serviços ilegais. A consolidação de mercados locais ilegais emergentes, com uma oferta crescente e uma demanda constante de produtos e serviços ilegais, seria mais um agravante; além das ofensivas do Estado em meio à fragilidade institucional e a disposição das redes clandestinas a confrontar o Poder Institucional.
O estudo indica ainda que as investidas do Estado para desarticular as organizações criminosas favoreceriam a competitividade interna dos grupos, que se renovariam e criariam novos modos de operar na sociedade. "A ofensiva estatal não necessariamente produz uma debandada de delinquentes que optam por deixarem as atividades ilegais, sendo uma oportunidade para a renovação das estruturas e a emergência de facções ilegais que se mantinham até agora subordinadas”, explica a pesquisa.
O estudo conclui que, diante de uma debilidade institucional, da presença irregular do Estado no território e sua cooptação pela máfia (a chamada "falência do Estado”), a facção criminosa teria capacidade de obrigar o Estado a fazer concessões a essa rede de relações.
* Com informações de Fundación Avina.
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80345

4.29.2014

As marcas do regime militar 
ainda atrasam o desenvolvimento 
da escola no Brasil

Não se fez 
tábula rasaAlunas no desfile de 7 de Setembro em Araranguá (SC), em 1975

Por Cinthia Rodrigues - reportagem especial
Formação de professores em escala, fortalecimento da educação privada, segmentação de currículos e até mesmo a arquitetura prisional dos prédios. Tais práticas e características da educação brasileira às quais nos habituamos dizem muito sobre o regime militar imposto durante mais de duas décadas ao País e a seus cidadãos. Outros resquícios do cinquentenário golpe são mais escusos, porém não menos nocivos. A dificuldade que as escolas encontram em lidar com a aprendizagem de forma democrática, a intolerância à diversidade e a falta de referências mais experientes seriam também decorrência da formação repressiva. “O controle político e ideológico permanece nas mentes e nos corpos”, resume Aparecida Neri de Souza, professora da Faculdade de Educação da Unicamp com pós-doutorado em Sociologia do Trabalho Docente.
 
Segundo Aparecida, a escola foi um dos principais motores do projeto desenvolvimentista do regime. Para aumentar a produção industrial, a infraestrutura e o consumo, era necessário ter mais “mão de obra qualificada”. Logo, foram construídas escolas da forma mais barata, cresceu o número de matriculados por sala e de horas de trabalho dos professores e incentivou-se a criação de instituições particulares. 
 
Ao mesmo tempo, houve uma reforma curricular que visava à formatação ideológica. Saíram as aulas de Filosofia e entraram as de Educação Moral e Cívica (EMC), ministradas a crianças, adolescentes e adultos em todos os níveis de ensino. Física e Química foram simplificadas em “Ciências” e História e Geografia, em “Ciências Sociais”.  
 
A quebra no projeto educacional que estava em curso no Brasil pode ser notada pelos nomes dos líderes de então que passaram a ser perseguidos. Entre os educadores estavam Anísio Teixeira – encontrado morto, sem sinal de queda, no fosso de um elevador – e Paulo Freire e Darcy Ribeiro, exilados. “Perdi muitos amigos nessa época. Os melhores”, lembra o formador de professores Luciano Lima Castro, torturado enquanto cursava a Faculdade de Matemática da Universidade de São Paulo (leia o depoimento na pág. 23).
 
“Os responsáveis pelo golpe eram bons estrategistas. Eles tiraram de cena as maiores cabeças e iam controlando de cima para baixo. Quando se chegou às salas de aula das escolas comuns, não foi preciso fazer muito. Nós já estávamos sem rumo”, analisa Castro. “Tínhamos, no início dos anos 1960, um debate efervescente alimentado por grandes pensadores. Uma conjuntura que nunca mais tivemos, tamanha foi a eficácia dos ditadores”, lamenta. Castro começou a dar aulas em 1969 e conta que desde o início teve consciência de que não fazia pelos alunos o mesmo que havia sido feito por ele como estudante poucos anos antes: “Minha primeira atuação política era dar uma boa aula e eu não conseguia. Não se aprendia na faculdade e todas as referências tinham sido liquidadas”. 
 
Além da perseguição direta, os cursos superiores de formação de professores passaram a ter currículo obrigatório, em vez do caráter multidisciplinar que impera nos países democráticos. Todo o Ensino Superior foi reformulado em 1968 e o Ensino Médio em 1971, ambos com o conteúdo de Humanas reduzido. Quem já era formado também teve o trabalho limitado pela censura com relação a textos considerados “subversivos”. 
 
Para o sociólogo Emir Sader, as aulas passaram a ser mais pobres, a função da escola foi achatada para a preparação ao mercado de trabalho, e a do professor passou a ser de mero instrutor. “O conjunto das medidas teve um efeito devastador sobre o papel da educação na socialização dos jovens”, diz. 
 
Na análise dele, foi a partir desse momento que a classe média migrou para instituições particulares e a educação passou a ser vista como investimento. O setor privado recebeu incentivos e o público foi sucateado até chegar à escola que conhecemos. “A interferência do regime resultou na falta de qualidade, de formação docente e de métodos de ensino e na deterioração das condições materiais.” 
 
Além do Ato Institucional Número 5, que impôs a censura em 1968, professores e alunos sofreram repressões específicas. A União Nacional dos Estudantes foi extinta e teve sua sede queimada. O Decreto 477, de 1969, dirigido a professores e estudantes, tratava como infração disciplinar o uso de “material subversivo”, assim como a participação em “passeatas” ou o uso da escola para “praticar ato contrário à moral ou à ordem pública”. Quase 30 anos após a redemocratização, boa parte dos educadores ainda teme represálias por ações como essas. E com alguma razão.
 
Mudança lenta
A ditadura acabou oficialmente em 1985 e uma nova Constituição veio em 1988, mas a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação só foi mudada em 1996. Outros resquícios perduraram por ainda mais tempo. Em São Paulo, a Lei da Mordaça – como ficou conhecido o dispositivo que impedia servidores públicos de darem declarações que envolvam o governo – só caiu em 2009. Ainda assim, até hoje o governo usa outros instrumentos normativos para condicionar entrevistas a autorizações prévias. 
 
“Não se apaga o passado nem se faz tábula rasa”, afirma Aparecida Neri. Para ela, os docentes trazem marcas da educação controlada que tiveram, assim como toda a sociedade. “O lento processo de reconstrução vale para as pessoas. Um exemplo atual é a reação da opinião pública às manifestações de rua que começaram no ano passado. A maioria só quer enquadrar os jovens. Poucos estão abertos ao diálogo.”
 
Na escola, ela vê uma “verdadeira luta” dos educadores para romper com a verticalização hierárquica e a segmentação das aulas, mas diz que as iniciativas ainda não encontram respaldo no sistema educacional. “Os professores se constroem por semelhanças e diferenças. A nova geração rejeita o autoritarismo e, na ansiedade de se opor, acaba sendo deslegitimada pelo aluno como alguém que não ensina. A gente tem um bom conflito atualmente, que é decorrente da tentativa de ruptura.” 
 
Parte da dificuldade em mudar está em reconhecer o que foi o golpe de 1964. Segundo o historiador Carlos Fico, embora a pesquisa sobre o período seja crescente e haja bibliografia paradidática disponível, os livros didáticos tratam o assunto de forma simplificadora, como algo feito exclusivamente pelo Exército, com início, meio e fim. “Essa é uma leitura romântica que acontece com frequência após períodos traumáticos porque é delicado falar com a criança e o adolescente sobre algo de que participaram muitos dos adultos e instituições ainda presentes”, comenta. 
 
Para sair do óbvio, Fico diz que é necessário enfrentar a complexidade da questão. Explicar a participação da imprensa, da Igreja e de parcela da sociedade na derrubada do presidente João Goulart seria um passo. “A maioria dos professores, por falta de repertório e apoio didático, reproduz a história de bandidos e mocinhos que lhes ensinaram a contar.”
 
Antes do golpe, houve uma crescente campanha a favor dos militares. Em 19 de março, sob o comando da Igreja Católica, 500 mil pessoas tomaram as ruas em São Paulo na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que protestava contra o presidente João Goulart. Às vésperas da sua derrubada, o jornal O Globo publicou editoriais em que chamava o quadro à época de “democracia suicida”.
 
