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6.21.2017

O Lado da Sociedade Brasileira Má


Eu escritor: idólatra, canalha e mau escritor


por Ernani Ssó no Sul 21 - Sociedade e Elite Brasileira Escravista
Um leitor que se assina Regular Sized Randy – enfim encontro um nome mais idiota que Ernani Ssó, Cópia Autenticada ou Antônio Veado Prematuro – diagnosticou que estraguei meu talento e meu caráter ao idolatrar políticos. Não é grave que o Sized Randy pense assim – toda pessoa tem o direito inalienável de pensar inclusive que o chuchu pode justificar a existência ao menos como suflé –, mas, como fala em voz alta, seria razoável que não se escondesse atrás de um pseudônimo. Por nada não, só pra gente não pensar em covardia ou num processo por injúria e difamação.
Pra podermos discutir com clareza, copio aqui o comentário integral do Sized Randy. Ele foi feito a uma coluna minha do começo de maio intitulada “O banheiro da casa grande”. Retomo-o agora porque ando sem inspiração e assim ganho uma coluna praticamente de graça, sem falar que ele representa o pensamento em preto e branco de muita gente e eu gosto de lápis de cor, pintor frustrado que sou.
Com a palavra, o leitor: “Que triste ver um escritor com o talento do Ernani defender um bandido bilionário com clichês toscos do tipo ‘casa grande’ e ‘pobre andando de avião’, com direito a uma fanfic de última categoria (eu estava lá, eu era o alvejante!). Decididamente, idolatrar políticos faz mal não só ao caráter mas também ao talento”.
Em primeiro lugar, gostaria que o Sized Randy me apontasse onde e quando elogiei um bandido bilionário. Há, na rede, muitos textos atribuídos a autores que não os escreveram, vide Clarice Lispector e Luis Fernando Verissimo. Mas, que eu saiba, não há ninguém se passando por mim. Os impostores preferem se passar por gente famosa, não por um escriba obscuro, sem importância nem na rua onde mora.
Então, se o Sized Randy viu elogios ao Fernando Henrique Cardoso, que comprou pela metade do preço um apartamento de luxo de um banqueiro e uma fazenda com recursos que não se sabe de onde saíram, pode crer, não fui eu. Como também não fui eu que elogiou o Serra e o Aécio. Ou o Temer e sua quadrilha. Sem falar que duvido que essa gentalha, por mais que tenha faturado nas nossas costas, tenha chegado ao bilião. Pode ter chegado perto, mas ainda é apenas milionária. Os que chegaram ao bilião foram os corruptores, como o Joesley, os sacrossantos defensores da liberdade do mercado e da liberdade traçada com o indicador que aponta duro, “pero sin ternura”.
Mas, numa acusação, ladrão bilionário enche a boca, não é, Sized Randy?
Como na coluna essa lembro o episódio do vinho francês e afirmo que a casa grande não perdoa Lula por ter feito xixi no banheiro do palácio da Alvorada, o tal ladrão bilionário do Sized Randy não pode ser outro, confere? Se o Lula tivesse comprado o apartamento e a fazenda que o FHC comprou, a GloboNews, o Jornal Nacional, a Folha de S. Paulo, o Estadão, o Globo e vários outros falariam interminavelmente em crime: a história universal da infâmia política. Mas como FHC – que parece usar o filho mais velho como testa de ferro, feito o Serra com a filha – é FHC, continua paparicado. Até levam a sério o que o bestalhão diz, mesmo quando ele se contradiz de uma semana pra outra ou na mesma, como ocorreu dias atrás. Isso prova o óbvio: a corrupção só é escandalosa quando não é a elite bananense que lucra.
Posso usar elite bananense, Sized Randy, ou também já virou clichê?
O outro ponto é: onde está o bilião que o Lula teria roubado? Cadê os números das contas nos paraísos fiscais? Cadê os carros de luxo? Cadê os iates? Cadê a ilha em Angra? Cadê o apartamento em Paris na avenida Foch? Cadê os diamantes em bancos suíços como os do Cabral? Cadê a gravação pedindo grana? Cadê o vídeo da mala de dinheiro embarcando num táxi na calada da noite? Espera aí. Se quinhentos mil enchem uma mala, como se viu no caso do mandalete do Temer, o mafioso do Jaburu, quantas malas seriam necessárias pra levar um bilião? Contêineres não teriam facilitado o transporte? Em vez de táxi, uma frota de caminhões? Ou um navio?
