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12.01.2015

A oferta de empregos e a construção de casas populares

  • Como conciliar a oferta de empregos com a construção de casas populares?

  • Planejamento de conjuntos habitacionais para populações de baixa renda nos extremos das cidades é um desafio para a mobilidade
Por Roberto Rockmann para revista Carta Capital - Sociedade, moradia e emprego 



Lena Diaz/Fotos Públicas
Metrô-de-São-PauloCom empregos e serviços concentrados em poucas regiões, São Paulo vive o caos diariamente
valorização dos imóveis nos últimos anos, provocada pelo aquecimento do mercado imobiliário e acesso mais fácil ao crédito, intensificou um problema presente nas regiões metropolitanas. A oferta de serviços e de trabalho está cada vez mais distante da moradia das famílias de menor renda, que sofrem crescentemente com a infraestrutura urbana deficiente.
Isso expõe a falha política de uso e ocupação do solo nas cidades brasileiras e exige aperfeiçoamentos. Perto de um terço dos brasileiros passa mais de uma hora por dia no deslocamento entre sua casa e o trabalho ou escola, segundo pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria. Em 2011, primeiro ano da pesquisa sobre mobilidade urbana, 26% gastavam mais de uma hora.
Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, 39% dos moradores passam mais de uma hora no trânsito, e 4% dos entrevistados gastam mais de três horas por dia.
Maior cidade do País e uma das cinco maiores do mundo, São Paulo convive com uma oferta de empregos e vagas em escola na zona oeste 20 vezes superior à da zona leste.
As seis subprefeituras que formam o centro expandido da cidade (Sé, Pinheiros, Lapa, Vila Mariana, Santo Amaro e Mooca) reúnem 17% da população paulistana, mas 64% dos empregos. Já a zona leste concentra quase 40% da população, embora ofereça apenas 15% dos empregos.
A principal causa dos problemas é a falta de um planejamento que evite a concentração da oferta de atividades, como educação, saúde, comércio e produção industrial em poucas regiões, normalmente distantes das áreas com maior número de habitantes.
Melhorar a mobilidade exige mudanças na ocupação do solo urbano e muito dinheiro. Estudos realizados em Belo Horizonte apontam que a rede de linhas subterrâneas da cidade deveria ter 150 quilômetros de extensão para atender à demanda.
Para se chegar à extensão necessária, seria preciso investir 150 bilhões de reais. “Isso mostra o desafio que existe, o que mostra que não será o Orçamento da União ou Orçamentos de estados que farão o milagre.
Será preciso adotar soluções diferenciadas, como a atração de investidores estrangeiros que possam operar as linhas”, observa Paulo Resende, coordenador do núcleo de infraestrutura da Fundação Dom Cabral, responsável pelos cursos de pós-graduação desta corporação de ensino. 
http://www.cartacapital.com.br/especiais/infraestrutura/como-conciliar-a-oferta-de-empregos-com-a-construcao-de-casas-populares-8214.html

Do popular, foi reinventada a política...será? E o que o poder tem com isso...

  • Ao PT só resta temer o próprio medo

  • É improvável que o desafio de reinventar o partido tenha êxito se ficar restrito a sua própria estrutura, hoje uma réplica do sistema político carcomido do país

Por Saul Leblon para site Carta Maior - Sociedade e maquinações da política (fonte no final)

Lula Marques
O PT não pode mais assistir ao seu próprio funeral acuado nas amarras da prostração e da perplexidade.

Forças que querem destruí-lo tem tido sucesso nesse intento, graças a um estratagema ardiloso.

Em nome dos erros do partido –que não são poucos— mira-se a desqualificação de suas virtudes e bandeiras


Uma virtude resume todas as demais

O PT ressuscitou a agenda da justiça social como motor e finalidade do desenvolvimento econômico, em contraposição ao exclusivismo mercadista atribuído às metas de inflação (leia-se juros reais elevados); ao superávit fiscal (leia-se arrocho e estado mínimo) e ao câmbio livre (leia-se, livre mobilidade dos capitais).

O partido não trocou uma coisa pela outra: trouxe o antagonismo capitalista para dentro do aparelho de Estado e tentou mediá-lo nos últimos 12 anos.

É esse o ciclo que agora se despede em ruidosa transição.

A dificuldade de se renovar na travessia –e assim reagir ao massacre que o desnorteia-- reside menos na incapacidade de enxergar tropeços e equívocos pregressos, do que no fato de que o PT se tornou uma réplica do sistema político que precisa combater para ressuscitar.

O sistema político brasileiro exige muito pouco dos quadros partidários em termos de identidade programática e coerência de princípios.

Mas premia a densidade dos vínculos com interesses tão ecumênicos quanto os que o poder do dinheiro consegue estabelecer na sociedade.

A naturalidade com o que o senador Delcídio Amaral  transitou nas últimas duas décadas da esfera do PMDB para a filiação ao PSDB e deste para o PT, sem mudar de referências políticas, nem abdicar do seu repertório ecumênico de apoios, é exemplar desse paradoxo.