Em 31 de março, a Folha de S.Paulo criticava a contenção a ações militares. “Aquilo que os inimigos externos nunca conseguiram começa a ser alcançado por elementos que atuam internamente, dentro do próprio País. Deve-se reconhecer, hoje, que a Marinha como força organizada não existe mais. E há um trabalho pertinaz para fazer a mesma coisa com os outros ramos das Forças Armadas.”
 
A falta de menção a fatores importantes como esses faz o golpe parecer longe da realidade. “É como se todos tivéssemos lutado contra os loucos, mas por algum tempo houve grande apoio”, ressalta Fico. Cabe à escola deixar de refletir o período para ajudar a refletir sobre ele. 
 
Expressões da arquitetura
Extensos corredores com salas dos dois lados, acesso a visitantes apenas pela área da administração, espaços de convívio reduzidos, salas fechadas. Cada vez que alguém entra em uma escola assim encontra aí outro legado do regime militar. 
 
Até o início do século XX, os espaços escolares tinham fachada monumental, janelas verticais, jardins e pátios 
internos. Mesmo as construções modernas e de ângulos retos dos anos 1950 e primeira metade dos anos 1960 mantinham áreas livres e 
salas ventiladas. Por economia para 
expansão e alinhamento à ideologia 
de formação individualizada, isso tudo 
foi considerado supérfluo. 
 
“Dois projetos escolares disputavam o cenário mundial nessa época. Um, chamado escola nova, era de espaços abertos e servia à flexibilização do currículo; o outro, batizado de polivalente ou econômico, aproveitava todo o espaço e isolava cada sala. A ditadura escolheu o segundo”, afirma a arquiteta Rita de Cássia Gonçalves, autora de mestrado e doutorado sobre o tema.
 
Nos anos 1970, até o acabamento foi modificado. Telhados clássicos e janelas largas que garantiam conforto térmico cederam lugar a “terraços planos” e espaço mínimo de envidraçamento. Os campos de futebol foram substituídos por quadras de cimento e perdeu-se o espaço e a comunicação entre os blocos de salas de aula. A ordem era priorizar construções simples e que pudessem ser expandidas.
 
“A decadência física das escolas atualmente é decorrente da economia”, explica Rita de Cássia, em sua tese para a Faculdade de Educação da Universidade de Santa Catarina (UFSC). Para ela, as mudanças acompanharam as transformações de currículo e método.
 
Por conta dessa concepção – e das grades cada vez mais comuns nas décadas seguintes para evitar furtos –, veio a comparação feita no senso comum com presídios. “Herdamos uma escola considerada um espaço para vigiar o sujeito”, afirma.
 
Publicado na edição 85, de abril de 2014
http://www.cartanaescola.com.br/single/show/316

4.27.2014

A orientação sexual dos adolescentes

Para participantes de "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", trunfo do filme é tratar de forma honesta um tema ignorado nas escolas: a orientação sexual dos jovens
por Carol Almeida — cinema
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Hoje eu Quero Voltar SozinhoCena do filme Hoje eu Quero Voltar Sozinho
Não há chamada no intervalo da novela, ator famoso no elenco ou combo promocional em alguma franquia de fast food. Ainda assim, não será exagero dizer que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma das estreias mais aguardadas do semestre entre os adolescentes brasileiros. Produção independente nacional, o primeiro longa-metragem do jovem diretor Daniel Ribeiro teve 13 de suas 15 sessões de pré-estreias pelo país esgotadas. O filme chega aos cinemas esta quinta, em 33 salas de 17 cidades brasileiras.
Trata-se de um lançamento bastante robusto para os padrões das produtoras que trabalham fora do esquema de distribuição das chamadas “majors” (como Warner, Fox, Disney e, no campo dos nacionais, a Globo Filmes). Para se ter uma ideia, uma das maiores marcas de público desses últimos anos entre os títulos brasileiros independentes pertence a O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, com quase 100 mil espectadores. Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) fez 120 mil e Cheiro do Ralo (2006) fez 200 mil.
Distribuído pela mesma Vitrine Filmes que banca agora o trabalho de Daniel Ribeiro, o filme de Kleber estreou em 13 salas em janeiro de 2013 (com o boca a boca e a crítica positiva do longa, esse número foi ampliado ao longo das semanas). A previsão agora é de que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho chegue próximo ou mesmo ultrapasse em braçadas esse volume de público.
Por trás de todo esse entusiasmo, existem diversos fatores: a qualidade inerente ao filme, uma linguagem bastante simpática ao grande público (incluindo pais), elenco super afinado e a premiada estreia no Festival de Berlim são alguns deles. Mas a força motora que transformou esse projeto em algo muito maior que um longa-metragem atende por um nome: fãs. E uma pequena parte deles está representada no próprio filme que chega agora aos cinemas. Pois todos os 70 figurantes que participam das cenas já eram admiradores desse roteiro há alguns anos.
Responsável por esse elenco de figuração, Zoe Guglielmoni lembra o processo de seleção: "Recebi cerca de 500 emails com fotos e mensagens de todo o tipo. Alguns desesperados queriam vir do outro canto do país. Recebi emails em espanhol. Teve gente que escreveu para dizer que não tinha a idade que buscávamos (entre 16 e 19 anos) mas que estava feliz em saber que haveria um longa baseado no curta".
O curta que ela menciona é o começo de tudo. Lançado em 2010, é um filme que tem mais de 3 milhões de visualizações no YouTube. Se chama Eu Não Quero Voltar Sozinho e fala sobre esse adolescente cego (Guilherme Lobo) cuja rotina ao lado de sua melhor amiga (Tess Coelho) muda quando surge na escola um novo aluno (Fábio Audi), que termina despertando a sexualidade do protagonista e os ciúmes da menina. Com os mesmos atores, o longa amplia essa história e dá especial atenção a esse núcleo de socialização que é o caminho entre a sala de aula e o pátio do colégio.
“Uma coisa parecida aconteceu comigo recentemente. Minha melhor amiga estava gostando de mim e eu estava gostando do meu melhor amigo, que, claro, gostava dela”. O depoimento é de Matheus Arantes em um dos intervalos de filmagem do longa, em março de 2013. Ele e vários outros figurantes tentavam me explicar por que participar daquele filme era tão importante pra eles.
Em poucos minutos, me contam sobre seus respectivos processos de lidar com a questão da sexualidade em casa e fora dela: “Meus pais me mandaram pra psicóloga, fiz até regressão. Mas hoje entendo que ser gay é uma vírgula no livro de coisas que eu sou”, falava Giovanni Parizi, então com 17 anos. “Escrevi uma carta enorme pra minha avó contando tudo, mas ela terminou aceitando super bem”, lembrava Jonas Carvalho, 16 anos na época. “Tou pouco me fudendo para o que as pessoas vão falar de mim na rua”, afirmava Isabella Pilli, 18 anos.
Faltando aulas, trabalhando durante a madrugada, pegando dois, três ônibus para chegar aos sets de filmagem, eles falavam sem respirar sobre como é ser gay ou mesmo ser heterossexual em ambientes em completo descompasso com seu crescente processo de autoafirmação. Estamos diante de uma geração cada vez mais informada, via redes sociais, sobre seus direitos, e com muito mais acesso a obras e produtos de entretenimento, quase todos eles vindos de fora do Brasil, que os representem afetivamente de alguma forma.
Um ano depois, reencontro alguns deles poucas horas antes da sessão que foi aberta à equipe e convidados. Recém saídos de seus respectivos colégios, eles falam da importância de se ter um filme no Brasil que lide com a sexualidade no sempre confuso ambiente escolar. O discurso é sóbrio e politizado: “Na escola, você não pode obrigar a pessoa a pensar nada, o que eu acho é que não custa nada indicar a forma ética de se pensar. Por exemplo, na aula de sociologia que e gente tinha na escola, o professor falava da mulher e toda a luta delas fizeram por seus direitos. Acho que caberia também começar a falar das pequenas conquistas dos grupos gays na sociedade. Até porque crimes homofóbicos são hoje um dos maiores crimes de ódio no país”, opina Jonas.
Matheus é ainda mais assertivo: “Devia haver sim matérias, ou tópicos dentro de matérias, abordando o assunto de diversas formas. Exemplo: pega uma aula e explica o que significa gênero. Que as coisas não são tão simples como menino e menina. Mas no Brasil, a gente não tem sequer aula pra saber como trabalham os políticos, e vivemos reclamando deles sem saber nem qual é a função de um deputado. Imagina então uma aula sobre gênero!”
Isabella, que graças ao filme está estudando para passar no curso de cinema da FAAP, em São Paulo, lembra que todos os seus professores de escola sempre souberam de sua orientação sexual. “Nunca tive grandes problemas com isso. O único momento em que me senti mal foi quando teve uma peça na escola e, numa cena, uma das mulheres tentaria beijar a outra. E esse meu professor comentou que era um absurdo passar uma cena lésbica numa escola. Fiquei muito ofendida.”
No filme de Daniel Ribeiro, a questão do bullying entre colegas de sala pontua a história em vários momentos. Há um grupo de meninos que, com frequência, faz piadas com a proximidade entre os personagens de Leo, o menino cego, e Gabriel. Matheus, que pertence ao núcleo dos figurantes que estão nesse grupo, sentiu na pele como funciona a dinâmica do ambiente escolar quando nem mesmo os professores são preparados para lidar com a questão.
“Quando eu era representante de classe, ouvi de uma professora que ninguém ali precisava tratar do tema homofobia, porque eles sabiam que naquela escola não tinha nenhum ‘viadinho’. Esses colégios funcionam mais ou menos assim: ‘gays, a gente sabe que eles existem, mas quando aparecerem por aqui a gente vê como faz’. Todo o discurso para não tratar do assunto é sempre igual, justificam com frase como: ‘e se um pai vier bater na minha porta pedindo explicação?’”, diz Matheus.
A maior parte dos meninos e meninas que fazem o importante boca a boca do filme, tanto do longa quanto do curta, são adolescentes que entenderam nesse roteiro um farol emocional para problemas que eles não viam ser espelhados em programas de TV como Malhação, série da Globo que em suas 21 temporadas nunca mostrou um casal adolescente gay.
“O curta me ajudou muito em um momento muito triste pra mim, chorei demais assistindo. Nessa época, eu precisava de coisas que me dissessem que não havia problema nenhum em ser gay. Antes disso, cheguei a passar um ano frequentando a Igreja para tentar ser outra pessoa”, diz Anderson Perez, 19 anos, na fila para assistir a uma das pré-estreias do longa em São Paulo. Para ele, o êxito de Daniel Ribeiro é tratar o tema sem colocar o problema dos personagens em suas orientações sexuais, sem com isso deixar de mostrar nada. “Fui ver aquela versão nova de Confissões de Adolescente no cinema. E uma das meninas tem uma namorada que nunca aparece no filme. Não pode ser assim. A diferença pro filme do Daniel é essa”, completa.
http://www.cartacapital.com.br/cultura/hoje-eu-quero-voltar-sozinho-um-farol-para-os-conflitos-adolescentes-2534.html

