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7.21.2014

Países ditos desenvolvidos são dominados por multinacionais dos alimentos

As multinacionais que controlam o agronegócio.

Por Darío Aranda, Do jornal Pagina 12 - globalização

Três empresas controlam 53% do mercado mundial de sementes, seis empresas de agrotóxicos dominam 76% do setor, e dez corporações controlam 41% do mercado de fertilizantes. Com nomes próprios e cifras de lucros, um relatório internacional lança dados concretos sobre as multinacionais do agronegócio.
"A concentração de poder corporativo das corporações e privatização da pesquisa devem ser discutidas como temas principais na busca de soluções para o problema de quem nos alimentará", afirmou Kathy Jo Wetter, coordenador da pesquisa dos EUA, ao destacar uma das principais "falácias" do agronegócio: "É uma grande mentira que este modelo agroindustrial pode lutar contra a fome no mundo." E levantou a necessidade de acabar com os oligopólios e fortalecer outro modelo.
O Grupo ETC é uma referência no estudo das corporações do agronegócio. Com três décadas de trabalho e escritórios no Canadá, EUA e México, emite periodicamente artigos sobre todos os cinco continentes com base em cruzamentos de informações oficiais de governos e empresas. "Sementes, solos e camponeses. Quem controla os insumos agrícolas? ", resume o estado de coisas das multinacionais do agronegócio.

Estudo

Ele detalha que três empresas controlam mais da metade (53%) do mercado mundial de sementes. Trata-se da Monsanto (26%), DuPont Pioneer (18,2%) e Syngenta (9,2%). As três empresas faturam 18 bilhões de dólares por ano. Entre o quarto e décimo lugar aparecem a companhia Vilmorin (do grupo francês Limagrain), Winfield, a alemã KWS, Bayer, Dow AgroSciences e as japonesas Sakata e Takii.
O relatório observou que as grandes empresas já compraram a maior parte das outras empresas que forneciam as sementes em seus países de origem. Ele observa que a nova estratégia é adquirir e estabelecer parcerias com empresas da Índia, África e América Latina. Citam, como exemplo, o caso da estadunidense Arcadia Biosciences e a argentina Bioceres.
O Grupo ETC alerta que o cartel de sementeiro promove a privatização das sementes pela "proteção mais rigorosa da propriedade intelectual", e o desencorajamento da prática tão antiga quanto a agricultura: guardar sementes da colheita para usar nas próximas plantações.
O quadro legal impulsionado pelo agronegócio e governos se chama UPOV 91 (União Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais), que proíbe a troca de variedades entre agricultores.

Agrotóxicos

A indústria de agroquímicos também está em poucas mãos. Dez empresas controlam 95% do setor. Syngenta (23% de participação no mercado e 10 bilhões de faturamento anual), a Bayer CropScience (17% e 7,5 bilhões), a BASF (12% e 5,4 bilhões de dólares), a Dow AgroSciences (9,6% e 4,2 bilhões de dólares) e Monsanto (7,4% e 3,2 bilhões de dólares por ano).
Entre o sexto e décimo lugar estão a DuPont, Makhteshim (adquirida pela chinesa Agroquímicos Empresa), a australiana Nufarm e as japonesas Sumitomo Chemical e Arysta LifeScience. As dez empresas faturam 41 bilhões por ano.
O relatório observa o crescimento exponencial de agrotóxicos nos países do sul. Os autores questionam o aumento da exposição a produtos químicos e impactos na saúde pública.
"O oligopólio invadiu todo o sistema alimentar", resumiu Kathy Jo Wetter, do escritório do Grupo ETC nos EUA, e defendeu "implementar regulamentações nacionais em matéria de concorrência e estabelecer medidas que defendam a segurança alimentar global."
Criticou o discurso empresário que promete acabar com a fome baseado no modelo agrícola atual: "é uma grande mentira argumentar que intensificando a produção industrial com as tecnologias do Norte (sementes transgênicas, agrotóxicos e genética animal promovidas pelas corporações) a população mundial terá comida para sobreviver. "