O Moro esperneia, mas não conseguiu nem que as testemunhas de acusação confirmassem suas convicções, o que deve ser um recorde jurídico e deve levar o Moro ao Guinness. Fora o diz que diz, que deveria valer pra Justiça tanto quanto o comentário do Sized Randy, necas de pitibiribas.
Meu raciocínio é simples: se depois de três anos de investigação – suspeita-se inclusive que com a ajuda de agências gringas de espionagem e, sabe-se, expandida à família, amigos e quem sabe até a vizinhos – as provas não apareceram, das duas, uma: ou Lula é inocente ou é mais esperto que o FHC, o Serra, o Aécio e o Temer juntos. Ou ainda: Lula é inocente ou a força tarefa curitibana é de uma incompetência assombrosa.
Já sei, já sei! Pra não se comprometer, durante seus governos Lula acabou com os engavetamentos de processos, apoiou o combate à corrupção – vide lei 10.683/2003, primeira pista de sua manobra – e fortaleceu o Judiciário e a Polícia Federal. Como depuseram delegados federais, ele jamais interferiu nas investigações. Só um gênio do crime pensaria numa jogada dessas, né? Ainda mais com uma polícia com vários fãs do Aécio e assemelhados.
Mas e o bilião? Em novo lance de esperteza, ele escondeu o dinheiro em vez de gastá-lo. A Odebrecht enterrou o bilião sob o lago no sítio de Atibaia. Os pedalinhos serviam para levar a grana aos poucos, sem levantar suspeitas. Não, não. Isso seria muito demorado, precisaria de uns vinte anos devido ao volume da bufunfa.
Tenho uma hipótese melhor. Com a desculpa de desenvolver um programa espacial, o Lula botou o bilião em centenas de capsulas que estão em órbita. Como ele seria pego se começasse a esbanjar, porque não tem as costas quentes do Serra ou da mulher do Cunha, o plano dele é mais sutil: vai gastar o bilião na sua vida após a morte.
Mas, como estamos nessa vidinha de sempre do lado de cá da Ceifadora, fico à espera dessas provas. Elas aparecendo, atirarei pedra no Lula antes mesmo que o Sized Randy tenha tempo de pensar: “Eu não disse?”.
Li historiadores, sociólogos e economistas afirmando: o governo mais importante depois do de Getúlio Vargas foi o do Lula. Reconhecer isso é idolatria? Faça-me o favor, Sized, eu não idolatro nem escritores que reli mais de vinte vezes. Eu simplesmente não posso ignorar quarenta milhões de pessoas tiradas da miséria absoluta. Aviso, no caso de você querer contar, que quarenta milhões de pessoas é mais que meia dúzia. Dá um trabalhão.
Como também não ignoro o fato de que os rentistas deitaram e rolaram durante os governos Lula. Essa é minha maior crítica. Não engulo mesmo. Isso e a falta de coragem de ao menos tentar regular uma mídia absolutamente criminosa. Enfim, o Lula não é esquerda suficiente pra mim.
Nunca me interessei muito por política por um motivo simples: não confio no bípede implume. Mas sentar sobre meu ceticismo não me parece uma boa saída. Acho que devemos brigar, se não pra melhorar o mundo, pelo menos pra que não vá rápido demais pros quintos. É que tenho um filho, sabe? E sobrinhos. E amigos com filhos. Daí me preocupo um pouco com o futuro. Vá que esses imprudentes queiram ter filhos.
O fato de os números do governo Lula serem infinitamente melhores que os do FHC isenta Lula de críticas? Ou prova que no PT só há santos? Só um idiota chapado acharia que sim. É exatamente o que o Sized Randy me considera. Minha inteligência estaria limitada aos proverbiais Tico e Teco, os dois neurônios solitários que animam ou desanimam o cérebro de tanta gente. Certo que sou meio bobo mesmo, mas, depois de uns testes, me disseram que não estou abaixo de cinco neurônios.
Exemplos límpidos da ação do Tico e Teco? Há quem confunda Sérgio Moro com o milionário Bruce Wayne quando mascarado. É pouco? Numa manifestação, uma pessoa carregava um cartaz que dizia que Moro era o filho que Cristo mandou pra nos salvar. Idolatria é isso aí. Ou não, parece mais doença mental mesmo.