Sua abrupta derrocada, após flagrante em gravações comprometedoras, reitera a distorção que está despedaçando a democracia e desmoralizando seu espectro partidário –mas sobretudo o PT, pelas razões sabidas.

Delcídio foi diretor de gás e energia da Petrobrás no governo Fernando Henrique, indicado pelo PMDB; filiou-se em seguida ao PSDB onde permaneceu até 2001; por conveniências regionais saltou então para o PT, que lhe facultou a vaga para eleger-se senador da República pelo Mato Grosso, em 2002.

Nesse vaivém de década e meia, manteve-se fiel a um mesmo círculo de interesses integrado entre outros pelos atuais delatores da Lava Jato, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.

Não teria sido muito diferente se ainda estivesse no PSDB, ou no PMDB.

É justamente essa indiferenciação que está matando a credibilidade na política como ferramenta de construção do país e do seu desenvolvimento.

Ela impede que a sociedade disponha de alternativas claras e confiáveis para tirar a economa da espiral descendente em que se encontra, empurrada pelo esgotamento de um ciclo de expansão.

O PT, pelas razões que só o juiz Moro pode explicar, foi o elo da corrente escolhido para arrebentar em meio a à geleia geral.

E o partido popular está sendo arrebentado

O episódio Delcídio aperta o cerco em torno de uma sigla que encontra dificuldade crescente para atuar em três frentes distintas mantendo algum grau convincente de coerência: 1) resistir à caçada conservadora que age por tentativa e erro na determinação de desossar o partido até alcançar a cabeça de sua principal liderança; 2) defender um governo embarcado numa trajetória recessiva que estreita a margem de manobra social do partido e agrava a crise política; 3) reinventar seu espaço e sua mensagem na disputa pelo poder nas eleições municipais de 2016 e nas presidenciais, em 2018.

A determinação de manter um rigoroso regime de autocrítica caso a caso diante do cerco policial-midiático promovido contra o partido tampouco tem se mostrado eficaz.

A solidariedade negada pela direção do PT ao senador Delcídio, por exemplo, gerou protestos de um pedaço da bancada, que acusou o comando petista de levar água ao moinho que tritura os ossos da sigla.

A  luta pela sobrevivência parece ter atingido aquele grau em que medidas incrementais de resgate da coerência e da identidade já não fazem mais efeito diante do tempo que encurta e do cerco que não cede.

A verdade é que todo o sistema partidário brasileiro  funciona hoje como um biombo do poder econômico que através do financiamento de campanha encabrestou direções, abastardou programas, manietou governos e semeou um arquipélago de fidelidades e acordos espúrios, unilaterais às siglas, que despedaçam sem coesão interna.

A desenvolta atuação de bastidores do banqueiro André Esteves, dono do Pactual,  com sugestiva fortuna de US$ 3 bilhões aos 43 anos de idade, ilustra a matéria-prima de que é feita essa retaguarda, onde raízes podres e sadias se entrelaçam.

O dono do Pactual  pagou a viagem de núpcias do amigo Aécio Neves. E prometeu ser tão generoso quanto com a família do delator  Nestor Cerveró –em troca da omissão ao nome do banco na delação premiada do ex-dirigente da Petrobrás.

Da reciprocidade combinada com Aécio não há relatos, tampouco investigações, embora seja presumível.

Estamos diante de uma captura dos políticos e do sistema

Uma captura do sistema político que reflete a determinação mais geral e conhecida de sequestrar todas as instâncias e recursos do aparelho de Estado para servir a interesses que enxergam em figuras como a de André Esteves e assemelhados não apenas a validação do mito do ‘empresário matador’.

Mas o altar da proficiência capitalista, diante do qual as instituições e a sociedade devem inquestionável subordinação.

É essa a pegajosa narrativa martelada pelo jornalismo isento ao incensar figuras carimbadas como Eike, Agnelli (ex-Vale), Esteves, Staub e outros impolutos ícones, não raro flagrados em operações de sonegação e lavagem, como mostra a máfia do Carf.

A inexistência de uma verdadeira isonomia no sistema de comunicação para enfrentar a centralidade desse debate dificulta sobremaneira a tarefa do PT de contextualizar seus erros e repactuar os vínculos com a sociedade.

Transformar essa dificuldade em necrológio é o propósito dos interesses que não cessam de perfurar e purgar o metabolismo do partido para carimbar na sua pele –e na de suas maiores lideranças--  a marca de principal responsável pelo derrocada da economia e da política.

O pesadelo se aproxima perigosamente da fronteira do real da política anti-ética

É cada vez mais palpável o sonho da direita brasileira de matar historicamente o impulso nascido desde as grandes greves operárias do ABC paulista, nos anos 70/80, e que simbolizou a bandeira da luta contra a desigualdade e a injustiça social até os nossos dias.

Cerca de 60 milhões de brasileiros tiveram acesso ao mercado interno e à cidadania graças a esse estirão.