Fertilizantes

Em relação aos fertilizantes, dez empresas controlam 41% do mercado e faturam 65 bilhões de dólares. Trata-se das empresas Yara (6,4%), Agrium Inc (6,3), a empresa Mosaic (6.2), PotashCorp (5.4), CF Industries (3.8), Sinofert Holdings (três , 6), K + S Group (2,7), Israel Chemicals (2,4), Uralkali (2.2) e Bunge Ltd (2%).
O Grupo ETC também analisou a indústria farmacêutica animal: sete empresas têm 72% do mercado global. Quanto ao setor dedicado à indústria de genética animal, quatro empresas dominam 97% das pesquisas e desenvolvimento em aves (frangos de engorda, galinhas poedeiras e perus).
Silvia Ribeiro, diretora da América Latina do Grupo ETC, reforçou a necessidade de outro modelo agrícola: "A rede camponesa de produção de alimentos é largamente ignorado ou invisível para os formuladores de políticas que tratam de questões em relação à alimentação, agricultura e crise climática. Isto tem de mudar, os agricultores são os únicos que realmente têm a capacidade e a vontade de alimentar os que sofrem com a fome."

Para reduzir a concentração

O Grupo ETC alerta que a concentração do mercado de alimentos gerou uma alta vulnerabilidade no sistema alimentar global. "É hora de desempoleirar tirar o pó das regulamentações nacionais em matéria de concorrência e começar a considerar medidas internacionais para garantir a segurança alimentar mundial", exige o relatório, enfim, tirar o poder que as multinacionais criaram e pretendem continuar controlando o  comércio mundial.
Recomenda que, para a alimentação e agricultura, o nível de concentração de quatro empresas não deve exceder uma cota de 25% do mercado e uma só empresa não deve ter mais de 10%. Propõe proibir qualquer empresa a venda de sementes cuja produtividade depende de agrotóxicos da mesma empresa. Recomenda aos governos implementar políticas de concorrência que incluam fortes disposições antitruste combinadas com ações concretas para proteger os pequenos produtores e os consumidores. Solicita a Comissão de Segurança Alimentar da ONU avalie seriamente a capacidade do modelo industrial (agronegócio) e fortaleça com medidas concretas a rede de alimentos dos camponeses, “a fim de garantir com êxito a segurança alimentar."

Para ler legendas e créditos, passe o mause sobre a imagem


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Política dos EUA é uma confusão, descreve Chomsky

O renomado intelectual Noam Chomsky resumiu, em uma entrevista, a política interna americana com apenas duas palavras: 'pura selvageria.'
 
Por Jacob Chamberlain, Do CommonDreams.com - sociedade

Enquanto o Congresso decide, essa semana, se vai reinstituir um auxílio desemprego de emergência para milhões de americanos ou se aprovará as negociações de uma lei agrícola que cortaria bilhões dos programas de vale-refeição, o renomado ativista e intelectual Noam Chomsky resumiu, em uma entrevista, a política interna americana com apenas duas palavras: ‘pura selvageria.’
“A recusa de proporcionar um padrão de vida mínimo para as pessoas que encontram-se nessa monstruosidade – isso é pura selvageria”. Falou, durante uma entrevista com a HuffPost Live. “Não há outro jeito de dizer.

Vale-refeição

O Washington Post relatou que as atuais negociações da lei agrícola estão pedindo, para a próxima década, a eliminação de $9 bilhões no fundo para o vale-refeição pelo Programa de Assistência Suplementar Nutricional (SNAP), “de acordo com diversos assessores que estão familiarizados com as negociações e que não são autorizados a falar publicamente sobre os detalhes.”
As mudanças iriam diminuir as assistências para, no mínimo, 800.000 famílias, com cortes de até $90 por mês. “Essa é a última semana de feira do mês.”, disse a senadora Kirsten Gillibrand para o Washington Post.
Os Republicanos haviam, originalmente, pedido cortes de $40 bilhões e Democratas, cortes de $4 bilhões. A negociação, que tem uma conclusão esperada para a próxima semana, só é apresentada dois meses depois que os legisladores americanos permitiram um estímulo separado para que a SNAP chegasse ao fim, cortando uma parcela universal de $5 bilhões no financiamento, que arrancou a assistência alimentícia de $47 milhões de beneficiários do vale-refeição, sendo 49% deles crianças.

Fim do auxílio desemprego

Enquanto isso, mês passado, o Congresso acabou com o auxílio desemprego emergencial de longo prazo para 1.3 milhões de americanos, um “salvador de vidas” para muitos que estavam procurando por empregos por um longo período de tempo e dependiam desses benefícios para sobreviver.
Na terça, o Senado, sem muito compromisso, passou uma votação para promover a lei que reinstaura os auxílios desemprego. Mas mesmo que essa lei seja aprovada no Senado, irá enfrentar forte oposição quando chegar na casa dos representantes republicanos.
“Desigualdade tem sido um sério problema por muito tempo,” disse. “A desigualdade, agora, está em um nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920... ou até mais antigamente. Isso é muito grave.”
Qualquer crescimento nos últimos anos foi para os 2% mais ricos da população. Adicionando que uma grande parte da população está vivendo abaixo da linha da pobreza, enquanto que no topo da sociedade, os lucros estão crescendo para os ricos.