O Sized Randy considera “casa grande” um clichê tosco. Por quê? Trata-se de uma expressão muito clara. Mais, mesmo que fosse um clichê tosco, a elite bananense continua existindo, continua burra e continua voraz – a sua mentalidade ainda é a do dono de engenho. O Sized Randy faria melhor em se preocupar com a realidade desses brucutus que acreditam em sangue azul do que se melindrar com minha linguagem.
Pobre andando de avião não é um clichê. Trata-se de um fato ocorrido durante os governos Lula. Mas, de novo, mesmo que fosse um clichê, o fato continuaria real e a reação da elite bananense seguiria a mesma, com o mesmo nível de calhordice.
Por fim, o Sized Randy acha que a historinha que contei sobre um rico que mandou trocar o vaso sanitário em que o operário fez xixi é de última categoria. Por quê? Por que é grotesca e mostra um rico no triste papel principal? Sabe o que parece, Sized Randy? Que, pra defender o rico hiper-higiênico, você trata de desqualificar o que contei.
O Sized Randy acha que inventei isso. Olha, eu adoraria ter inventado, mas minha imaginação não dá pra tanto. Como qualquer ficcionista, eu invento sobre coisas e pessoas que conheço. Os muito ricos, por uma mera questão monetária, estão fora da minha vida cotidiana.
Outra coisa: o Sized Randy diz que a historinha é uma “fanfic” e que era uma forma de eu dizer: “eu estava lá, eu era o alvejante!”. Espera aí. Eu começo dizendo que um senhor que veio fazer um serviço aqui em casa me contou o caso. Dois mais dois: se eu sou o ouvinte, não posso ter estado presente, confere? A lógica do Sized Randy parece curitibana, poxa!
“Fanfic”? O Sized Randy não tem a menor ideia do que significa isso. Olha, meu caro, “fanfic” é uma ficção de fã. Um macaco de auditório qualquer pega personagens de livros ou filmes ou games e desenvolve suas próprias aventuras. Contar um caso que uma pessoa nos contou é só contar um caso que uma pessoa nos contou. Antes de tentar parecer culto e descolado, é melhor dar uma pesquisada, conferir as coisas. Só pra não dar vexame.
A conclusão do Sized Randy é pra lá de enfática: “Decididamente, idolatrar políticos faz mal não só ao caráter mas também ao talento”. Numa tacada ele diz que sou um canalha que escreve mal. Que eu escrevo mal, todo mundo sabe. Vamos então à minha canalhice.
Ela se deve à idolatria por políticos. Sim, no plural. Sized, por favor, me mande a lista desses políticos. Dito da forma como você diz, tanto posso idolatrar dez como cento e cinquenta. Caso não consiga achar um número acima de cem ou de dez, serve uma lista de dois. Só pra você não ser pego pela palavra.
Todas as pessoas que fizeram minha cabeça são da área da literatura. Cortázar, Borges, Kafka, Svevo, Conrad, Stendhal, Trevisan, Quintana e mais uns trinta ou quarenta, como já disse em várias colunas aqui mesmo. Se não acho que nenhum desses escritores é Deus, por que eu acharia isso de um ou de vários políticos? No mínimo, eu teria de ter passado por uma lobotomia nesse meio tempo.
Meus ataques aos Moros da vida têm uma explicação simples: o caso particular de Lula ou de outros é o de menos, o que interessa é o que está se fazendo do Estado de Direito. Eu acho a democracia uma bosta completa, principalmente a de fachada como a do Bananão, mas as outras opções fedem mais. Não tenho ilusão nenhuma: o que escrevo nem arranha a casca do Bananão. Mas ao menos tenho a satisfação de não ficar calado.
Olha Sized Randy, minha canalhice não foi tão grande que me levasse pra rua com o cartaz: “Somos todos Cunha”. Eu não estava gostando nenhum pouco do governo da Dilma, mas minha canalhice não foi tão grande que me levasse pra rua pra atropelar a democracia e botar a quadrilha do Temer no poder (dessa vez há provas e mais provas, aliás ignoradas soberanamente pelo Moro).
E você, meu caro? O que fez nesse meio tempo? Aliás, o que faz agora? Ou fiquei surdo, ou você e tua turma não estão batendo panela?
*Ernani Ssó é o escritor que veio do frio: nasceu em Bom Jesus, numa tarde de neve. Em 73, entrou pro jornalismo porque queria ser escritor. Saiu em 74 pelo mesmo motivo. Humor e imaginação são seus amuletos.