Ele esburacou fortemente a receita secular que permitia às elites revezarem-se no poder, mantendo o povo espremido no acostamento, à espera de caronas que nunca vem.

Recapear esse percurso agora pavimentando uma ampla avenida de regressividade social e política é o motor que move o garrote no pescoço do PT.

Supor que esse enfretamento poderia ter sido evitado por quem ousasse alterar a lógica do capitalismo brasileiro,  é acreditar em fábulas.

Uma das mais  deletérias é essa que hoje se  vende à sociedade na forma de um manual de boas maneiras a seguir para se obter um  desenvolvimento elegante, transparente e equilibrado.

Leia a bula: primeiro, você investe em infraestrutura, então fomenta as exportações, depois, com receitas e contas equilibradas, calibra harmoniosamente a demanda com a oferta prevalecente.

Enquanto isso, a senzala hiberna serena, resignada como num postal de lago suíço.

Quanto tempo a senzala vai continuar no leme?

Os séculos que forem necessários.

Até que os avanços incrementais permitidos pelo mercado produzam a boa sociedade, ancorada na mobilidade das meritocracias perfeitas, tutelada pelos sábios dos mercados não menos virtuosos.

As coisas não acontecem exatamente assim no capitalismo.

No caso brasileiro, a pasta de dente escapou do tubo.

A emergência dos excluídos escancarou a incapacidade do sistema econômico e político para realizar a prometida ascensão disciplinada dos desfavorecidos.

Mãos açodadas tentam devolve-la agora ao frasco, da forma que isso costuma ser feito nas república latino-americanas e com o fair play característico.

Inclua-se nessa determinação de ‘pôr ordem na casa’ jogar no lixo da história tudo e todos que contribuíram para o vazamento precoce e imprevidente.

É aí que entra o ingrediente crucial dedicado a desqualificar, sangra, picar e salgar em praça pública a ferramenta política que favoreceu a heresia: o PT.

Esse é o ponto em que estamos e nele as perguntas reverberam uma urgência de vida ou morte.

Um partido de trabalhadores consegue se despir dos vícios e desvios da política conservadora depois de passar pela experiência do poder no capitalismo?

Consegue sobreviver sem sucumbir aos limites e compromissos inerentes à correlação de forças desfavorável à qual se ajustou?

O popular pode recuperar o rumo sem o qual descansará sob a lápide dos sonhos perdidos?

Por mais que se martele o oposto, a tragédia do PT consiste justamente no fato de não se tratar aqui de um ‘bando’. Mas de um futuro em disputa.

Fosse o PT apenas aquilo que outras siglas se comprazem em personificar não haveria a tragédia.

Não se trata de dissimular decadência em retórica de heroísmo.

Mas de reafirmar que o PT  tem uma –e só uma-- finalidade na história brasileira.

Servir de instrumento dos interesses sociais amplos, de cuja vértebra nasceu o impulso  que agora  fraqueja.

Quando se mostrar incapaz de renovar esse pacto com a sua origem perderá o seu sentido histórico.

A busca de um chão firme para esse reatamento hoje é a questão crucial sobre a qual dirigentes, intelectuais e núcleos de base devem se debruçar febrilmente.

Com uma ideia  na cabeça uma certeza na ação: ao PT só resta temer o próprio medo de ir além dos limites que o sufocam.

Mais que isso.

É improvável que essa busca tenha êxito se ficar restrita aos limites de uma organização que, como se disse antes, tornou-se uma réplica do sistema político contra o qual terá que se reinventar.

Significa que a repactuação do PT com suas bases terá que nascer de um novo programa para um novo ciclo de lutas, que fatalmente exigirá uma nova estrutura: o partido será uma estaca em um conjunto formado por uma frente ampla de forças progressistas e democráticas da sociedade brasileira.

Nenhuma prioridade é mais importante que esse reatamento feito de depuração, renovação e abertura desassombrada para fora e para dentro.

Na virada recente que culminou com a eleição de uma presidência de esquerda, o Partido Trabalhista inglês oxigenou sua estrutura liberando a inscrição de eleitores, militantes e não militantes, mediante pequena taxa.

A campanha de filiação eleitoral se enraizou nas periferias e trouxe a juventude pobre maciçamente de volta à política: o marxista Jeremy Corbyn foi eleito.

Não é uma tarefa para aqueles que hoje não se reconhecem devedores desse agiornamento

Quem não estiver disposto não conta mais como protagonista do partido.

Portas escancaradas servem para quem quiser entrar e quem quiser sair.