4.25.2014

Deus existe ou não existe

por Ronaldo Aidos - espiritualidade
A respeito da polêmica proposta por deputado estadual de Santa Catarina, de que as escolas públicas distribuam um kit bíblico aos alunos, defendendo o ensino religioso, gostaria de acrescentar alguns argumentos que ainda não foram abordados por leitores e jornalistas indignados com a proposta. Longe de mim classificar pessoas ateias como sendo uma espécie de andróides. Acho que são tão seres humanos como qualquer crente em Deus. Inclusive têm fé, a fé de que Deus não existe.
Digo isso porque a ciência humana ainda não comprovou nem a existência de Deus, nem a não existência. Os milagres e os fenômenos naturais ainda não explicados pela ciência atual, como a própria vida, são provas disso. Einstein, um dos luminares da ciência humana moderna, afirmou, inclusive, que quanto mais a ciência evolui, mais perto está de provar a existência de Deus. Portanto, o ateísmo é uma espécie de religião, tão dependente de fé como todas as demais religiões humanas. Ensinar nas escolas esse sentimento tão humano, como é a fé na existência ou não do divino e de suas virtudes sobrenaturais, certamente completa a educação do ser humano, permitindo que esse possa optar, livremente e com mais sabedoria, pela fé que melhor lhe satisfaça.
A bíblia não se trata de um livro de história, que a leitura deve ser feita com o sentido da fé e, sobretudo, com bom senso e que o objetivo da leitura deve ser a perfeição cristã. Ao lê-la, procurar lembrar que quando foi escrita, os sentidos simbólicos da linguagem era outro, que não o atual. Ao interpretá-la ao pé da letra, o leitor corre o risco de ter uma interpretação errônea do que está realmente escrito.

http://wp.clicrbs.com.br/comunidade/category/cartas/?topo=84,2,18,,,84    

4.24.2014

Propaganda na TV e em rádio para criança é ilegal

Na sexta-feira (04/04/2014), o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) aprovou uma resolução que avança significativamente na luta contra a publicidade destinada a crianças. A resolução 163 do Conselho considera como abusiva toda e qualquer comunicação mercadológica voltada a meninos e meninas. Trata-se de uma reivindicação antiga das organizações e movimentos que defendem os direitos das crianças e um sistema de comunicações plural, democrático e que respeite os direitos humanos. Defensor desta ideia, o Intervozes convidou o Instituto Alana, principal entidade que atua no combate à publicidade infantil no país, a escrever sobre essa conquista em nosso blog.

Conanda: a sociedade civil em defesa da criança
Por Renato Godoy* - revista CapitalCapital

A resolução 163 do Conanda, publicada no Diário Oficial no último dia 4, considera como abusiva toda a comunicação mercadológica voltada à criança. O texto, diz que “a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço” é abusiva e, portanto, ilegal segundo o Código de Defesa do Consumidor.

O Conselho, vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, é um órgão colegiado (com representantes do governo e da sociedade civil) de caráter deliberativo, que atua como instância máxima de formulação, deliberação e controle das políticas públicas para a infância e a adolescência na esfera federal.

A aprovação do texto, portanto, é uma vitória histórica da sociedade civil e um avanço significativo para a proteção integral da infância. Com a declaração da abusividade do direcionamento de publicidade às crianças, é posta em xeque uma prática mercadológica que coloca a criança no centro de uma estratégia de criação de desejos. Essa aposta do mercado exacerba a noção da criança como consumidora, com forte poder de influência nas compras realizadas pelos pais e responsáveis. Segundo pesquisa do Interscience (2003), as crianças participam do processo decisório de 80% das compras da casa.

No entanto, a ideia da criança como consumidora e promotora de vendas tende a confrontar importante conquista da sociedade brasileira: a noção da criança como um sujeito de direitos, previstos no artigo 227 da Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Desde sua fundação em 2006, o Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana defende o entendimento de que os diplomas jurídicos brasileiros já dão o embasamento suficiente para interpretar o direcionamento de qualquer comunicação mercadológica às crianças como abusiva. Entendemos que o direcionamento de comunicação mercadológica à criança é uma forma de tirar proveito de um indivíduo em desenvolvimento físico, social e psíquico que, portanto, ainda não atingiu a plenitude de seu senso crítico para compreender o caráter persuasivo da mensagem publicitária. A recente resolução do Conanda vai ao encontro desse entendimento.

O mercado publicitário, editorial e radiodifusor, no entanto, ignorou a resolução do órgão e continua incorrendo nesse direcionamento ilegal às crianças. Em uma nota assinada pelas nove maiores entidades do setor, as associações se colocam como defensoras do Estado Democrático de Direito, favoráveis à competência exclusiva do Legislativo para tratar de normas para a publicidade e tentam deslegitimar a atuação do Conselho Nacional.

Porém, a resolução do Conanda não contraria essa prerrogativa do Legislativo expressa na nota dos representantes do mercado. A 163 não cria uma nova lei sobre a prática de publicidade, mas normatiza, nos limites de sua atribuição, outras práticas abusivas também contempladas no artigo 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor – formulado e aprovado pelo Legislativo –, que considera ilegal a publicidade que se vale da deficiência de julgamento e experiência da criança. Portanto, a competência do legislador não está sendo ignorada ou desrespeitada, ao contrário, está sendo enfatizada pela resolução do Conselho.

