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11.28.2015

A construção do Brasil livre

Por Mauro Santayana para revista Carta Capital, de blog do Alok - Sociedade e Nação Livre   
  • O Brasil precisa de um projeto para a construção de uma nação soberana, não de uma pinguela que nos encaminhe aos estábulos de nossos novos senhores
Os partidos políticos são como os homens. 
Eles nascem, envelhecem, algumas vezes, sem ter sequer crescido, e mudam, também, de posição.
Há outros que conhecem Glória e Poder e depois murcham, fenecem, quando não desaparecem por simples inanição.
Há aqueles que surgem das circunstâncias da hora, da resistência e das barricadas, para fazer História.
Há os que se organizam – ou se reorganizam, vergonhosamente - para impedir que a História se faça, que ela avance, e que com ela caminhem os povos e a Humanidade.
E há aqueles que fazem de tudo para conservar as coisas como estão. Mesmo que se disfarcem do novo, mesmo que se disfarcem de novo, e sob seus estandartes desfilem jovens atléticos de dentes brilhantes, seus olhos serão velhos como a morte, e de sua boca exalará o ódio, a violência e a podridão.
Há os partidos ideológicos. 
E há os que são circunstanciais e os fisiológicos. 
Os que foram formados por uma determinada classe, como as antigas agremiações agrárias, proletárias, industriais. 

E os oportunistas, que não se incomodam em mudar de nome, de marca, de história, como se trocassem de camisa - os que renegam origem e passado em troca de eventuais benesses do momento, sem nenhuma preocupação moral com o amanhã.
O MDB surgiu como uma frente de oposição ao regime militar que chegou ao poder com o Golpe de 1964.
Participou da Campanha das Diretas Já e da eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República.
Teve papel fundamental, sob a liderança do Deputado Ulisses Guimarães, na promulgação da Carta Constitucional de 1988.
Depois disso, transformou-se em esteio da governabilidade, foi negociando, com os governos de turno, apoios, em troca de cargos e benesses, e acabou, majoritariamente, transformando-se no que é agora.
Em 1982, acompanhamos, por meio de amigos do Movimento Democrático Brasileiro, a formulação e redação de um documento com o nome Esperança e Mudança.
Um texto que apresentava um programa nacional e desenvolvimentista, soberano e autônomo, que defendia a queda dos juros, o uso estratégico do estado na construção do desenvolvimento, a diminuição da desigualdade e nossa integração com a América Latina.
Agora, 33 anos depois, o PMDB acaba de lançar um documento chamado Uma Ponte para o Futuro, a ser usado, em tese, como base para seu próximo Programa de Governo.
De sua leitura, depreende-se que ele pretende inviabilizar o Estado, diminuir as conquistas sociais, entregar o que resta de patrimônio nacional aos estrangeiros, fazer com que o Brasil saía do BRICS, e vire as costas à América Latina   
Ao lançar esse texto - por mais bem intencionados que possam eventualmente estar alguns de seus autores - a direção do PMDB rompe, definitivamente, com o pouco que ainda existia de seus antigos  compromissos  com o país e com o povo brasileiro.
A legenda escreve um claro, inequívoco,  definitivo atestado de abandono dos ideais que lhe deram origem.
E deixa uma prova incontestável, para a História, de sua rendição e de sua entrega àqueles que, do exterior, cobiçam e pretendem se assenhorear definitivamente do Brasil, de nossos recursos naturais, de nosso mercado interno, de nossa população, de nossas perspectivas de futuro.
No momento em que a China, com 4 trilhões de dólares em reservas internacionais em caixa,  se prepara para assumir – com uma economia majoritariamente estatal e nacionalizada, sem rendição ao discurso único ou ao TPP - a posição de maior economia do mundo; em que Pequim estabelece uma aliança com Moscou para a “construção” e o desenvolvimento de todo um novo continente, a Eurásia, com todas as oportunidades que esse projeto oferece; que o primeiro-ministro hindu – país que acaba de enviar, por méritos próprios, uma sonda à órbita de Marte - é recebido como o líder de uma potência mundial, na Grã-Bretanha; que o Brasil constrói com a Suécia uma nova geração de caças supersônicos para sua Força Aérea e forja o casco de seu primeiro submarino atômico; boa parte da atual geração de brasileiros se acovarda e se submete, entusiasta e pateticamente, – com base em um discurso tão frouxo, quanto mentiroso e hipócrita - à acoplagem secundária e abjeta da quinta maior nação do mundo ao projeto de domínio “ocidental”, como um mero mercado de produtos e serviços e fornecedor de commodities, defendendo o abandono do projeto do BRICS e de nossa liderança na América Latina, para fazer o país retornar, inapelavelmente, em pleno século XXI, à condição de colônia.
O que o Brasil precisa, neste momento – como no momento da redemocratização - é de um programa de união nacional, desenvolvimentista e socialmente justo, que estabeleça um caminho próprio para o país, em um novo mundo cada vez mais desafiante, multipolar e competitivo.
De um projeto para a construção de uma nação soberana e forte - que nas áreas de defesa e de infra-estrutura e de energia já está em andamento - e não de uma pinguela que nos encaminhe como cordeiros para o estábulo de nossos novos senhores de Washington e de Bruxelas.
http://blogdoalok.blogspot.com.br/2015/11/mauro-santayana-pinguela-e-o-estabulo.html

A política externa norte-americana

  • Será que tudo é lindo na política externa norte-americana como cita a imprensa dos EUA

  • A grande mídia corporativa dos EUA apoia a política externa do governo apresentando um mundo distorcido ao público norte-americano


Por DAVE LINDORFF - para CounterPunch, publicado no site Carta Maior- Sociedade,  Geopolítica dos EUA e a  Imprensa (fonte no final do texto)

Créditos da foto: Pete Souza 
Pete Souza
Seria a mídia corporativa norte-americana notadamente composta por órgãos de propaganda ou agências de notícias?

Aqui estão alguns pontos a se considerar e, então, o leitor pode decidir. Confira algumas perguntas abaixo e verifique como a mídia corporativa dos EUA geralmente produz suas respostas:
1. Se o Estado Islâmico ou a Al Qaeda deliberadamente atacam civis, como no recente episódio em Paris, indiscriminadamente matando dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim
 
2. Se os EUA deliberadamente atacam civis, como no caso do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, Afeganistão, matando indiscriminadamente dezenas de pessoas, seria isso terrorismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

3. Se o governo chinês assume o controle de uma ilha minúscula, reivindicada por outra nação, e ali instala uma base militar, seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

4. Se o governo dos EUA assume o controle e, em seguida, se recusa a renunciar uma porção de uma minúscula ilha, propriedade de outro país, neste caso Cuba, e ali instala uma base militar (como tem feito já por décadas, no caso da Baía de Guantánamo) seria esse um exemplo de agressão, uma violação do direito internacional e uma provocação?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

5. Se a líder de um partido que ganha a eleição nacional, mas anuncia que, na verdade, é ela que tomara todas as decisões importantes para o governo recém eleito, como Suu Ky anunciou que fará em Mianmar, seria esse um exemplo de comportamento antidemocrático ou de caudilhismo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Não

6. Se um país estrangeiro coloca mísseis apontados para outra nação no território de um país adjacente ao país-destino, como fez a URSS em Cuba, seria essa uma ameaça para o país de destino, no caso os EUA?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

7. Se os EUA colocam mísseis na Polônia apontados pra Rússia, como fizeram, ou colocam armamento nuclear na Alemanha, também tendo a Rússia como alvo, o que foi feito, seriam essas ameaças para a Rússia?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

8. Se o Irã proporciona assistência militar aos rebeldes de um país vizinho como Iêmen e tal grupo, os Houthis, com sucesso derrubam um autocrata do poder, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

