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4.29.2016

Dinheiro Secreto


  • O que preocupa os admiradores do capitalismo é que, enquanto esta fortuna é armazenado em contas secretas, os chineses expandem seus investimentos e ganham cada vez mais espaço nos cinco continentes

por Frei Betto para agência Adital - Sociedade, Concentração de Dinheiro e Pobreza (fonte no final do texto)


Tudo o que acontece em casa, diz o Evangelho será proclamado dos telhados. Isso está acontecendo agora com 11,5 milhões de contas mantidas em segredo por 40 anos nos escritórios de advocacia Mossack-Fonseca, no Panamá. 
É o escândalo conhecido como Papers Panamá.
Eles são contas offshore, o que significa, em tradução livre, "negócios fora." Offshore é uma empresa legalmente constituída fora do país que investiram seu capital. Portanto ter contas offshore não é um crime.
Isto levanta suspeitas é o fato de em geral, que está localizado no mar em paraísos fiscais ou em países que não cobram impostos. Assim, o anonimato é garantido em razão da nacionalidade dos titulares das contas, que não precisam declarar essa quantia para a entidade correspondente em seus países.
A divulgação das contas permite-lhe comparar a fortuna guardada no Panamá com as fontes desses valores e a herança de seus proprietários, que devem demonstrar que essas contas não escondem negócios ilícitos ou evasão fiscal.
Claramente, fica-se com a pulga atrás da orelha. Por que uma pessoa coloca seu dinheiro fora do país e também em locais que garantem o anonimato e isenção tributária?
Na Papers Panamá aparece na lista 57 brasileiros, incluindo Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados; Edison Lobão, o ex-ministro de Minas e Energia; e o cantor Roberto Carlos. Em outros países, os mais conhecidos são: Putin, presidente da Rússia (através dos seus parceiros); Bachar al-Assad, presidente da Síria; Gunnlaugsson, o primeiro-ministro da Islândia (que, embaraçado, renunciou); Mauricio Macri, presidente da Argentina; Abdulaziz, o rei da Arábia Saudita; Proshenko, Presidente da Ucrânia; e Messi, jogador argentino.
Algo intrigante é que os três principais jornais dos EUA (New York Times, Wall Street Journal e Washington Post) não deram importância à notícia dessas fortunas secretas.
Tudo indica que o governo dos EUA irá atrás da publicação dos Documentos de Panamá, para desmoralizar os inimigos como Putin e Bashar al-Assad, e, assim, remodelar a ordem econômica internacional. Este fim é, na verdade, uma desordem. 
Em janeiro deste ano, a Oxfam, ONG britânica, revelou em Davos que apenas 62 pessoas no planeta tem uma fortuna equivalente a de 3.600.000 pessoas no mundo, ou seja, equivalente a metade da população do mundo. Esses bilionários tem escondido em paraísos fiscais 7.6 bilhões de dólares ou 26 bilhões de euros.
O que preocupa os admiradores do capitalismo é que, enquanto esta fortuna é armazenado em contas secretas, os chineses expandem seus investimentos e ganham cada vez mais espaço nos cinco continentes: americano, europeu, asiático, africano e oceania. As crescentes desigualdades sociais na maioria dos países antes tomadas como meros efeitos da "mão invisível" do mercado, agora são vistos com preocupação, porque eles exigem gastos pesados ​​em redes de segurança social e estimulam todas as formas de violência, incluindo o terrorismo.
Se tem a ilusão de que o capitalismo trata de admitir que precisa ser um pouco mais humano, o fato é que tal acumulação de riqueza em bancos secretos reduzem níveis de investimento, e pode ameaçar o colapso do sistema financeiro internacional mais cedo que se possa imaginar. Das 200 empresas que participam anualmente no Fórum Econômico Mundial em Davos, entre dez, de acordo com a Oxfam, nove fortunas estão em paraísos fiscais e na Europa.
Um projeto que está sendo pensado pelo governo dos EUA é acabar com o dinheiro físico, papel-moeda, e usar apenas dinheiro virtual, tais como, cartões de crédito e transações on-line. 
Isso tornaria as operações mais facilmente controláveis ​​por parte dos bancos sérios e governos. Como observado pelo jornalista cubano Luis Manuel Arce, isso é o mesmo que cada cidadão levasse um microchip sob a pele.

Frei Betto

Escritor e consultor de Movimentos Sociais
Twitter @freibetto
http://www.freibetto.org/
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=ES&cod=88774

O golpe no Brasil e a discreta embaixadora dos EUA

  • “O controle político da Suprema Corte é crucial para garantir impunidade dos crimes cometidos por políticos hábeis. Ter amigos na Suprema Corte é ouro puro”
  • Se o golpe paraguaio vingar no Brasil, retrocederemos em todas as áreas e, mais uma vez, gerações terão seus sonhos abortados e projetos adiados

Por Caco Schmitt, no blog RS-Urgente - Sociedade e geopolítica dos EUA na América do Sul

A afirmação não é de agora e nem de quem critica o STF por não prender o Cunha, por enrolar a posse do Lula etc. Foi feita há cinco anos pela pessoa que hoje é a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde. A diplomata exercia o cargo de embaixadora no Paraguai (de 2008 a 2011) quando se reportou ao governo norte-americano, relatando a situação do país. Ela deixou o cargo poucos meses antes do golpe que destituiu o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, mas deixou o caminho azeitado. Aqui no Brasil, no cargo desde outubro de 2013, esta personagem é cercada de mistérios e sua vinda pra cá, logo após o golpe parlamentar paraguaio, não foi gratuita.

Liliana Ayalde assumiu seu posto no Brasil cinco meses antes da Operação Lava Jato começar a fase quente. Chegou discretamente, sem entrevistas coletivas, em meio à crise provocada pela denúncia do Wikleaks de que os norte-americanos espionavam a presidenta Dilma, o governo brasileiro e a Petrobras. Segundo Edward Snowden, “a comunidade de espionagem dos USA e a embaixada norte-americana têm espionado o Brasil nos últimos anos como nenhum outro país na América Latina. Em 2013 o Brasil foi o país mais espionado do mundo”, afirmou o ex-funcionário da CIA e ex-contratista da NSA. 
A mídia brasileira, por óbvio, já preparando o golpe, de modo totalmente impatriótico, não divulgou para o povo brasileiro. E escondeu a grave denúncia de Snowden, que afirmou: “NSA e CIA mantiveram em Brasília equipe para coleta de dados filtrados de satélite. Brasília fez parte da rede de 16 bases dedicadas a programa de coleta de informações desde a presidente Dilma, seus funcionários, a Petrobras até os mais comuns cidadãos, foram controlados de perto pelos Estados Unidos”.

Liliana Ayalde veio ao Brasil comandar a embaixada de um país que fortalecia o bloco chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), contrário aos interesses do grande capital norte-americano; e de um país que exerce forte influência sobre os países sul-americanos com governos populares, todos contrários aos interesses militares dos Estados Unidos na América do Sul. A vinda da embaixadora pode ser mera coincidência?

Não. Segundo informações oficiais da própria Embaixada norte-americana, Ayalde chegou ao Brasil com 30 anos de experiência no serviço diplomático. Trabalhou na Guatemala, Nicarágua, Bolívia, Colômbia e, recentemente, como subsecretária de Estado adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental, com responsabilidade pela supervisão das relações bilaterais dos Estados Unidos com Cuba, América Central e Caribe. Anteriormente serviu como vice-administradora sênior adjunta da USAID no Bureau para América Latina e Caribe. Entre 2008 e 2011 ela serviu como embaixadora dos Estados Unidos no Paraguai”. Ou seja: sabe tudo de América Latina…

As “pegadas” reveladas

Na internet encontramos vários textos e análises feitas depois do golpe no Paraguai de 2012 que hoje ficam mais claros e elucidam os fatos. Vejam o que escreveu o jornalista Alery Corrêa , no Brasil em 5 Minutos: “O golpe de Estado contra Fernando Lugo, presidente paraguaio, começou a ser orquestrado em 2008, mesmo ano de sua eleição, a qual colocou fim ao reinado de 60 anos do partido Colorado, mesmo partido do antigo ditador Alfredo Stroessner… A mesma Ayalde assumiu em agosto de 2013, sem muito alarde, a embaixada brasileira. Segundo a Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, ‘a embaixadora Liliana Ayalde vem ao Brasil com 30 anos de experiência no serviço diplomático’. Em um momento de intenso acirramento político e disputa de poder. O impeachment entra em pauta. A imprensa mais agressiva do que nunca. Não se tratasse de política, diríamos que foi mero acaso. Mas sabemos que não existe falta de pretensão quando se trata dos interesses norte-americanos. Na verdade, eles veem crescer a oportunidade de colocar as mãos no pré-sal brasileiro e estão conscientes da chances reais que possuem com e sem o PT em cena. E certamente, todas as possibilidades já foram avaliadas pelo imperialismo norte-americano”.