* Renato Godoy é jornalista, sociólogo e pesquisador do Instituto Alana.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/04/publicidade-para-crianca-nao-e-legal.html#more

4.22.2014

O pensamento livre estimula ser inteligente

Descubra cinco dicas para se tornar mais criativo Stock.xchng/Stock.xchng
Alterar a perspectiva e olhar o problema com o pensamento livre, criativo, fora dos padrões impositivos. Foto: Stock.xchng / Stock.xchng
O pensamento criativo é um diferencial importante em praticamente todas as atividades humanas. A criatividade é uma função que qualquer cérebro humano estimulado desenvolve, de tempos em tempos conseguem surpreender, inédita e praticada sobre determinada atividade.
Para o neurologista Leandro Teles, a solução criativa existe quando se consegue driblar os caminhos do raciocínio adestrado desde a infância, quando se escapa do óbvio, alcançando uma visão alternativa, diferente da média da população.
A criatividade resolve inúmeras alternativas do dia-a-dia e é interessante na vida pessoal, social e profissional.
— Pensar diferente, de forma não engessada, lançar uma nova solução sobre uma imposição antiga, é criatividade, pensamento livre. Estimular os outros enxergar aquilo que sempre esteve diante de cada um, criar atalhos mentais, surpreender as pessoas, estimulando a pergunta: como eu não pensei nisso antes? Para isso, é possível desenvolver um pensamento livre, criativo. Colocá-los em prática e, enfim, colher os frutos— explica o especialista.
O médico enumera e esclarece cinco passos fundamentais para quem quer ser mais criativo e ter o pensamento livre:
Direito ao erro
Quem quer ser criativo, se permitir o erro. A diferença da ideia genial da equivocada é, muitas vezes, um detalhe. O raciocínio lógico e de senso comum é menos fadado ao erro. O criativo e livre arrisca mais, inventa, testa, ousa… com isso se expõe a errar mais.
Mudar a visão do problema
Quem quiser ver o que ninguém viu, olha as coisas como ninguém ainda olhou. Mudar a visão do problema pode ser o primeiro passo! Dar um passo pra trás e olhar tudo de longe, apertar os olhos, desfocar. Estar na visão de outra pessoa, brincar de resolver situações em outros contextos. O cérebro irá traçar caminhos novos e pode surgir um conceito inédito a ser trabalhado.
Conhecer os caminhos já trilhados
Não é fácil fugir do lugar comum se não se conhece o lugar comum. Tentar ser criativa(o) sem determinar o que já foi dito, pensado e sentido sobre a situação é perder tempo. Conhecer as trilhas já abertas ajuda a evitá-las. Buscar criar atalhos, unir conceitos, condensar. Estudar o assunto, sob vários aspectos, pesquisar, observar, não menosprezar tudo que já foi feito sobre ele antes. Conhecimento e visão são modalidades fundamentais para as pessoas criativas.
Dar liberdade ao cérebro
O raciocínio criativo precisa do cérebro apto a alçar voos livres e complexos. O cérebro humano é fruto de genética, vivência e contexto, memória do inconsciente. A genética é imutável, cada um nasce com potencial criativo. Mas a vivência e o contexto estão sujeitos a serem melhorados! Alimentar de experiências novas, diferentes, inusitadas. Conheçer pessoas, culturas e artes em todas as suas formas. O ideal é ser uma esponja de soluções criativas. Sair de casa, do escritório, da empresa, mudar de roupa, afrouxar a gravata, meditar, correr na praia, aguardar uma resposta olhando uma lagoa em um dia ensolarado, entre outra opções interessantes. A resposta não tradicional surge, as vezes, em momentos inesperados. O repouso e o sono também são fontes criativas.
Entender  e reaprender a usar a intuição
Sexto sentido, o que tem de natureza nisso? Tudo. O que chamamos de intuição é um tipo peculiar de pensamento livre dissociado do falar. Surge um conceito pronto, criativo, livre . Não dá pra argumentar, explicar, traçar a linha que justifica isso. Aflora, surge geralmente de divagações do lado direito do cérebro (uma vez que a linguagem, falar fica geralmente no hemisfério esquerdo). Não menosprezar, nem dar ares de magia e misticismo. Pessoas criativas exercitam, valorizam e expressam suas intuições. Dar vazão, com bom senso, as sensações sem explicação científica ou sem lógica, mas na razão livre e criativa.
http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2014/04/descubra-cinco-dicas-para-se-tornar-mais-criativo-4476554.html

4.18.2014

Ruralistas contratam jagunços para atirar em índios no Mato Grosso do Sul e Pará

Mateus Ramos - Adital - direitos humanos
Foto: SurvivalÍndios Guarani são atacados por pistoleiros em plena luz do dia
Uma gangue de pistoleiros vem aterrorizando uma comunidade guarani no Estado do Mato Grosso do Sul, desde que os índios retornaram à sua terra ancestral. A ação, que foi gravada por um dos índios, foi realizada pela gangue, que se acredita ter sido contratada pelo fazendeiro, que ocupa as terras roubadas dos na década de 1970. As florestas foram destruídas para a construção das fazendas.
Recentemente, os índios da tribo Pyelito Kuê conseguiram retomar uma pequena parte de suas terras ancestrais, forçando o fazendeiro que as tinha tomado e bloqueado suas casas a sair. Porém, desde então, pistoleiros estão ameaçando os indígenas, cercando-os, disparando armas de fogo e impedindo até a entrada de médicos na aldeia. No último ataque, gravado em vídeo, uma pessoa foi ferida e outros obrigados a fugir, conforme informações da organização Survival International.
 Veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CqC_huJs_FY
Há pouco tempo, a polícia brasileira conseguiu fechar a empresa de segurança Gaspem, acusada de ter matado pelo menos dois líderes Guarani e atacado de forma violenta centenas de outros. Contudo, ainda existem outras empresas que prestam o mesmo tipo de serviço de ‘segurança’ para os fazendeiros, ação facilitada pelo apoio de uma forte bancada ruralista no Congresso Nacional brasileiro. Há, inclusive, alguns que encorajam a ‘defesa armada’, como pode ser visto nesse vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=cdHqg_A3oeo

Foto: Survival
Seguranças armados são contratados por ruralistas para grilar terras
"É chocante ver os riscos que os meus irmãos Guarani estão enfrentando todos os dias. Eles têm o direito de viver em suas terras em paz. Precisamos do apoio de todos para que possamos parar esses fazendeiros e para pressionar o governo a finalmente proteger as terras Guarani.”, declarou Nixiwaka Yawanawá, um índio Yawanawá do Brasil.
Sobre o vídeo da ação dos pistoleiros, o diretor da Survival International, Stephen Corry, afirmou que "é um breve vislumbre do que os Guarani têm que suportar mês após mês – assédio, intimidação e, às vezes, assassinato, apenas por tentar viverem em paz em pequenas pedaços da terra ancestral que foi roubada deles . É demais esperar que as autoridades brasileiras, tendo em conta os bilhões que estão gastando na Copa do Mundo, resolvam o problema de uma vez por todas, ao invés de deixar que essa miséria dos índios continue?”.
Demarcações de terras
Em todo o Brasil, milhares de índios estão protestando contra uma Proposta de Emenda Constitucional que daria ao Congresso brasileiro, que é fortemente influenciado pela bancada ruralista anti-indígena, mais influência na demarcação de terras indígenas. ONGs, incluindo organizações indígenas, divulgaram um parecer (disponível em: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/08/24/advocacia-e-ilegalidade-anti-indio-2/ ), solicitando que o governo não altere o sistema de demarcação, mas que se concentre em demarcar e proteger terras indígenas, conforme previsto na Constituição.
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80260

A sociedade brasileira quer prender os adolescentes




Frei Betto - Adital - direitos humanos
Voltou à pauta do Congresso, por insistência do PSDB, a proposta de criminalizar menores de 18 anos via redução da maioridade penal.
De que adianta? Nossa legislação já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração.

