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8.05.2014

Por que a mídia brasileira é tão reacionária?

Silvio Caccia Bava * - mídia
Com um noticiário econômico com profunda carga ideológica, a desinformação e a dose diária de violência e insegurança que a mídia nos impõe, produzem a impressão de uma guerra de todos contra todos, na qual a família e o indivíduo estão à mercê da violência geral, com inimigos invisíveis por todos os lados. Propagam-se o medo e a ideia de crise iminente, de um governo fraco, omisso e patético. São os fundamentos para criar uma sociedade sem democracia e socialmente individualista.
As alianças que governos no passado fizeram com os poderes econômicos romperam-se na prática, ao menos com importantes setores como o financeiro e o das grandes corporações. Ainda que tenham contribuído com as campanhas eleitorais, eles estão visívelmente contra a administração pública. Mas não estão sós. O Brasil e suas riquezas interessam também ao capital internacional. Por exemplo, não é à toa que a revista The Economist sugere a mudança do ministro da Fazenda brasileiro, ou que as agências de rating ameacem rebaixar as notas para investimento no Brasil e suas companhias estatais. Tudo para criar um clima de derrotados...
O que permanece oculto nestas eleições é o projeto do Estado e os recursos públicos estarem direcionados cada vez mais para a distribuição de riqueza e poder. O projeto dos que detém o capital é promover um ajuste estrutural para aumentar os ganhos do setor financeiro, rebaixar o custo da força de trabalho e, com isso, facilitar a venda dos produtos brasileiros no exterior e aumentar seus já enormes lucros, privatizar os bens públicos, fazer o governo refém das políticas sociais hoje em prática, e abrir a economia para o capital internacional.
E contra o que se opõem com tanta força esses grandes interesses? Contra um modelo de distribuição de renda, contra a dinâmica da economia de hoje no aumento da distribuição de renda e da melhoria do mercado de consumo interno. O modelo atual da economia é distributivo e não dominante, e está crescendo em vários países da América do Sul, único continente que conseguiu reduzir a pobreza e a desigualdade na última década. No Brasil, esse modelo distributivo apresenta uma face moderada, mas com resultados positivos inquestionáveis e comprovados na prática. Sua manutenção e aprofundamento requerem políticas e investimentos públicos que vão contra os interesses do grande capital.
Há ainda uma dimensão política que preocupa os conservadores. O fortalecimento dos pequenos atores os faz também atores políticos, que pressionarão para alargar as fronteiras da atual democracia, melhorando assim a forma de pensar cidadã, onde se precisa avançar mais.
* Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil
http://www.diplomatique.org.br/editorial.php?edicao=85