Outro texto é da jornalista Mariana Serafini, no Portal Vermelho. “Em um despacho ao departamento de Estado do dia 25 de agosto de 2009 – um ano depois da posse de Lugo – Ayalde afirmou que ‘a interferência política é a norma; a administração da Justiça se tornou tão distorcida, que os cidadãos perderam a confiança na instituição’. Ou seja, apesar da agilidade do processo de impeachment, a embaixadora já monitorava a movimentação golpista três anos antes do julgamento político. No mesmo despacho afirmou que o ‘controle político da Suprema Corte é crucial para garantir impunidade dos crimes cometidos por políticos hábeis. Ter amigos na Suprema Corte é ouro puro’. ‘A presidência e vice-presidência da Corte são fundamentais para garantir o controle político, e os Colorados (partido de oposição ao Lugo que atualmente ocupa a presidência) controlam esses cargos desde 2004. Nos últimos cinco anos, também passaram a controlar a Câmara Constitucional da Corte’, relatou a embaixadora dos USA no Paraguai”.

No Paraguai, a embaixadora não ficou indiferente ao processo de impeachment, como ela mesma disse no relatório confidencial: “Atores políticos de todos os espectros nos procuram para ouvir conselhos. E a nossa influência aqui é muito maior do que as nossas pegadas”.

E deixaram muitas pegadas, segundo artigo de Edu Montesanti: “No Paraguai, os golpistas agiam em torno da embaixadora. Em 21 de março de 2011, a embaixadora recebeu em sua residência blogueiros paraguaios a fim de ‘conversar’ sobre paradigmas e diretrizes para aqueles setores societários que já estavam desempenhando importante papel na sociedade local. Em tese, para conhecer melhor o trabalho deles, discutir a importância dos blogs na sociedade e a importância da aproximação deles com os governos”.

Laboratório de golpes

Blogs, movimentos de internet, Senado, Suprema Corte… qualquer semelhança entre o golpe em curso no Brasil e o golpe paraguaio não é mera coincidência. O golpe no Paraguai é considerado um dos mais rápidos da história, consumado em 48 horas. O presidente Fernando Lugo foi derrotado no Senado por 39 votos favoráveis ao impeachment e quatro contra. Caiu em 22 de junho de 2012. Uma queda rápida, mas que teve uma longa preparação… Assim como no Brasil, cujo golpe começou a ser gestado não no dia das eleições presidenciais de outubro de 2014, quando a oposição questionou a seriedade das urnas e queria recontagem de votos, mas bem antes. Quando? Depois que o modelo paraguaio de golpe deu certo, conseguindo afastar pela via parlamentar um presidente democraticamente eleito pelo voto.

No seu artigo de junho de 2015, o jornalista Frederico Larsen afirma: “a destituição de Lugo, em 2012, foi o melhor ensaio realizado a respeito do que se conhece como golpe brando, o golpe de luva branca. Trata-se de um método para desbaratar um governo sem a intervenção direta das Forças Armadas ou o emprego clássico da violência. Para alcançar isto, basta gerar um clima político instável, apresentar o governo em exercício como o culpado pela crise e encontrar as formas de dobrar a lei para derrubá-lo. Foi isto o que, três anos atrás, aconteceu no Paraguai”.

E José de Souza Castro, em artigo no blog O Tempo, em 5 de fevereiro de 2015, profetizou: “Dilma pode sentir na pele o golpe paraguaio”. E destacou o papel da embaixadora Liliana: “No Paraguai, ela preparou, com grande competência, o golpe que derrubou o presidente Fernando Lugo”.

É o que acontece agora no Brasil: um golpe parlamentar, com apoio da mídia golpista. Um golpe paraguaio.

O Paraguai foi um dos países que mais sofreram com a ditadura militar patrocinada pelos Estados Unidos, nos 35 anos do general Alfredo Stroessner (1954 – 1989). Foi a primeira democracia latino-americana a cair. Depois caíram Brasil, Argentina Chile e Uruguai. No Paraguai foi testado o modelo do combate à guerrilha a ser usado, os métodos cruéis de tortura trazidos dos USA pelo sádico Dan Mitrioni e ali nasceu a famosa Operação Condor, um nefasto acordo operacional entre as ditaduras. A CIA transformou o Paraguai no laboratório que testou o modelo de golpe militar a ser seguido e que derrubou governos populares e assassinou milhares de pessoas. Agora, o Paraguai serviu novamente de laboratório de um novo tipo de golpe está em curso no Brasil.

O que nos aguarda

Se o golpe se concretizar, o Brasil “paraguaizado” terá um destino trágico. São raros os estudos sobre o que mudou no país vizinho pós-golpe parlamentar e jurídico, mas o artigo de um ano atrás de Frederico Larsen joga uma luz sobre as verdadeiras intenções do golpe: “Suas primeiras medidas se basearam em outorgar poderes especiais ao Executivo, especialmente em matéria de segurança. Deu vida à Lei de Segurança Interna, que permite ao governo, sem aprovação do Parlamento, a militarização e declaração de Estado de Sítio em regiões inteiras do país com a desculpa da luta contra a insurgência do Exército do Povo Paraguaio (EPP). Os movimentos camponeses denunciam que com esta lei, os militares efetuam despejos e violações aos direitos humanos, favorecendo ainda mais a concentração da terra. Conseguiu aprovar a lei de Aliança Público-Privada (APP), que permite a intervenção de empresas nos serviços que são providos pelo Estado, como infraestrutura, saúde e educação. Em especial, deu um estrondoso impulso à produção transgênica no setor agrícola”.

A publicação Diálogo – revista militar digital – Forum das Américas, de 14/05/2010, manchetou a exigência da embaixadora Ayalde: ““Devem ser repudiados todos os fatos que atentem contra a vida das pessoas e contra a propriedade privada”. Portanto, os deputados golpistas representantes da oligarquia rural, senhores da terra, e da UDR que pressionam o golpista Temer para que o Exército cuide dos conflitos de terra já estão adotando o modelo paraguaio contra os movimentos sociais.

Se o golpe paraguaio vingar no Brasil, retrocederemos em todas as áreas e, mais uma vez, gerações terão seus sonhos abortados, projetos adiados e a parcela fascista, preconceituosa e enfurecida da direita virtual sairá dos computadores e ganhará, de fato, poder nas ruas…

4.27.2016

Estudo indica que há pouca transparência na gestão de recursos hídricos nos estados



  • Artigo 19 e GovAmb constataram que há pouca participação social e baixo interesse dos gestores públicos em divulgar dados da gestão da água nos estados brasileiros

por Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual - Sociedade e Recurso Hídricos no Brasil
Eduardo Saraiva/A2IMG
São Paulo – Estudo produzido pela ONG Artigo 19 e o Grupo de Acompanhamento e Estudos em Governança Socioambiental (GovAmb), utilizando dados sobre gestão de recursos hídricos disponíveis à população nos 27 estados brasileiros, indica “inabilidade e incapacidade” dos agentes públicos em responder à necessidade de decisões de curto prazo – em casos de severa estiagem e falta de água, por exemplo, como ocorrido em São Paulo, nos dois últimos anos. “Essa observação é muito preocupante pois indica que instituições participativas estão sendo deixadas de lado, uma vez que prevalece a tomada de decisão centralizada em momentos de crise por falta de água”, diz o documento.
Segundo o estudo, a ausência de algumas informações nas páginas dos órgãos pode indicar a inexistência delas. Outra grande preocupação é a falta da participação da sociedade civil, com a predominância excessiva de decisões centralizadas. “É muito grave que entre 2013 e 2015, dois anos em que vivemos períodos intensos de estiagem e de crises hídricas sem precedentes, a maioria dos estados brasileiros tenha regredido no índice de transparência”, afirma Mariana Tamari, oficial do programa de Acesso à Informação da Artigo 19 e uma das responsáveis pelo estudo.
O estudo analisou os níveis de transparência com base no método Índice de Transparência no Manejo da Água (Intrag). Uma pontuação de 0 a 100 é atribuída a cada estado com base nas informações disponíveis em 2015 nas páginas eletrônicas dos órgãos gestores em seis temas: Informações sobre o Sistema Hídrico; Relações com o Público e as Partes Interessadas; Transparência nos Processos de Planejamento; Transparência na Gestão dos Recursos e Usos da Água; Transparência Econômico-Financeira; e Transparência em Contratos e Licitações.
De acordo com o documento, a transparência no acesso às informações relativas à gestão de recursos hídricos no Brasil está longe de poder ser considerada satisfatória. As informações referentes ao sistema hídrico (como níveis de reservatórios e rede de distribuição) foram as mais acessíveis. Porém, informações de planejamento e gestão, econômico-financeiras e as relativas a contratos e licitações são muito pouco acessíveis.
Pelo ranking, Minas Gerais, São Paulo e Goiás são os três estados mais transparentes no manejo de seus recursos hídricos. Já os estados do Maranhão, Amapá e Piauí são os menos. Nenhum estado, porém, apresentou níveis satisfatórios de transparência. Minas Gerais, o mais transparente, atingiu somente 65 pontos em uma escala de zero a 100 (Nível de Transparência Médio).
Os gestores de recursos hídricos dos 27 estados foram procurados pelas organizações para apresentar informações que não estavam disponíveis nos sites. Porém, após solicitação, somente Goiás, Ceará, Mato Grosso, Pará, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo revisaram os documentos e apresentaram alguma resposta, muitas vezes insuficiente.
Para Tamari, o estudo apontou também para um desinteresse pelo aprimoramento da transparência no país. “Todos os estados tiveram a oportunidade de corrigir problemas encontrados pelos pesquisadores e pesquisadoras e apenas sete dos 27 avaliados retornaram. Isso mostra que não é dada a devida prioridade à transparência, mesmo em meio à grave crise política que atravessamos”, concluiu.
água