9: Se os EUA financiam organizações dentro de outro país que organizam protestos, marchas e atentados sangrentos que, finalmente, derrubam o governo eleito, como os EUA fizeram na Ucrânia, seria isso subversão?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

10. Se o Irã, signatário do Tratado de não Proliferação Nuclear, pretende desenvolver capacidade de refino do urânio-235, o que um dia poderia ser usado para fabricar armamento nuclear, mas concorda com inspeções e supervisão internacional, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: não, já que existe outra poderosa nação com armamento nuclear no Oriente Médio, com a capacidade de obliterar totalmente o Irã — ou seja, Israel.
Resposta da mídia: Sim

11: Se Israel, que nunca assinou o Tratado de não Proliferação, se recusa a permitir inspeções em suas instalações nucleares, é conhecido por ter centenas de armas nucleares, bem como os aviões e mísseis para enviá-los a qualquer lugar, seria essa uma grave ameaça à estabilidade regional no Oriente Médio e à paz mundial?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

12: Se uma pessoa revela, por dinheiro, a uma potência estrangeira, o funcionamento interno do sistema de interceptação de sinais da Agência de Segurança Nacional (NSA), bem como as identidades de centenas de agentes da inteligência secreta dos EUA, como fez o espião israelense Jonathan Pollard, seria ele um inimigo dos Estados Unidos?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: não

13. Se uma pessoa revela, em ato de princípio e enquanto denunciante, sem compensação financeira, a espionagem ilegal e inconstitucional contra cidadãos americanos da NSA, como fez Edward Snowden, agora exilado, seria ele um inimigo dos Estados Unidos que deve, portanto, ser castigado?
Resposta objetiva: não
Resposta da mídia dos EUA: Sim

14. Se terroristas pró-Estado Islâmico em Paris disparam contra feridos, vítimas de seus atentados de terror, seria esse um exemplo da barbárie e um crime digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta da mídia dos EUA: Sim

15: Se vídeos mostram as forças de defesa israelenses atirando na cabeça de um palestino, ferido e deitado na rua, seria esse é um exemplo de barbárie e um crime de guerra digno da condenação de todo o mundo?
Resposta objetiva: Sim
Resposta de mídia dos EUA: Não (não foi sequer noticiado)

Evidentemente que essa lista poderia continuar, mas as evidências tornam óbvio e incontestável que a grande mídia corporativa dos EUA trabalha em sintonia, essencialmente apoiando a política externa dos EUA e apresentando um determinado mundo para público norte-americano, de forma muito distorcida e pró-governo.
Porque isso acontece, uma vez que essas agências de notícias são, majoritariamente, não diretamente financiadas ou controladas pelo governo, como são em países onde se espera que a mídia seja arma de propaganda, é uma história complicada, que vem há muito tempo sendo explicada claramente por especialistas como Noam Chomsky e Edward Herman.

Independente da lermos sobre o assunto, a realidade é clara para qualquer um que preste a mínima atenção: a mídia dos EUA, particularmente quando trata de assuntos externos, mas também quando trata de assuntos como a inteligência e a espionagem doméstica, não pode ter nossa confiança por apresentar a verdade, nem algo que minimamente se aproxime da verdade.

Gostaria de salientar aqui que evidências sólidas em torno desse desrespeito intencional a verdade por parte da mídia corporativa podem ser encontradas aqui em nossa própria e humilde organização de pequenas notícias, ThisCantBeHappening!. Nos últimos quatro anos, nós denunciamos:

* O papel da CIA em orquestrar o caos sectário e terrorista no Paquistão

* O papel central da justiça e da inteligência norte-americanas na coordenação do esmagamento brutal do movimento Occupy nas cidades por todo os EUA.

* O conhecimento prévio e total falta de preocupação ou ação do FBI sobre os planos bem documentados em Houston que tratavam dos grupos conhecidos e não identificados que conspiravam para assassinar líderes do movimento Occupy por meio de "rifles de longo alcance". (O FBI enviou memorandos sobre esta trama para escritórios regionais do FBI e pro quartel-general, mas nunca agiu para impedi-la e nunca prendeu qualquer um dos envolvidos na trama).

* A administração Obama deliberadamente escondendo provas forenses dos médicos legistas turcos que mostravam que membros da força de defesa de Israel executaram brutalmente Furkan Dogan [5], um garoto americano de 19 anos a bordo da embarcação humanitária em Gaza, Mavi Marmara, e não fizeram nada para punir os assassinos.

* O assassinato, pelas mãos de um agente do FBI, de um jovem imigrante checheno, Ibragim Todashev, na Flórida, que havia sido interrogado por tal agente e por um policial de Boston em seu próprio apartamento (Todashev pode ter tido provas de que o FBI tinha trabalhado com os irmãos Tsarnaev antes da explosão da maratona de Boston). Série em três partes: perguntas obscuras 1, perguntas obscuras 2 e perguntas obscuras 3.

Essas e outras histórias, que foram relatadas e publicadas, e que foram amplamente cobertas pelos meios de comunicação alternativos, não foram nem ao menos mencionadas pela mídia corporativa dos EUA. Assim como a maioria dos importantes comunicados são ignorados sem qualquer aviso pela imprensa corporativa. Tais informações, portanto, não chegam a grande parte da população americana que obtém suas informações inteiramente através das fontes corporativas tradicionais.

Tradução por Allan Brum
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Tudo-e-lindo-na-politica-externa-norte-americana/12/35067

Enfim, um tucano preso. Motivo? Se filiou ao PT! E agora...

  • A prisão de Delcídio escancara que a corrupção na Petrobras não começou com o PT e nem respeita partidos, embora a justiça pareça fazer de conta que não enxerga isso



Por Najla Passos, para Boletim Carta Maior de SP - Sociedade e Disputa de Poderes no Brasil

Créditos da foto: Geraldo Magela / Agência Senado 
Geraldo Magela / Agência Senado

Mal a imprensa anunciara, na quarta (25/nov), a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no senado, na 20ª  fase da operação lava jato, a piada pronta já se espalhava pelas redes sociais:

- Hoje é um dia histórico para o país... finalmente um tucano foi preso!

- Verdade? Não acredito... o que ele fez?

- Um monte de coisas que não devia... mas, principalmente, se filiou ao PT!

A piada serviu para o regozijo para boa parte da militância petista, que jamais enxergou em Delcídio “um dos seus”. Mas não reflete toda a verdade. Como também não o fazem as manchetes dos jornalões que estamparam a prisão do “senador petista”.

Delcídio não é exatamente petista. Nem tão pouco tucano. É uma espécie de ser híbrido – meio petista, meio tucano – cuja prisão escancara que a corrupção na Petrobras não começou com a chegada do PT e nem respeita siglas partidárias, embora a justiça pareça não querer enxergar isso.

Natural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, Delcídio é aquele tipo de político que tem bom trânsito entre partidos diversos. No início da carreira, atuou na Eletrosul, na Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia e foi presidente do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce, que viria a ser privatizada mais tarde pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

Em 1994, foi nomeado ministro de Minas e Energia pelo então presidente Itamar Franco, que tinha Fernando Henrique Cardoso à frente da Fazenda. Durante o governo do tucano de FHC, se filiou ao PSDB e acabou assumindo a diretoria de Gás e Energia da Petrobrás. Foi lá que ele conheceu Nestor Cerveró, que atuava como seu sub-diretor, e hoje o acusa de pressioná-lo a se calar na delação premiada.

Também foi nesta época que ele começou a se relacionar com Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como um dos principais operadores do esquema da Petrobrás, que, em delação premiada, afirmou que foi Delcídio quem indicou Cerveró para a diretoria da estatal, já em tempos de governo petista.

Em 2001, quando o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso caminhava para o fim, aceitou o cargo de secretário de Estado de Infraestrutura e Habitação no governo do Zeca do PT. Em 2002, candidato ao Senado, já pelo PT, e foi eleito com cerca de 500 mil votos.

