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6.24.2016

Lava Jato, Impeachment e o desmonte nacional, só uma saída: o voto popular brasileiro

  • “Com as águas com que se ‘Lava a Jato’ a corrupção no Brasil, pretendem lavar para fora também a soberania nacional, o patrimônio público, tecnológico e mineral da nação e o direito dos trabalhadores.”

  • Requião: não é "volta Dilma"!  

    por senador Roberto Requião, extraído do blog O Cafezinho - Sociedade e Caos Social


bessinha obesidadeO Jantar

Recebi um convite para um jantar, terça-feira (28/julho), na casa do Presidente do Senado, nosso companheiro Renan Calheiros, na companhia do ministro da fazenda, Henrique Meirelles. Nesse jantar, como prato principal, servirão a soberania nacional e, como sobremesa, os direitos dos trabalhadores. Agradeço o convite do presidente, mas não é essa a dieta da minha preferência. Eu não estarei presente nesse jantar.

Todos nós somos a favor da luta contra a corrupção, mas, paralelamente a isso, vem o Governo interino agredindo pesadamente a soberania brasileira, o Estado social e os direitos trabalhistas. Rapidamente, enquanto prendem alguns bandidos, o Congresso, assustado, está entregando de bandeja tudo pelo qual lutamos por décadas, para saciar a fome do grande capital internacional e o interesse geopolítica das grandes potências.

O Sacrifício Ritual dos Pobres Brasileiros

Permitam-me uma incursão pela antropologia sociocultural, mais especificamente, o sacrifício ritual.

Como todos sabem, o sacrifício ritual faz parte da história da humanidade. Sacrifício de humanos, por exemplo, estão presentes nas crônicas de todas as civilizações em todos os continentes.

Um exemplo clássico está na Bíblia, no Gênesis, quando Deus testa a fidelidade de Abraão ordenando-lhe que sacrifique o seu filho Isaac. O sacrifício não se realiza, mas Abraão não vacila um segundo na determinação de matar o filho em louvor a Deus. O mesmo Deus que, segundo os Evangelhos, não poupa o seu próprio filho, Jesus; preso, torturado e executado para lavar, com o seu sangue, pecados alheios.

À medida que o homem evolui, civiliza-se, e, no compasso da desbrutalização de usos e costumes, o objeto do sacrifício ritual também muda. Os animais substituem os homens, mas a ideia do sacrifício ritual continua a mesma e está viva até hoje, inclusive na linguagem popular, o ‘bode expiatório’. O propósito é fazer com que Isaac, Cristo ou o cordeiro esvaiam-se em sangue até a morte para, dessa forma, aplacar a ira divina.

Más colheitas ou boas colheitas, falta de chuvas ou excesso de chuvas, pragas, pestes, doenças, vitória na guerra; seja o que fosse, sempre era necessário que o sangue jorrasse. O sangue de quem? De quem o sangue devia jorrar? É claro que não era o sangue dos sacerdotes, dos governantes, da nobreza, dos bem aquinhoados. Quem expiava em nome deles eram representantes dos estratos inferiores, o povo de sempre. E é assim até hoje.

Quando as coisas não vão bem, quem paga o pato, quem assume a conta, quem arca com os prejuízos são os trabalhadores, os assalariados, as camadas subalternas e a classe média.

O bode expiatório no Brasil

Elenquemos todas as medidas que o Governo interino quer propor ao País e digam-me, quem está sendo sacrificado, quem está sendo estendido na pedra do altar para ser imolado?

Não são as 20 mil famílias de rentistas que detêm a quase totalidade da dívida pública brasileira. E lucram de forma indecorosa, infame com os juros dessa dívida.

Não são os brasileiros que mantêm mais de um R$1,3 trilhão ilegalmente em contas no exterior.

Não são os banqueiros e seus lucros pornográficos.

Não é o capital vadio e sua ganância sem freios.

Não são os beneficiários da mais perniciosa e imoral concentração de renda do planeta Terra, como é a concentração de renda no nosso Brasil.

Não é a aristocracia do funcionalismo público, as carreiras privilegiadas no Judiciário, no Ministério Público, no Legislativo.

Como ao longo da história da humanidade, exigem-se vítimas que se sacrifiquem, que expiem, que sangrem para o bem-estar dos dominantes.

Mas não estamos mais na antiguidade, nos templos e nos tempos bíblicos. Estamos no ano 16 do século XXI.

Senado, Justiça e Ministério Público: a mesma cruel indiferença

No entanto, o Senado reage à condução dos trabalhadores, dos assalariados, das camadas inferiores das classes médias ao matadouro, ao sacrifício com a mesma indiferença dos sacerdotes maias ou astecas.

Será que este Senado não vai reagir?