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/04/estudo-indica-que-ha-pouca-transparencia-na-gestao-de-recursos-hidricos-nos-estados-682.html

Golpe e resistência

  • Ironicamente, deve-se à direita a reaglutinação das forças de esquerda - o impedimento

por Roberto Amaral  - Sociedade e Disputa de Poder no Brasil (fonte no final do texto)
Levi Bianco/Brazil Photo Press/AFP
Manifestante
As emoções desses dias enunciam embates profundos
Na sua inexcedível capacidade de superar a fantasia, a política rasteira nos transportou, no domingo 17, para o imaginário de Macondo, promovendo o encontro do realismo fantástico com o espírito de Macunaíma, no que ele tem de moralmente grotesco e de lassidão. A sociedade, preocupada com os destinos de seu país, postou-se diante da tevê para saber como votavam seus representantes chamados a decidir o destino do mandato da presidenta da República.
Mas, no lugar de um espetáculo cívico, presenciou uma ópera-bufa. Por horas, assistiu incrédula e, certamente, constrangida ao desfilar tragicômico de personagens ridículos que se sucediam diante das câmeras. Assim, o Brasil conheceu a Câmara e seus deputados. Aplausos para as exceções.
Não se ouviu dos adeptos do “sim” um só conceito político ou jurídico, um só desenvolvimento de raciocínio adulto, lógico, mas, tão só, um desalentador desfilar de sandices e pieguices: referências domésticas, familiares, expressões de uma religiosidade primitiva... Absoluta ausência de senso e decoro. Ao fundo, a algaravia de mercado persa, incompatível com uma Casa de Leis. Mestre de cerimônia do espetáculo burlesco, reinou impávida essa figura abjeta representada pelo ainda presidente da Câmara, deputado-réu, materialização de Frank Underwood, que salta da série estadunidense e dos esgotos do Capitólio para conviver conosco.
O espetáculo grotesco oferecido pela Câmara Federal expõe à saciedade quão imperiosa é a reforma, profunda, do sistema eleitoral que a produziu. Mas como esperar que nossos parlamentares livrem a legislação das mazelas e vícios que garantem a reprodução de seus mandatos? Pois essa Câmara abriu o processo de impeachment (impedimento).
Uma Casa de maioria hegemonizada por um agrupamento de acusados, presidida por um parlamentar consabidamente desonesto, no comando de um processo de cassação de uma presidenta consabidamente honesta. E, se esse processo tiver curso no Senado, há risco de vermos uma presidenta legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos ser substituída por um vice perjuro, sem um só voto.
Pobre política brasileira.
A crise da democracia representativa nacional está exposta à luz do sol e pode atingir o paroxismo, que certamente tomará as vestes de crise institucional, no iminente encontro da desmoralização parlamentar com o exercício da Presidência por um vice sem legitimidade.
Longe de promover o encontro da Nação com seu destino, de liderar a distensão política a caminho da união nacional, o hipotético governo será instrumento de desagregação, agravando a até há pouco escamoteada luta de classes, que será aprofundada, independentemente do que fizerem os movimentos sociais, em razão das características da crise e do remédio prometido pelo receituário neoliberal e exigido pelos financiadores da caríssima campanha pró-impeachment (pró-impedimento): menos investimentos, mais superávit primário e menos compensações sociais, flexibilização do trabalho e reforma da Previdência (contra os aposentados),  mais privatização, mais recessão, mais desemprego. E, cereja do bolo, a entrega do pré-sal às multinacionais do petróleo. Ao fim e ao cabo, mais crise social.
Aliás, deve-se à direita o desmanche das ilusões de conciliação de classe que por tanto tempo encantaram lideranças petistas, imobilizando-as diante da luta ideológica, a que renunciaram, como renunciaram seus governos às reformas que poderiam, sem ferir o sistema, alterar a estrutura do Estado e promover uma correlação de forças favorável às massas. Renunciaram a uma reforma tributária progressiva, renunciaram à reforma política (daí a Câmara de hoje, que será sucedida por outra ainda pior), à democratização dos meios de comunicação de massa, à reforma do Poder Judiciário, à reforma agrária, à reforma do ensino militar, para citar as mais ingentes.  
Um governo de origem popular, recém-saído de uma refrega eleitoral para cujo desfecho a esquerda foi decisiva, opta pelos entendimentos de cúpula que cevaram as forças que o trairiam na primeira oportunidade. Para agradar ao “mercado”, opta por um reajuste fiscal recessivo, afasta-se de suas bases e não conquista a classe dominante, para quem acenava. Essa continuou no comando do golpe, do qual o 17 de abril não é nem o ponto de partida nem o ponto de chegada.
O processo histórico é, porém, contumaz em pregar peças, e assim ficamos a dever à direita brasileira a reaglutinação das esquerdas e do movimento social, e a virtual unidade, na ação, do movimento sindical. Foi a ameaça da captura do Estado, sem voto, para alterar a agenda de prioridades, projeto da classe dominante brasileira, que reconciliou o governo com as massas, quando essas descobriram que o golpe era mesmo contra elas, isto é, contra os direitos dos trabalhadores, agora em 2016 como em 1954 e em 1964.
A iminência do golpe de Estado, operado a partir das entranhas do Estado, por setores do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Judiciário, mas articulado de fora pelas forças de sempre (o monopólio ideológico dos meios de comunicação liderados pelo sistema Globo), ensejou às esquerdas, como mecanismo de defesa que logo se transformou em instrumento de luta, a unidade na ação, de que resultou a Frente Brasil Popular, e, com ela, a unificação dos movimentos populares e as grandes mobilizações.
A consigna “Não vai ter golpe, vai ter luta”, que em outras palavras significa a retomada, pela esquerda, da questão democrática, e a decisão pelo enfrentamento, tanto funcionou como discurso aglutinador quanto orientou a ação. Nas ruas, as massas redescobriram sua força, e não pretendem refluir. O movimento social, assim, está na fronteira de um salto de qualidade que lhe permitirá caminhar da defesa da legalidade e da democracia para as eleições e a construção de um novo tipo de sociedade. Golpeadas pela farsa doimpeachment, as esquerdas se preparam para unir a luta parlamentar à luta nas ruas.
As emoções desses dias parecem enunciar embates de duração, intensidade e profundidade impossíveis de prever. 
*Ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB, partido do qual se desfiliou
.http://www.cartacapital.com.br/revista/898/golpe-e-resistencia

'Ocidente' vive num 'mundo imaginário' (e a Rússia sugere regras para o mundo real)

A nova luta ideológica, de Sergey Karaganov

por Blog do Alok - Sociedade e Geopolítica Mundial (fonte no final do texto)


26/4/2016, Sergey Karaganov,* Izvestia (ru.), e Rússia Insider (trad. ru.-> ing., por Julia Rakhmetova e Rhod Mackenzie) -Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Durante uma década depois da autoextinção da URSS, foi como se o mundo estivesse livre da disputa pela dominação ideológica. Muitos especialistas concordavam que o mundo caminharia para sistema único de valores, baseado na democracia liberal ocidental e no capitalismo. Europa e EUA acenaram com a liberdade e com o sistema político vencedor que aquelas nações pareciam ter para oferecer ao mundo.

Os anos 2000s trouxeram outra realidade.

Naquela euforia, o 'ocidente' começara a impor à força as suas posições e valores políticos (Afeganistão, Iraque e Líbia). Mas perdeu a disputa. O apoio 'ocidental' à primavera árabe desestabilizou ainda mais o Oriente Médio, o que fez a democracia parecer cada dia menos atrativa.

Depois da crise financeira de 2008-2009, o modelo econômico do Consenso de Washington cedeu ante os chineses: uma maioria de países em ascensão decidiu não seguir as receitas de Washington.

Ao mesmo tempo, a Europa, e em menor grau também os EUA, abandonaram os valores que haviam 'oferecido' ao mundo, pelo menos os cristãos, e passaram a impor um multiculturalismo raso, uma nova tolerância zonza na abordagem das relações sociais e familiares, inaceitáveis para a maioria das culturas e povos não 'ocidentais'.