Amigos de ontem 

No parlamento, Delcídio manteve os amigos que trazia do passado tucano. Sempre foi muito próximo do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual e apontado pela Forbes como a 13ª maior fortuna do país. Esteves, que também foi preso nesta quarta, é aquele amigo do peito do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Amigo ao ponto de pagar as despesas da lua de mel do tucano, quando foi a Nova York em 2013.

Esteves também é sócio de Pérsio Arida, eleito presidente interino do BTG nesta quinta (26). Arida é um dos economistas gurus de Fernando Henrique Cardoso, sócio do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Oportunity, e ex-marido de Elena Laudau, a ex-diretora do BNDES que ajudou FHC a promover as privatizações que até hoje escandalizam o país.

Inclusive, foi com financiamento do BNDES que, em 1997, o Banco Oportunity comprou percentual da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), apontada como uma das principais financiadoras do “mensalão tucano” – aquele mensalão anterior ao petista, no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que nunca vai à julgamento... Em 2005, na presidência da CPI dos Correios, o senador pelo PT Delcídio Amaral ajudou o PSDB a silenciar as denúncias sobre o caso.

Amigos de hoje

Mas se Delcídio tem boas relações com os tucanos, também as têm com muitos petistas. Não por acaso é o líder do governo no Senado, o que, pelo menos teoricamente, o qualifica como parlamentar em fina sintonia com linha política adotada pela presidenta Dilma Rousseff no momento, além de dotado de grande capacidade de articulação em outros ninhos.

E ele é, de fato, figura influente no parlamento. Preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das mais importantes do parlamento. E é membro efetivo das Comissões de Serviços de Infraestrutura, Agricultura e Reforma Agrária, Ciência e Tecnologia, Ambiente e Defesa do Consumidor e da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o que não é pouco.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido não irá tratar Delcídio com a mesma solidariedade que prestou ao ex-tesoureiro João Vaccari, outro petista preso pela lava-jato. Segundo ele, são casos diferentes, porque Delcídio agiu por conta própria, em atividades não partidárias.

Por que não Cunha?

Delcídio é o primeiro senador da república a ser preso no exercício da função desde a redemocratização do país, em 1985. Conforme o Ministério Público, ele ofereceu R$ 50 mil e uma rota de fuga para que o comparsa Cerveró não apontasse sua participação no esquema da Petrobrás na delação premiada que acertou com a justiça.

Uma gravação feita pelo filho de Cerveró, Bernardo, durante uma reunião realizada em um hotel em Brasília para discutir a fuga, há cerca de 15 dias, atesta a participação inequívoca de Delcídio no planejamento da fuga, que o Ministério Público classificou como crime de obstrução à Justiça.

Dúvida de fato, nas instâncias dos poderes em Brasília, é só mesmo acerca da legitimidade ou não da sua prisão, já que a lei diz que um senador em cumprimento de mandato só pode ser preso em flagrante. Mas o próprio Senado reconheceu, já na noite desta quarta, por 59 votos a 13, a validade da polêmica decisão tomada antes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos corredores do Congresso, não falta quem associe o precedente aberto ao caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado pela mesma lava-jato. Não se tem notícia de que Cunha oferecera rota de fuga a nenhum dos condenados pela operação, mas é praticamente consenso que ele tem empreendido uma manobra após a outra para evitar que ele próprio seja investigado.

Para muito além da base do PT

Eduardo Cunha não é o único preocupado com os desdobramentos da prisão de Delcídio. A tal gravação que comprova que o senador tentara obstruir o trabalho da Justiça expõe vários outros ditos “homens importantes” da república. E para muito além das esferas do PT. Entre eles, o espanhol Gregório Marin Preciado, um velho parceiro do senador José Serra (PSDB-SP), casado com uma prima do tucano e ex-sócio dele em negócios imobiliários.

Na gravação, Delcídio atesta que Preciato é o espanhol que participou das negociações do pagamento de propina de R$ 15 milhões pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobrás. Um Espanhol que, ainda segundo ele, a justiça brasileira não teria conseguido identificar.

Aliás, conforme Delcídio, Preciato é muito mais do que um operador do esquema, mas sim a verdadeira cabeça. “O Fernando [Baiano] está na frente das coisas e atrás quem organiza é o Gregório Marin [Preciato]”, afirma. Na gravação, Delcídio também registra a preocupação de Serra de que as denúncias cheguem até o amigo-parente.

“O Serra me convidou para almoçar outro dia, ele rodeando no almoço, rodeando, rodeando, porque ele é cunhado do Serra”, disse Delcídio, acusando o tucano de tentar extrair dele informações sobre as investigações.

Preciado é próximo a Serra desde que foi membro do Conselho de Administração do Banespa, de 1983 a 1987, enquanto o tucano era o secretário de Planejamento de São Paulo. Na campanha de 1994, quando Serra concorreu ao Senado, Preciado chegou a fazer doações eleitorais para ele.

Ele caiu em desgraça quando o governo tucano chegou ao fim. Como aponta o livro Privataria Tucana, de Amauri Ribeiro Junior,  foi um dos alvos da CPI do Banespa, por conta de supostas operações irregulares no banco. Também foi acusado de se beneficiar da amizade com o ex-tesoureiro do PSDB e então diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, que lhe conseguira um abatimento de R$ 73 milhões em uma dívida. 
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Enfim-um-tucano-preso-Motivo-Se-filiou-ao-PT-/4/35063



Ventos e furacões neoliberais voltam na Argentina...e agora...

  • IBM, Telecom e ONU, as ligações da futura chanceler neoliberal argentina

  • Em decisão inesperada, Mauricio Macri eleito novo presidente, anunciou que a chefa de sua diplomacia será a atual mão direita de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU


PorMartín Granovsky, para o jornal diário Página/12 - Sociedade e Geopolítica Sul-Americana
 
Gustavo Ferreira / MRE
A cadeira não foi dada nem a um economista argentino como Alfonso Prat-Gay, nem para um diplomata de carreira como Rogelio Pfirter. Tampouco para o secretário de Relações Internacionais do PRO, Diego Guelar. Na designação mais surpreendente das que realizou até agora, Mauricio Macri anunciou que o Ministério de Relações Exteriores será ocupado por Susana Malcorra, a atual chefa de gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
 

Créditos da foto: Gustavo Ferreira / MRE

“É uma persona preparada, de proceder correto, capaz de se atualizar rapidamente com os detalhes da política exterior argentina”, disse ao jornal Página/12 um diplomata que conviveu com ela em Nova York.

Malcorra não milita no PRO, o partido liberal de Macri, e tampouco foi sugerida pelos aliados social-democratas da União Cívica Radical radicalismo, embora tenha antigas simpatias com relação a este partido.

É uma executiva que conhece por dentro não só o sistema de decisões da ONU como também o âmbito das indústrias de serviços dos Estados Unidos. Fez carreira na IBM, que antes do surgimento de empresas como Apple e Google era o símbolo da modernidade norte-americana.

Quem conhece o mundo das indústrias de serviços dos Estados Unidos pode entrever as ideias básicas da política exterior, comercial e de defesa de Washington – ainda mais se complementa essa bagagem de conhecimentos com um posto de observação no edifício novaiorquino da ONU.

Nascida em 1954, em Rosário, ela fez sua carreira universitária nessa cidade, e foi a única mulher formada em engenharia eletrônica na sua turma. Aos 61 anos, Malcorra exibe um currículo que mostra uma longa carreira na IBM, desde os postos mais baixos, em 1979, até a cúpula da filial argentina da multinacional, 14 anos depois. Chegou a conduzir a relação com o setor público, o coração da firma. Ao deixar a empresa, em 1993, ela passou a trabalhar na Telecom, com Juan Carlos Masjoan, outro ex-IBM. Na Big Blue – o gigante azul, como a empresa é conhecida – Masjoan foi um duro competidor de Ricardo Martorana, o ascendente executivo e lendário vendedor que terminou envolvido no escândalo IBM-Banco Nación, pelo pagamento de subornos do setor privado ao Estado, em 1994.

