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5.26.2016

Redução das desigualdades: 70% da nova classe média pode retornar à pobreza. Entrevista com pensador espanhol Ludolfo Paramio

De IHU - Unisinos para Adital  - Sociedade e Luta por Direitos dos Humildes (fonte no final do texto)
 
  • "O mundo, e não só a América Latina, atravessa um momento de mudanças imprevisíveis”, afirma o sociólogo espanhol.

Por Patricia Fachin
"Tenho receio de que uma grande parte dos setores vulneráveis volte a cair na pobreza, mas ao mesmo tempo espero que as classes médias e vulneráveis se mobilizem para exigir melhores serviços públicos de educação e saúde, e uma ‘limpeza’ e recuperação do Estado e da classe política”, dizLudolfo Paramio à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.
De acordo com o sociólogo espanhol, apesar de ter havido "uma leve diminuição das desigualdades e uma forte redução da pobreza” na América Latina, quando se trata da situação econômica e social das novas classes médias que emergiram na última década, adverte, tem de se considerar que "70% são vulneráveis, famílias que podem retornar à pobreza se a economia retroceder”.
Na avaliação de Paramio, entre os fatores que explicam a ascensão da nova classe média na América Latina, destaca-se a "nova demanda asiática de matérias-primas e um papel mais ativo do Estado”. Contudo, frisa, o "estancamento da economia global, e especialmente a desaceleração da economia chinesa, mais a queda dos preços do petróleo, estão freando as economias da região e levando algumas a uma forte recessão”, como é o caso do Brasil e da Argentina. Entre as consequências desse cenário, pontua, os governos terão de ajustar os seus gastos "e isto pode significar cortes das políticas sociais além da destruição do emprego”.
Ludolfo Paramio é professor de cursos de pós-graduação sobre política latino-americana no Instituto Universitário de Pesquisas Ortega y Gasset e dirige o Programa de América Latina do Instituto Universitário de Pesquisa José Ortega y Gasset, desde maio de 2008.

É graduado em Jornalismo e doutor em Ciências Físicas pela Universidade Autónoma de Madrid. Atualmente dirige a revista de ciências sociais Zona Abierta. É membro dos conselhos de assessores da Fundación para las Relaciones Internacionales y el Diálogo Exterior – FRIDE e da Revista Internacional de Sociología. Também é membro da Associação Latinoamericana de Ciência Política.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é o histórico das classes médias na América Latina? Que papéis desempenharam no continente em diferentes momentos históricos? Quais foram os momentos que mais marcaram a ascensão econômica e social das classes médias na região?

Ludolfo Paramio - É complicado dizer, e depende muito da definição que a gente der de classes médias. Mas em grandes traços podemos dizer que desde os anos quarenta as classes médias tiveram uma forte expansão, ligada à industrialização substitutiva e à expansão do mercado interno, que entram em crise nos anos setenta e que desde a crise da dívida até os anos noventa atravessam um notável retrocesso.
IHU On-Line – É possível evidenciar quais foram os fatores que garantiram a ascensão da classe média na América Latina? Na sua avaliação, essa ascensão econômica reflete uma diminuição das desigualdades ou apenas da pobreza?

Ludolfo Paramio - A nova demanda asiática de matérias-primas e um papel mais ativo do Estado, incluindo políticas sociais como a do Programa Bolsa Família, têm sido os fatores impulsores de uma nova expansão das classes médias. Paralelamente se tem produzido uma leve diminuição da desigualdade e uma forte redução da pobreza. Mas quando falamos de novas classes médias, tem que se ter em conta que uns 70% são vulneráveis, famílias que podem retornar à pobreza se a economia retroceder.
IHU On-Line – Em artigo recente o senhor menciona que a classe média da América Latina está vulnerável e próxima de uma queda. Quais são as razões desta ameaça?

Ludolfo Paramio - O estancamento da economia global, e especialmente a desaceleração da economia chinesa, mais a queda dos preços do petróleo, estão freando as economias da região e levando algumas a uma forte recessão (Brasil e Argentina). Isso obriga os governos a ajustar o gasto, o que pode significar cortes das políticas sociais, além da destruição do emprego.
IHU On-Line - Em que países da América Latina essa queda tende a ser mais acentuada? Por quê?

Ludolfo Paramio - A queda está sendo catastrófica na Venezuela, pela independência total dos ingressos do petróleo e a inflação muito alta.
IHU On-Line - Como analisa a atual conjuntura política da América Latina de modo geral? Está de acordo com a análise de que está se fechando um ciclo progressista na América Latina?