Ministro do STF Barroso concede liminar que suspende aprovação da MP da regularização fundiária pelo Senado



Com tramitação irregular e aprovação derrubada no Senado, PLV (antiga MP 759) permite a venda de terras na Amazônia | Foto: Portal Brasil

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso concedeu liminar que suspende os efeitos da aprovação do Projeto de Lei de Conversão (PLV) 12/2017 pelo plenário do Senado. Com isso, o texto retorna à Câmara e os deputados deverão rediscutir as emendas em dez dias corridos a partir do seu recebimento.
Barroso também determina que o presidente Michel Temer (PMDB) devolva o PLV ao Congresso, para que não seja sancionado. Enquanto durar o prazo concedido, permanece em vigor o texto original da medida provisória.
O pedido de concessão de liminar faz parte do mandado de segurança impetrado por senadores e deputados do PT que questionam as irregularidades na tramitação do projeto no Senado, onde foi aprovado em 31 de maio, antes de seguir para sanção de Michel Temer (PMDB). A petição foi protocolada no último dia 10.
O PLV tem origem na MP 759, enviada ao Congresso em 23 de dezembro de 2016. Mais conhecido como MP da regularização fundiária, o projeto permite, entre outros pontos, a regularização de grandes condomínios construídos em terras griladas, a compra de lotes da reforma agrária por ruralistas após dez anos da titulação e a venda de terras na Amazônia.
Os parlamentares questionam irregularidades na tramitação e a redação dada às emendas na comissão mista que discutiu a MP. De acordo com eles, oito das 732 emendas tiveram seu sentido totalmente alterado no texto que seguiu ao plenário do Senado.
A decisão de Barroso está sendo comemorada. A advogada especialista em regularização fundiária e integrante do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU), Rosane Tierno, avalia que a liminar reconhece as falhas ocorridas na votação. “Isso fortalece nossos argumentos para a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que deveremos ingressar. Além do mais, o governo está agonizando e muita coisa pode acontecer nesse 10 dias. A validade da MP já expirou, o que é objeto de questionamento na Justiça”, diz Rosane.
A MP tem validade de 60 dias, prorrogável por 60. Com a aprovação do PLV, há mais 15 dias úteis, relativos ao prazo para sanção presidencial. “Se a liminar anula a aprovação do PLV, já se passaram 139 dias, 19 além do prazo de validade”, lembra a advogada.
Assinam o mandado os senadores petistas Gleisi Hoffmann (PR), Lindbergh Farias (RJ), Humberto Costa (PE), Paulo Rocha (PA), Maria de Fátima Bezerra (RN), Maria Regina Sousa (PI), Paulo Paim (RS), José Pimentel (CE) e os deputados Afonso Florence (BA), Paulo Teixeira (SP) e João Daniel (SE).


Ministério Público Federal (MPF) investiga irregularidades na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

Comando da comissão tem no currículo pesquisas financiadas por indústrias de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Ligações podem respaldar ação do MPF contra planta geneticamente modificada

por Rede Brasil Atual e redação do Correio do Brasil   – Sociedade e Alimentação com Elevados Riscos no Brasil
Os conflitos de interesses envolvendo integrantes da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) estão na mira dos procuradores da Câmara de Meio Ambiente do Ministério Público Federal (MPF). Entre outras coisas, eles apuram ligações de ex e atuais integrantes com entidades voltadas ao lobby pró-transgênicos, com indústrias de sementes, de agrotóxicos e de alimentos que terão lucros com a biotecnologia, bem como posicionamentos públicos em desacordo com a função que ocupam na comissão. É o caso de componentes que assinam cartas abertas à comunidade científica em defesa desses organismos geneticamente modificados (OGM).

No começo de junho, a CTNBio liberou a comercialização da cana transgênica. A planta é das mais estudadas pelo presidente do órgão, agora em meio a suspeitas de conflitos de interesses
Por mais transparência dos procedimentos e processos, o MPF enviou ofício à CTNBio no dia 15 de maio. O coordenador da Câmara de Meio Ambiente. O subprocurador-geral da República Nívio de Freitas. Que assinou o ofício, elenca medidas a serem tomadas no órgão criado para assessorar o governo federal em tema por natureza tão complexo, que são os transgênicos.
Entre elas, dar mais objetividade e especificidade ao regimento. Inclusive com hipóteses expressas para a conduta ética dos seus integrantes. Para que interesses públicos e particulares não sejam confundidos em prejuízo da sociedade brasileira.
Do mesmo modo, criar mecanismos para a distribuição equânime, equilibrada e impessoal dos eventos submetidos a análise na comissão e dar publicidade às reuniões. Tudo isso à luz das leis 12.846/13, mais conhecida como “lei anticorrupção” e a 12.813/13, que caracteriza a presença do conflito de interesses sempre que a atribuição no exercício do cargo proporcionar informação privilegiada capaz de trazer vantagem econômica para o agente público.