Haverá  turbulência. Mas se for dada uma chance ao ar fresco, ele encontrará o caminho para transformar o medo em esperança e a prostração em luta pela democracia social brasileira.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Ao-PT-so-resta-temer-o-proprio-medo/35068

COP 21 e clima em Paris: O impasse fundamental

Por Leonardo Boff , para Jornal do Brasil - Sociedade e sobrevivência na Mãe Terra (fonte no final)
  • Entre os dias 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015 se celebrará mais uma Convenção das Mudanças Climáticas (COP 21) em Paris

Todas as convenções realizadas até hoje, chegaram a convergências (conclusões) pífias, muito distantes das exigências que o problema global exige. Há uma razão intrínseca ao atual sistema socioeconômico mundializado que impede alcançar objetivos comuns e adequados.
É semelhante a um trem sobre os trilhos. Ele está condicionado ao rumo que os trilhos traçam sem outra alternativa.
A metáfora vale para o atual sistema global. As sociedades mundiais continuam obsecadas pelo ideal do crescimento ilimitado, medido pelo PIB. Falam em desenvolvimento, mas na verdade, o que se busca é o crescimento material.
O crescimento pertence aos processos vitais. Mas sempre dentro de limites.
Uma árvore não cresce ilimitadamente para cima nem nós crescemos fisicamente de forma indefinida. Chega um ponto em que o crescimento para e outras funções têm  o seu lugar.
Ocorre que um planeta limitado e escasso de bens e serviços não tolera um crescimento ilimitado. Já nos demos conta de seus limites intransponíveis. Mas o sistema não toma tal fato em consideração.
Disse-o com grande lucidez o co-fundador do eco-socialismo, o franco-brasileiro Michael Löwy: "Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis; a dinâmica do crescimento infinito, induzido pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos da vida humana no planeta" (Livro - Ecologia e socialismo 2005, 42).
A questão central não está, como viu o papa Francisco em sua encíclica sobre O cuidado da Casa Comum,  na relação entre crescimento e natureza. Mas entre ser humano e natureza. Este não se sente parte da natureza, mas seu dono que pode dispor dela como bem quiser.
Não cuida dela nem se responsabiliza pelos danos da voracidade de um crescimento infinito com o consumo ilimitado que o acompanha. Assim caminha célere rumo a um abismo, pois a Terra não  suporta mais tanta  exploração e devastação.
Entre as muitas consequências desta lógica perversa é o aquecimento global que não cessa de crescer. Desconsiderando os negacionistas (os que sempre negam), há dois dados seguros,  estabelecidos pela melhor pesquisa mundial.
Primeiro: o aquecimento é inequívoco; não dá para negá-lo, basta olharmos em volta e constatarmos os eventos extremos que ocorrem em todo o planeta;  
Segundo: para além da geofísica da própria Terra que conhece fases de aquecimento e de esfriamento, este aquecimento é antrópico, vale dizer, resultado da ininterrupta intervenção humana nos processos naturais.
O aquecimento que seria normal vem fortemente intensificado especialmente pelos gases de efeito estufa: o vapor d'água, o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso e o ozônio. Esses gases funcionam como uma estufa que segura o calor aqui em baixo, impedindo que se disperse para o alto aquecendo em consequência o planeta.
Toda luta é limitarmo-nos a dois graus Celsius, o que permitiria um gerenciamento razoável da adaptação e da mitigação. Para nos mantermos nestes limites, dizem-nos os cientistas, deveríamos reduzir a emissão dos gases em 80% até 2050.
A maioria acha isso impossível. Se no entanto, por descuido humano, a temperatura chegar entre 4-6 graus Celsius  por volta desta data, a vida que conhecemos corre risco de desaparecer e atingir grande parte da espécie humana. 
O Secretário da ONU Ban Ki Moon advertiu recentemente:"As tendências atuais estão nos levando cada vez mais perto de potenciais pontos de ruptura, que reduziriam de maneira catastrófica a capacidade dos ecossistemas de prestarem seus serviços essenciais".
A consequência é: temos que mudar de rumo ou conheceremos a escuridão. Há que estabelecer uma nova relação para com a Terra, respeitar seus ciclos e limites, sentirmo-nos parte dela, cuidá-la com processos de produção e consumo que atendam nossas necessidades, sem exaurir sua biocapacidade. Deveremos aprender a ser mais com menos e a assumir uma sobriedade compartilhada em comunhão, com toda a comunidade de vida que também precisa da vitalidade da Mãe Terra para viver e se reproduzir.  Ou faremos esta "conversão ecológica"(papa Francisco) ou estará comprometida nossa trajetória sobre esse pequeno e belo planeta.
http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2015/11/30/o-impasse-fundamental-da-cop-21-em-paris/

A questão da adoção e os orfãos: livro de ficção infanto-juvenil

Por redação da agência Adital - Sociedade, crianças e jovens (fonte no final do texto)
  • O texto do livro "Ioiô”, escrito por Belise Mofeoli e ilustrado por Raoni Xavier, pela editora Paulus, é motivado pelas lembranças da autora, que, quando pequena, se deparou com a notícia de crianças que haviam sido adotadas e, depois, devolvidas   
  • Isto que a deixou a autora profundamente triste, ela conta que ficou aliviada somente depois de escrever a obra
O tema ganha cada vez mais importância, uma vez que dados do Cadastro Nacional de Adoção, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), registra, 130 casos de crianças que foram adotadas, mas retornaram aos abrigos. Desde 2008, há uma média de duas crianças devolvidas a cada 45 dias.


