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10.12.2015

Por uma educação libertária, gratuita e popular

151002_cursinho_lapa Projeto pedagógico inclui, na grade curricular, política e linguagens artísticas.  Trabalha de maneira coletiva, autônoma e não-hierárquica. Sem doações, não sobreviverá

O Cursinho Livre da Lapa é um projeto que surgiu dentro do espaço autônomo Casa Mafalda, e passou a ser integrado por muitos outros parceiros e parceiras com o desejo de construir uma vivência de educação libertária inspirada em práticas como a da Escola Moderna e dos bachilleratos populares na Argentina .
A ideia principal é que essa experiência seja pré-universitária e não apenas pré-vestibular, que os estudantes ingressem na universidade de modo profundamente crítico e não somente tenham bons resultados numa prova eliminatória e elitista como o vestibular. É também direcionado para quem deseja voltar a estudar, prestar vestibulinho ou busca reforço paralelo à escola.
Além das matérias diretamente exigidas pelo vestibular, inclui também na grade linguagens e política, o que permite garantir um olhar mais cuidadoso para a sociedade, as linguagens artísticas, o corpo e o indivíduo, que são aspectos normalmente negligenciados ao longo da trajetória escolar.
As aulas são em geral ministradas fora do formato tradicional para tentar diminuir a hierarquia entre educadores/as e estudantes, com uma disposição das mesas na sala em formato de assembleia, de modo que a incentivar a participação e a construção do conhecimento não centralizada na figura do professor ou da professora. Costumam também propor saídas de campo que possibilitam aprendizagens significativas e uma progressiva ocupação dos espaços da cidade, assim como estabelecer relações entre os conteúdos discutidos em aula e estas vivências.
A gestão do projeto fica a cargo tanto de estudantes quanto de educadores, e é feita de forma horizontal, antirracista, não-homofóbica, feminista, não-lesbofóbica e anti-transfóbica. Das reuniões de gestão e pedagógicas à manutenção do espaço, a maior parte das tomadas de decisão é feita em conjunto e por consenso.
O projeto foi iniciado sem qualquer contribuição financeira externa; no entanto, alunos/as muito envolvidos com o Cursinho deixaram de assistir as aulas devido ao alto custo do transporte. Para tentar resolver esta demanda foram organizados eventos como sarau e festas, com as quais se conseguiu garantir, por algum tempo, o transporte para uma parte das alunas e alunos, e garantir parte dos materiais do dia a dia.
Faltam, porém, recursos suficientes para dar conta de todos os custos: aluguel do espaço, materiais escolares, produtos de limpeza, xerox e principalmente o transporte dos alunos e alunas. Por isso, estão em campanha por doações para manter o projeto. Se você acredita que a educação pode ser construída de uma outra maneira, a partir de princípios libertários e visando uma formação crítica, participe da campanha doando.
Uma das principais vertentes da luta pela democratização do ensino superior público, hoje, dá-se justamente pela instauração de cursinhos por todas as periferias da cidade. Gratuitos, voluntários e populares. Com isso, mais e mais pensadores poderão surgir nas periferias das cidades; pessoas diversas, e das mais diversas áreas. Pensando a partir de seus pontos de vista, ou seja, da cultura e da realidade em que vivem.
Para quem quer se preparar para uma universidade e procura um cursinho que não pense apenas no vestibular, mas que contribua principalmente na sua formação crítica. Para quem procura um reforço escolar, está com dificuldade em algum conteúdo ou simplesmente quer voltar a estudar. Para quem se interessa em aprender por meio do debate, o Cursinho Livre da Lapa está de portas abertas na Casa Mafalda: rua Clélia, 1895 – Lapa, São Paulo - apalivre@gmail.com, (11) 99349 0119 ou (11) 99438 6091.
http://outraspalavras.net/blog/2015/10/06/por-uma-educacao-libertaria-gratuita-e-popular/

Noite de luta em Brasília: uma crônica que não saiu na TV

Em atitude cheia de simbolismos, povos ocupam Câmara no aniversário da Constituição. Apesar das ameaças de Cunha, ninguém dormiu — os tambores não deixaram
 

por Cibelih Hespanhol - Sociedade e Manifestação Popular (fonte no final)

05 de outubro de 1988: a Constituição Federal era promulgada.
05 de outubro de 2015: povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais ocupavam o plenário I, anexo II, da Câmara dos Deputados em Brasília. Insatisfeitos com a Audiência Pública que, pela tarde, debateu a violência de milícias armadas, decidiram permanecer na Câmara em vigília noturna pelos seus mortos por conflitos territoriais.