Punidos deveriam ser aqueles que utilizam menores na prática de crimes. E eles costumam ser hóspedes do estado municipal, estadual e federal que, cego, permite que dentro das cadeias as facções criminosas monitorem, por celulares, todo tipo de violência contra os cidadãos.
Que tal criminalizar o poder público por conivência com o crime organizado? Bem dizia o filósofo Carlito Maia: "O problema do menor é o maior” e pior ainda sendo um juiz, prefeito, procurador, governador, desembargador, deputado, senador ou presidente.
Portanto, não basta reduzir a maioridade penal e instalar UPPs em áreas consideradas violentas. O traficante não espera que seu filho seja bandido, e sim doutor. Por que, junto com a polícia pacificadora, não ingressam, nas áreas dominadas por bandidos, escolas, oficinas de música, teatro, literatura e praças de esportes?
Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, e não a causa. Ninguém nasce delinquente ou criminoso. Um jovem ingressa no crime devido à falta de escolaridade, de afeto familiar, e por pressão consumista que o convence de que só terá seu valor reconhecido socialmente se portar determinados produtos de grife.
No sistema socioeducativo, o índice de reincidência é de 20%, o que indica que 80% dos menores infratores são recuperados.
Segundo o PNAD, o adolescente que opta pelo ensino médio, aliado ao curso técnico, ganha em média 12,5% a mais do que aquele que fez o ensino médio comum. No entanto, ainda são raros cursos técnicos no Brasil.
Enfim, o menor infrator na maior parte é resultado do descaso do estado no executivo, legislativo e judiciário, que não garante a tantas crianças creches e educação de qualidade; áreas de esporte, arte e lazer; e a seus pais trabalho decente ou uma renda mínima para que possam subsistir com dignidade em caso de desemprego.
Pesquisas indicam que o primeiro gole de bebidas alcoólicas ocorre entre os 11 e os 13 anos. E que, nos últimos anos, o número de mortes de jovens cresceu 15 vezes mais do que o observado em outras faixas etárias. De 15 a 19 anos, a mortalidade aumentou 21,4%.
Hoje, os adolescentes entre 14 e 17 anos são responsáveis por consumir 6% das bebidas vendidas em todo o território nacional. A quem caberia fiscalizar? Ë óbvio que cabe as famílias e ao estado. Por que se permite que atletas e artistas de renome façam propaganda de cerveja na TV e na internet? A de cigarro está proibida, como se o tabaco fosse mais nocivo à saúde que o álcool. Alguém já viu um motorista matar um pedestre por dirigir sob o efeito do fumo?
Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima.
Nosso sistema prisional já não comporta mais presos. No Brasil, eles são, hoje, 500 mil, a quarta maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).
O índice de reincidência em nossas prisões é de 70%. Não existe, no Brasil, política penitenciária, nem intenção do Estado de recuperar os detentos. Uma reforma prisional seria tão necessária e urgente quanto a reforma política. As delegacias funcionam como escola de ensino fundamental para o crime; os cadeiões, como ensino médio; as penitenciárias, como universidades.
O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos, pois tornaria muitos deles distantes de qualquer medida socioeducativa. Ficariam trancafiados como mortos-vivos, sujeitos à violência, inclusive sexual, das facções que reinam em nossas prisões.
[Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.http://www.freibetto.org/>twitter:@freibetto.]
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80186

4.15.2014

Como iniciou a páscoa cristã

Israel, onde foi comemorada a primeira páscoa, estava sob o domínio do Egito. O império romano, que dominava vários países, inclusive o Egito, ordenou a morte de todos os primogênitos, indiferente da origem da pessoa que morava em Israel. Roma tinha vagas informações sobre o nascimento de um futuro poderoso rei em algum lugar do Egito. Os romanos não sabiam quem era Jesus, que naquele episódio era uma criança, somente sabiam que era primogênito de uma família egipcia.
Então para poder matar Jesus que seria o poderoso rei, se matou todos o primogênitos do Egito. 
Coincidentemente, por ordem das autoridades judias, quando ocorreu a morte dos primogênitos, deveria ser sacrificado um cordeiro e marcado com sangue todas as casas existentes em Israel, que naquele momento histórico, estava dentro do país Egito. Isto traria a proteção divina a cada família dos judeus, em Israel. Cada família tomaria um cordeiro macho, de um ano de idade, sem defeito e o sacrificaria. Famílias menores podiam repartir um único cordeiro entre si (Êx. 12.4).

 

Os israelitas deviam passar parte do sangue do cordeiro sacrificado nas duas ombreiras e na verga da porta de cada casa. Quando os romanos passaram por Israel para matar os primogênitos, eles não mataram os filhos primogênitos das casas que tinham o sangue colocado sobre elas.
Em Israel, além dos judeus, moravam habitantes de outros países, que não seguiam os costumes judaicos. Famílias não judaicas, que tinham filho primogênito, não colocaram sangue de cordeiro nas duas ombreiras e verga da porta. Desta forma, os romanos mataram os filhos primogênitos de todas as famílias que moravam no Egito, com exceção somente das famílias dos judeus.
Daí o termo Páscoa, do hebreu pesah, que significa “pular além da marca”, “passar por cima”, ou “poupar”.


Assim, pelo sangue do cordeiro morto, os israelitas foram protegidos da condenação à morte executada contra todos os primogênitos. A ordem do sinal do sangue, era para ensinar ao seu povo a importância da obediência e da redenção pelo sangue, fazendo com que as pessoas entendessem o advento do “cordeiro de Deus,” ritual utilizado pelos judeus. Jesus Cristo, que séculos mais tarde tiraria o pecado do mundo (Jo. 1.29) por ter sido matado como entendiam os cristãos, significou o sacrifício semelhante ao cordeiro de Deus, que os judeus tinham o costume de realizar na páscoa.

De acordo com a bíblia, no livro de êxodo, capítulo 12, versículo 31, naquela mesma noite que os judeus marcaram as casas com o sangue do cordeiro, o Faraó egipsio permitiu que o povo judeu ou israelita partisse, encerrando assim, séculos de escravidão e inaugurando uma viagem que duraria quarenta anos, até Canaã a terra prometida.

A partir daquele momento da história, os judeus celebrariam a Páscoa toda primavera, obedecendo as instruções das autoridades judias, que a partir daquela celebração seria “estatuto perpétuo” (Êx. 12.14). Era, porém, um sacrifício comemorativo, exceto o sacrifício inicial, quando Israel estava sob o domínio do Egito, tendo sido naquele ano um sacrifício educativo.
Libertação
Lembremos não somente nesta data, mas em todos os dias, o verdadeiro significado da páscoa. Assim como os judeus foram  libertos da escravidão no Egito, muitos católicos acreditam que a libertação da escravidão do pecado é Jesus Cristo quem dá, erro bastante comum na leitura da bíblia, os cristãos sabem que a libertação pessoal depende de cada um.
Cada pessoa conquista a sua libertação, independente se ou outro permite ou não ser livre. A vida que cada um recebe, possibilita a conquista da liberdade pelas atitudes ou ações. A forma de viver também pode conduzir a uma auto-escravidão.
A escolha depende de cada um.
Cristo, pelas suas escolhas, atitudes e ações conquistou a plena liberdade, conforme a citação da bíblia que diz: vida esta conquistada com sangue “porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós.” (I Co 5.7).
Jesus Cristo é um dos maiores exemplos de como conquistar a libertação pessoal.
Fonte: http://cpad.com.br/institucional/integra.php?s=5&i=90

4.13.2014

São Paulo: estado dos jeitinhos políticos


Como explicar as seguidas vitórias de candidatos do PSDB nas últimas cinco eleições para o governo do Estado de São Paulo, entre 1994 e 2010?


Marcel Gomes-carta capital - política Arquivo

Como explicar as seguidas vitórias de candidatos do PSDB nas últimas cinco eleições para o governo do Estado de São Paulo, entre 1994 e 2010? Quais as razões de fundo que levaram a essa inédita hegemonia político-partidária, não alcançada por nenhum outro partido em pleitos estaduais na história democrática brasileira recente? O que esperar da disputa em 2014?

Essas são algumas das questões levantadas pelo pesquisador Danilo Cesar Fiore, cujo trabalho de investigação foi apresentado no IV Seminário Discente da Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), realizado ao longo desta semana.

Com a série histórica dos resultados das votações eleitorais em mãos, Fiore foi capaz de refletir sobre algumas hipóteses que explicariam a força tucana no Estado. A primeira delas passa pela paulatina decadência de siglas que protagonizaram as disputas da década de 80 e início da de 90: o PMDB (ex-MDB) e o PDS/PP (ex-Arena).

Na avaliação do pesquisador, baseada em literatura especializada na questão, isso teria ocorrido não apenas pela dissidência do PMDB que criaria o PSDB, enfraquecendo o partido original a partir de 1988. Aliado a esse fato, a liderança que permaneceu – Orestes Quércia – teria direcionado a sigla a um caminho de oligarquização e insulamento de lideranças, que dificultou a renovação de quadros. História semelhante teria ocorrido com o PDS/PP, dominado por Paulo Maluf.