O livro se desenvolve pela narrativa de uma das crianças do orfanato, ou melhor, do abrigo, como o diretor da instituição prefere chamar
A história caminha entre as lembranças de parentes, amigos e das coisas que ocorrem no lugar. Entre elas, está a angústia dos pais que visitam o abrigo, ficam de voltar para levar alguma das crianças e não aparecem mais. Ou mesmo dos adotados, que foram morar com outras famílias, mas, em seguida, foram devolvidos.
"Os pais vêm, escolhem, gostam…Depois, se não gostam mais, devolvem. Tipo mercadoria.
Só que gente não é brinquedo. Não dá pra ficar fazendo ioiô delas, Ioiô é de plástico e não tem coração. Órfãos têm. Geralmente, partidos”.
Belise Mofeoli é formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-SP [Pontifícia Universidade Católica da São Paulo], atuando mais como roteirista do que como redatora publicitária.
Possui trabalhos para diversos formatos: educativos, animações, games, teatro, tirinhas, letras de música, literatura e transmídia (modo narrativo multiplataforma com várias linguagens e interação).
Raoni Xavier é paraibano e mora em João Pessoa. Formado em Educação Artística pela UFPB [Universidade Federal da Paraíba], trabalha como diagramador na educação à distância do IFPB.
Livro - Ficha Técnica, título: Ioiô, autora: Belise Mofeoli, ilustrador: Raoni Xavier, ano: 2015, páginas: 96.
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=87494

‘Estamos numa crise que já conta 35 anos de idade!’, alerta economista da Unicamp

Por Rennan Martins para agência Adital- Sociedade e macroeconomia brasileira (fonte no final)
Do Blog dos Desenvolvimentistas

  • Em entrevista do economista da Unicamp Wilson Cano, é proposto o entendimento da crise econômica vivida pelo Brasil há mais 30 anos, desde que abandonamos o projeto de industrialização e desenvolvimento, ainda nos anos 1980
A predominância do capital financeiro sobre o trabalho e o capital produtivo, aliada a internacionalização e desregulação solapou o Estado nacional, que não mais dispõe de mecanismos que possibilitem uma gestão econômica voltada para o crescimento, desenvolvimento e o pleno emprego.
Na esteira dessa configuração, veio também a privatização da Vale [então mineradora estatal Vale do Rio Doce], que, hoje, é uma das donas da Samarco [mineradora acusada de provocar, por meio do rompimento de duas barragens em Mariana – Estado de Minas Gerais – um dos maiores desastres ambientais do país, no início deste mês]. E, com a lógica do lucro máximo a qualquer custo, o "descontrole sobre os investimentos estrangeiros na mineração” e a precarização dos serviços ambientais públicos, temos o conjunto de fatores confluentes para a tragédia das barragens.
jornalggn
Wilson Cano avalia causas e efeitos da crise no Brasil
Esta é a avaliação de Wilson Cano, professor do Instituto de Economia da Unicamp [Universidade de Campinas – São Paulo], que vê as iniciativas do BRICS [bloco que reúne o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e do Mercosul como positivas, mas insuficientes frente ao atual quadro. Alerta ainda que "ou nos rebelamos contra esse estado insano de coisas, ou acabaremos pior do que estamos hoje”.