Na ONU, sua especialidade continuou estando vinculada com a logística. Malcorra é chefa de gabinete do secretário-geral, e antes foi subsecretária do Departamento de Apoio às Atividades Externas. Suas funções eram a de ajudar na execução das missões de paz da ONU em todo o mundo, um dispositivo que já supera as 120 mil pessoas, entre militares, policiais e civis, segundo informação da própria Secretaria Geral.

Malcorra chegou à ONU em 2004, com o ganês Kofi Annan. Foi funcionária de Operações, logo diretora executiva adjunta do Programa Mundial de Alimentos – que não é a FAO (Departamento das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, presidido pelo brasileiro José Graziano) –, mas sim a estrutura de operações humanitárias ou de emergência. Agregou, nesse período, conhecimento a respeito de operação de contingência em crises humanitárias como as da Costa do Marfim, Serra Leone e Haiti, ao seu currículo de experiências na indústria de serviços.

No mês passado, Malcorra moderou um painel sobre “Ética para o desenvolvimento” no qual também participaram o economista argentino Bernardo Kliksberg e o atual ministro do Trabalho, Carlos Tomada.

Em 2014, ela disse que a agenda da ONU este ano estaria voltada à tarefa pendente de buscar a paz na Síria, à definição das metas de desenvolvimento e à cúpula do clima de Paris.

As bombas e os assassinatos em massa fizeram com que essa agenda fosse alterada, e agora Malcorra deverá enfrentar esses temas a partir do seu novo cargo de ministra, a segunda chanceler da Argentina, desde que Susana Ruiz Cerutti ocupou o cargo, no final do governo de Raúl Alfonsín.
 Tradução: Victor Farinelli

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/IBM-Telecom-e-ONU-as-ligacoes-da-futura-chanceler-argentina/6/35057



11.23.2015

Políticos que têm rádio e TV são denunciados no Ministério Público Federal

  • Movimentos pela democratização da comunicação entram com representação contra 40 deputados e senadores por violação de artigo constitucional que proíbe políticos com mandato de possuir concessões
Por Redação Rede Brasil Atual - Democratização da Sociedade 
Agência Senado e Câmara dos Deputados
políticos-com-concessão-de-.jpgLigação de políticos – como Agripino, Jereissati, Aécio, Sarney Filho, Collor e Barbalho – a canais de rádio e TV é indevida
FNDC – Treze organizações da sociedade civil protocolaram hoje (23) representação no Ministério Público Federal (MPF) contra 32 deputados e oito senadores sócios de emissoras de rádio e TV. A representação baseia-se no artigo 54, incisos I e II da Constituição Federal, que proíbe políticos titulares de mandato eletivo de possuírem ou controlarem empresas de radiodifusão e empresas que gozem de favor decorrente de contrato com a União.
Além de pedir o cancelamento das concessões, permissões e autorizações de funcionamento dessas emissoras, as signatárias também pedem a responsabilização do Ministério das Comunicações pela falta de fiscalização do serviço público de radiodifusão.
A representação foi feita à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Estado de São Paulo. A partir dela, o MPF deverá entrar com ações em 17 estados. Na semana passada, o MPF já havia protocolado ações contra veículos de radiodifusão associados aos deputados federais Antônio Bulhões (PRB); Beto Mansur (PRB) e Baleia Rossi (PMDB), todos de São Paulo.
Além da Constituição, a representação se baseia, ainda, em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e em entendimento anterior da própria Procuradoria-Geral da República (PGR). O documento destaca trechos dos votos dos ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber no julgamento da Ação Penal 530. Para ambos, a proibição da propriedade ou sociedade em emissoras de rádio e TV por deputados e senadores tem por objetivo prevenir abusos decorrentes do poder político e do controle de veículos de comunicação de massa.
Na representação, as entidades lembram, ainda, que a própria PGR afirmou a inconstitucionalidade da participação de políticos como sócios de emissoras de rádio e TV em parecer emitido nos autos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 246, de autoria do Psol.
Lista

Quem assina

• FNDC - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
• Artigo 19
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Andi – Comunicação e Direitos
Associação Juízes para a Democracia (AJD)
Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
Levante Popular da Juventude
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor.

A representação é uma articulação das organizações que compõem o Fórum Interinstitucional pelo Direito à Comunicação (Findac), que reúne procuradores federais, entidades da sociedade civil e institutos de pesquisa, e recebeu, este ano, o Prêmio República 2015 de Valorização do Ministério Público Federal, promovido pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/11/entidades-denunciam-no-mpf-politicos-que-tem-canais-de-radio-e-tv-9233.html

Petrodólares financiam o terrorismo mundial


  • São eles, os fornecedores de armas aos terroristas que nos ameaçam e matam seus povos, membros com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU
Por Roberto Amaral - Sociedade e Segurança Mundial (fonte no final)