CTNBio

No entanto, esse princípio estabelecido pela legislação que dispõe sobre essas relações no poder executivo ainda não é adotado no órgão. Pelo regimento interno, o conflito é reduzido. De maneira genérica, à participação de membro na análise de processo na unidade operativa da instituição proponente. Com a qual possua vínculo institucional. Assim como a vinculação do membro à comissão interna de biossegurança da instituição onde trabalha.
A CTNBio afirma já estar discutindo alterações em seu regimento. Que preveem ampla revisão da legislação vigente. O tema estará na pauta da próxima reunião, em agosto.

Assédio econômico

O conhecido assédio econômico das grandes corporações transnacionais, comum em todo o mundo. Encontraria terreno fértil também em falhas normativas internas. Especialmente a ausência de critérios claros e objetivos para a distribuição isenta dos processos. Para liberação de transgênicos e para definir impedimentos e até a suspeição de determinados componentes em relação a procedimentos.
Ou mesmo para a escolha dos pedidos de liberação que serão analisados e colocados em votação. Outro aspecto destacado pelos procuradores é a dificuldade de acesso da sociedade civil às reuniões. Principalmente aquelas que liberam, para pesquisa ou comercialização, novos transgênicos. A comissão, por sua vez, argumenta que todas as reuniões são públicas. Exceto aquelas para discussões referentes às informações sigilosas.
As irregularidades comuns desde que a CTNBio foi criada, em 2005. Estariam associadas à aprovação de todos os processos de liberação desses organismos submetidos à comissão. Formada por especialistas em diversas áreas. Todos com título mínimo de doutor, cujos mandatos de dois anos podem ser renovados por mais duas gestões conforme as indicações de seus respectivos segmentos.
Em outras palavras, até hoje a ampla maioria desses doutores, muitos deles na área de saúde, com larga experiência inclusive em câncer e outras doenças diretamente associadas aos agrotóxicos e, indiretamente, aos transgênicos, aprovaram e continuam aprovando os OGMs apesar da insuficiência e falhas das pesquisas científicas a respeito. Nessa maioria estão nomes reconhecidos mundialmente e até representantes de entidades sindicais de empresas estatais, em descompasso com os sindicatos cada vez mais convergentes na defesa da saúde pública, ambiental e do princípio da precaução. 

Preocupação

– Outra preocupação que temos é com a falta de clareza dos critérios para colocação dos pedidos de liberação em pauta de votação. Não sabemos quais definem o que que vai ser colocado em votação, o que não vai. É importante que isso fique claro para que as pessoas saibam quais são os processos que vão entrar me votação – afirma o coordenador do grupo de trabalho Agrotóxicos e Transgênicos da Câmara de Meio Ambiente do MPF, o procurador Marco Antônio Delfino. 
Em 8 de junho passado, pouco mais de um mês após receber as recomendações do MPF, a CTNBio aprovou a liberação comercial da cana de açúcar modificada geneticamente para a inserção de toxinas inseticidas, que a princípio seriam capazes de matar a broca da cana, sua praga mais comum. O pedido, protocolado no final de dezembro de 2015, tramitou em regime de urgência.
Em 17 meses o OGM estava aprovado. E isso apesar das falhas apontadas por um parecer a respeito dos testes apresentados pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Para especialistas, essas pesquisas estão longe de atender às próprias regras da comissão. Muito menos de garantir a segurança da biotecnologia em questão quanto à saúde e ao meio ambiente. Tampouco sua eficácia, que será minimizada com o esperado aumento da resistência das pragas conforme demonstrado em pesquisas de longo prazo realizadas nos Estados Unidos, apresentadas à comissão na única audiência pública realizada, em outubro passado. Não é à toa que novas canas geneticamente modificadas, dessa vez resistentes a herbicidas, estão na fila. 