Confira a entrevista


Encerraremos 2015 com um encolhimento que deve ultrapassar 2% do PIB [Produto Interno Bruto]. Como chegamos neste quadro? Quais são suas principais causas?
Estamos numa crise que já conta 35 anos de idade! Não caímos apenas na passagem 2014-2015. Passamos pela década de 1980, a crise da dívida, em que o Estado nacional foi fragilizado fortemente. Depois, na de 1990, com a instauração do neoliberalismo, abriu as comportas da fragilizada economia nacional, com a liberalização comercial e financeira, a privatização e a perda de vários direitos trabalhistas. Esta última valorizou fortemente o câmbio, jogando uma pá de cal sobre a indústria nacional. O pior é que não foram apenas os governos "liberais” que fizeram isso: depois de [ex-presidentes José] Sarney (fim do seu governo), [Fernando] Collor, Itamar [Franco] e FHC [Fernando Henrique Cardoso], o PT [Partido dos Trabalhadores] deu continuidade à política macroeconômica neoliberal, a despeito de suas ‘progressistas’ políticas sociais e de uma nova postura na política externa.
O quanto o cenário internacional afeta o mercado interno brasileiro? Quanto podemos atribuir a erros de gestão governamental?
Com a queda das exportações, é claro que os setores exportadores perdem, desempregam a reduzem, portanto, a renda por eles gerada. Além do mais, tanto Lula como Dilma praticaram elevadas taxas de juros, aumentando, sobremodo, a dívida interna e o montante de juros pagos no orçamento federal. Hoje, eles fazem algo como 8% do PIB e cerca de 95% do déficit fiscal!
Poderia nos explicar as razões e a forma com que a crise de 2008 saiu dos países desenvolvidos e agora atinge as economias emergentes?
A predominância do capital financeiro nas relações econômicas internacionais, a política neoliberal e a globalização ampliaram, sobremodo, a internacionalização das grandes empresas e dos bancos transacionais, sobretudo, os norte-americano. Com a adoção das políticas neoliberais, a maioria dos países foi fortemente afetada por aquela internacionalização, que contaminou suas finanças privadas e públicas, deteriorando suas economias.
De que maneira se estabeleceu a hegemonia dos ditames ortodoxos no campo da política econômica? Por que há tanta dificuldade em produzir novos consensos?
Para acabar de vez com o Padrão Ouro-Libra, fez-se a 1ª Guerra Mundial, para reorganizar as economias destroçadas pela grande depressão dos anos 1930, fez-se a 2ª. guerra. Os Estados Unidos consolidaram sua hegemonia com a crise dos anos 1970, liquidando com grande parte do socialismo e restaurando a hegemonia do capitalismo. Como se vê, não é a falta de "pactos” ou de "consensos” (aliás, vivemos, hoje, o de Washington) que "não se arruma a casa”. Não se arruma porque o capitalismo, com sua predominância financeira, nunca foi tão voraz e irracional, nunca criou tantos miseráveis como hoje, e nunca alimentou e realimentou tantas guerras como nos últimos 30 anos! Soltaram a fera, com a desregulamentação, agora, que se cuidem todos…
Recentemente, assistimos ao que pode ser o maior desastre ambiental da nossa história, falo do rompimento das duas barragens de rejeitos geridas pela Samarco, em Minas Gerais. Nosso modelo econômico teve parte nisso? Por que?
Sim, tem muito a ver com isso: a privatização da Vale; o descontrole sobre os investimentos estrangeiros na mineração; a fragilização do Estado nacional e de seu corpo técnico de funcionários; o imbróglio das "coalizões” políticas, nas quais não se sabe de quem é a responsabilidade e a autoridade efetiva; a impunidade nos desmandos da coisa pública; a conflituosidade que atingiu o Judiciário; enfim, são sequelas do desgoverno no neoliberalismo.

reproducao
Presidenta Dilma Rousseff sobrevoa área atingida por desastre ocasionado pela mineradora Samarco, em Minas Gerais
Que razões levaram o governo a adotar a agenda do ajuste fiscal que criticara nas eleições? O que se pode esperar caso aprofundemos a agenda da austeridade?
As razões da ingovernabilidade, causada por um orçamento em que os juros da dívida perfazem a metade do orçamento federal e 95% do déficit. Não há ajuste possível, a não ser que se elimine o Bolsa Família, se feche o sistema educacional público e o de saúde pública, preservando, é claro, as verbas necessárias à colossal ampliação do sistema presidiário, que deve crescer sobremodo. Não se corta o gasto público em crises, já nos ensinaram os grandes mestres da economia.
Quais são os caminhos para que retomemos o crescimento? Que medidas imediatas você sugeriria?
Não se pode aplicar nenhuma política macroeconômica de crescimento, quando se está atado a acordos internacionais que nos imobilizam: pouco ou nada podemos fazer com a nossa indústria, para protegê-la das importações, pois estamos atados à OMC [Organização Mundial do Comércio]; nossos bancos públicos tiveram seu grau de liberdade de ação pública restringidos pelo Acordo de Basiléia. Ou nos rebelamos contra esse estado insano de coisas ou acabaremos piores do que estamos, hoje. Nosso agrupamento ao BRICS e ao Mercosul são duas coisas boas e importantes, mas insuficientes para corrigirem a rota perdida.
Originalmente publicado em: http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/blog/2015/11/24/estamos-numa-crise-que-ja-conta-35-anos-de-idade-entrevista-com-wilson-cano/
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=87430

Mulheres em fuga: migrantes centro-americanas escapam da violência em seus países


Por Cristina Fontenele*, para agência Adital - Sociedade e povos em pavor (fonte no final do texto)
El Salvador, Guatemala, Honduras e México têm aumentado os pedidos de asilo nos Estados Unidos. Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) revelam que um número crescente de mulheres destes países está fugindo para escapar da violência descontrolada, perpetuada pelas gangues e pelos parceiros das vítimas. No relatório Women on the run (Mulheres em fuga), 85% das mulheres entrevistadas descreveram sua vida, em bairros controlados por grupos criminosos armados.