A abordagem das relações internacionais proposta por europeus sinceros e EUA calculistas, denunciaram soluções forçadas e esferas de influência baseadas exclusivamente na lei internacional. Começou quando a Alemanha, e depois a União Europeia, reconheceram ilegalmente a divisão de Bósnia e Croácia, separadas da Iugoslávia, o que levou à guerra civil a ao atroz bombardeio do país em 1999 e, com o tempo, também à agressão contra Iraque e Líbia.

Outro importante valor da Europa Ocidental moderna – a não violência e o pacifismo – vai-se tornando 'incômodo' no mundo novo e hoje imprevisível chamado 'ocidente'. Os europeus, que padeceram os horrores de duas guerras mundiais, tentaram impor aqueles valores ao mundo. Como seria fácil prever, as coisas saíram pela culatra e acabaram piores que nunca antes: a entrada massiva de cidadãos de outras culturas (que começou há décadas) forçou a Europa a adotar e adaptar políticas de direita, abandonando parcialmente importantes liberdades democráticas, supostamente para assegurar alguma ordem e segurança. Esse processo é extremamente doloroso e dispara reações ideológicas.

A alternativa trazida pela Rússia apareceu com ainda mais brilho, posta sobre o pano de fundo do 'ocidente'. A ameaça de um desafio russo contra a elite europeia explica-se em parte pelo fato de que, na busca de meios para se auto-restaurar, a Rússia oferecia ao mundo memes e valores mais viáveis e mais atraentes.

Em relações internacionais, esse tipo de soberania do estado, com identidade cultural e pluralismo, contradiz o meme 'ocidental' da universalidade como ideologia dominante.

A Rússia defende conceitos como honra e dignidade nacionais e coragem. Para muitos europeus são valores que parecem antiquados, inspirados pelas guerras que os europeus lançaram e perderam. De algum modo, a Rússia conseguiu sair vitoriosa naquelas guerras – a custo monstruoso – e também está pronta para defender pela força a própria soberania e valores de que a Europa também carece. 

No "mundo de Putin", é impensável que os homens não defendam as próprias mulheres e os próprios valores, como aconteceu em Colônia, Alemanha, quando das agressões causadas por migrantes. Os europeus têm medo desse novo mundo duro, feroz, que é hoje 'personificado' pela Rússia.

A segunda mensagem ideológica da Rússia ao mundo é que o consumo não é tudo nem resume tudo nem resolve tudo. Mais importantes são a dignidade individual e nacional e a busca de objetivos mais 'elevados', como o crescimento interno. A Rússia apoia todas as religiões e todas as aspirações religiosas, e está preparada para defender cristãos.

A terceira mensagem é a prontidão, na Rússia, para seguir princípios tradicionais de política externa, incluindo defender pela força seus interesses nacionais, especialmente se tiverem sólido fundamento moral.

Esse conjunto de mensagens e valores garante à Rússia considerável "soft power" [poder suave], apesar da menor riqueza relativa e da 'falta' de liberdade [liberal].

A luta é urgente. O 'ocidente' supôs que tivesse vencido, mas agora já se vê que está sendo derrotado, e a Rússia recolheu a vantagem de uma política não ocidental atraente para a maioria dos países, inclusive muitos do 'ocidente'. Mas não parece ter planos para exportar essa sua ideologia, como o 'ocidente' faz, para vingar qualquer eventual derrota passada.

A alternativa vem do passado, do "moderno" sistema de Westphalia, mas visa à maioria. O "pós-modernismo" europeu e 'ocidental', que pareceria mais humano e progressista, está perdendo espaço, provavelmente por ser absolutista, ou porque a maioria dos humanos não estão preparados para essas ideias.

Depois da reação forte da Rússia contra a expansão ocidental na Ucrânia, a chanceler alemã Merkel acusou Putin de viver num mundo imaginário. É. Melhor seria talvez se todos fôssemos cegos e vivêssemos – sempre de olhos bem abertos! –, numa mesma realidade humana falsamente pacifista e falsamente tolerante.*****




* O autor é decano do Departamento de Economia Mundial e Política Global da Escola Superior de Economia de Moscou e um dos mais influentes especialistas russos. Em 1992, Sergey Karaganov escreveu (apud "Sergey Karaganov, o homem por trás da combatividade de Putin", 30/3/2014, The Globe and Mail):

"Estamos numa situação de pré-guerra mundial, mas, por causa das armas atômicas, não chegaremos lá" – disse ele, antes de agradecer aos cientistas soviéticos que garantiram à Rússia o seu poder de contenção. – "Mas podemos ter situação militar, ou quase-militar".

Sanções, disse o prof. Karaganov, não empurrarão a Rússia na direção que os líderes 'ocidentais' gostariam de vê-la marchar.

"Sanções mostram que nossos colegas 'ocidentais' não compreendem coisa alguma. Eles pensam que Putin e seus homens lutam por dinheiro. Não. Eles só lutam por po
der e pela honra.
http://blogdoalok.blogspot.com.br/2016/04/a-nova-luta-ideologica-por-sergey.html

4.20.2016

Brasil, melhor dividido que (des)governado




Editorial da revista recifense Será?, prefere um país dividido do que um país sem governoEditorial da revista recifense Será?, prefere um país dividido do que um país sem governo

O Brasil está rachado, fraturado e dividido em dois blocos visíveis, mesmo com os naturais conflitos internos de cada lado. Mas a divisão é desigual, no tamanho e na forma.
De um lado, uma maioria significativa (quase dois terços dos brasileiros, a julgar pelas pesquisas) repudia o governo do PT, PCdoB, PDT, PSOL, pequena parte do PP, PMDB, PR e a presidente Dilma Rousseff, indignada com o desmonte da economia e a onda de corrupção.
Do outro lado, a maioria se mobiliza para tentar o impedimento (ou impeachment), recorrendo ao discurso da velha falsidade ideológica e aos mitos do milagre da distribuição do pão, slogan mais ouvido na ditadura militar de 1964.
Mas, enquanto a maioria forma uma massa dispersa, desorganizada e sem lideranças, a minoria é conduzida por alguns partidos e liderada por políticos carismáticos, tendo irradiação em várias organizações da sociedade, como por exemplo, desde CUT à CNBB, ao movimento LGBT, parcela da OAB identificados, principalmente, com a abertura democrática e a administração pública federal brasileira.
Normalmente, as minorias organizadas são hegemônicas, ganhando o apoio ou, no mínimo, a tolerância da maioria, o que vinha ocorrendo nos anos anteriores de liderança dos partidos plurais; não se pode esquecer que grande parte dos brasileiros que se mobiliza agora pelo impedimento da presidente, votou nela nas eleições presidenciais de 2014, há poquissimo tempo atrás.
Diante dos dados e fatos e das evidências da gritante pressão das elites, desde um judiciário injusto e machista, passando por interesses escusos internacionais e uma imprensa dominadora e antidemocrática,  a minoria organizada está tendo dificuldades gigantescas de manter o rumo político popular e está isolada.
Conserva capacidade de mobilização, mas não convence a maioria dominada pela elite que, mesmo dispersa, desorganizada e sem liderança, converge e se articula, através dos diferentes meios amplamente questionados, em torno de um objetivo central: afastar o PT e demais partidos plurais citados acima, do poder político brasileiro.
Independentemente do resultado da votação da Câmara de Deputados, que aconteceu neste final de semana, o Brasil está fragmentado em grandes disputas e profundos ressentimentos, que devem ameaçar o futuro incerto. Como tudo indica, o impedimento pode ser aprovado.
Se isto ocorrer, certamente haverá uma minoria organizada na oposição, seja qual for o governo da elite que venha a dominar o poder político federal
Esta minoria está demonstrando uma oposição implacável e convincente, a julgar pelos discursos de figuras de destaque como o representante do MST em discurso recente no Palácio do Planalto, CUT, CNBB, entre outras entidades oficiais, que buscam a justiça popular e social.
Dias difíceis poderão vir, mas, muito pior, seria se o (des)governo continuasse. 
(Publicado originalmente na Revista Será? Penso logo duvido, Recife, www.revistasera.info).
Editorial Revista Será?, editada no Recife.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
http://www.correiodobrasil.com.br/brasil-melhor-dividido-que-desgovernado/

Candidato a presidente nos EUA Bernie Sanders: EEUA não devem continuar derrubando governos na América Latina

  •  Bernie Sanders, declarou que a política de intervenção dos EUA na América Latina deve chegar ao fim
por site o cafezinho - Sociedade e Geopolítica dos EUA (fonte no final)
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Foto: no Sputnik Brasil
O pré-candidato à presidência norte-americana pelo Partido Democrata, Bernie Sanders, declarou que a política de intervenção dos EUA na América Latina deve chegar ao fim.
"Temos que ser honestos. A história dos Estados Unidos em relação à América Latina foi a de uma nação poderosa, com o exército mais forte do mundo, dizendo: 'Não gostamos deste governo, vamos derrubá-lo'", afirmou o democrata.
Segundo Sanders, deve se iniciar um período baseado no “respeito mútuo”, ressaltando que os golpes de Estado resultaram em "caos" e "massacres".
"Os Estados Unidos não podem continuar intervindo na América Latina e derrubando governos ou tentando desestabilizá-los por razões econômicas", acrescentou o pré-candidato em vídeo divulgado na internet.
No vídeo, em que Sanders conversa com o vocalista do grupo porto-riquenho Calle 13, René Pérez, o democrata disse ser o único com uma visão das relações diplomáticas com a América Latina diferente da que imperou nas últimas décadas.