Liberação

Segundo integrantes da CTNBio, que ainda não divulgou ata da sessão de 8 de junho. Entre os 15 doutores que votaram pela liberação da cana transgênica está o presidente da comissão, Edivaldo Domingues Velini. Professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu desde 1985. E seu diretor de 2009 a 2013. O agrônomo dedicou grande parte de seu tempo a pesquisar plantas daninhas, herbicidas e a cana.
Em seu currículo Lattes, disponível na base de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Velini declara que. Além das agências oficiais de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). E o próprio CNPq, indústrias de agrotóxicos e de sementes transgênicas têm financiado boa parte de suas pesquisas. O que levanta indícios de conflito de interesses. 
A Arysta Lifescience, empresa de atuação global. Detentora de mais de 200 ingredientes ativos utilizados em fungicidas, herbicidas, inseticidas e tratamento de sementes. Está entre os maiores financiadores de pesquisa conduzidas por ele em parceria com outros colaboradores. Entre eles alunos e sócios em seus negócios privados.
A parceria com a indústria começou em 2005, para o desenvolvimento de aplicação de herbicida contra ervas daninhas da cana, e continua por meio de um estudo iniciado em 2008, para avaliar mecanismos para determinar condições de seletividade de herbicidas inibidores da fotossíntese da cana de açúcar. Nesse meio tempo, foram financiados outros três, geralmente envolvendo agrotóxicos e cana.
Com atuação no mercado de agrotóxicos e sementes transgênicas, a alemã Basf financiou dois estudos. Um de longa duração, entre 2003 e 2008, em busca de informações quanto ao melhor uso de um de seus herbicidas em cana de açúcar, e outro entre 2008 e 2011 para instalação de ensaio de eficácia biológica em cana e eucalipto.
De 2008 para cá, a concorrente Syngenta tem pago pela avaliação do desempenho de herbicidas em cana de açúcar. E de 2004 a 2007, outra gigante do setor, a Dow Agroscience, financiou testes de Velini para o desenvolvimento de método para estimativas para aplicações comerciais de agrotóxicos.

Outra ligação

O presidente da CTNBio tem outra ligação com o mundo dos herbicidas e da cana. De acordo com a Junta Comercial de São Paulo (Jucesp). Até março passado ele era sócio da empresa de consultoria Agro-Analítica. Empresa, aliás, que financiou algumas de suas pesquisas com herbicidas e cana no período de 2005 a 2007, e de 2008 a 2010.
Outra coincidência seria o foco da atuação da Agro-Analítica no setor canavieiro. Desde 2007, a consultoria é responsável pela organização do Encontro Tecnológico da Cultura da Cana de Açúcar – Tecnocana, grande evento do segmento. A Tecnocana deste ano, realizada nos dias 15 e 16 de março. Enquanto Velini ainda era sócio da consultoria, obteve patrocínio da Arysta, Basf, Bayer, Dow, Du Pont e Syngenta, entre outras.
Para Marco Antônio Delfino, do MPF, a CTNBio sempre mereceu atenção. E preocupação, dos procuradores da Câmara de Meio Ambiente. Questionado sobre os dados levantados pela reportagem. Ele destaca a necessidade de mais elementos a serem apurados. Mas adianta. “Falando de maneira objetiva, Velini não poderia ter colocado o processo em votação e nem votado. Então, se ele votou, é possível ser anulada a sessão que liberou a cana porque haveria um conflito de interesses manifesto.” 
http://www.correiodobrasil.com.br/mpf-investiga-irregularidades-na-ctnbio/

Professora que desmascarou Míriam Leitão é ameaçada e presta queixa na delegacia


A vida da professora pós-doutora que desmentiu Míriam Leitão não tem sido a mesma desde o dia 13 de junho último. A docente procurou a delegacia após uma série de ameaças de agressão física, de morte e até sexual

por redação do site Bem Blogado - Sociedade e Extratos Sociais com Ódio e Raiva no Brasil
 
Bem Blogado

A professora da UFF, que é PhD em Planejamento Regional pela Universidade de Illinois, EUA, e pós-doutora pelo IPPUR/UFRJ, tem sofrido inúmeras agressões pelas redes sociais, ao ponto de ter resolvido ingressar com queixa na Delegacia de Crimes na Internet.

“Jumenta, lixo, vadia, pistoleira, vagabunda, cretina, retardada, cadela petista”, mais palavrões e ameaças de agressão física, de morte e sexual por parte de homens e mulheres estão entre os comentários recebidos por Lúcia Capanema.

