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2.09.2022

Aprofundamento da fragilidade econômica global e a bolha chinesa

As economias mundiais, inseridas no capitalismo, devido a cegueira e arrogância com que imaginam conseguir superar qualquer crise sistêmica global, em que suas grandes corporações vivem em depredação e competição estilo “guerra de guerrilha” perante seus concorrentes, além de outras situações que compõem a fragilidade econômica mundial, dificilmente tem percepção do risco econômico eminente e fissuras gigantes a aumentar constantemente no centro da maior economia global, que é a China

por redação da A Nova Democracia – Sociedade e Capitalismo Global Frágil e Riscos de Crise

  Figura na internet, capitalismo global frágil

A economia mundial vive eternamente em crise cíclica, na qual mergulhou em 2008 e devido a degradação da cadeia econômica global originada nos EUA, devido a bolha imobiliária. Com a ocorrência da pandemia covid-19 a partir de 2019, desenha-se outra bolha mundial, ao estilo do grande “crack” estadunidense. A única potência imperialista que vinha na contramão da recessão no período 2019-2021, a China, agora está às bordas de sua própria crise geral de superprodução relativa, especificamente no setor imobiliário, que é o principal ramo de sua economia, respondendo por 30% de seu PIB e concentrando, portanto, uma grande massa de sua população; sem contar os ramos subsidiários que se sustentam e operam em torno dessa atividade econômica.

A corporação chinesa Evergrande, segunda maior gigante do país, contraiu e acumulou uma dívida de 300 bilhões de dólares para impulsionar a produção no ramo imobiliário. Tanto os capitais fictícios (economia especulativa) afugentaram-se, decaindo o preço geral das ações no mercado financeiro (desvalorização do capital), como também os preços dos terrenos na China decaíram (17,5%, em agosto de 2021), demonstrando que os efeitos “em dominó” começam chamar atenção da situação econômica existente naquele país oriental. Já são 65 milhões de residências ofertadas no mercado e ociosas na China, equivalente ao número total de residências na França. A superprodução já está dada, apenas faltando o seu efetivo colapso.

Tal é a lei fundamental do capitalismo, elevada à milésima potência na sua fase monopolista e última: a produtividade, elevada sem precedentes pela burguesia monopolista com fins de baratear a produção e alcançar a taxa máxima de lucro possível, extrapola a capacidade de consumo social. Os baixos salários – apenas o mínimo necessário para sobrevivência das famílias – pago às massas trabalhadoras, somado a um crescimento irrefreável da produção global, tornam impossível que tais mercadorias – e, portanto, que os capitais invertidos em todos os ramos da economia e na especulação, inclusive o capital fictício – encontrem mercados na sociedade. Ou melhor: há consumidores em potencial, pessoas desejosas e necessitadas de mercadorias, mas estes não podem comprá-las segundo necessitam, na mesma proporção em que são produzidas. O resultado é a crise geral cíclica de superprodução relativa, que, vejam só, pode ser relativamente debelada com o crescimento ainda maior da pobreza, mas com consequente aumento da produtividade, combinação cujo resultado será uma crise maior.

A inadimplência e a demissão em massa neste setor da economia chinesa – visto que não se pode continuar produzindo para um mercado saturado – tornará mais restrito o mercado consumidor, visto que tais desempregados ficarão na miséria. A inadimplência produzirá a derrubada de outros setores da economia, num efeito dominó, que agravará a restrição do mercado, afetando decisivamente o mercado mundial. Como diz Marx, é essa a única dialética – a dialética da crise geral do capital – que os capitalistas podem entender quando estourar as crises, pois poderão ficar em completo desespero!

É claro que a explosão de uma crise de superprodução na China teria impacto econômico em todo o sistema econômico mundial; os impactos sociais e políticos poderão ser ainda mais graves, com tendência a maior desenvolvimento da situação explosiva da pobreza mundial, ainda que de modo desigual mundo afora. Nas nações em desenvolvimento e pobres, poderá haver a retirada de direitos trabalhistas com maior ênfase, assim como, necessariamente, a retirada dos direitos civis. O risco é de ocorrer avanços de partidos da ultra-direita associados ao fascismo, assim como a busca desesperada pelo lucro máximo quanto as grandes corporações. E o Brasil, como país sub-desenvolvido depende globalmente de movimentos gerados dentro do sistema capitalista, no qual os EUA tem elevada influencia econômica em nosso país. Nesse contexto, ocorre a profunda crise dentro do capitalismo burocrático brasileiro – a maior de sua história, que já se arrasta por sete anos – além da crise de legitimidade democrática após o golpe de 2016, com o impeachment de Dilma. Isto levou o Brasil a maior crise sistema dos últimos 40 anos, em cujo cenário, é a população de menor renda em verdadeira situação de caos.

As economias mundiais, inseridas no capitalismo, devido a cegueira e arrogância com que imaginam conseguir superar qualquer crise sistêmica global, em que suas grandes corporações vivem em depredação e competição estilo “guerra de guerrilha” perante seus concorrentes, além de outras situações que compõem a fragilidade econômica mundial, dificilmente tem percepção do risco econômico eminente e fissuras gigantes a aumentar constantemente no centro da maior economia global, que é a China.

Publicação na A Nova Democracia: 16 jan 2022

Fonte: https://anovademocracia.com.br/noticias/17040-editorial-semanal-sinais-de-aprofundamento-da-crise-mundial