Impostos

Contudo, os bloqueios impostos para os programas de serviço público, que muitos dizem ser essenciais para os necessitados nos Estados Unidos, não tem “nada a ver com maçãs podres no Congresso,” falou o estudioso da vida ao jornal HuffPost Live. “São problemas profundamente estruturais que tem conexão com o assalto neoliberal à população, não só americana mas mundial, que tem ocorrido na geração passada. Algumas áreas conseguiram escapar, mas ele se espalhou.”
Disse também:
Anos atrás era costume dizer que os Estados Unidos é um país de um partido – o partido do negócio – com duas facções, Democratas e Republicanos. Isso não é mais verdade. Ainda é um país de um partido – o partido do negócio – mas só com uma facção. E não é a Democrata, são os Republicanos moderados. Os chamados Novos Democratas, que são a força dominante no partido Democrático, são o que eram os Republicanos Moderados décadas atrás. E o resto do partido Republicano tem só flutuado para fora do espectro, se escondido, comentou Chomsky.

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Sociedade brasileira pressiona índios isolados no Acre-Brasil

Etnia indígena desconhecida da Amazônia faz primeiro contato e corre riscos.

Marcela Belchior - Jornalista da Adital - povos livresA Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que, no último dia 29 de junho, um povo indígena que vive isolado na Selva Amazônica brasileira estabeleceu contato pela primeira vez com indígenas Ashaninka, da Aldeia Simpatia, e com funcionários do órgão. A comunicação ocorreu na Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no Estado do Acre, próximo à fronteira com o Peru. A Funai não publicou fotos do encontro.
Segundo a Fundação, o contato se deu com a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira (FPE Envira) e com o sertanista José Carlos Meirelles, membro da Assessoria Indígena do Governo do Acre. Em nota, o órgão afirma que a Frente vinha acompanhando a aproximação dos índios isolados desde o último dia 13 de junho e que a permanência do grupo na região ocorre de forma pacífica. Líderes da tribo Ashaninka, que divide o território com essa tribo e outras também isoladas, teriam pedido ajuda ao governo e a organizações não governamentais (ONGs) para controlarem o que eles considerariam "invasão” de suas terras.
No momento, a equipe da FPE Envira, juntamente com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), do Alto Rio Juruá/Secretaria Especial de Saúde Indígena, está na área para dar início ao Plano de Contingência para Situações de Contato. Os funcionários da Funai encontram-se no local levantando informações por meio de intérpretes, para que haja maior conhecimento desse grupo indígena recentemente distinguido. A quantidade de membros da tribo desconhecida pela Funai é incerta.
O órgão comunica que a Política de Proteção aos Índios Isolados da Funai tem a premissa do não contato, respeitando a autodeterminação dos povos e realizando o trabalho de proteção territorial com a presença destes. No entanto, são previstas ações de intervenção (planos de contingência) quando o grupo indígena isolado procura estabelecê-lo.
Segundo Leonardo Lenin, membro da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, em entrevista ao portal Amazônia real, o que se realiza na política do não contato é proteção territorial. Isso se faz por meio de um trabalho no entorno, observando como o grupo isolado impacta a ocupação territorial dos Ashaninka, tentando compensar problemas, mitigar relações e sensibilizar o grupo já assentado para a proteção dos índios isolados. Outra medida importante é garantir a proteção da saúde desse povo ainda não conhecido. "Esses grupos podem sofrer decréscimo populacional por doenças que eles não adquiriram ainda”, alerta Lenin.
De acordo com a organização Survival Internacional, organização que trabalha pelos direitos dos povos indígenas em todo o mundo, os índios isolados fizeram contato por conta do alastramento da extração ilegal de madeira nas terras e do narcotráfico. Isso provocou sua aproximação com a aldeia assentada Simpatia, dos Ashaninka, chegando a saquear a tribo, levando consigo panelas e facões das malocas indígenas.