Segundo o relatório, estima-se que existam 20 mil membros de gangues em El Salvador, 12 mil em Honduras e 22 mil na Guatemala. Escapar da violência desses grupos é um dos principais motivos de fuga das mulheres de seus países.
Sem segurança em casa, as mulheres fogem para protegerem a si mesmas e seus filhos dos assassinatos, extorsão e estupros. Mas, nessas migrações forçadas, os mais vulneráveis também são as crianças e as mulheres. Estatísticas do governo dos Estados Unidos (EUA) mostram que mais de 66 mil famílias, em geral mães e crianças, chegaram aos Estados Unidos, em 2014.
A pesquisa da Acnur entrevistou 160 mulheres, que chegaram aos Estados Unidos desde outubro de 2013. Elas relatam como grupos criminosos aterrorizam a população de seus países, para controlarem grandes áreas. 64% das entrevistadas disseram terem recebido ameaças diretas e ataques de gangues, sendo este o motivo principal de fuga do próprio país.
Anya, de Honduras, relata: "eu vi o [cartel de drogas] matar alguém na rua, quando eu estava saindo da escola. Eles me viram fugindo. As ameaças começaram nesse dia. Eles me disseram que, se eu dissesse qualquer coisa ou me mudasse, eles me encontrariam e me matariam. O [criminoso] me estuprou duas vezes, me raptou quatro vezes, bateu no meu parceiro, e me maltratou de muitas outras formas. Eles disseram que iam me matar. Eles também disseram que, se eu não saísse, eles achariam minha família e a matariam também. Então, eu decidi ir”.
Além da violência imposta pelos grupos criminosos, existem os abusos físicos, sexuais e, muitas vezes, abusos psicológicos, realizado pelos próprios parceiros das mulheres. O relatório informa que 58% das entrevistadas deram testemunhos de agressão e abuso sexual. Quase todas as mulheres que sobreviveram de abuso doméstico lembraram que são chamadas de "vagabundas” ou "prostitutas” por seu parceiro.
Também há casos de violência e abuso policial. Uma transgênero de El Salvador relatou ao informe da Acnur: "eu fiz uma queixa criminal contra os policiais que me estupraram e me bateram, e eu tenho medo que eles vão me matar... Eles matam mulheres trans frequentemente . Eu tinha muitos amigas que foram assassinados”.
Separar-se dos filhos é outra situação de violência que enfrentam as "mulheres em fuga”. Mais de 60% das entrevistadas relataram que tiveram que deixar para trás uma ou mais crianças. Carolina, de Honduras, foi forçada a partir sem os filhos, que ficaram com o marido abusador. Em contato telefônico com a filha de 13 anos, Carolina revelou que o marido, agora, estava abusando da garota. "Ela [minha filha] está pagando pelo que aconteceu comigo”.
Cuba
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba denuncia que existe uma situação complexa de migração, envolvendo mais de 1 mil cidadãos cubanos que chegam a Costa Rica com a intenção de viajarem para os Estados Unidos. E acabam se tornando vítimas de traficantes e de grupos criminosos que, de maneira "inescrupulosa”, lucram com o controle da passagem dessas pessoas pela América do Sul, América Central e México.

Para o Ministério das Relações Exteriores de Cuba, a política de "pés secos-pés molhados” estimula a emigração irregular de Cuba para os Estados Unidos.
No documento, o Ministério denuncia também que esses migrantes se converteram em vítimas da politização do tema migratório por parte do Governo dos EUA, da Lei de Ajuste Cubano, em particular, da aplicação da chamada política de "pés secos-pés molhados”. "Pés secos” significam que aqueles que conseguem pisar em terra estadunidense poderão solicitar a residência permanente. "Pés molhados” referem-se aos indivíduos que tentam entrar nos EUA por via marítima e são interceptados, antes de alcançarem o objetivo.
"Essa política estimula a emigração irregular desde Cuba para os Estados Unidos e constitui uma violação da letra e do espírito dos Acordos Migratórios em vigor, mediante os quais ambos os países assumiram a obrigação de garantirem uma emigração legal, segura e ordenada”, afirma o Ministério cubano.

* Cristina Fontenele - Repórter E-mail: cristina@adital.com.br ou crisfonte@hotmail.com


http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=87491

Senador Delcídio PT-PSDB é um elo da corrupção histórica na Petrobrás

  • A mídia recortou os minutos convenientes da gravação e desprezou os trechos nos quais a quadrilha relembra a roubalheira deles no governo FHC

    • Todos os 3 poderes sabiam do que se tratava (executivo, legislativo, judiciário) 


Por Jeferson Miola, para site Carta Maior - Sociedade e jogo de poder no Brasil

Créditos da foto: Waldemir Barreto / Agência Senado  Waldemir Barreto / Agência Senado
Matar mulher é feminicídio; matar presidente é magnicídio; matar criança é infanticídio; matar de vergonha é Delcídio 
(Postagem no twitter)
 
As gravações das conversas entre o Senador Delcídio do Amaral, Bernardo Cerveró [filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró] e Edson Ribeiro [advogado do ex-diretor], são reveladoras do quão entranhável é a corrupção no estamento da política e dos negócios.
 
Se aquelas conversas fossem divulgadas sem a identificação dos interlocutores, ninguém hesitaria em reconhecer se tratar de um bando de bandidos reunidos para arquitetar crimes. Este fato é, em si mesmo, estarrecedor e escandaloso. A cassação do mandato de senador e a expulsão de Delcídio do PT serão os desdobramentos naturais.  
 