“Em todos os pleitos até 2002 houve segundo turno [em São Paulo], e a votação somada dos dois primeiros colocados chegou, no máximo, a 70% do total de votos válidos. Não causa surpresa, assim, que nos dois últimos pleitos, quando a votação somada de ambos os candidatos atingiu quase 90% do total de votos, não tenha havido a segunda rodada eleitoral”, explica o pesquisador da USP. “A hipótese, portanto, é de que o PSDB teria absorvido o “espólio” destes partidos decadentes”.

Absorver o espólio significa, entre outros aspectos, receber apoio de eleitores identificados com o campo da centro-direita, e que ficaram “órfãos” com a decadência de PMDB e PDS/PP. Com propostas que respondem ao campo conservador, como por exemplo em relação à segurança pública, obtiveram apoio daqueles que antes optavam pelo malufismo.

Um outro aspecto que explicaria a força peessedebista no Estado teria fundo sociopolítico. Para Fiore,  São Paulo “possui características específicas em relação ao resto do Brasil, como por exemplo o menor número de eleitores de estratos mais pobres e nível de desenvolvimento econômico mais elevado – ressalvadas regiões de carência significativa, como o Pontal do Paranapanema, o Sudoeste Paulista, o Vale do Ribeira e as franjas periféricas das grandes metrópoles”.

Com isso, a defesa dos interesses dessa parcela mais abastada da população brasileira, representada mais pelo ideal da “estabilidade econômica tucana” do que pelo projeto de “combate à pobreza do PT”, teria mais repercussão entre os eleitores paulistas.

“É curioso notar como o cenário estadual se configura na chave inversa do nível nacional em termos partidários, com PT e PSDB buscando resguardar seus respectivos territórios e, paralelamente, alcançar a tão aguardada vitória no campo adversário”, avalia o pesquisador.

Os tucanos, assim, para “resguardar seu território”, optaram por escalar caciques nacionais para enfrentar as disputas: Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra se revezaram nas eleições. Os três também foram candidatos à presidência da República, o que, na visão de Fiore e da bibliografia especializada, faz parte de uma “estratégia coerente de ocupação de campo político-eleitoral”.

Em que pese todos esses elementos estarem presentes neste pleito de 2014 – Alckmin disputará a reeleição –, o pesquisador avalia que é possível haver surpresas. E por quê? Em primeiro lugar, ele destaca a queda relativa de votos do PSDB nas eleições de 2010 em relação a 2006, bem como o crescimento constante do percentual de votos no PT em todo o Estado. Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, será o candidato petista.

Em segundo lugar, o PT parece ter voltado sua atenção – e recursos – para as eleições estaduais, após um longo período priorizando o pleito presidencial. É o caso não só de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, onde o senador Lindbergh Farias tentará se eleger.

Por fim, uma última razão seria a presença de outros candidatos competitivos. Após anos, o PMDB finalmente apresenta um nome forte – Paulo Skaf, ao menos segundo as últimas pesquisas –, assim como campo conservador deve ter um representante de peso – Gilberto Kassab, do PSD, ex-prefeito de São Paulo.

Comentário
 
Lais Borges - 12/04/2014
Acho que o povo de São Paulo ainda não está farto o suficiente do "modelão" PSDB, Alstom - Siemens , Privataria.... O lema aqui é " nóis capota mais num breca"..... trem que quebra todo dia, combate feroz às faixas exclusivas de ônibus, gente que tem 5 carros só para driblar o rodízio, gente que paga 50,00 um prato de macarrão mal feito (e nem pisca).... essa gente tem exatamente o que merece... Geraldinho, Serra, Kassab, Maluf, Skaf, máfias de fiscais . O PT não deveria querer pegar esse trem ( sem trocadilhos, nem referências) que está quase descarrilhando... Será uma burrice histórica - mas disso o PT entende bem - entrar só pra ser o culpado de "tudoissoqueestáaí".... porque é o que vai acontecer SE o PT ganhar essa eleição....Imediatamente 20 anos de desgoverno serão esquecidos e se cobrarão soluções IMEDIATAS..... ao PT. Acho que chega de ser tão burro. O povo, ora o povo , como diria o Tio Rey - esse não apita nada, e acredita em tudo que o Datena diz....


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/PSDB-governa-Sao-Paulo-ha-20-anos-Chegou-a-hora-da-derrota-/4/30717

4.10.2014

Mulher: a mídia transformou-a em fetiche, objeto e mercadoria

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Até o futebol americano feminino tem que ser "sexy"
A pesquisa recente do IPEA sobre o estupro e comportamento feminino, e a notícia de que ocorrem, em Joinville, quatro estupros por mes, chamam atenção.
A questão de gênero em nosso meio necessita ser debatida, visando um equilíbrio que hoje não existe entre mulheres e homens.
 
Esse assunto nunca cessa, pois o cenário é perturbador. Depois do erro na pesquisa, ficou mais claro como  a mídia trata a mulher, e o comportamento da sociedade.
Nas estradas, em viagens, se verifica outdoors espalhados pelas margens.. A quantidade de mulheres seminuas, expostas em poses dignas dos melhores programas pornográficos da TV, chega até a ser constrangedor. O mesmo ocorre nos comerciais de automóveis ou nos famosos programas de auditório, mulheres exibindo seus corpos, produzindo nos telespectadores em geral, homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças, uma imagem fetichizada sobre o que é o corpo feminino. É como se a mulher fosse um reduto de satisfação e prazer a qualquer momento para uns, e modelo de perfeição impossível para outros, como apresentado por manequins nas capas das revistas.



Não é à toa que estupros sejam cada vez mais denunciados.
Muitos(as) culpam a mulher estuprada por “mostrar demais”. As relações de gênero acabam ficando iguais às de consumo, onde prevalece aquele que tem o poder de consumir os melhores objetos, e os mais apetitosos para seus fetiches. Se a mulher “mostra demais”, e é um “bom produto” que atende “o fetiche perfeito”, a culpa é dela que fez a “propaganda”, como nas centenas de outdoors, canais de TV, grandes jornais e revistas, internet, facebook entre outros meios de comunicação.



Em consequência disto, a mulher vira um objeto, no inconsciente masculino e feminino.
Manipulável pela mídia, pela indústria do consumo e também pelas entrelinhas das relações de gênero. Mesmo que o IPEA relate o erro na pesquisa, ainda é assustador saber que 26% dos entrevistados(as) culpam as mulheres pelo estupro. Este pensamento não é dirigido somente às pessoas de maneira geral, mas também quem nos faz pensar assim.
O corpo da mulher é dela, e não deve se submeter à manipulação de nada e nem de ninguém.

O fetiche que virou objeto é uma "mercadoria'', porque está impregnada na cabeça das pessoas. As grifes que se utilizam deste artifício usam e abusam do fetiche, demonstrado pelo pensador Karl Marx sobre o fetiche da mercadoria ainda no século XIX, colocando a mulher como um objeto de consumo, não somente o produto, mas também a idéia de conquista da mulher perfeita, fechando, desta maneira, o ciclo.