Como é financiado tanto terror?
Quem entrega armas e equipamentos de guerra nas mãos dessa violência?
A resposta inescapável é única: são os que hoje derramam lágrimas de crocodilo.
O chamado Estado Islâmico, uma decorrência da Al Qaeda – por sua vez uma criação dos EUA – é financiado pelos petrodólares dos países do Golfo Pérsico, à frente de todos a Arábia Saudita, a maior potência do Oriente Médio, e principal aliada do Ocidente (seja lá o que isso hoje signifique).
São também esses dólares que financiam a indústria bélica do EUA, da Inglaterra e da França, os maiores fabricantes de armas e equipamentos de guerra do mundo, os maiores fornecedores e os maiores traficantes de armas. E, não obstante, ou por isso mesmo, são eles, os fornecedores de armas aos terroristas que nos ameaçam e matam seus povos, membros com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Segurança?
Foto Armée française
Caça da FrançaCaça francês decola para novo ataque aéreo na Síria
Osama Bin Laden – é sabido – foi recrutado, treinado e financiado pelos EUA para dar combate às tropas soviéticas que defendiam o governo do Afeganistão. Em crise, a Al Qaeda (aquela do atentado contra as torres gêmeas) foi salva pela invasão do Iraque pelo segundo Bush. Dela surge o EI.
Assim e em nome de nada – ora em nome do combate a tropas soviéticas no Afeganistão, ora em nome de mentiras deslavadas (as 'armas de destruição em massa' de Sadam Hussein), ora sob o pretexto da defesa de minorias (Síria), ora sob pretexto nenhum (Líbia), os EUA – com a cooperação militar da França e da Inglaterra –, destruíram as estruturas sociais-religiosas do Iraque e dos demais países, acenderam conflitos religiosos e tribais, destruíram nações e as organizações políticas. Em  síntese, com a anarquia e o caos, ensejaram a proliferação de verdadeiros 'Estados' armados com exércitos agressivos, exércitos de terroristas aptos a agir em qualquer parte do mundo.
O Estado Islâmico e seu califado no Iraque e na Síria são fruto da invasão e destruição do Afeganistão, do Iraque, da Síria e da Líbia. A França interveio na Síria e os EUA financiam e dão assistência militar (inclusive com o fornecimento de armas e munições aos terroristas (que eles batizam de 'rebeldes') que lutam contra a ditadura de Bashar al-Assad, que, por seu turno, apoiado pela Rússia, combate o EI.
Os facínoras do EI colhem o fruto da destruição dos Estados árabes, de suas organizações sociais e politicas, e, nomeadamente, da destruição das forças armadas do Iraque, da Síria e da Líbia, cujos quadros foram atraídos pelos fanáticos, que também se beneficiam, ainda graças à intervenção do 'Ocidente', com o rompimento do tênue equilíbrio de forças entre xiitas e sunitas consequente das derrubadas de Saddam Hussein e Muamar Kadafi.
Os EUA, após a ignomínia do 11 de Setembro, conduziram operações secretas, com drones e execução de civis suspeitos em 70 países. Da injustificada invasão do Iraque – país que nada tinha com o ataque covarde – resultou uma guerra desastrosa (condenada até mesmo nas memórias do Bush pai) que fortaleceu a Al Qaeda (lembremos mil vezes, criada pelos EUA para combater os soviéticos  no Afeganistão) e propiciou as condições para o surgimento do EI. Deu no que deu. O medíocre François Hollande, elevado pelos terroristas à condição de 'presidente marcial' fala em guerra.
Que virá depois?
O simplório Jeb Bush, irmão do Bush 2 (o principal responsável pela depredação do Iraque e suas consequências vividas hoje), já declarou, em campanha pela candidatura republicana à presidência dos EUA, que o atentado de Paris é "uma tentativa de destruição da civilização ocidental".
Antes dele, e melhor e mais perigosamente do que ele, Samuel Huntington já havia anunciado o 'choque de civilizações' (na essência a 'guerra' contemporânea teria como eixo os conflitos culturais e religiosos, opondo nossas civilizações), dando sua lamentável contribuição para a intolerância e o ultra anti-islamismo que ameaça infeccionar a sociedade norte-americana.
O cenário é muito mais complexo do que supõe a mediocridade, dividindo o mundo entre os  'bons' (nós) e os 'maus' (os outros)  com o que a nova direita europeia (ex-socialistas incluídos) e os republicanos estadunidenses simplesmente repetem o maniqueísmo dos fanáticos que pretendem combater, os 'cruzados' com sinal trocado, pois, hereges, agora, somos nós, os que não seguimos Alá.
Algozes e vítimas, cada um a seu modo, se identificam na estratégia de propagar o ódio contra os que não compartilham sua ideologia. O ódio de um é a força que alimenta o ódio do outro e, assim, se tornam irmãos siameses e interdependentes.
Voltamos às Cruzadas?
A violência terrorista avança no mundo e agora grassa em uma Europa onde a xenofobia não é nova mas é crescente. As manifestações de preconceitos étnicos, especialmente contra os árabes, soma-se à intolerância religiosa, particularmente o anti-islamismo, reforçado pelos atos de terrorismo.
Essas manifestações prosperam em todo o mundo, mas avançam principalmente nos EUA (onde se tornam corriqueiras entre os pré-candidatos republicanos) e na Europa, símbolo de civilização que não conhece a inocência, mas sim a guerra como a arte da política: guerras fratricidas, guerras de conquista, séculos de exploração e depredação coloniais, uma história de colonialismo, pirataria, opressão dos povos subjugados. Em um só século duas guerras mundiais e o holocausto.
Leia mais em www.ramaral.org
http://www.cartacapital.com.br/internacional/paris-e-as-lagrimas-de-crocodilo-7992.html

11.20.2015

Crianças: como lidar com a ansiedade de na escola?


  • Em entrevista, o psicólogo americano Philip Kendall diz que os pais e professores deveriam prestar mais atenção aos alunos ansiosos



Menina com ansiedade
Crianças muito ansiosas tem mais chance de apresentar transtornos na vida adulta
Crianças que sofrem de muita ansiedade não costumam ser vistas como um problema na escola. Para o psicólogo Philip Kendall, porém, professores e pais precisam prestar mais atenção aos sinais de alto nível de ansiedade em seus alunos e filhos.  “A ansidade por vezes passa despercebida. Mas, se nada for feito, o problema aparece depois”, afirma o professor da universidade norte-americana de Temple, na Filadélfia.
Segundo Kendall, crianças ansiosas tendem a apresentar mais chance de desenvolver transtornos de ansiedade ou depressão na vida adulta. O psicólogo conversou com Carta Educação em Porto Alegre (RS), onde ministrou um curso sobre o tema no I Congresso Wainer de Psicoterapias.*
Carta Educação: As causas da ansiedade são conhecidas? Por que algumas pessoas são ansiosas e outras não?
Philip Kendall: Existe uma resposta simples: não. Mas temos algumas indicações e evidências de que a ansiedade é parte biológica, parte cognitiva e parte relacionada ao meio em que se vive. Assim, uma criança pode ter um pai ansioso, mas não ser ansiosa e vice versa. Não é automático. Da mesma forma, não é porque você teve uma experiência assustadora quando criança que automaticamente se tornará uma pessoa ansiosa. Quando olhamos não para a causa, mas para aquilo que mantêm as crianças ansiosas, aí temos temos mais propriedade. As famílias, os professores e o meio em que a criança vive têm um papel importante tanto em manter a ansiedade indesejada quanto na sua redução.
CE: Como a escola ou o professor pode identificar um aluno ansioso?
PK: Há uma notícia boa e outra ruim. Na verdade, crianças moderadamente ansiosas costumam ser boas alunas: elas são motivadas, obedientes, fazem a lição de casa e se importam. Por isso, o professor não costuma identificá-la como um problema, até porque ela não é. Mas uma forma de identificar um caso de ansiedade extrema é observar o que a criança evita. Quando uma criança diz: “Eu não posso fazer isso porque estou com medo”, isto é, quando o medo torna-se uma justificativa para não realizar alguma atividade. Existem testes e entrevistas, mas eles levam tempo. Acredito que o melhor sinal para o professor é se perguntar: “a criança está evitando alguma coisa?”  
CE: Por que é importante para o professor se importar com o nível de ansiedade de seus alunos?

PK: A maioria dos adultos e dos professores estão preocupados com crianças que inflingem a lei, roubam, carregam armas, etc. Tendemos a não nos preocupar com crianças ansiosas porque elas não nos incomodam. Mas, na verdade, quando eles não interagem com seus pares, estão mais propensos a  desenvolver, mais tarde, problemas psicológicos. A ansiedade é por vezes passa despercebida e, outras vezes, não é dada a devida atenção a ela. Mas, se você não fizer nada, o problema vai aparecer depois. Crianças ansiosas tem uma maior probabilidade de sofrer transtornos de ansiedade, maior probabilidade de desenvolver depressão, abuso de substância e suicídio na idade adulta. Se você tratar as crianças, pode reduzir esses problemas nos adultos.
CE: A ansiedade interfere na aprendizagem?