“Não é um segredo que Allende foi derrubado pela CIA e que após isso surgiu um governo neofascista que foi responsável pelo assassinato de milhares de pessoas. Isso é inaceitável", observou o senador de Vermont, ao comentar a intervenção norte-americana no golpe militar chileno.
Bernie Sanders concorre com a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, a disputa pela candidatura democrata. Nesta terça-feira (19) os dois se enfrentam nas primárias de Nova Iorque.
http://www.ocafezinho.com/2016/04/20/bernie-sanders-eua-nao-podem-continuar-derrubando-governos-na-america-latina/

Dilma prepara ida a Nova York e cogita denunciar golpe em cerimônia da ONU?

  • A presidente Dilma deverá mesmo ir Nova York, nos Estados Unidos, para participar da reunião sobre clima na Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira, 22. Dilma pretende falar na tribuna internacional para denunciar o  golpe contra seu mandato, por considerar que está sofrendo impeachment sem crime de responsabilidade. A previsão é que a presidente embarque na quinta-feira, 21, e volte ao Brasil no sábado, dia 23

por site osamigosdopresidentelula (fonte no final)
Na semana passada, a viagem dependia da não aprovação do processo de impeachment na Câmara. Com a derrota, a viagem foi suspensa, mas agora, com a estratégia de difundir a mensagem de ruptura institucional, a presidente voltou a discutir o assunto e deverá mesmo viajar, a não ser que alguma mudança de última hora faça a presidente desistir.
OEA critica golpe contra  contra Dilma e "tucano" foi se explicar
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, o uruguaio Luis Almagro, publicou nota oficial dizendo que “o impeachment constitui um ato de flagrante ilegalidade”. O documento também afirma o seguinte:

“Nossa organização fez uma análise detalhada sobre o julgamento político que teve início contra Dilma e concluiu que não se enquadra nas normas que sustentam esse procedimento”
Luis Almagro
Secretário-geral da OEA

A posição do representante da OEA,  sediado em Washington. 
Para convencer interlocutores internacionais  que o PSDB não é golpista, o  senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) foi escalado por Temer para ir aos Estados Unidos. O senador tucano embarcou para os EUA com a missão de “explicar que o Brasil não é uma república de bananas”.

Além da OEA, Unasul também criticou o impeachment

A crítica do representante da OEA foi seguida por posição semelhante do secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), o colombiano Ernesto Samper. O representante do órgão sediado em Quito, no Equador, que representa 12 países sul-americanos, disse o seguinte:

“Aceitar que um mandatário possa ser tirado do cargo por supostas falhas em atos de caráter administrativo levaria a uma perigosa criminalização do exercício do governo por razões de índole simplesmente políticas”
Ernesto Samper
Secretário-geral da Unasul

Além da OEA e da Unasul, presidentes de outros países da região e até de órgãos da ONU também criticaram o impeachment. Governos mais à esquerda - como os da Bolívia, Equador e Venezuela -  também fizeram defesa da presidente Dilma.
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2016/04/dilma-prepara-ida-nova-york-e-cogita.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+blogspot/Eemp+%28Os+Amigos+do+Presidente+Lula%29 

E se Dilma convocar eleição antes de cair?

  • Só pode governar quem ganha no voto

por Paulo Henrique Amorim do site Conversa Afiada - Sociedade e Poder em Luta (fonte no final do texto)

bessinha sim sim sim

Como o PT e o PCdoB não poderiam tomar essa iniciativa, foi o senador Roberto Requião, a face saudável do PMDB e do Paraná, quem deu a largada oficial para a campanha Eleições Diretas já, já!

A iniciativa para enviar ao Congresso uma mudança dessa natureza é exclusivamente da presidenta Dilma.

É o que diz a Constituição.

Não adianta o Senador Paim, que passa a vida inteira calado, a fugir das questões centrais, como o Suplicy fugia, não adianta o senador Paim querer aprovar no Senado um projeto para realizar eleições.

Ele não tem poder para isso.

Quem tem é a Presidenta.

Ela deve cair no Senado lá pelos dias 12 ou 13 de maio.

Não adianta recorrer ao Supremo, porque o Supremo jamais reveria decisões das duas casas do Congresso.

O Golpe já houve.

Portanto, ela tem que tomar a iniciativa em nome da Democracia.

Do respeito à vontade popular.

O Cerra quer ser Ministro da Fazenda no Governo do Temer.

Ele queria ser Ministro da Fazenda no Governo do Idi Amin Dada e, depois, derrubá-lo, para ser ditador.

Isso não é novidade.

Mas, como se sabe, nem o PSDB dará legitimidade ao Temer e ao Cunha.

Ao contrário: o Temer e o Cunha acabarão por desmoralizar o PSDB.

Será uma batalha feroz aprovar as Diretas já, já!

A Globo não vai querer!

A Globo pretende ocupar, de novo, o Ministério das Comunicações e se sentar no caixa do BB, CEF e BNDES.

É sua única salvação.

Mas, as ruas podem querer!

Os sindicatos organizados podem querer.

O ansioso blogueiro foi ontem à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, comprar “Poesia Russa Moderna”, de Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.

Uma atenciosa vendedora perguntou: mas, seu Paulo Henrique, não tem um jeito de impedir que a gente seja governado pelo Temer?

Um jovem estudante se aproximou e disse: Paulo Henrique, tem como fazer uma nova eleição?

No caminho de volta, no taxi, o motorista avisou logo: não confio em nenhum deles.

É tudo a mesma coisa.

Mas, só pode governar quem ganhar no voto!

http://www.conversaafiada.com.br/politica/dilma-deve-convocar-eleicao-antes-de-cair

Ministro do STF Barroso diz: retirar matéria de qualquer site legal sempre será censura

  • Para ministro do STF, retirada de texto fere liberdade de expressão

por PHA do site Conversa Afiada  -  Sociedade e Disputa de Informação Real
publicado 20/04/2016
luis roberto barroso

Saiu na Fel-lha (ou folha):

Retirar matéria jornalística de site será sempre censura, diz Barroso

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso afirmou nesta terça-feira (19) que determinar a retira de matérias jornalísticas de sites de jornais ou portais na internet configura "censura".

Na avaliação do ministro, pessoas que se sentirem ofendidas podem recorrer à Justiça para pedir retificação do texto ou direito de resposta, mas não podem requerer a exclusão das reportagens. Para o ministro, a retirada de texto fere a liberdade de expressão.

(...)

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/barroso-retirar-materia-de-site-sempre-sera-censura