http://www.chuvaacida.info/2014/04/fetiche-objeto-e-mercadoria.html

Biogás leva autossuficiência energética a produtores no Paraná

No interior do estado, um projeto para transformar excrementos agropecuários em combustível une 33 famílias de agricultores
por Paloma Rodrigues - Energia - Sociedade  
Alexandre Marchetti / Itaipu
Ajuricaba
Seu Pedro, um dos 33 agro produtores que participam da geração de biogás a frente do biodigestor da sua propriedade
Vinte cabeças de gado se espalham pela pequena propriedade do casal Pedro e Isolda Regelmeier, no município de Marechal Cândido Rondon, interior do estado do Paraná. Além do leite retirado das 11 vacas da criação, os animais são responsáveis por gerar a própria energia em um local onde não chega a conta de luz nem de gás. Na casa da família tudo funciona a partir do biogás: lâmpadas, sistema de aquecimento e refrigeração e até o fogão, adaptado por uma empresa de eletrodomésticos para funcionar a partir do uso do material.
A matéria prima vem dos próprios animais da propriedade. Mais especificamente, de seus dejetos que, depois de passarem por um processo de biodigestão (foto), transformam-se em biogás.
Como eles, outros 32 pequenos produtores da cidade se utilizam dos excrementos gerados por seus suínos, bovinos e aves para gerar energia em suas propriedades.
Dona Isolda é vice-presidente da Cooperativa do Condomínio Ajuricaba. Na vida dos pequenos produtores rurais, o impacto vai além da economia nas contas de gás e luz. “Melhorou a qualidade de vida da gente, porque ficou mais pratico, mais higiênico”, diz a agricultora.
A chamada “raspagem”, processo de retirada dos dejetos das estribarias, acontece diariamente, mas agora o material não é mais depositado no solo. “O serviço não diminuiu, mas sem o material estar na terra, o número de insetos diminuiu, não tem mais mosca, nem mosquito”, diz. “Olha aqui, é uma estribaria e não tem cheiro.”
No processo de raspagem das instalações, a solução se transforma em ganho ambiental: a limpeza é feita com água da chuva, captada por um sistema de calhas no telhado das unidades.
O processo é simples: o material segue para uma caixa que torna todo o material homogêneo. De lá, segue para o biodigestor. No caso de propriedades como a de seu Pedro e dona Isolda, a propriedade gera 350 litros de dejetos por dia. O biodigestor tem capacidade para armazenar o material de 32 dias. O sistema funciona com composição em camadas: o material mais novo entra na parte debaixo do biodigestor e o material mais velho vai subindo com o passar do tempo.
A produção de biogás, nesses moldes, pode ser levada a outras cidades, explica o engenheiro João Carlos Zank, do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), e já começa a ser replicado na cidade de Entre Rios do Oeste, também no interior do Paraná, e também no Uruguai. “Em cada bacia hidrográfica que se tenha pecuária de corte de ave, bovinos ou suínos ou tenha produção de leite, é possível replicar esse modelo”, diz. “Cada caso precisa de um estudo de viabilidade para que se saiba a quantidade de gás possível ser gerada e o fim que ele terá, que pode ser a energia elétrica, térmica ou veicular, vai depender da escala de produção do local.”
O material degradado segue pela tubulação para alimentar a propriedade e o restante segue pelo gasoduto até chegar a central. O engenheiro explica que se o fosse depositado no solo ou em rios - como antes acontecia em todas as propriedades -, o material também se converteria em gás, mas não poderia ser captado para o uso.
Cada unidade, retém uma diferente porcentagem de energia para sua autossuficiência – em média de 10 a 15% do total da energia gerada, segundo Zank. O restante vai para a Central de Energia do condomínio, que produz energia térmica e elétrica e pode produzir combustível para veículos. “O filtro instalado na nossa unidade já permite o uso veicular desse combustível. Estamos desenvolvendo uma cadeia de uso de biogás de qualidade e segurança”, afirma o engenheiro.
“Esse é o agricultor do futuro, o que produz sua própria energia”, acredita Jorge Samek, diretor da usina Itaipu, a maior apoiadora e idealizadora do projeto. A Itaipu Binacional administra a maior usina da América Latina, responsável por quase um quinto da produção de energia elétrica do Brasil. Samek afirma que a empresa viu um novo polo gerador de energia a partir de um problema enfrentado na administração da usina: a contaminação das bacias hidrográficas e dos lençóis freáticos que abasteciam os reservatórios de Itaipu.
A contaminação era fruto dos excrementos dos animais, dispostos diretamente sobre o solo das propriedades dos pequenos agricultores. Agora, eles recolhem os desejos dos animais e os armazenam no biodigestor, que gerará o gás.
“O Paraná é o maior estado produtor de agropecuária no Brasil”, afirma Samek, “e Itaipu fica justamente em uma de suas regiões de maior produção. Temos propriedades aqui com 240 mil suínos. Agora, isso está virando energia.”
“Esse agricultor contamina menos seu solo, pode ter seu próprio carro elétrico e o abastecer com a energia que ele mesmo gerou, sem nenhuma emissão de poluentes e com uma economia absurda”, completa.
Durante a última semana, representantes de dez países membros da Agência Internacional de Energia (IEA) visitaram o Parque Tecnológico e discutiram, entre outros assuntos, iniciativas de seus países para a produção do biogás. Ajuricaba, apostam os especialistas, pode ser o carro chefe das energias alternativas do Brasil. "As cidades que se abastecem com o gasoduto estão próximas do litoral, onde estão as maiores capitais. Essa é a maneira que temos de descentralizar a geração de energia: em vez de você trazer o gasoduto até o estado, ele está saindo do interior e encontrando a capital", diz Zank. "Dessa forma, o biogás pode gerar independência e descentralização da geração de energia."
Um dos objetivos futuros da Força Tarefa 37 é regulamentar a produção do biogás, para que ela seja uniforme em todo o País. Um dos benefícios da regularização seria a produção de gás combustível para veículos, como já acontece com o gás GNV.
 *A repórter viajou a convite da Itaipu Binacional
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-biogas-pode-tornar-pequenos-agricultores-autossuficientes-em-energia-8481.html

Movimentos sociais brasileiros comemoram proibição de doações de empresas para campanhas

Natasha Pitts - Adital
Foto: Reprodução

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionais as doações de empresas privadas a partidos e candidatos no processo eleitoral. Com a antecipação de voto dos ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, o placar no julgamento da ação direta de inconstitucionalidade (ADI) n° 4.650, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, chegou a seis votos contra um, garantindo maioria para a proibição do financiamento das pessoas jurídicas.
A decisão, para os movimentos sociais, é considerada uma vitória importante da sociedade civil, que luta por um sistema político mais democrático e livre das influências do poder econômico. "Foi uma surpresa para nós que lutamos por uma reforma política há tanto tempo. Não se imaginava que conquistaríamos tão cedo essa proibição do financiamento empresarial privado, já que, até agora, as campanhas são fundamentalmente financiadas pelas empresas”, afirma Ivo Lesbaupin, diretor executivo da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) e representante da entidade na coalizão pela reforma política democrática e eleições limpas, articulação que reúne parcela significativa das organizações e movimentos sociais brasileiros na luta por mudanças no sistema política.
A proposta da coalizão prevê o fim do financiamento por empresas, o fortalecimento do financiamento público e a possibilidade de financiamento privado individual (por pessoas físicas) até o valor de um salário mínimo.
"O problema se encontra no financiamento empresarial, em que os financiadores determinam as políticas que serão seguidas, seja pelos governantes ou pelos parlamentares. Se permitir o financiamento privado, o poder econômico determina o resultado das eleições e depois controla os votos no congresso, como hoje ocorre. Em primeiro lugar, os financiadores e só depois os eleitores", analisa Lesbaupin, que considera que o fim desse modelo de financiamento implicará também em campanhas políticas mais baratas e em uma distribuição de gastos mais equilibrada entre os candidatos.
Jovita José Rosa, diretora do movimento de combate à corrupção (MCCE), também avaliou a conquista em entrevista à Adital. Ela lembra que a sociedade brasileira já vinha reclamando dessa aberração, que é o financiamento de campanhas políticas por parte de empresários.
"Mesmo que a votação no superior tribunal federal (STF) ainda não tenha terminado, já consideramos isso como uma vitória. Fica como exemplo para que o congresso cumpra seu papel e não espere pelo STF. Eles tiveram a oportunidade de discutir o assunto, de colocar em pauta, e não o fizeram. A sociedade sai vitoriosa. Nossa expectativa é que, talvez a partir de agora, a política seja desenvolvida em torno de ideias e propostas e não sob o domínio do poder econômico. Essa decisão permite privilegiar pessoas vocacionadas à política”, manifestou Jovita.
Julgaram até agora a ação procedente o relator Luiz Fux, além dos ministros Luís Roberto Barroso, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Dias Toffoli. O voto contrário foi de Teori Zavascki.
Ainda faltam os votos de quatro magistrados. O julgamento foi suspenso porque o ministro Gilmar Mendes pediu vistas do processo, possivelmente com o intuito de atrasar o final do julgamento. Quando for retomado, o que não tem data para ocorrer, o STF definirá se a regra vale para 2014 ou só nas eleições posteriores. A demora na volta do julgamento ao plenário pode impedir sua aplicação nas eleições de outubro.
Os movimentos ressaltam que os ministros do STF, que já votaram, podem mudar o voto enquanto não terminar o julgamento, por isso é preciso ter cautela e aguardar o fim da votação para confirmar qual o resultado final. Na prática, dificilmente alguém muda o voto.
"Acredito que, dificilmente, valerá para este ano por causa da regulamentação no congresso nacional. As campanhas e o processo de financiamento já estão em andamento. Acho que valera a partir de 2016, mas só o fato de proibir já é uma revolução do sistema político brasileiro. Depois do ficha limpa, é a maior conquista em relação a reforma política", afirma Lesbaupin.
A diretora do MCCE destacou outras pautas que fazem parte da reforma política e que ainda precisam conquistar vitória, entre elas a paridade entre homens e mulheres, questões ligadas à transparência, resgate dos partidos políticos e um referendo que possibilite a participação popular em uma possível reforma na constituição.
Dentro do mesmo tema, a comissão de constituição e justiça do senado (CCJ) aprovou, em primeiro turno, um projeto de lei que também proíbe a doação de recursos de empresas e pessoas jurídicas para o financiamento de campanhas eleitorais, sejam as doações em dinheiro ou em forma de publicidade. O projeto segue direito para a câmara dos deputados e só volta ao senado se algum senador entrar com recursos pedindo votação da matéria em plenário.