PK: Níveis muito baixos de ansiedade não são positivos, pois a criança pode dizer: “Eu tenho um teste importante amanhã, mas não me importo”. Níveis altos também não são bons. O que é melhor é o intermediário, isto é, a ansiedade moderada. A ansiedade moderada é bastante funcional. A ansiedade interfere na aprendizagem? Quando é muita alta, sim. Quando é moderada, na verdade, ela ajuda.
CE: Então a ansiedade em si não é uma coisa ruim.
PK: Sim, ela só é nociva se for muito intensa.
CE: O senhor afirmou que pais e professores tendem a fazer ajustes quando lidam com crianças ansiosas. Por que isso, ao contrário do que diz o senso comum, não é bom?
PK: Quando um pai ou mãe fica emocionalmente abalado ao ver a criança muito ansiosa ou chateada, a solução mais rápida é eliminar a causa da ansiedade na criança. Por exemplo, a criança tem medo de andar de carro, então você anda com ele de ônibus. É uma solução rápida, mas, com o tempo, ela na verdade piora a situação. Os efeitos de curto prazo desses ajustes é reduzir instantaneamente a angústia da criança mas, no longo prazo, os efeitos são indesejados. Isso torna cada vez mais difícil para a criança andar de carro, porque eles sentem que não são capazes de fazê-lo. Eles se tornam convencidos de que não conseguem.
CE: A superproteção de uma criança também contribui para agravar os casos de ansiedade?
PK: Sim. Na vida, você aprende na escola, por meio de seus pais e com seus erros. Se você não comete nenhum erro, você não aprende. Se você passa 10 anos da  sua vida com a mamãe e o papai te protegendo de tudo, quando algo der errado você não saberá o que fazer. Se os seus pais não deixam você interagir com seus amigos para te proteger, quando você precisar fazer algo que os envolva, você não saberá como agir. A superproteção cria uma criança que não está preparada para a vida adulta.
CE: As pessoas estão mais ansiosas hoje do que há 100 anos?
PK: Sim. A tendência atual é ir na direção errada. Na minha infância você ia para a escola, lá brincava e depois provavelmente fazia esportes ou tocava um instrumento musical – mas tudo era organizado pelas crianças. Hoje em dia, especialmente nos Estados Unidos, os pais organizam a brincadeira das crianças. As crianças não brincam, eles tem “playdates”. Em vez de se reunirem como crianças e inventarem um jogo, eles tem pais que dizem qual será o jogo e quais regras precisam ser seguidas. As crianças estão sob controle parental até quando deveriam estar só brincando. A brincadeira deveria acontecer livremente, sem a interferência dos adultos, brincar é saudável, é bom para as crianças, é assim que eles aprendem a se relacionar com os outros. Quando a brincadeira é muito organizada, você retira um estágio importante do desenvolvimento mental.
CE: E no longo prazo? As pessoas se tornam mais ansiosas?
PK: Um pouco mais ansiosas, e também mais isoladas.
CE: Que tipo de comportamento da parte do professor pode aumentar o nível de ansiedade nos alunos?
PK: A impossibilidade de prever eventos e a impunidade. Na vida, nós podemos nos tornar menos ansiosos quando é possível minimamente fazer previsões e controlar a situação. Quando você sabe que horas é preciso ir para algum lugar ou sabe que o Sol vai se levantar amanhã, por exemplo. O que torna as as pessoas mais ansiosas é quando não é possível prever. E se você não soubesse se amanhã terá emprego ou se haverá comida em sua mesa? A imprevisibilidade nos deixa com a senção de “o que eu vou fazer”? Quando pais e professores são explosivos, gritam, e esse comportamento é imprevisível, ele deixa a criança pensando: “quando vai acontecer de novo? Pode ser a qualquer momento”. 
CE: Que tipo de recomendações ou conselhos você daria a um professor para que ele se relacione melhor com alunos ansiosos?
PK: Eu diria: dê a eles oportunidades, pouco a pouco, de serem mais corajosos. Não espere seus alunos irem de ansiosos para não-ansiosos. Trata-se de um processo lento, com pequenos passos ou pequenas oportunidades para agir com mais coragem. Se a criança tem medo de falar em sala de aula, não o coloque em frente aos seus colegas imediatamente, dê uma chance para que ele fique brevemente em frente da classe ou responda a pergunta simples. Dê a ele oportunidades graduais para enfrentar as situações com coragem.
CE: O que acontece se o professor também for ansioso?
PK: Isso não é nada bom. Na vida, se você é exposto a pessoas sem medo, ansiedade ou preocupações, você acaba acreditando que essa é a forma de se viver a vida. Nós queremos que as crianças ansiosas sejam expostas a pessoas capazes, elas mesmas, de tomar algumas atitudes. Porque não é possível controlar tudo e, se você não tentar, você nunca vai saber. Um professor disposto a deixar a criança a tentar, ela conseguindo ou não, é uma boa coisa.

CE: Que tipo de informação os professores e os gestores públicos deveriam saber sobre a ansiedade?
PK: Ansiedade é uma coisa normal. As emoções não são boas ou ruim. Se seu desejo é que o produto final seja pessoas corajosas, engajadas e bem-sucedidas, não crie crianças medrosas e preocupadas. Crianças medrosas e preocupadas, em geral, não não se tornam adultos corajosos e bem sucedidos. Elas se tornam adultos ansiosos, medrosos e preocupados.
* A jornalista viajou à Porto Alegre a convite do Wainer Psicologia Cognitiva
http://www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/como-lidar-com-a-ansiedade-na-escola/

Por que o mercado de orgânicos ainda não deslanchou no Brasil?

  • Especialistas afirmam que há interesse dos consumidores e que futuro é promissor, mas setor esbarra numa série de dificuldades para os produtores
Por Jean-Philip Struck para Deutsche Welle - Sociedade e Alimentos Orgânicos (fonte no final)

Carlos Alberto/Imprensa MG
Agricultura-familiar
O mercado de orgânicos no Brasil é uma iniciativa de pequenos agricultores
O Brasil figura desde 2009 como o líder mundial no consumo de agrotóxicos. Na contramão dessa tendência, o mercado de alimentos orgânicos, que foca numa produção mais saudável, vem crescendo no país nos últimos anos.
O setor, no entanto, ainda enfrenta vários problemas, como dificuldades de logística, excesso de burocracia e carência de insumos.
Não há estatísticas oficiais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre o volume de orgânicos produzidos e comercializados no país. Só estão disponíveis estimativas elaboradas com base em dados de associações de supermercados e de produtores, que não conseguem abranger todo o mercado.
Segundo o Organics Brasil, um programa ligado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), uma das poucas organizações que compila esses dados, o mercado de orgânicos vem crescendo a uma taxa de quase 40% ao ano – um número bem superior às médias registradas nos Estados Unidos e na Alemanha, alguns dos maiores mercados de orgânicos do mundo.
Só que esse crescimento se dá sobre uma base que era bastante diminuta há até poucos anos. "A legislação nacional sobre orgânicos só foi regulamentada em 2011, o que só permitiu a entrada de muitas empresas e produtores há pouco tempo", afirma Ming Liu, coordenador executivo do Organics Brasil. "Nos EUA, a legislação já está em vigor desde 2000. Estamos mais de uma década atrás."
Segundo as estimativas do projeto, o mercado de orgânicos no Brasil teve receitas de 2 bilhões de reais em 2014, um número pouco expressivo diante dos 468 bilhões de todo o setor agropecuário no ano passado, e responde por apenas 0,4% do total produzido no país.
O volume ainda está bem atrás de mercados já tradicionais, como os EUA e a Alemanha, onde o setor responde por 4% a 5% do total produzido. Nos EUA, o maior mercado do mundo, os alimentos orgânicos geraram receitas de 35 bilhões de dólares em 2014.
Plantação
É só uma questão de tempo para que grande empresas entrem no mercado com força / Arnaldo Alves/ANPr

Futuro promissorNo Brasil, o mercado de orgânicos ainda é uma iniciativa típica de pequenos agricultores e extrativistas familiares e de alguns poucos empresários ousados.
"Ainda não há nada parecido no país com grandes redes de orgânicos, como a Bio Company, na Alemanha, e a Whole Foods, nos EUA. Nós ainda estamos com o mercado em formação", afirma Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura. "Ainda assim, é possível ver que o mercado está crescendo por causa de algumas amostras, como as feiras livres de orgânicos, que vêm aumentando o faturamento", afirma.
O Mapa afirma que existem 11 mil agricultores no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Já o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) calcula que haja mais de 400 feiras livres no país. Mesmo assim, não é possível saber exatamente qual foi o mercado total abocanhado por esses produtores e feirantes.
Para Lyu, é só uma questão de tempo para que grande empresas entrem no mercado com força. "Já existem iniciativas nesse sentido. Gigantes do varejo, como Casino, Carrefour e Walmart, já oferecem centenas de produtos orgânicos para o consumidor brasileiro. Nas lojas do grupo Casino, por exemplo, os orgânicos já respondem por 1,5% dos produtos comercializados. Outras empresas, como a Coca-Cola, já lançaram chá-mate orgânico", afirma.
Ambos os especialistas afirmam que, apesar de muitos problemas, o futuro dos orgânicos no Brasil é promissor. "O mercado de orgânicos no Brasil não está sendo empurrado por empresas que tentam vender um produto mais saudável, mas pelo consumidor que está mais preocupado com a sua saúde. As empresas tentam correr atrás. A demanda já está estabelecida, só falta uma cadeia produtora mais organizada", afirma Wachsner.
Entre os problemas da cadeia, além das típicas dificuldades de logística enfrentadas por todos os setores produtivos no Brasil, está a falta de insumos para a elaboração de produtos orgânicos de valor agregado, o que faz com que a oferta ao consumidor seja limitada aos produtos primários.
"Quem quer produzir chocolate orgânico, por exemplo, muitas vezes não consegue por meses obter cacau que se enquadre nas regras porque o cultivo ainda é muito pequeno", afirma Wachsner.
Para Ming, o setor em que a falta de insumos é mais evidente é a pecuária, pois a produção de carne e laticínios orgânicos é praticamente insignificante. "Poucos produtores brasileiros conseguem comprar com regularidade rações que não incluam sementes ou produtos geneticamente modificados. Muitas vezes, quando esse tipo de proteína vegetal está disponível, o agricultor prefere exportar o produto, provocando escassez para os empresários locais", afirma. "Nós temos uma demanda maior que a oferta."