Tão escabroso quanto este fato, entretanto, é a seletividade do condomínio policial-jurídico-midiático de oposição, que recortou os minutos convenientes da 1 hora e 35 minutos da gravação e desprezou os trechos nos quais a quadrilha relembra a podridão e a roubalheira deles na Petrobrás ainda no governo FHC.  
 
Eles fizeram menção, por exemplo, à dinheirama depositada em bancos suíços originada de propina que receberam da empresa Alstom em 2001 e 2002, quando Delcídio era diretor da Petrobrás e Cerveró seu gerente. E também revelaram o nome do personagem que a décadas usa o lobista Fernando Baiano como preposto: o espanhol Gregório Preciado, que é casado com uma prima do senador tucano José Serra.  
 
Qual o procedimento policial e judicial instalado para investigar estes dois aspectos reveladores da gênese da corrupção na Petrobrás? Resposta: - nenhum! Houve cobertura midiática demonstrando jornalisticamente as conexões e os tentáculos tucanos na corrupção na Petrobrás? Resposta: nenhuma!  
 
A seletividade do condomínio policial-jurídico-midiático de oposição tem sido uma norma de conduta. Os responsáveis pela Lava Jato na Polícia Federal, no Ministério Público e no Judiciário simplesmente desconsideram testemunhos, indícios e provas que implicam políticos ligados ao PSDB e, além de não investigarem, arquivam as denúncias. E a mídia oposicionista completa o serviço, acobertando a verdade inteira.  
 
Foi assim com Pedro Barusco, o ex-gerente que confessou ter começado sua prática delituosa na Petrobrás na década de 1990, durante o governo FHC. Diante da confissão deste funcionário corrupto que devolveu 100 milhões de dólares roubados em 20 anos, qual a apuração da Lava Jato sobre o período FHC? Resposta: - nenhuma!  
 
Por uma estranha discricionariedade, o inquérito contra o senador tucano Anastasia foi arquivado, e a investigação sobre os 10 milhões de reais transferidos pelas empresas implicadas na Lava Jato ao PSDB na gestão do ex-presidente do Partido, Sérgio Guerra [já falecido], nunca prosperou. Qual a reação midiática a isso? Resposta: - nenhuma!
 
O chamado “mensalão” foi implacavelmente julgado para justiçar o período dos governos do PT. Entretanto, como está a investigação do “mensalão” mineiro, inventado pelo tucanato muitos anos antes? Resposta: - paralisada, podendo prescrever, e os envolvidos estão “todos soltos”.
 
A realidade não permite ilusões ou fanatismos alienantes: o Brasil está enfrentando uma das maiores crises morais e políticas da sua história. A corrupção é um fator desencadeante da corrosão moral que aflige o país. O mais importante, porém, é que pela primeira vez tudo está sendo investigado sem interferências do governo.
 
Esta conquista civilizatória do Brasil, de identificar e castigar a corrupção, poderá ser anulada por manobras maniqueístas do condomínio policial-jurídico-midiático de oposição, que recorta e seleciona a narrativa a ser construída, que visa preservar o PSDB e aniquilar o PT. Isso é contraproducente, porque dos mais de 100 indiciados na Lava Jato até agora, apenas 4 são identificados com o PT, e a imensa maioria pertence a outros partidos políticos.
 
Delcídio é um elo da corrupção histórica na Petrobrás; ele é o elo entre o presente e o passado; o elo corrupto entre o período FHC e o período Lula. Se, em razão disso, a Lava Jato não averiguar a raiz da corrupção na empresa, será uma agressão à justiça e à democracia.
 
Mais além da Lava Jato, é necessário um esforço de recomposição ética no Brasil, porque a corrupção está disseminada inclusive em práticas “legais”, ainda que imorais, em várias esferas da atividade pública nos três Poderes.
 
Só moralismo não resolve. Menos ainda o falso e seletivo moralismo. É necessário encarar esta crise de frente. O Brasil está num “mandrake político”, porque nenhuma força política se mostra crível como alternativa na crise. O país está à beira do abismo político e moral que ameaça produzir um forte estrago à economia nacional.
 
Este momento de impasse é, também, um momento de rediscussão de um novo ordenamento jurídico-institucional. A atual lógica, em especial quanto ao sistema político, é uma das causas da transição inconclusa da ditadura para um Estado de bem-estar social. O PMDB, Partido individualmente minoritário, domina a ciência de navegar neste sistema obsoleto e fisiológico, é um dos principais fatores do atraso e do retrocesso.
 
É urgente, por isso, se buscar o apoio da sociedade brasileira para a convocação de uma Assembleia Constituinte autônoma e específica, que discuta um novo ordenamento jurídico-institucional, começando pela reforma política e pela democratização profunda do Estado.

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Delcidio-e-um-elo-da-corrupcao-historica-na-Petrobras/4/35076