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6.15.2018

O submundo das ‘agências de checagem’: dinheiro dos bancos e conflito de interesses


"agências de checagem": muito dinheiro de grandes bancos e mineradoras, patrocinadores do golpe de Estado de 2016

por redação do Contexto Livre – Sociedade e Mídia Sem-Censura
Figura no Contexto Livre

Há um submundo no universo das "agências de checagem" (elas costumam divulgar sua atividade em inglês, "fact-checking"): muito dinheiro de grandes bancos e mineradoras, patrocinadores do golpe de Estado de 2016, e conflito de interesses escancarado. Enquanto afirmam mensurar e julgar de maneira "independente" o trabalho de jornalistas dos veículos de comunicação, pertencem a uma empresa que tem ela própria um veículo de comunicação e vivem de vender serviços à mídia conservadora. Uma das agências tem seu endereço eletrônico hospedado no site de um dos mais agressivos veículos da mídia de direita no país.

Sua ação mais ousada no país aconteceu esta semana, quando voltaram-se contra veículos da mídia independente (247, Forum e DCM) para proteger uma versão falsificada que fabricaram a serviço da mídia conservadora no caso da visita do enviado do Papa para visitar Lula no cárcere em Curitiba. Tais agências são as versões pós-modernas da antiga censura estatal que o Brasil experimentou no Estado Novo e depois na ditadura pós-64. Não existe mais a carreira de censor no Ministério da Justiça do país, mas existe a carreira de jornalista-censor a serviço do capital financeiro e da mídia conservadora. Com base em contratos com o Facebook, tais agências ganharam o poder de indicar à empresa de Mark Zuckerberg quais páginas hospedadas na rede social que devem sofrer sanções, desde a limitação na distribuição de posts até a eliminação completa.

A agência Lupa é, neste momento, o caso mais escandaloso deste submundo. Foi fundada no fim de 2015 com dinheiro de João Moreira Salles. Ele é apresentado no site da agência como um inocente "documentarista" (aqui). Escondeu-se, de maneira a ocultar a verdade, o fato de que Salles é nada menos que o 9º maior bilionários do país, segundo o levantamento 2016 da Forbes - sua fortuna é estimada em R$ 13 bilhões (aqui). Escondeu-se no site da Lupa que João Moreira Salles é um grande acionista do Itaú Unibanco. Escondeu-se ainda que a família Salles é controladora da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), líder mundial na produção de nióbio, com 85% do mercado mundial do valioso minério. Um caso típico de fake news.

Não bastasse um bilionário banqueiro/minerador ser o investidor da Lupa, que deveria em tese estar liberta de grandes interesses econômicos, o controle da agência é realizado pela Editora Alvinegra, também de Salles, que é proprietária da Revista Piauí. Ou seja: a agência que deveria fazer checagens "independentes" em veículos de comunicação não apenas está integrada aos interesses de grandes grupos financeiros/mineradores como pertence à mesma empresa de um veículo de comunicação que deveria acompanhar!      

A Agência Lupa - e todo o setor - atuam num modelo de negócios que repousa num conflito ético insolúvel. Diz a Lupa em seu site: "A Lupa é uma agência de notícias. Vende suas reportagens (checagens) para publicação em outros meios de comunicação. Repete o que fazem agências internacionais como Reuters, AFP, EFE ou Bloomberg, por exemplo." O que o texto enganoso da empresa não esclarece é que Reuters, AFP, EFE ou Bloomerg não se propõem a fiscalizar o trabalho de outros veículos de comunicação.

Assim, a Lupa, como sua co-irmã, a Agência aos Fatos, vendem seus serviços para veículos da mídia conservadora, como alguns das Organizações Globo e do Grupo Folha-UOL. Surge uma questão irretorquível: qual o grau de autonomia/independência tais agências têm para realizar "checagem" de veículos de comunicação que são seus clientes? Lupa e Aos Fatos farão recomendação de sanções ao Facebook para veículos de comunicação que são responsáveis pela sustentação financeira de seu negócio?  

Há ainda uma outra questão no que diz respeito à Lupa. O endereço eletrônico da agência é: http://piaui.folha.uol.com.br. Duas perguntas surgem: 1) a Lupa irá atuar de maneira independente na checagem do veículo de comunicação que a hospeda? 2) Que garantia têm veículos de comunicação concorrentes daqueles do Grupo UOL-Folha de que as "checagens" não serão carregadas de parti pris?

Este universo sombrio das agências de "fact-checking" que atuam a serviço de grandes grupos econômicos, do Facebook e da mídia conservadora com o objetivo de reinstalar a censura e liquidar com o direito constitucional de liberdade de expressão está alarmando parlamentares. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, informou hoje que o assunto será examinado: "Vamos convocar representantes do Facebook e das agências de checagem contratadas por eles" (aqui).   

Brasil 247 tentou obter respostas da Agência Lupa quanto a estas questões, mas não houve resposta. Por duas vezes foi enviado email a Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, contendo uma série de perguntas de interesse público. Mas eles ficaram sem resposta.

Na foto que ilustra esta reportagem, Cristina aparece ao lado do banqueiro/mineirador e documentarista João Moreira Salles, dono da Agência Lupa.

Para ver texto completo, acessar em:
http://www.contextolivre.com.br/2018/06/o-submundo-das-agencias-de-checagem.html