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O mercado interno de orgânicos ainda é tímido / Arnaldo Alves/ ANPr
Dificuldades também para exportar Se o mercado interno de orgânicos ainda é tímido, o setor de exportações está ainda mais atrás, apesar da vocação brasileira para a exportação de alimentos.
De acordo com os dados da Organics Brasil, o país exportou 136 milhões de dólares em produtos orgânicos, como açúcar, castanhas e óleos vegetais, em 2014.
Segundo Liu, um dos principais problemas para as exportações é a falta de acordos entre o Brasil e outros países e blocos que normatizem as regras para a concessão do selo de produto orgânico.
A legislação brasileira regulamentada em 2011 fez com que o Brasil seguisse vários padrões praticados no exterior, mas também criou novos mecanismos.
Entre eles estão os chamados "sistemas participativos de garantia" e o "controle social para a venda direta sem certificação", que são mais baseados na confiança e na relação entre associações, produtores individuais e consumidores – e que dispensam a atuação sistemática de empresas certificadoras.
"Blocos como a União Europeia não querem nem ouvir falar disso, preferem as auditorias porque temem manipulação ou falsificação. Isso faz com que o exportador brasileiro tenha que procurar certificar seus produtos duas vezes, uma vez aqui e outra no exterior, o que encarece o produto, já que não há equivalência entre o selo brasileiro e os estrangeiros. Por isso o Brasil continua a exportar só orgânicos primários e não produtos de mais valor agregado, já que a certificação deles lá fora seria mais demorada", afirma Liu.
A falta de acordos também prejudica as importações. "Um supermercado que importar uma barrinha de cereal do exterior vai ter que procurar certificação para cada um dos ingredientes usados se quiser vendê-la como orgânica. É um processo longo e complicado. Algumas redes chegam ao ponto de retirar o selo estrangeiro de 'orgânico' dos seus rótulos para evitar a burocracia, mesmo que isso signifique frustrar consumidores que procuram os produtos", afirma.
http://www.cartacapital.com.br/economia/por-que-o-mercado-de-organicos-ainda-nao-deslanchou-no-brasil-1987.html

11.12.2015

Lei Antiterrorismo colocará Brasil na escalada repressiva internacional contra direitos sociais


por Eduardo Maretti, para Rede Brasil Atual - Sociedade e Justiça Social
  • Especialistas em direito e relações internacionais dizem que, se proposta relatada pelo senador Aloysio Nunes passar, democracia estará em risco 
  • No século 21 as medidas de exceção são adotadas “no interior da democracia”, como, por exemplo, por meio de leis ou da atuação do Judiciário 
manifestação.jpgFoto Marcelo Camargo/Agência Brasil
São Paulo – A chamada Lei Antiterrorismo é uma séria ameaça aos direitos individuais e ao estado democrático de direito. “No plano da teoria do Estado, estamos avançando rapidamente para a deterioração absoluta do regime democrático”, afirmou o jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP. “A Lei do Antiterrorismo é pura importação de medidas de exceção de modelagem europeia, que foi transferida ao Brasil sem necessidade. Se na Europa é ruim, aqui vai ser terrível, porque aqui nós temos o Judiciário como agente de exceção”, disse Serrano.
Para Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, a incorporação de países, principalmente com a importância do Brasil, entre aqueles que adotam medidas nesse âmbito “faz parte da estratégia dos Estados Unidos”. “O Brasil entrou na órbita dessa preocupação. A forma como o Brasil vai lidar com isso é considerada importante”, avalia Nasser.
Márcio Sotelo Felippe, ex-procurador-geral do estado de São Paulo (de 1995 a 2000, no governo de Mário Covas), afirmou que “o projeto traz grave risco à democracia”. “Tanto que, nas justificativas, faz referência aos compromissos internacionais do Brasil.”
O grande problema de tal legislação é que, diante da dificuldade de se conceituar o que é terrorismo, a interpretação caberá a agentes públicos como policiais, promotores e juízes. Segundo o artigo 2° do projeto, “terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos de atos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”.
O perigo dessa previsão, avalia Felippe, é a ampla possibilidade de interpretação pelas autoridades. “O que é ‘terror generalizado’? Essas conceituações ‘abertas’ permitem a interpretação que for mais conveniente ao policial, ao promotor ou ao juiz. Terror generalizado pode ser um coquetel molotov? Pode ser a bomba de Hiroshima?”, ironiza.
A adoção, pelo Brasil, de medidas “de exceção” como a Lei Antiterrorismo não é casual. “Hoje se dissemina no mundo um crescimento da direita contra movimentos sociais”, constata Felippe. Ele cita a chamada Lei da Mordaça, da Espanha, que fala em “segurança da sociedade”. “Estamos diante de uma escalada repressiva em âmbito internacional.” Para ele, o fato de o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ter sido o relator do projeto no Senado é sintomático, assim como é estranho que a proposta seja de iniciativa do Executivo e, mais estranho ainda, do Ministério da Fazenda, e não da Justiça, como seria de se esperar.
O PLC 101/2015, já aprovado no Senado, precisa ser novamente votado na Câmara. Proposto pelo Executivo, o projeto relatado por Aloysio Nunes ficou ainda mais preocupante após passar no Senado dia 28 de outubro por 38 votos favoráveis e 18 contra.
Pelo texto aprovado na Câmara, estavam excluídas da tipificação de terrorista “pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios”. No texto original, ficavam fora da tipificação de terrorista “pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais”.
Aloysio retirou a exceção aos movimentos sociais do texto. Isso significa que um movimento de rua ou um protesto, caso a lei entre em vigor, pode ser enquadrado como “terrorismo”, de acordo com os debatedores no seminário do Fórum 21.