O diretor da Survival, Stephen Corry, afirmou, em reportagem da organização: "Tanto o Peru como o Brasil garantiram que parariam a exploração madeireira ilegal e o tráfico de drogas que estão empurrando índios isolados para novas áreas. Eles fracassaram. Os traficantes até ocuparam um posto de guarda do governo destinado a monitorá-los. Os índios isolados agora enfrentam o mesmo risco genocida de doenças e da violência, que caracterizou a invasão e ocupação das Américas durante os últimos cinco séculos. Ninguém tem o direito de destruir esses índios”.
Segundo a revista Carta Capital, o clima ficou tenso entre os índios "desconhecidos” e os Ashaninka, levando o Governo do Acre a realizar uma operação de segurança com apoio do Exército e da Polícia Federal na fronteira. Em nota divulgada no último dia 17 de junho, o governo informou que a chamada "Operação Simpatia” consistiu em averiguar as ameaças que a comunidade recebia dos índios isolados.
Em entrevista à Adital, Gil Rodrigues, integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), avalia com cautela esse primeiro contato. "Porque isso pode causar muitos prejuízos, como a perda de membros desse povo”, afirma. Ele diz preocupar-se com a falta de um plano de trabalho que norteie a comunicação da Funai nesse caso e em situações anteriores.
Rodrigues opina que seria mais prudente atuar na garantia de proteção territorial, preferindo a Funai estabelecer contato com os responsáveis pelo avanço da extração de madeira, além do governo peruano, e não com a tribo indígena. "São esses territórios que garantem sua sobrevivência”, destaca. Segundo o indigenista, esse tipo de situação tem se expandido na área. "Inclusive, temos feito várias denúncias para que a Funai possa ter um olhar mais sensível para aquela região. E isso tem um agravante por ser zona de fronteira”, aponta.
Os Ashaninka e outros grupos
Na aldeia Simpatia vivem, hoje, pelo menos 70 índios Ashaninka, sendo a maioria deles mulheres e crianças. A comunidade está localizada na Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, regularizada pela Funai com 232.795 hectares. Na reserva existem seis aldeias Ashaninka, onde moram 420 índios da etnia. Os indígenas Ashaninka pertencem à família linguística Aruak (ou Arawak).
Na região do Alto Envira, da fronteira com o Peru, conhecida como Paralelo 10, em 30 anos de pesquisas, três grupos de índios isolados foram avistados, denominados pela Funai como o povo da cabeceireira do Riozinho, o povo do Rio Xinane e o povo do Rio Humaitá. Há um quarto grupo isolado no Acre, que é denominado pelo órgão de Mashco-Piro. Com o contato na aldeia Simpatia, a Fundação tenta qualificar os índios desconhecidos por meio de intérpretes, para que haja maior conhecimento do grupo e sua língua.
Saiba mais sobre índios isolados no Brasil
- A Amazônia brasileira é o maior reduto de tribos indígenas isoladas no mundo, com estimativa de abrigar 77 grupos.
- No Estado do Acre, estima-se que existam cerca de 600 índios pertencentes a quatro grupos diferentes.
- A postura dessas tribos de não manter contato com outros povos indígenas e não-índios pode ser resultado de anteriores encontros negativos e da contínua invasão e destruição de sua floresta.
- Grupos isolados que vivem no Estado do Acre são provavelmente sobreviventes do ciclo da borracha, quando muitos índios foram escravizados para explorar a matéria-prima do local.
- Nada ou pouco se sabe sobre esses povos isolados. Alguns deles já dispararam flechas contra pessoas estranhas às tribos e contra aviões ou simplesmente evitam contato, recolhendo-se floresta adentro.
- Alguns grupos isolados beiram à extinção, com apenas alguns indivíduos restantes. Pequenos grupos que vivem principalmente nos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Maranhão são sobreviventes da grilagem de terras, quando foram alvejados e mortos por madeireiros, fazendeiros e outros. Hoje, eles ainda são deliberadamente caçados e suas florestas estão sendo rapidamente destruídas.
- Grandes projetos de construção de hidrelétricas e estradas, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo brasileiro, representam graves ameaças. As represas de Jirau e Santo Antônio, em construção no rio Madeira, Rondônia, estão muito próximas de vários grupos de índios isolados.
- Relatório recente aponta que os índios estão abandonando suas terras devido ao barulho e à poluição das obras de construção das hidrelétricas.
- Todos são extremamente vulneráveis a doenças como gripe ou resfriado, que são transmitidas por pessoas de fora e para as quais os índios não apresentam resistência imunológica.
 http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=81563