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7.31.2015

HSBC: evasão fiscal do SwissLeaks pode ser recuperada no Brasil

Segundo Hervé Falciani, a repatriação das somas devidas ao fisco só depende de vontade política. Ele está pronto a colaborar com o governo brasileiro.


Leneide Duarte-Plon, de Paris - Sociedade e Evasão Fiscal wikipedia
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou como prioridade de seu governo o combate à fraude fiscal. Para lutar contra essa hemorragia de recursos públicos, a Justiça grega trabalha arduamente no sentido de repatriar em condições vantajosas várias dezenas de bilhões de euros que se encontram na Suíça e em outros paraísos fiscais.

O governo brasileiro tem todo interesse em fazer o mesmo e determinar através da Justiça o repatriamento do que foi sonegado ao fisco e se encontra no HSBC de Genebra. Revelada por um ex-empregado do banco, o franco-italiano Hervé Falciani, 42 anos, o SwissLeaks , « a fraude fiscal do século”, trouxe à tona uma realidade escondida mas conhecida de todos: a Suíça é o maior paraíso fiscal do planeta.

Em entrevista exclusiva que deu por skype e que assino na revista Carta Capital desta semana, ele se disse pronto a colaborar com as autoridades brasileiras. Para haver o retorno do imposto fraudado aos cofres públicos é preciso que cada país faça sua própria investigação. E para isso, há que haver vontade política.

Falciani forneceu em 2009 às autoridades francesas uma lista de 106 mil contas secretas no HSBC de Genebra pertencentes a cidadãos de diversos países. Conhecendo a fundo o funcionamento do sistema, ele trabalhou com a justiça francesa por vários anos em segredo até que o jornal Le Monde foi autorizado a ter acesso à lista e divulgou o SwissLeaks em fevereiro deste ano.

O jornal decidiu compartilhar o monumental volume de informação com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) que reúne jornalistas de diversos países. O jornalista brasileiro que teve acesso à lista de mais de 8 mil brasileiros divulgou alguns deles, mas em vez de se interessar pelo problema de fundo, a imprensa brasileira se perdeu em pequenos detalhes.

Segundo Falciani, para evitar os casos particulares e as manipulações, é preciso ter coragem política e dizer : « Vamos enfrentar a raiz do problema », sem a preocupação de uma pessoa ou um grupo, sem se preocupar com o consórcio.

E a raiz do problema é o sistema financeiro.

“Se houver mais transparência, o Brasil terá mais investimento, mais benefícios para os brasileiros. Não é um problema de pessoas, elas são substituíveis. É um problema de mecanismos », diz o engenheiro informático, que se tornou próximo do Podemos, na Espanha, e do Syriza, na Grécia.

O segredo bancário favorece todo tipo de fraude, pensa Falciani. Ele se colocou à disposição do governo brasileiro para ajudar a decifrar as 8.667 contas de brasileiros protegidas pelo segredo bancário do maior sistema informático privado do mundo, que ajudou a montar. Algumas contas são em nome de pessoas físicas, outras escondem seus donos por trás de sociedades offshore.

Falciani frisa que a fraude fiscal só pode ser desvendada e parte dos impostos repatriada ao Brasil se houver vontade política da presidente Dilma Rousseff ou por decisão de justiça.

A Suíça, como os outros paraísos fiscais, guarda nas contas secretas o dinheiro ganho legalmente por empresários e até mesmo por banqueiros que não querem pagar parte de suas fortunas em impostos, caso de Emílio Botin, dono do Santander, que detinha uma conta secreta no HSBC. Mas além do dinheiro legal que foge ao fisco, as contas secretas abrigam comissões de vendas de armas, comissões recebidas por tráfico de influência política, além do dinheiro de mafiosos e traficantes de todo tipo.

Pedra de Roseta

Falciani é o que os franceses chamam de lanceur d’alerte (whistle blowers, em inglês). Sua causa é o direito dos cidadãos à informação sobre o que se passa no mundo opaco da finança. O New York Times comparou-o a Edward Snowden, o jovem funcionário da NSA (National Security Agence) que revelou ao mundo, em 2013, o escândalo da espionagem e das escutas ilegais de chefes de Estado, inclusive de Dilma Rousseff e de Angela Merkel, feitas pelos americanos.

