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11.06.2019

Brasil entrega hoje em leilão, às petroleiras internacionais “20 bilhões de barris de petróleo”


Razão principal para o golpe de estado de 2016, que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff e prendeu o ex-presidente Lula, o pré-sal será finalmente entregue às petroleiras internacionais nesta quarta-feira(6/nov/2019), com o leilão da cessão onerosa, onde estão as melhores áreas de petróelo e reservas que podem chegar a 20 bilhões de barris

por redação do portal Brasil 24/7 – Sociedade e Destruição do Patrimônio Brasileiro Pós-golpe 2016

Descobridor do pré-sal, Guilherme Estrella (destaque) diz que o megaleilão tira do Brasil a oportunidade de, pela primeira vez na história, ter uma fonte de energia capaz de sustentar um projeto de país autônomo, tendo uma empresa estatal como operadora da produção dessa grande riqueza. Foto no portal Rede Brasil Atual 

O especialista no setor de óleo e e gás, a jornalista Ramona Ordonez, do jornal O Globo, explica de forma didática a riqueza que será leiloada nesta quarta-feira 6 – ou entregue, segundo os nacionalistas – às petroleiras internacionais. Nada menos que 20 bilhões de barris de petróleo. Confira, abaixo, um trecho de sua coluna, que ajuda a entender por que a ex-presidente Dilma Rousseff foi derrubada em 2016 e por que o ex-presidente Lula foi preso:
Tudo começou em 2007. No primeiro ano do segundo mandato do governo Lula, a equipe da Casa Casa civil chefiada pela então ministra Dilma Rousseff anunciou a descoberta de bilhões de reservas de petróleo no pré-sal. Na época, já se sabia que a nova fronteira petrolífera colocaria o Brasil entre os maiores produtores de petróleo. O governo Lula decidiu então, que era preciso mudar as regras de exploração de petróleo, para garantir uma participação maior da União nas decisões. E criou o regime de partilha - diferente do modelo usado até então, de concessão - exclusivamente para o pré-sal. Na partilha, as empresas não são donas dos blocos de petróleo e dividem parte do lucro da exploração com o governo.
Além de garantir uma parcela maior da receita do petróleo para a União, o governo queria também assegurar que a Petrobras fosse a principal operadora do pré-sal. Só que a estatal não teria caixa suficiente para fazer frente aos bilhões de investimentos necessários para explorar o pré-sal. É aí que entra a criação da cessão onerosa. Como fazer a Petrobras manter sua relevância no pré-sal sem destruir as finanças da estatal? Era preciso que a Petrobras aumentasse seu patrimônio e fizesse uma capitalização - ou seja, captasse recursos no mercado ampliando sua base de acionistas. Mas a União, maior acionista da estatal, não teria dinheiro para acompanhar essa expansão da Petrobras e poderia acabar tendo sua participação acionária diluída na estatal.

Cessão Onerosa
A solução engendrada pelos técnicos da Petrobras e pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) foi criar a tal da cessão onerosa. Funcionou assim: o governo cedeu para a Petrobras, sem licitação, 5 bilhões de barris de petróleo que seriam extraídos do pré-sal da Bacia de Santos. Na indústria do petróleo, reservas são contabilizadas como patrimônio da empresa. Com o caixa reforçado, a empresa foi ao mercado e emitiu ações, fazendo uma megacapitalização. A União participou dessa megacapitalização - o petróleo cedido para a estatal foi a "moeda" com a qual o governo pagou sua parte na operação.
E, assim, a Petrobras ganhou musculatura para endividar e financiar os investimentos necessários para atuar no pré-sal. E eis que os 5 bilhões de barris não eram só 5 bilhões... Quando a Petrobras começou a explorar os blocos cedidos pela União, descobriu que as reservas estimadas eram muito maiores e a área poderia ter até 20 bilhões de barris de petróleo. Surgiu, então, o " excedente de cessão onerosa ", petróleo que "sobrou" além dos 5 bilhões iniciais e que vai a leilão nesta quarta-feira (6/nov/2019).

O que está em jogo é o Brasil como nação soberana
O que está em jogo na transação, segundo Guilherme Estrella, é uma visão de sociedade e de mundo “ideológica”. Em entrevista à Rede Brasil Atual, o geólogo lamentou a realização do leilão. “Na nossa visão, o pré-sal é riqueza estratégica para o Brasil, de garantir para nós uma fonte energética absolutamente gigantesca durante todo o século 21, dentro de um projeto de país em que nós o aproveitaríamos para o desenvolvimento brasileiro integral, da ciência, da tecnologia, no qual a saúde e a  educação teriam parte conforme o marco regulatório original”.
No entanto, essa visão foi substituída por uma outra. “Uma visão financista, que tem como objetivo principal o lucro máximo, no menor prazo de tempo possível, e a maior remuneração também no menor tempo para os acionistas da companhia privada”. O descobridor do pré-sal avalia que a realização do megaleilão tira do Brasil a oportunidade de, pela primeira vez na história, ter uma fonte de energia capaz de sustentar um projeto de país autônomo, tendo uma empresa estatal como operadora da produção dessa grande riqueza – o pré-sal.
“Isso tudo já foi abandonado. Houve uma opção que compromete a constituição de um país soberano, de desenvolvimento integrado, não só industrial mas científico e tecnológico, com o fundo social que garantia 75% dos recursos para saúde e a educação. Isso tudo está sendo abandonado. Esse modelo que está sendo adotado é um modelo do mercado, que não tem nenhum compromisso com o desenvolvimento nacional.  É  uma escolha feita por esse governo que está aí e pelo que o antecedeu (Michel Temer)”, disse Estrella, ressaltando a medida do governo Temer de alterar as regras de exploração do pré-sal, retirando da Petrobras a prerrogativa de ser operadora única.
“Pelo marco legal do pré-sal, a operadora única é quem escolhe, determina sobre as tecnologias e os produtos oferecidos pela indústria. O pré-sal trouxe também uma coisa muito importante, que é a demanda industrial a longo prazo, dentro de um processo, de longo prazo, do desenvolvimento nacional, da indústria brasileira. O pré-sal é isso: uma demanda muito grande para um prazo longo, dentro de uma visão que teríamos 50 anos à frente, para aproveitar essa riqueza sob o interesse brasileiro. Quando se abre mão disso, opta-se pela dependência, e no mais curto prazo de tempo”.


https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2019/11/brasil-perde-r-13-trilhao-com-megaleilao-do-pre-sal-nesta-quarta-feira/