4.17.2016

A 'multa-bomba' de R$ 7 bilhões

  • Estamos cheios de gente com contas na Suíça solta e sem contas na Suíça atrás das grades – com a onipotente destruição do país, de milhares de empregos e bilhões em investimentos
por Mauro Santayana, para site Rede Brasil Atual - Sociedade e Tecnologia Made in Brazil
marinha do brasil e saab group
sabotadores.jpgFinalmente, depois de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o – baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180 mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19 anos e quatro meses de prisão.
Não satisfeito com a pena, e com a chantagem, que prossegue – já que o objetivo é quebrar o exemplo do réu –, um dos poucos que não se dobraram à prepotência e ao arbítrio – com o aceno ao preso da possibilidade de “fazer delação premiada a qualquer momento”, o juiz Moro, na impossibilidade de provar propinas e desvios, ou a existência de superfaturamento da ordem dos bilhões de reais alardeados aos quatro ventos desde o princípio dessa operação, pretende impor ao grupo Odebrecht uma estratosférica multa “civil” que pode chegar a R$ 7 bilhões – mais de 12 vezes o lucro da empresa em 2014 – que, pela sua magnitude, se cobrada for, deverá levá-lo à falência, ou à paralisação destrutiva, leia-se sucateamento, de dezenas de obras e de projetos, a maior parte deles essenciais, estratégicos, para o futuro do Brasil nos próximos anos.
Com a imposição dessa multa, absolutamente desproporcional, da ordem de 30 vezes as quantias que a sentença afirma terem sido pagas em propina pela Odebrecht, por meio de subsidiárias situadas no exterior, a corruptos da Petrobras que já estão, paradoxalmente, soltos, o juiz Sérgio Moro – e seus colegas do Ministério Público de uma operação que deveria se chamar “Destrói a Jato” – prova que não lhe importam, em nefasto efeito cascata, nem as dezenas de milhares de empregos que ainda serão eliminados pelo grupo Odebrecht, no Brasil e no exterior, nem a quebra de milhares de acionistas e fornecedores do grupo, nem a paralisação das obras com que a empresa se encontra envolvida neste momento, nem o futuro, por exemplo, de projetos de extrema importância para a defesa nacional, como os submarinos convencionais e o submarino nuclear brasileiro que estão sendo fabricados pela Odebrecht em parceria com a DCNS francesa, ou o míssil ar-ar A-Darter, que está sendo construído por sua controlada Mectron, em conjunto com a Denel sul-africana, além de outros produtos como softwares seguros de comunicação estratégica, radares aéreos para os caças AMX e produtos espaciais.
Considerando-se que se trata de uma decisão meramente punitiva, ao fazer isso o juiz Moro age, no comando da Operação Lava Jato, como agiria o líder de uma tropa de sabotadores estrangeiros que colocasse, diretamente, com essa sanção – e uma tremenda carga de irresponsabilidade estratégica e social – centenas de quilos de explosivos plásticos no casco desses submarinos, ou nos laboratórios onde ficam os protótipos desse míssil, sem o qual ficarão inermes os 36 aviões caça Gripen NG-BR que estão sendo desenvolvidos pelo Brasil com a Saab sueca.
Que não tenha ele a ilusão de que essa sua sanha destrutiva esteja agradando às centenas de técnicos envolvidos com esses projetos, ou aos almirantes da Marinha e brigadeiros da Aeronáutica que, depois de esperar décadas pela aprovação desses programas, estão vendo-os sofrer a ameaça de serem destruídos técnica e financeiramente de um dia para o outro.
Como um inútil, estúpido, sacrifício, um absurdo e estéril tributo da Nação – chantageada e manipulada por uma parte antinacional da mídia, que não tem o menor compromisso com o futuro do país – a ser realizado no altar da vaidade de quem parece pretender colocar toda a República de joelhos, até que alguém assuma a responsabilidade de impor, com determinação, bom senso e respeito à Lei e à Constituição Federal, limites à sua atuação e à implacável, imparável, destruição, de alguns dos principais projetos e empresas nacionais.
Enquanto isso, para ridículo do país e divertimento de nossos concorrentes externos, nos congressos, nos governos, na área de inteligência, nas forças armadas de outros países, milhares de tupiniquins vibram, nos bares, na conversinha fiada do escritório, nos comentários que agridem e insultam a inteligência nas redes sociais, com a destruição de um dos principais grupos empresariais do Brasil, deleitando-se com a perda de negócios e empregos, e com a sabotagem e incompreensível inviabilização de algumas de nossas maiores obras de engenharia e de defesa, mergulhados em uma orgia de desinformação, hipocrisia, manipulação e mediocridade.
Mesmo que Marcelo Odebrecht venha a aceitar, eventualmente, fazer um acordo de delação premiada, nenhum jurista do mundo reconheceria, moralmente, a sua legitimidade.
Não se pode pressionar ninguém, a fazer acordos com a Justiça, para fazer afirmações que dependerão da produção de provas futuras. Assim como não se pode confundir o combate à corrupção – se houver corruptos que sejam julgados com amplo direito de defesa e encaminhados exemplarmente à cadeia, estamos cheios de gente com contas na Suíça solta e sem contas na Suíça atrás das grades – com a onipotente destruição do país e de milhares de empregos e bilhões de reais em investimentos.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: se a situação fosse contrária, e um juiz norte-americano formado no Brasil e “treinado” por autoridades brasileiras, a quem propôs, por mais de uma vez, sua “cooperação”, estivesse processando um almirante envolvido com o programa nuclear norte-americano, e influindo no destino de todo um programa de submarinos, da construção de um novo submarino atômico, e do desenvolvimento de um míssil ar-ar para a US Air Force, a ponto de a empresa norte-americana responsável por ele ter de ser provavelmente vendida a estrangeiros, ele teria chegado, à posição em que chegou, em nosso país, o juiz Sérgio Moro?
Ou já não teria sido denunciado por pelo menos parte da imprensa dos Estados Unidos, e chamado à razão, em nome da segurança e dos interesses nacionais, por autoridades – especialmente as judiciais – dos Estados Unidos? O único consolo que resta, nesta nação tomada pela loucura – lembramos por meio destas palavras, que quem sabe venham a ser transportadas, em bits, para o amanhã – é que, sob o olhar do tempo, que para todos passará, inexorável, a História, magistrada definitiva e atenciosa, criteriosa e implacável, vigia, registra e julga.
E cobrará caro no futuro.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/116/a-multa-bomba-de-r-7-bilhoes-9245.html

Notícias do Brasil: quando as fontes de informação estão lá fora

Por lalo leal, para site de informações Rede Brasil - Sociedade e Comunicação Social

  • Para sabermos com clareza o que se passa por aqui, temos de recorrer à mídia internacional
Chris Brown/Flickr CC
televisãoEnquanto a mídia brasileira se alinha como um batalhão militar a favor do golpe, mídia internacional vai na contramão
Quem diria que um dia ainda voltaríamos a recorrer à mídia internacional para saber o que acontece no Brasil. Era assim, durante a última ditadura, especialmente depois da promulgação do AI-5, em 1968. Diante da censura do Estado sobre os meios de comunicação só restavam aos brasileiros, para se informar, os veículos produzidos no exterior: jornais, revistas e principalmente o rádio em ondas curtas. Faziam sucesso a BBC de Londres, a Voz da América e a Rádio Central de Moscou.
Em meio à Guerra Fria, um seringueiro no Acre, chamado Chico Mendes, dizia que durante a ditadura ouvia a Voz da América saudar o golpe de Estado como uma vitória da democracia e a Central de Moscou denunciar prisões de políticos e sindicalistas.
Foi a BBC que anunciou, antes de qualquer emissora brasileira, o derrame sofrido pelo ditador Costa e Silva e sua substituição por uma Junta Militar em 31 de agosto de 1969. Era domingo, jogavam no Maracanã diante de 183 mil pessoas as seleções do Brasil e do Paraguai, pelas eliminatórias da Copa do Mundo. As emissoras brasileiras só foram dar a nota oficial do governo, informando da troca de comando da ditadura, quando o jogo terminou (vitória do Brasil por 1 a 0), bem depois da BBC.
A emissora britânica denunciava a prática sistemática de tortura e os assassinatos que vinham sendo cometidos a mando dos militares. Temas tabu, silenciados pela censura interna, como a guerrilha do Araguaia, eram notícia na BBC, assim como a passagem por Londres de personalidades que se opunham ao regime militar, como a arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara.
Enquanto parte da mídia brasileira, tendo as Organizações Globo à frente, seguia louvando o regime de força, a BBC informava ao Brasil que o ditador de plantão Ernesto Geisel havia sido hostilizado nas ruas de Londres, durante visita oficial ao Reino Unido.
Tudo isso ocorreu há quase 50 anos, num momento de forte repressão política, sem as mínimas garantias individuais. Hoje, mesmo num ambiente de maior liberdade, vivemos situação semelhante no campo da informação. Para sabermos com clareza o que se passa por aqui, temos de recorrer à mídia internacional. Não por imposição do Estado, mas pela censura imposta aos veículos de comunicação pelas famílias que os controlam.
Outra vez é a BBC, não mais pelo rádio, mas agora pela internet, que dá um panorama equilibrado da situação no Brasil. Enquanto a mídia brasileira se alinha como um batalhão militar a favor do golpe, sem mencionar essa palavra, a emissora britânica faz ampla reportagem mostrando a presidenta como vítima de um julgamento sumário, "movido pelo interesse do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de esconder seus próprios malfeitos e de uma oposição que fecha os olhos para o devido processo legal".
O jornal El País, da Espanha, que já teve posições menos conservadoras, consegue ainda assim cobrir a situação brasileira de forma muito mais precisa do que a mídia nacional. Por aqui campeia o pensamento único muito bem exemplificado pelo jornalista Gleen Greenwald, repórter do The Guardian, que não teve dúvidas: denunciou o golpe em andamento e traçou um paralelo imaginário com a realidade dos Estados Unidos.
Disse ele: "Considere o papel da Fox News na promoção dos protestos do Tea Party. Agora, imagine o que esses protestos seriam se não fosse apenas a Fox, mas também a ABC, NBC, CBS, a revista Time, o New York Times e o Huffington Post, todos apoiando o movimento do Tea Party".
Aquilo que é inimaginável na pátria do liberalismo é a dura realidade brasileira. Uma voz única, capitaneada pela TV Globo e pela GloboNews, insufla a população a ir às ruas defender o golpe de Estado. A melhor síntese desse alinhamento foi a frase dita, ao vivo, por uma repórter em meio à manifestação golpista: "São muitas as famílias chegando, todas unidas por um mesmo ideal". Que ideal era esse, ela não teve coragem de dizer.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/116/noticias-do-brasil-1228.html

O país na hora da verdade, em um jogo desleal ainda não decidido

  • Articuladores contra o governo dizem que não há golpe, mas situação política obriga atores a revelar suas verdadeiras, e muitas vezes violentas, intenções
por Redação Revista do Brasil - Sociedade e Tentativa de Impedir a Administração Federal pelas Elites (fonte no final do texto)


FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

abre_brasil_dilma_foto_Fernando_Frazao_Agencia_Brasil.jpgArticuladores contra o governo dizem que não há golpe, mas situação política obriga atores a revelar suas verdadeiras, e muitas vezes violentas, intenções
No país dos paradoxos chamado Brasil, políticos investigados por corrupção e alguns até réus, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tentam levar adiante um processo de impeachment contra uma presidente da República sem que haja, ao menos até agora, um crime de responsabilidade. Partidos de oposição pedem formalmente a prisão de Guilherme Boulos, líder dos sem-teto, acusando-o de incitar a violência, enquanto seus aliados pregam abertamente atos ofensivos contra artistas e juízes, ou contra qualquer um que se manifestar a favor da preservação do mandato de Dilma Rousseff.
O clima de intolerância instaurado no país levou a reações que fazem supor que o jogo não está decidido. Comitês pela democracia se multiplicaram pelo país, assim como seguidas manifestações de rua defendem a legalidade e chamam a atenção para as intenções por trás de um suposto clamor pela moralidade. Entidades patronais e políticos conservadores se preparam para uma avalanche de iniciativas contra direitos sociais, pela chamada flexibilização da legislação trabalhista, por mais privatizações e mudanças na lei do pré-sal, a fim de facilitar o jogo para empresas de fora.
Para virar a mesa e intimidar, vale praticamente tudo. Um colunista do jornal Folha de S. Paulo, Hélio Schwartsman, por exemplo, escreveu na edição de 5 de abril que o impeachment de Dilma seria uma solução "muito mais civilizada que o assassinato". E um grupo chegou a oferecer uma gratificação a quem filmasse ataques ao ex-ministro Ciro Gomes, crítico do processo de impedimento
RICARDO STUCKERT/ INSTITUTO LULA defesa_democracia_praca_se_foto_Ricardo_Stuckert_Instituto_Lula.jpgEm São Paulo, manifestação contra o impeachment tomou a Praça da Sé e trouxe a lembrança da campanha pelas diretas

Apreço à democracia

Em 31 de março, quando várias manifestações pelo país pregaram o respeito à legalidade e criticaram o processo de impeachment, muitos se lembraram de 1964. O cantor e compositor Chico Buarque apareceu em um ato no Rio de Janeiro e admitiu que existem desiludidos com o governo e gente que não gosta do PT ou de Dilma, mas ponderou que isso não podia significar dúvidas quanto à integridade da presidenta. Disse ainda que todos estavam unidos "pelo apreço à democracia e em defesa intransigente da democracia".
Caetano Veloso, não exatamente um apoiador do governo, viu semelhanças entre o ato anti-Dilma do dia 13 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo, e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, manifestação conservadora de 1964. E seu público mostrou que outros personagens estão na mira: durante apresentação com Gilberto Gil no Farol da Barra, em Salvador, a plateia completava com gritos de "Cunha!" o refrão da música Odeio Você. Caetano também acompanhou o coro que foi se repetindo em atos pelo país, o "não vai ter golpe".
Réu no Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Cunha segue em frente nas articulações contra Dilma. Na Câmara, a comissão especial que analisa o processo de impeachment acelerou os trabalhos – a expectativa era de que a votação ocorreria no dia 18 de abril –, enquanto as reuniões do Conselho de Ética, que investiga Cunha, se arrastam há meses.
Mesmo quem se declara como oposição, mas é contra o impeachment, sofre ataques. Em cerimônia no Palácio do Planalto, a atriz Letícia Sabatella disse diante de Dilma que era oposição ao governo, mas comparecia ao ato a favor da presidenta porque via em ação um plano oposicionista para tomar o poder "na marra". Pouco tempo depois, foi atacada em redes sociais e teve o perfil apagado do Facebook.

Golpe palaciano

Alguns dos principais jornais embarcaram com gosto na campanha para remover o governo, replicando discurso do mercado financeiro que só sem Dilma o país pode entrar no eixo. Mas uma gestão do PMDB, que em três minutos decidiu deixar a base aliada, seria solução?
ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Temer_Cunha_foto_Antonio_Cruz_Agencia_Brasil.jpg
Unidos em uma mesma estratégia, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, são as principais peças do PMDB no xadrez político em que se transformou a tentativa das forças conservadoras de apear do poder o PT e a presidenta Dilma
"O PMDB encontra-se envolvido em todos os episódios de corrupção que são utilizados para atingir o PT", diz o cientista político Fabiano Santos, em entrevista ao jornal El País. "Dificilmente os atores hoje inconformados com o governo, à esquerda e à direita, enxergariam nas lideranças deste partido autoridade e competência para administrar a crise, sobretudo em uma conjuntura que para muitos resulta de um golpe palaciano."
Para o analista, um processo de impeachment vitorioso teria significados negativos para o país. "Significaria a quebra do jogo democrático e a revelação de que as bases institucionais da democracia brasileira ainda são frágeis, ao contrário do que vínhamos imaginando desde a promulgação da Constituição de 1988", afirma, identificando uma "típica conspiração palaciana, apoiada por setores monopólicos dos meios de comunicação e setores do Poder Judiciário".
Pode-se dizer que apoiada também com forte presença empresarial, tendo à frente o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o peemedebista Paulo Skaf. Ao mesmo tempo em que aponta a penúria do setor industrial, que de fato enfrenta grave crise, o líder patronal não economizou em sua campanha pela renúncia e, posteriormente, pelo impeachment. As estimativas vão à casa dos milhões de reais em anúncios – professores da rede particular em São Paulo calculam ao menos R$ 8 milhões –, sem contar sanduíches de filé-mignon a manifestantes antigoverno entrincheirados diante da Fiesp, também na Avenida Paulista, e um pato gigante sobre o qual pesa acusação de plágio por parte de um artista holandês.
3fotos.jpgVárias entidades patronais se manifestaram pela saída de Dilma do governo, como fator necessário para o país iniciar um processo de recuperação, passando por reformas na legislação trabalhista, sempre a título de "modernização". O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) listou 55 ameaças a direitos tramitando no Congresso. O diretor do instituto Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diz que, independentemente da definição do processo de impeachment, quem pagará a conta será o trabalhador.
Ele também destaca a possibilidade de adoção do programa do PMDB, que chama de "retrógrado e medieval", em um cenário econômico desfavorável, com deterioração das finanças públicas e queda de receitas – fatores que seriam usados para justificar um "ajuste" mais profundo. "Com isso, a investida sobre direitos parece inexorável", diz o analista político do Diap.
Em um eventual novo governo, lembra, alguns itens do programa peemedebista, expresso no documento Ponte para o Futuro, poderão ser implementados, "tanto por pressão do poder econômico quanto por exigência de partidos liberais que integrarão a coalizão de apoio ao novo governo, inclusive muito da base atual e quase todos da atual oposição".
LULA MARQUES/AGÊNCIA PT Manifestacao_cut_brasilia_foto_Lula_Marques_Agencia_PT.jpgAs manifestações pela legalidade, pela defesa da Constituição e contra o impeachment se espalham. Reações da sociedade contra o que se considera golpe fazem supor que o jogo não está decidido
Ação seletiva
Editorialista do jornal Folha de S. Paulo, o veterano Janio de Freitas pescou uma frase do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato, para observar que a operação tem viés político: os governos que estão sendo investigados são os "do PT", disse em palestra.
Duasfotos.jpg"A Lava Jato é, agora declaradamente, uma operação judicial com objetivo político-partidário, cujos atos e êxitos contra a corrupção são partes acessórias do percurso contra três governos (partido e personagens). Não são esses os mandatos conferidos ao juiz e aos procuradores da Lava Jato, no entanto", escreveu o jornalista em sua coluna dominical, em 3 de abril.
O juiz federal Sérgio Moro chegou a ser criticado pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF, após o episódio de condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depoimento, no início de março. "Só se conduz coercitivamente, ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão que resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado." Para o magistrado, é preciso, sim, consertar o Brasil. "Mas não vamos atropelar", pediu.
Outro ministro do STF, Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato, fez ressalvas à atuação de Moro, ao referir-se à divulgação de alguns grampos telefônicos.
"É importantíssimo que nós, neste momento de grave situação que o Brasil passa, de comoção social, que investiguemos, que o Judiciário controle isso, que o Ministério Público se empenhe, que as autoridades policiais se empenhem para investigar e punir independentemente do cargo que a pessoa ocupa, da situação econômica e do partido que defende.
Mas, para o Supremo Tribunal Federal, é importante que tudo isso seja feito com estrita observância da Constituição Federal."
ACERVO UGT Augusto_Queiroz_foto_acervo_ugt.jpg
Diap listou 55 ameaças a direitos tramitando no Congresso. O diretor do instituto Antônio Augusto de Queiroz diz que, independentemente da definição do processo de impeachment, quem pagará a conta será o trabalhador
No meio do redemoinho, surgiram propostas como um "semiparlamentarismo" ou mesmo eleições gerais. A respeito do parlamentarismo, pesa a avaliação, pelo Diap, de que o Congresso atual é hostil aos direitos trabalhistas e sociais – a bancada sindical diminuiu nesta legislatura. Sobre a tese de antecipação das eleições, a presidenta Dilma disse "Nem rechaço nem aceito", durante evento em Brasília. "Eu acho que é uma proposta. Convença a Câmara e o Senado a abrir mão de seus mandatos", respondeu.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), contesta a hipótese, que segundo ele não está prevista no ordenamento jurídico brasileiro. Eleição, diz, poderia ser feita em caso de cassação ou vacância, mas não por decisão politica. Até uma parte da oposição não se anima com ideia, talvez por ver diminuírem suas chances.
Crise se supera com democracia
Há, de fato, uma crise econômica séria, que afeta principalmente os setores mais vulneráveis da população, como se vê pela alta do desemprego (que atinge 9,6 milhões, segundo o IBGE) e pela queda da renda. E a corrupção é um problema sério, que deve ser – e está sendo – combatido. Mas o presidente do instituto Data Popular, Renato Meirelles, diz que não se pode associar a crise à corrupção. Por que isso acontece, então?
"Primeiro porque metade dos brasileiros não era consumidor, não era adulto na época da hiperinflação. Segundo porque, em uma geração, é a primeira vez que o brasileiro tem sensação de perda. Perder dói muito mais que deixar de ganhar", afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada em 29 de março.