Mas a apropriação de dados secretos do HSBC por Hervé Falciani não foi um ato isolado de um herói solitário. Em seu livro Séisme sur la planète finance-Au coeur du scandale HSBC, lançado recentemente em Paris, ele conta que a divulgação da lista com 106 mil contas foi um trabalho preparado por uma rede de pessoas que sempre o ajudaram. Essa rede decidiu revelar ao mundo a total impunidade que o segredo bancário favorece privando todos os países de impostos fundamentais no desenvolvimento e no funcionamento dos serviços públicos.

Especialista em informática, Falciani decifrou para as autoridades francesas o que chama de « Pedra de Roseta », o intricado sistema de códigos espalhado por filiais em diversos países do mundo que permitem a total opacidade do banco.

« Nas informações disponíveis, pode-se encontrar todo o contexto de uma conta. Pode-se descobrir quem são os laranjas, quem são os intermediários, os gerentes das contas », informa.

Cumplicidade na fraude

O banco HSBC já foi processado em diversos países como a França, a Argentina, a Itália e os Estados Unidos, que o responsabilizaram pela organização da monumental evasão fiscal de seus cidadãos. A justiça belga processou o banco por fraude fiscal organizada, lavagem de dinheiro, associação de malfeitores e intermediação financeira ilegal. A todos esses países, o banco pagou multas milionárias como os 50 milhões de euros que teve de pagar à França por « lavagem financeira de somas provenientes de fraude fiscal ».

Além disso, a justiça e a administração francesas, que começaram a trabalhar com a lista Falciani desde 2009, já conseguiram repatriar 400 milhões de euros das contas de cidadãos franceses. Em novembro de 2014, o governo argentino denunciou na Justiça o HSBC por ter ajudado mais de 4 mil cidadãos argentinos a fraudar o imposto.

Segundo Falciani, argentinos e brasileiros podem trabalhar em conjunto para recuperar o dinheiro devido ao fisco. Ele já colabora com os espanhois e também com os argentinos, além dos gregos.

« O responsável brasileiro da receita pode pedir a colaboração de seu colega argentino, Ricardo Echegaray, que investiga o caso. Eles podem começar um trabalho conjunto. Esse trabalho pode durar vários anos e levará a mudanças benéficas. Só precisa haver vontade política. »

As contas de brasileiros no HSBC devem ocultar mais de R$ 7 bilhões, segundo estimativa preliminar.

Em seu livro, Falciani assinala que o governo francês nunca aceitou comunicar todas as informações de que dispõe. Negou os dados à Itália, aos Estados Unidos e aos outros países que lhe solicitaram. A única exceção foi feita à Suíça, que beneficiou da total cooperação.
Créditos da foto: wikipedia
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/HSBC-evasao-fiscal-do-SwissLeaks-pode-ser-recuperada/7/34103 

Europa: Testes fatais - Boaventura S. Santos

Sociedade e Contrôle Social 

A Europa transformou-se num laboratório do futuro. O que nele se experimenta deve causar preocupação a qualquer democrata e a qualquer pessoa de esquerda.