http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80090

Frei Betto analisa em entrevista, a democracia brasileira após 50 anos do golpe militar

Adital - Direitos Humanos 
Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como o Frei Betto , (Belo Horizonte, 25 de agosto de 1944) é um escritor e religioso dominicano brasileiro. Adepto da Teologia da Libertação, foi militante engajado em movimentos pastorais e sociais, tendo ocupado a função de assessor especial do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004. Foi coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero.
Reprodução
Frei Betto esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar: em 1964, por 15 dias; e entre 1969-1973. Após cumprir quatro anos de prisão, teve sua sentença reduzida pelo STF para dois anos. Sua experiência na prisão está relatada nos livros "Cartas da Prisão" (Agir), "Dário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco) e Batismo de Sangue (Rocco). Premiado com o Jabuti de 1983, traduzido na França e na Itália, Batismo de Sangue descreve os bastidores do regime militar, a participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura, a morte de Carlos Marighella e as torturas sofridas por Frei Tito. Baseado no livro, o diretor mineiro Helvécio Ratton produziu o filme Batismo de Sangue, lançado em 2007.

Frei Betto recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares.

Frei Betto, você que foi preso, torturado durante a ditadura, como analisa esta data de 50 anos de golpe militar?
Frei Betto: É preciso comemorar, no sentido etimológico de fazer memória, os 50 anos da implantação da ditadura no Brasil. Como diria Marx, para que a história, uma tragédia, não se repita como farsa. As novas gerações precisam saber como foi, o que foi e o que fez a ditadura ao longo de 21 anos governando o Brasil. Ainda temos, em nosso país, "viúvas" da ditadura e quem apregoa que a volta dos militares haverá de melhorar o país...

Como você analisa hoje o processo de redemocratização do Brasil? Quais os maiores avanços desta conquista?
FB: A ditadura foi derrubada pelo acúmulo político provocado pelas mobilizações dos movimentos sociais: CEBs, associações de bairros, luta pela terra, sindicatos, grupos de arte e cultura etc. Conseguimos eleger um metalúrgico - Lula - presidente da República, consolidando processo democrático. Grandes avanços ocorreram ao longo dos 11 anos de governo do PT: controle da inflação, elevação do salário mínimo, inclusão econômica de 55 milhões de pessoas etc. Porém, os arquivos da ditadura de posse das Forças Armadas não foram abertos até hoje e a Comissão da verdade, que apura os crimes do regime militar, não tem poder de punir. Além disso, nenhuma reforma de estrutura foi implementada nesses 11 anos de governo, nem a agrária, nem a política, nem a tributária etc

O processo de democratização no Brasil forjou ao longo desses anos um Estado de direito?
FB: Sim, mas falta muito para aperfeiçoá-lo. Precisamos de uma nova carta constitucional, e esperamos que o povo brasileiro vote a favor disso no plebiscito que ocorrerá a 7 de setembro. Precisamos, após a inclusão econômica de inclusão política, pela qual os jovens se mobilizam nas ruas. Nossa democracia ainda é meramente "delegativa” e não participativa. Há muito a fazer e lutar!

http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80097

4.01.2014

ONU adverte para um maior risco de conflitos devido à mudança climática

por Antonio Hermosín, da Efe publicado 31/03/2014 11:11, última modificação 31/03/2014 11:42
MARTIN GERTEN/efe
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No caso da Europa, as mudanças climáticas vão provocar um aumento das restrições de água
São Paulo A mudança climática já afetou a disponibilidade de alimentos e de água em diversas partes do planeta, segundo um relatório apresentado nesta segunda-feira em Tóquio por analistas da Organização das Nações Unidas (ONU), que preveem um aumento dos fluxos migratórios e um maior risco de conflitos devido a estes fenômenos.

O novo documento elaborado pelo II Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática (IPCC) é o mais extenso e contundente até o momento sobre este processo climatológico.

O relatório analisar seus efeitos sobre o homem e sobre a natureza em todas as regiões do planeta da atualidade até o ano 2100.

O relatório foi redigido durante uma semana em Yokohama (Japão) por cerca de 500 especialistas internacionais e responsáveis políticos de 70 países a partir dos últimos estudos científicos.

Trata-se de "um dos mais amplos relatórios científicos da história", que inclui "sólidas evidências de todas as disciplinas", segundo disse ao apresentar o documento em entrevista coletiva o secretário da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Michel Jarraud.

O analista afirmou que já não há nenhuma dúvida de que o clima está mudando, e acrescentou que "95% desta mudança se deve à atividade humana".

"A mudança climática já teve impactos observados e documentados em todo o planeta", ressaltou o vice-presidente do painel da ONU, o argentino Vicente Barros.

Em particular, o documento cita 120 impactos nos seis continentes com atribuição total ou parcial à mudança climática, segundo explicou em entrevista à Agência EFE o professor de Climatologia da Universidade de Buenos Aires.

Entre os exemplos há quedas do rendimento dos cultivos em diversas partes do mundo, "eventos climáticos extremos" como ondas de calor, tufões, fortes chuvas, inundações, secas e mudanças nos padrões migratórios de diversas espécies animais.

A queda do rendimento agrícola se observa em regiões como o Sul da Europa ou da América do Sul, e sobretudo em cultivos como o do milho ou do trigo, segundo Barros.

Mas as maiores consequências da mudança climática sobre a segurança alimentar se observarão em zonas como a África e o Sudeste asiático, "onde a população rural faz em sua maior parte uma economia de subsistência", disse Barros.

"Isto afetará centenas de milhões de pessoas se não fizermos nada. O mundo deve tomar este relatório muito a sério", alertou o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri.

A falta de alimentos e os eventos climáticos extremos "provocarão com toda segurança um aumento dos fluxos migratórios e dos conflitos entre povoações, e terão implicações na integridade territorial, sobretudo nas zonas menos desenvolvidas", ressaltou o analista.

"Onde irão as pessoas quando virem que não têm o básico para viver? Isto já está ocorrendo e se intensificará com a mudança climática", advertiu Pachauri, destacando a necessidade de atenuar estes fenômenos "tomando medidas urgentes", particularmente reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

O documento apresentado hoje é a segunda das três partes do extenso relatório que o IPCC está elaborando por etapas e cujas conclusões finais se apresentarão em outubro em Berlim. O texto recebeu o apoio de distintas organizações por meio de um comunicado conjunto da rede Climate Action Network (CAN).

"O relatório é claro: o impacto da mudança climática sobre a alimentação é pior do que se tinha estimado", afirmou o analista da Oxfam International Tim Gore, que convocou os governos para adotarem ações urgentes.

O Greenpeace, além disso, exigiu que os líderes políticos acelerem a transição para energias limpas e seguras para evitar ameaças maiores sobre a segurança humana e para proteger florestas, oceanos e espécies naturais de importância vital.

Por último, a organização conservacionista World Wildlife Fund (WWF) assinalou que embora o relatório fale "dos custos econômicos" da mudança climática, as verdadeiras consequências deste processo sobre a vida humana e sobre a natureza "não podem ser representadas em termos econômicos".

http://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2014/03/onu-alerta-para-mais-secas-inundacoes-e-incendios-florestais-na-europa-7244.html