História

Pedro Serrano acredita que, enquanto no século 20 as ditaduras eram implementadas por meio de “formas de governos com pretensão de provisoriedade”, no século 21 as medidas de exceção são adotadas “no interior da democracia”, como, por exemplo, por meio de leis ou da atuação do Judiciário. “Marcadamente depois do 11 de setembro, com o Patriot Act (adotado pelo governo norte-americano de George W. Bush), sob o pretexto de combater o inimigo muçulmano.”
Segundo Serrano, “hoje, no primeiro mundo, o que se observa são atos legislativos que se traduzem em medidas de exceção, as quais, a título de combater o inimigo, têm o condão de suspender os direitos humanos fundamentais.” O Brasil caminha nesse sentido, avalia.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/11/lei-antiterrorismo-coloca-brasil-na-escalada-repressiva-do-primeiro-mundo-e-ameaca-direitos-5746.html

11.06.2015

A democracia na Améria Latina sobreviverá contra o golpe da imprensa



  • Ignacio Ramonet: maior batalha da esquerda na América Latina é contra 'golpe midiático' 
  • Quanto a emissora Telesur, o jornalista francês do Le Monde falou sobre comunicação e avanço popular na região 

por Pedro Aguiar de Quito/Equador - Sociedade e Liberdade de Expressão

O maior confronto enfrentado na América Latina atualmente é “a batalha midiática”, desde pelo menos o ano de 2002, quando a tentativa frustrada de derrubar o governo na Venezuela deu início a um novo tipo de golpe de Estado, o “golpe midiático”, transferindo aos meios de comunicação privados o papel de partido político nas oposições aos governos.
A avaliação foi feita pelo jornalista e professor Ignacio Ramonet, ex-editor do jornal Le Monde Diplomatique, quando esteve no evento “Comunicação e Integração Latino-Americana”, realizado no Equador há algum tempo.
Organizado pelo Ciespal (Centro Internacional de Estudos Superiores da Comunicação para a América Latina), foi comemorado na ocasião os dez anos de fundação da Telesur, canal multinacional de televisão mantido por diversos governos da região. Fundada por iniciativa de alguns países, três anos após o golpe fracassado na Venezuela, a emissora nasceu com o papel de promover uma alternativa na cobertura das notícias latino-americanas, feita por jornalistas e comunicadores da própria região.
Agência Andes (arquivo/2012)
Ex-editor do 'Le Monde Diplomatique', Ignacio Ramonet é jornalista e professor espanhol radicado na França
“Nos últimos 15 anos, todos os governos progressistas que chegaram ao poder democraticamente na região vêm sendo mantidos por via eleitoral. Nenhum deles foi derrotado nas urnas. Por isso, a resistência à mudança vem sendo cada vez mais brutal, apelando para novos tipos de golpes, alguns com fachada judicial, parlamentar, e sempre com forte ajuda da mídia”, disse Ramonet, lembrando os casos do Paraguai, Honduras e investidas recentes no Equador, Argentina e no Brasil.
Ao lado de Ramonet, a presidente da empresa, Patricia Villegas, lembrou que as principais coberturas do canal até agora foram justamente em países que não participam do consórcio, como a campanha militar contra a guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o golpe contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, em 2009.
“Naquele momento, o mundo só pôde acompanhar o que acontecia em Honduras, minuto a minuto, graças ao sinal da Telesur. Porque as emissoras privadas globais ou não estavam lá, e as que estavam preferiam ignorar”, disse.
Para Ramonet, o grande mérito da Telesur ao longo dessa década foi oferecer “uma outra leitura” sobre os acontecimentos da América Latina e do mundo, fugindo das perspectivas de redes privadas como CNN, Fox News, Rede Globo, Rede Record, Jornal Folha, Jornal Estadão, Revista Veja, Jornal New York Times, Jornal El Clarin  entre outros que, para ele, seguem praticamente a mesma linha midiática.
“Estou convicto de que a CNN vai desaparecer, não por falta de capital, mas por falta de audiência”, previu Ramonet, para a plateia de jornalistas, intelectuais e estudantes reunida no auditório equatoriano. “A Telesur não tem concorrência. Esse é o sonho de qualquer canal. Porque as outras fazem mais ou menos a mesma coisa”, deixando de utilizar a criatividade e o bom senso.
'Convergência digital'
Segundo o jornalista — que é espanhol mas vive radicado na França desde 1972 —, a maior mudança na comunicação nos últimos dez anos foi a integração das várias plataformas, a chamada “convergência digital”: smartphones, tablets e computadores, que tiraram da televisão o posto de tela principal da mídia. E, se antes as inovações tecnológicas estouravamapareciam primeiro nas cidades ricas da Europa e dos EUA, aponta Ramonet, agora já são disseminadas simultaneamente nas grandes metrópoles da América Latina, Ásia, Índia, China e de outras regiões em desenvolvimento.
“As novas plataformas abandonam a continuidade que obrigava o espectador a assistir tudo linearmente; agora ele pode ver o que quiser, na ordem que quiser. Os canais que se adaptarem melhor são os que têm mais chance de sobreviver”, aponta.
Patricia Villegas enfatizou que a adaptação às novas plataformas é uma de suas maiores preocupações da Telesur. “Não adianta fazer conteúdos-espelho ou replicar informações, que se repetem de forma idêntica na TV, na web, no Facebook, no Twitter, no Google. Os conteúdos precisam ser complementares e diferentes, porque o público procura formas diferentes de informação”, disse ela.
Divulgação/Ciespal
Congresso 'Comunicação e Integração Latino-Americana' em Quito, capital equatoriana
A Telesur celebra também o início da produção de conteúdos em inglês. “Não estamos traduzindo informações, mas produzindo diretamente em inglês”, enfatizou Patricia Villegas. Segundo ela, a entrada na esfera anglófona sinaliza a intenção da empresa em ampliar sua presença global. Por enquanto restrita ao site e às redes sociais, a Telesur em inglês iniciou transmissões também como canal de televisão, com sede em Quito no Equador.
Sul geopolítico
“Na América Latina, vários intelectuais e lideranças políticas têm o vício de só ver a relação regional com o 'gigante do norte', os Estados Unidos. Mas também é extremamente importante considerar nossa relação com a China, a África, o Oriente Médio. A Telesur tem a tarefa de transportar a missão progressista da América Latina para o resto do mundo”, disse Ramonet.
Justamente por isso, Villegas diz que o canal continua expandindo seu universo de pautas para outras regiões, como o ataque da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, e mais recentemente na crise financeira da Grécia, quando o canal enviou jornalistas para Atenas e investiu na cobertura ao vivo. “Às vezes perguntam aos nossos repórteres: 'O que vocês estão fazendo aqui?'. Estamos aqui porque a nossa ideia de 'sul' não é apenas geográfica, mas principalmente geopolítica. Enxergamos a informação como um serviço, e não como mercadoria”, além de esclarecer a atual situação econômica mundial, a geopolítica dos países participantes dos Bric's, as guerras na Ásia e África, imigração para a Europa, entre outros assuntos da atualidade mundial.
“Durante muito tempo na América Latina, o jornalismo era um privilégio das emissoras privadas, e as TVs públicas ficavam relegadas à programação educativa, cultural e folclórica. Daí a importância de investir em produzir informação numa tela pública e educativa. Não se trata de um monólogo do Estado, mas de dar voz também aos grupos comunitários, como indígenas e afrodescendentes, contra a folclorização dessas comunidades”, concluiu Patricia Villegas.
Da teoria à prática
“É fundamental a teoria que reflete sobre a prática para dar-lhe sentido e compreender melhor a realidade para fazer diferente”, comentou Ramonet.
O diretor do CIESPAL, o espanhol Francisco Sierra, refletiu a tentativa de descrédito sobre a Telesur e outras mídias públicas, assim como contra as iniciativas de regulação e democratização da mídia pelos governos da “guinada progressista”, lembrou o ataque da mídia privada feito contra a campanha da Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação (NOMIC) e o Relatório MacBride da Unesco (Órgão da ONU para Educação, Ciência e Cultura), entre os anos 70 e 80.
Ele recordou o legado do comunicólogo boliviano Luis Ramiro Beltrán (falecido), que não apenas teorizou sobre a comunicação latino-americana, mas ajudou a promover fóruns e encontros internacionais para criar iniciativas práticas de alternativas midiáticas na região naquela mesma época. “É importantíssimo aprendermos e nos inspirarmos com os processos de democratização da comunicação em curso em outros países da América Latina. O congresso permite esse diálogo”, disse Pasti ao jornal Opera Mundi.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/41125/ignacio+ramonet+maior+batalha+da+esquerda+na+america+latina+e+contra+golpe+midiatico.shtml