Crise se supera com democracia

Presidido pelo publicitário Renato Meirelles, o Data Popular acompanha há 15 anos o comportamento das chamadas classes C, D e E, analisando a inserção desses setores no mercado consumidor, fenômeno que chamou a atenção especialmente na última década, quando muito se falou no surgimento de uma nova classe média no Brasil, um fenômeno que ainda irá requerer análises de fôlego.
Neste momento, existe decepção com o governo, mas não com o projeto apresentado à população, que fala em melhor distribuição de renda e mais oportunidades. A decepção vem exatamente do fato de o projeto não ter sido implementado.
GERARDO LAZZARI/RBA box 1 meirelles_foto_gerardo_lazzari_rba.jpg
Meirelles: o discurso das passeatas antigoverno está longe de ser majoritário
Uma das pesquisas do instituto mostra que boa parte do eleitorado se frustrou porque votou em um projeto ainda não posto em prática. Também não acreditam que a oposição resolveria a crise – os partidos contra o governo agiriam, principalmente, por interesse próprio, e não pelo país –, embora se manifestem pelo impeachment.

Meirelles diz que o discurso das passeatas antigoverno está longe de ser majoritário: nas pesquisas do instituto, as pessoas criticam a ineficiência do Estado, "mas querem a existência do Estado", porque são elas que usam os serviços públicos. "Graças à presença do Estado que o Brasil tem 9 milhões de universitários a mais nos últimos dez anos. Isso não se deu pela iniciativa privada, mas pelo Prouni e pelo Fies." Nas pesquisas, os entrevistados podem até se manifestar pelo impeachment por insatisfação, mas não acham que isso seria solução para a crise econômica.E o clima de intolerância no debate sobre corrupção – um debate fundamental para o país, lembra Meirelles – prejudica "a discussão real do que é um Estado que promova igualdade de oportunidades, redução da desigualdade". Para ele, não dá para pensar em um Brasil pós-crise sem gestão mais eficiente dos recursos públicos, mas também sem fortalecer as políticas públicas que levaram à redução da desigualdade, ao aumento do consumo interno e criaram milhões de empregos.Difícil imaginar que os arautos da flexibilização possam reorganizar o país contemplando uma pauta de crescimento econômico. O economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que a insatisfação popular e a instabilidade aumentariam em um eventual governo Temer. "Seria questionado do ponto de vista judicial, político, ético, moral, e ainda com uma reação forte esperada dos movimentos sociais, sindicatos, em meio a mobilizações."É nesse ponto que centrais sindicais e organizações sociais têm insistido. Parcela expressiva do movimento sindical vê um golpe nas tentativas de impeachment e apoia a continuidade do mandato de Dilma até o último dia, em 2018. Mas cobram mudanças na economia, com ações voltadas para a retomada do crescimento, do emprego e da renda, estímulo aos investimentos e ao crédito, além de se manifestar contra a reforma da Previdência (leia reportagem na edição 115). Os sindicalistas alertam também para os interesses por trás do impeachment. "Os mesmos que querem fazer o golpe são os querem acabar com carteira assinada, férias, 13º, CLT, ampliar a terceirização", costuma repetir o presidente da CUT, Vagner Freitas.Em 4 de abril, falando em seu "berço" sindical e político, São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse saber que havia "muito peão dentro da fábrica nervoso com o nosso governo". E afirmou que seria preciso conversar muito, com todos os setores, dando atenção especial aos movimentos sociais. "Temos de saber que é preciso dar uma certa consertada na política econômica."Uma pesquisa divulgada pelo Dieese em 6 de abril mostra que a queda de atividade econômica, o desemprego e a inflação tiveram forte impacto nas negociações salariais em 2015, quando pouco mais da metade dos acordos (52%) teve reajuste acima da inflação, e mesmo assim não muito superior ao INPC – desde 2006, as campanhas salariais tinham pelo menos 80% de ganho real. Mas a volta do crescimento precisa ser acompanhada de democracia e estabilidade política.*Com reportagens de Helder Lima e Vitor Nuzzi


IGO ESTRELA/PMDB NACIONAL box 2 pmdbDiante da foto, o ministro do STF Luís Roberto Barroso exclamou: 'Meu Deus! Essa é nossa alternativa de poder?'

O PMDB e o fator Renan

Unidos em uma mesma estratégia, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, são as principais peças do PMDB no xadrez político em que se transformou a tentativa das forças conservadoras de apear do poder o PT e a presidenta Dilma Rousseff.
No entanto, caberá ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RR), o papel de fiel da balança em um eventual processo de impeachment, já que a Casa dará a palavra final sobre o afastamento ou não de Dilma, se esta proposta for aprovada na Câmara. Nas últimas semanas, o peemedebista, conhecido por sua maleabilidade, tem oscilado entre as declarações de apoio ao governo e conversas com líderes da oposição.
Fiel a si mesmo, o senador alagoano se aquece nos bastidores para um jogo de "ganha-ganha". Se o governo conseguir furar a onda desestabilizadora e Dilma permanecer na Presidência, terá atuado como garantidor da governabilidade e estará cacifado para tornar-se a maior liderança do PMDB nos próximos anos.
Em caso de vitória da oposição, Renan está pronto para assumir o papel de pilar da construção de um "novo país" e se aliar a uma direita que, mesmo sem ter obtido a aprovação das urnas nas últimas quatro eleições presidenciais, pretende impor uma agenda que inclui, entre outras coisas, ampliação do ajuste fiscal, enfraquecimento dos programas de inclusão social, esfacelamento do marco regulatório do pré-sal e recuo em conquistas históricas dos trabalhadores.
O senador se manifestou de forma contrária à saída do partido do governo Dilma, decisão tomada pela executiva nacional em 29 de março. "Se optar por sair, o PMDB terá que arcar com as consequências", declarou. Uma dessas consequências poderá ser até mesmo um racha no partido, uma vez que ministros peemedebistas como Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia), Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) afirmaram que não entregarão os seus cargos.
Renan é autor do documento Agenda Brasil, conjunto de 43 propostas lançado em agosto do ano passado e que se seguiu à publicação do programa de governo Ponte Para o Futuro, divulgado por Temer, com forte teor neoliberal. O documento do vice, muito próximo daquele apresentado pelo candidato derrotado Aécio Neves nas eleições de 2014, fala em redução de gastos públicos, aprofundamento do ajuste fiscal, corte nos repasses orçamentários para saúde e educação e flexibilização da legislação trabalhista, entre outros itens.
Já o documento de Renan, previamente discutido, segundo o senador, com a bancada do PMDB no Senado e com o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, procura ser mais equilibrado, embora esteja distante das bandeiras programáticas do governo Dilma e do PT.
Uma das propostas da Agenda Brasil que mais desagrada ao PT é acabar com o Mercosul, "a fim de possibilitar que o Brasil possa firmar acordos bilaterais ou multilaterais sem depender do apoio dos demais membros do mercado comum".
Posição historicamente defendida por PDSB e DEM, significaria também o fim da Unasul e de outras iniciativas de integração sul-americana, uma mudança completa de direção na política comercial e diplomática que o país pratica nos últimos 14 anos.
Outra bandeira da oposição traduzida na agenda fala em "regulamentar o ambiente institucional dos trabalhadores terceirizados". A medida seria a brecha para a adoção de políticas repudiadas pelos trabalhadores e seus sindicatos, como a flexibilização de acordos salariais e a aprovação da terceirização para atividades-fim, esta já aprovada na Câmara.
Por Maurício Thuswohl
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/116/na-hora-da-verdade-4690.html