Faço agora uma lista das barbaridades que os interinos pretendem perpetuar. E pergunto aos nobres senadores, se o distinto brasileiro e a valiosa e valorosa sociedade que nos veem e ouvem, neste momento, subscrevem, assinam embaixo. Vamos lá:

1)    Fixação de limite máximo para os gastos públicos.

2)    Desvinculação constitucional dos gastos com saúde e educação.

3)    Limitação da dívida pública.

4)    Torniquete sobre as estatais

O Governo interino quer congelar por dez anos, prorrogáveis por mais dez, os gastos com educação, saúde, saneamento, segurança, habitação popular, em pesquisas e tecnologia e assim por diante.

Os gastos com saúde e educação, que têm percentuais constitucionalmente amarrados, seriam desobrigados dessa vinculação. É uma loucura!

Quem é que vai ser sacrificado? Se a ação do Governo nas áreas de saúde e educação, hoje, é sofrível, imaginem o que vai acontecer se esses gastos forem reduzidos...

Os cortes nos gastos com a saúde colocam em risco a sobrevivência do SUS e a gratuidade da assistência à saúde. Terá atendimento quem puder pagar.

Da mesma forma, os cortes nos gastos com a educação colocarão em risco a gratuidade do ensino. Com isso, o acesso à escola será um privilégio para poucos, muito poucos.

Mas a insensatez da fixação de um teto para os gastos públicos vai além, ainda mais quando acompanhada de outra sandice, que é a limitação da dívida pública.

Qual o resultado dessa mistura peçonhenta? A privatização do que ainda restou de empresas públicas no País. Lá se vão a Petrobras e o pré-sal, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e muito mais.

Enfim, de um lado, a deterioração e consequente privatização dos serviços públicos provocados pela limitação dos gastos governamentais; de outra banda, a privatização, a preço de fim de feira, e a entrega de nosso petróleo, dos minérios e até mesmo das florestas amazônicas.

E a nossa mídia, esses comentaristas de rádio e televisão, esses políticos que se proclamam liberais ficam dizendo que é preciso, sim, cortar gastos públicos e que a gastança do Governo é demais, sem, no entanto, esclarecer que não são objeto dos cortes:

- as mordomias,
- os salários exorbitantes
- os privilégios abusivos

Esses não serão cortados, mas sim aumentados! Porém, gastos para atender a população mais humilde e que impactam diretamente com a vida do povo brasileiro, serão sumariamente reduzidos pelo ajuste do governo Temer.

Outro item é (6) a mudança de idade para aposentadoria. O Governo interino quer fixar em 65 anos a idade mínima para aposentadoria. Em média, os homens dos Estados do Norte e do Nordeste vivem pouco mais que 65 anos. Quer dizer, com a nova regra, contribuem a vida toda, alguns desde os 14 anos, aposentam-se e morrem. Que maravilha para os que querem cortar os gasto públicos para pagar juros para os pobres banqueiros!

7) Fim do abono salarial.

8) Fim da correção das pensões dos aposentados que recebem um salário mínimo.

9) Fim do aumento real do salário mínimo.

O PIS e o Pasep estão aí há 46 anos. E nenhum governo mexeu com esse abono salarial, nem os militares da ditadura, pago para quem recebe até dois salários mínimos. No entanto, Meirelles e Goldfajn querem acabar com o abono para diminuir os gastos públicos.

Perderam até a máscara, a desindexação das aposentadorias e pensões e o fim do próprio aumento real do salário mínimo são um atentado explícito ao sonho de um país desenvolvido e às condições mínimas de vida de idosos e trabalhadores, Deus meu!

Um dos pilares da remissão dos pobres da miséria, do aumento do consumo, da elevação do poder de compra em consequência do aumento da produção foi, sem dúvida, a política de aumento real do salário mínimo implantada no governo Lula e continuada no governo Dilma.

Contudo, o governo interino pouco se lixa para isso, eles não querem um país com 200 milhões de consumidores. Para eles, basta um país com vinte milhões de consumidores ainda mais abastados.

10) Mudança na legislação trabalhista, com a prevalência do negociado sobre o legislado

11) A instituição, em larga escala da terceirização e precarização do trabalho.

O ministro Meirelles proclamou que não existem direitos adquiridos. Ao menos para os trabalhadores mais humildes...

E os sempre atentos editorialistas das Organizações Globo, do Estadão, da Folha e do Grupo Abril aproveitaram a deixa e se regozijam em coro exigindo mudanças nas leis trabalhistas, afinal, lembraram, a CLT é da distante década de 40. Algo ultrapassado, dizem.
Para ver o texto completo, acessar : http://www.conversaafiada.com.br/politica/requiao-nao-e-volta-dilma