Nesta noite, ninguém dormiu: os tambores não deixaram. Cantos, danças, falas de protesto eram incêndios internos para animar a resistência frente a fome e o sono.
As luzes já tinham sido apagadas por Eduardo Cunha, presidente da Câmara, que por volta das 22 horas negou o pedido dos povos por sua presença, e por volta das 23 horas fez vir a da polícia legislativa.
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Mesmo ameaçada, a ocupação continuou.
Os cantos entoados no escuro giravam as saias de quilombolas do Maranhão, batiam as palmas de pescadores de Minas Gerais, ritmavam os chocalhos de indígenas do Mato Grosso do Sul.
De acordo com relatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra, entidade ligada a igreja católica,  nos últimos dez anos foram registrados mais de cinco mil conflitos territoriais envolvendo povos e comunidades tradicionais.
Neste contexto, mais de 1074 pessoas foram ameaçadas de morte, e 98 foram assassinadas. Daniel Guarani Kaiowá, ainda na mesa da audiência, dissera: “Nós não estamos aqui pedindo favor. Estamos aqui pedindo para que se cumpra o que já está escrito.
O que acontece hoje no Brasil é que a demarcação de terras não é feita com uma caneta, mas com nosso sangue. A nossa morte fará com que esse direito seja cumprido. Se tivermos que morrer, morreremos. Mas não vamos nos calar frente a esse genocídio”.
No escuro, os sentidos se afloram. Apartada da luz, a visão se apoia na delicadeza dos dedos para saber o que se passa.
Durante a ocupação, era possível tatear tudo o que acontecia: o símbolo vivo do que deveria ser e do que era aquela Casa, a necessidade da ira que é justa, a verdadeira escuridão do déspota.
A vitória, se houve, foi simbólica. A vitória foi resistir: às sete horas do dia seguinte, os povos saíram felizes, coroados numa manhã conquistada. O que fizeram? O que fazem, todos os dias.
http://outraspalavras.net/blog/2015/10/08/noite-de-luta-em-brasilia-uma-cronica-que-nao-saiu-na-tv/

Os Ricos Roubaram o Poder da População que Votou

por Mauro Santayana - Sociedade e a Verdade sobre o Poder Popular
Elza Fiúza/ABr
urna_eletronica.jpgA elite tirou o poder de quem votou
Quando suas decisões afetam não apenas o réu e sua vítima, mas centenas, milhares de cidadãos, o promotor deve acusar e o juiz, julgar, com a mente e o coração voltados para o que ocorrerá, in consequentia.
Nos últimos anos, a nação tem tido, na área de obras públicas, bilhões de reais em prejuízo. E isso não apenas devido a falhas de gestão – que, com a exceção dos Tribunais de Contas, não devem ser analisadas pelo Judiciário – ou de casos de corrupção, alguns com mais de 20 anos.
Houve também a paralisação – a caneta – de grandes obras de infraestrutura. Belo Monte, a terceira maior hidrelétrica do mundo, em construção na Amazônia em um momento que o país precisa desesperadamente de energia, teve suas obras judicialmente suspensas por dezenas de vezes, o que também contribuiu para que se somassem meses, anos de atraso ao seu prazo de entrega; e também para a multiplicação de seus custos.
O mesmo ocorreu com Teles Pires e Santo Antônio, com a refinaria Abreu e Lima e com a transposição do São Francisco. Em todos esses empreendimentos foram encontrados problemas de algum tipo, mas justamente por isso, é preciso que o Ministério Público e o Judiciário busquem outro meio de sanar eventuais falhas e punir irregularidades, que não seja, a priori, a imediata paralisação das obras. Afinal, ainda é melhor obras com problemas, que podem ser eventualmente corrigidos, do que nenhum projeto ou iniciativa desse porte, em setores em que o país esteve praticamente abandonado durante tantos anos.
Uma das soluções, para se evitar esse tipo de atitude drástica, poderia ser a de que se nomeasse interventores que pudessem investigar irregularidades e fiscalizar, in loco, em cada obra, o cumprimento das determinações judiciais.
Declarações bombásticas e precipitadas também não ajudam, quando se trata de projetos essenciais para o desenvolvimento do país nos próximos anos.
No contexto da Operação Lava Jato, centenas de milhares de trabalhadores e milhares de empresas já estão perdendo seus empregos e arriscando-se a ir à falência, porque o Ministério Público, no lugar de separar o joio do trigo, com foco na punição dos corruptos e na recuperação do dinheiro – e de estancar a extensão das consequências negativas do assalto à Petrobras para o restante da população – age como se preferisse maximizá-las, anunciando, ainda antes do término das investigações em curso, a intenção de impor multas punitivas bilionárias às companhias envolvidas, da ordem de dez vezes o prejuízo efetivamente comprovado.
Outro aspecto a considerar é a interferência indevida, em esferas da administração pública que não são da competência do MP, como foi o pedido de paralisação, no mês passado, das obras de ciclovias que estão em execução pela prefeitura de São Paulo.
Não cabe ao Ministério Público, em princípio, julgar, tecnicamente, questões viárias. E menos ainda, limitar o debate e a busca de consenso, em âmbito que envolve a qualidade de vida de metrópoles como a capital paulista, uma das maiores do mundo.
A não ser que haja uma mudança constitucional que faça com que venham a ser escolhidos por meio das urnas – e mesmo que viesse a ocorrer isso – é preciso que o Ministério Público e o Judiciário tenham especial cuidado para que alguns de seus membros não passem a acreditar – e a agir – como se tivessem, com base na meritocracia, sido ungidos por Deus para tutelar os outros poderes, e, principalmente, o povo.
Aos juízes e ao Ministério Público não cabe interferir, de moto próprio, nem tentar substituir o Legislativo ou o Executivo, na administração da União, dos Estados e municípios, que devem recorrer ao Supremo Tribunal Federal sempre que isso ocorra, assim como cabe ao STF coibir, com base na Constituição, esses eventuais excessos.
Em uma democracia, todo o poder emana do povo.
É ele que comanda. É ele que, em última instância, executa. É ele que, indiretamente, legisla. É ele que, a cada dois anos, julga, por meio do processo eleitoral, segundo o rito político. A sua sentença é o voto.
O eleitor é o Estado. E o juiz supremo.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/105/da-justica-o-que-principalmente-se-espera-e-bom-senso-857.html