A Europa transformou-se num laboratório do futuro. O que nele se experimenta deve causar preocupação a qualquer democrata e, muito mais, a qualquer pessoa de esquerda. Duas experiências estão em curso em ambiente laboratorial, isto é, supostamente controlado. A primeira experiência é um teste de stress à democracia. A hipótese que orienta o teste é a seguinte: a deliberação democrática de um país forte pode sobrepor-se antidemocraticamente à deliberação democrática de um país fraco sem que tal altere a normalidade da vida política europeia. As condições para o êxito desta experiência são três: controlar a opinião pública de modo a que os interesses nacionais do país mais forte sejam convertidos no interesse comum da zona euro; dispor de um conjunto de instituições não eleitas (Eurogrupo, BCE, FMI, Comissão Europeia) capazes de neutralizar e punir qualquer deliberação democrática que desobedeça ao diktat do país dominante; demonizar o país mais fraco de modo a que não suscite nenhuma simpatia junto dos eleitores dos restantes países europeus, especialmente junto dos eleitores dos países candidatos a desobedecer. A Grécia é a cobaia desta tenebrosa experiência. Trata-se do segundo exercício de ocupação colonial do século XXI (o primeiro foi a Missão de Estabilização da ONU no Haiti a partir de 2004), um colonialismo de tipo novo, executado com o consentimento do país ocupado, ainda que sob inaudita chantagem. E, tal como o velho colonialismo, justificado como servindo o melhor interesse do país ocupado. A experiência está em curso e os resultados do teste de stress são incertos. Ao contrário dos laboratórios, as sociedades não são ambientes controlados, por maior que seja a pressão para os controlar. Uma coisa é certa, depois desta experiência, qualquer que seja o seu resultado, a Europa não será mais a Europa da paz, da coesão social e da democracia. Será o epicentro de um novo despotismo ocidental, rivalizando em crueldade com o despotismo oriental estudado por Karl Marx e Max Weber.
A segunda experiência em curso é um exercício sobre a solução final para a esquerda europeia. A hipótese que orienta esta experiência é a seguinte: não há lugar na Europa para a esquerda na medida em que esta reivindicar a existência de uma alternativa às políticas de austeridade impostas pelo país dominante. As condições para o êxito desta experiência são três. A primeira consiste em provocar a derrota preventiva dos partidos de esquerda punindo de maneira brutal o primeiro que tentar desobedecer. A segunda consiste em criar nos eleitores a ideia de que os partidos de esquerda não os representam. Até agora, a ideia de que "os representantes não nos representam" era uma bandeira do movimento dos indignados e do Occupy contra os partidos de direita e seus aliados. Depois de o Syriza ser forçado a beber o cálice da cicuta austeritária apesar do "não" do referendo grego que ele próprio apoiara, os eleitores serão levados a concluir que, afinal, também os partidos de esquerda não os representam. A terceira condição consiste em armadilhar a esquerda em falsas opções entre falsos Planos A e Planos B. Nos últimos anos, a esquerda dividiu-se entre os que pensam que é melhor permanecer no euro e os que pensam que é melhor sair do euro. Ilusão: nenhum país pode optar por sair ordenadamente do euro, mas, se desobedecer, será expulso e o caos desabará implacavelmente sobre ele. Passa-se o mesmo com a restruturação da dívida que até agora tanto dividiu a esquerda. Ilusão: a restruturação ocorrerá quando tal servir os interesses dos credores e é por isso que mais esta bandeira de alguma esquerda se transforma agora numa política do FMI.

Também os resultados desta experiência são incertos e pelas mesmas razões acima referidas. Uma coisa é certa: para sobreviver a esta experiência, a esquerda terá de se refundar para além do que é hoje imaginável. Tal envolverá muita coragem, muita audácia e muita criatividade.    
http://cartamaior.com.br/?/Coluna/Testes-fatais/34054

Exemplo internacional de inclusão social, Bolsa Família é apresentado na Suíça

Secretário de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome vai detalhar avanços do programa em reunião da OIT em Genebra.


Portal Brasil Divulgação/Governo do Paraná
Exemplo internacional de sucesso das políticas de combate à pobreza do Brasil, o programa Bolsa Família terá seus resultados apresentados nesta quinta-feira (30) em Genebra, na Suíça, durante encontro promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Os avanços do programa serão detalhados pelo secretário nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Helmut Schwarzer.

“O Bolsa Família vai além da redução da pobreza monetária no curto prazo. O programa apresenta reconhecido impacto por meio das condicionalidades na área de saúde e educação”, afirma o secretário. Segundo Schwarzer, o programa de transferência de renda é citado em relatórios da agência da ONU como uma boa prática de inclusão social e redução das desigualdades.

“O piso de proteção social é um conceito que a OIT desenvolveu e o Bolsa Família foi um dos casos que serviu de inspiração para mostrar que é possível expandir sistemas de proteção social para a população mais pobre”, aponta o secretário.

 Os direitos das populações indígenas e tradicionais – o convênio 169 da OIT, ratificado pelo Brasil – também serão discutidos. “Para nós é interessante avaliar com técnicos da OIT de que forma esse convênio pode ser útil para aperfeiçoar o programa Bolsa Família na sua relação com esses povos”, afirma Schwarzer.
Créditos da foto: Divulgação/Governo do Paraná
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Exemplo-internacional-de-inclusao-social-Bolsa-Familia-e-apresentado-na-Suica/4/34122