Tudo isso em razão de Lúcia ter escrito um texto, no Bem Blogado, no dia 05 de junho, estranhando a presença de um agente da Polícia Federal no voo 6342, Avianca, Brasília/Rio para questionar passageiros antes da decolagem e ordenar a filmagem do desembarque. Fora isto, de acordo com a passageira, o voo foi normal, e ela não percebeu a presença da jornalista Míriam Leitão ou de qualquer menção a ela, que estava apenas 4 fileiras à sua frente. Só ficou sabendo que a global estava no voo depois da matéria do dia 05/06.

A professora resolveu desmentir a jornalista, quando, em O Globo de 13 de junho, além de acusar os passageiros de agressão verbal, Miriam Leitão afirmou que a Polícia Federal não entrou no avião. Outras pessoas presentes no voo, igualmente, desmentiram a global. Foi o bastante para que fossem achincalhados nas redes sociais pela direita raivosa que não aceita um mundo democrático, onde haja contraponto.

Professora, qual será a sua atitude perante os acontecimentos?


Estou agora entrando com pedido de providências na delegacia contra 30 pessoas/entidades que consegui identificar na internet por calúnia, difamação e injúria. Estou solicitando ainda que se identifique os responsáveis por perfis que se escondem atrás de falsas identidades. São ataques de ódio recheados de violência pelo simples fato de que eu forneci, na internet, evidências de que uma jornalista havia mentido.

A que a senhora atribui tanto ódio?


Desde 2005, guardo comigo um artigo do economista Paul Singer acerca das raízes do ódio, em que ele diz: “A onda de agressões contra o PT, veiculada por toda grande imprensa, é espantosa em sua violência, em sua unilateralidade e em sua cegueira”; mais à frente, discorrendo sobre o ódio ideológico ele diz que “atinge os que querem preservar a sociedade brasileira do jeito que ela é. […] São os cidadãos que querem acabar com ‘essa raça pelos próximos 30 anos‘” (Folha de São Paulo, 24/09/2005).

Pelo acontecido com a senhora, o clima de ódio só tem aumentado
.

Espantoso constatar que após doze anos desta publicação, as relações de classe no Brasil recrudesceram, criando uma direita composta não só pelas elites – o que seria até compreensível -, mas por duas frações da classe média: aquela antiga, que não deseja se misturar ou mesmo ser confundida com os mais pobres, a mesma que odeia dividir o asfalto da Zona Sul, o shopping e os aeroportos com a classe mais baixa, e aquela ascendente, chamada classe “C”, que tanto se beneficiou com as políticas dos governos populares e agora lhes volta as costas porque deseja esquecer suas origens e se considerar parte efetiva da classe média.

Por que isso acontece?


As duas frações têm algo em comum: não percebem que todos os seus direitos e conquistas estão ameaçados pelo governo golpista e governos de feição neoliberal em geral, engendrados pela aliança entre capital e imprensa. Têm também em comum com as elites um individualismo exacerbado a níveis nunca vistos. Um individualismo que nega o outro, que se realiza no consumo e na hiper-realidade da TV e da internet.

Há uma mudança de paradigma, portanto.

Sim, por meio de um mecanismo em que praticamente não se pode discernir relações causais e antecedências, a mídia global e o grande capital se associam para fazer crer ao cidadão agora transformado em apenas consumidor, que sua felicidade se encontra no “ter” e não no “ser”, no se assemelhar a, e se aproximar das celebridades fabricadas, que naturalmente exibem os símbolos consagrados pelo poder.

Como fica a influência midiática?

O cidadão comum se vê próximo, inacreditavelmente próximo, daquela celebridade que não conhece, chamando-a comumente pelo primeiro nome: “Fátima hoje parece abatida”. Da mesma forma, considera-se antagonicamente próximo àqueles que se colocam em outro espectro (o popular); se acha pessoalmente ofendido por aqueles que o contrapõem e, portanto, no direito de ofendê-los de maneira desmedida e pretensamente íntima.

Vivemos cada dia mais num mundo – e friso aqui, trata-se de fenômeno global, de natureza não só sociológica ou psicológica, mas relativo à economia e à geopolítica mundial – triste e sem humanidade ou “com-paixão” nos seus sentidos mais profundos. E o pior: tem gente lucrando com isto.
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