Ludolfo Paramio - Os escândalos de corrupção, num clima de recessão econômica, vão provocar a queda de muitos governos, e isso afetará também os governos progressistas.
"Os escândalos de corrupção, num clima de recessão econômica, vão provocar a queda de muitos governos, e isso afetará também os governos progressistas"
IHU On-Line - O que está surgindo no lugar desse ciclo progressista que se acaba?

Ludolfo Paramio - Isso não sabemos, porque vai depender das políticas que se façam nos novos governos e isso não está determinado por uma ideologia neoliberal, como acontecia nos anos noventa. Caberia pensar nos governos pragmáticos que mantêm políticas sociais num contexto de ajuste.
IHU On-Line - Que mudanças vislumbra em relação às conquistas da classe média que chegou à ascensão econômica nos últimos anos?

Ludolfo Paramio – Tenho receio de que uma grande parte dos setores vulneráveis volte a cair na pobreza, mas ao mesmo tempo espero que as classes médias e vulneráveis se mobilizem para exigir melhores serviços públicos de educação e saúde, e uma "limpeza” e recuperação do Estado e da classe política.
IHU On-Line - Quais são os maiores desafios no sentido de garantir a diminuição das desigualdades na América Latina e a continuidade da ascensão da classe média?

Ludolfo Paramio - Combinar o ajuste e o regresso ao crescimento, com investimento em infraestrutura, saúde e educação.
IHU On-Line - Que futuro vislumbra para a América Latina nos próximos anos?

Ludolfo Paramio - O mundo, e não só a América Latina, atravessa um momento de mudanças imprevisíveis. É impossível dizer por onde irá o futuro.

IHU - Unisinos

Instituto Humanitas Unisinos


http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=88940

Por que o impedimento (golpe): barrar a lava jato e beneficiar os ricos (pessoa física e jurídica) para que paguem menos impostos

  • A meta fundamental dos impedimentistas é reduzir os direitos sociais dos trabalhadores

    • O objetivo é beneficiar os capitalistas rentistas e financistas ou os ricos, pessoa física e jurídica

      • Prevalecer acordos sobre a legislação trabalhista é péssimo para a grande maioria dos trabalhadores, que não têm sindicatos fortes a defendê-los.

bc-itau-ribsMotivos para o impedimento (golpe)
por Luiz Carlos Bresser-Pereira, para o blog O Cafezinho - Sociedade e Domínio dos Ricos

Diante do afastamento do ex-ministro do Planejamento e senador Romero Jucá, que caiu em uma armadilha preparada por Sérgio Machado (é difícil encontrar alguém pior neste Brasil), o PT passou a afirmar que paralisar a Operação Lava Jato foi a "verdadeira" causa do impedimento. Não, não foi. Foi uma das causas; é claro que o PMDB e os demais partidos querem paralisá-la, e não se conformavam com a "inação" do PT, mas a principal causa está hoje nos jornais.
A meta fundamental dos impidimentistas é reduzir os direitos sociais dos trabalhadores, e o governo informa que, para isto apresentará quatro reformas constitucionais: desvinculação das despesas com educação e saúde da receita e teto para elas; autorização para que os acordos sindicais prevaleçam sobre a legislação trabalhista; desvinculação de benefícios sociais do salário mínimo; e definição da idade mínima para a previdência.
O objetivo é beneficiar os capitalistas rentistas e financistas ou os ricos, pessoa física e jurídica - os grandes vitoriosos do momento - para que paguem menos impostos. É reduzir os salários diretos e indiretos.
A justificativa é uma "crise fiscal estrutural". É a tese que a Constituição de 1988 não cabe no PIB. Ora, isto é falso. Entre 1999 e 2012 as metas fiscais foram atingidas. Agora estamos em uma crise fiscal que, de fato, exige ajuste. Mas exige medidas pontuais.
Quanto às reformas constitucionais, é realmente necessário fazer alguma coisa, mas não da forma violenta que está sendo proposta. Uma desvinculação de 20% é razoável, e realmente é necessário estabelecer uma idade mínima de 65 anos, mas com um amplo prazo de carência, porque não há problema fiscal agudo na previdência hoje. A desvinculação dos benefícios sociais do salário mínimo não é necessária, mas sua manutenção significa que o salário mínimo não deverá aumentar mais, em termos reais, do que a produtividade. Prevalecer acordos sobre a legislação trabalhista é péssimo para a grande maioria dos trabalhadores, que não têm sindicatos fortes a defendê-los.
A economia brasileira está semiestagnada desde 1990 - ano da abertura comercial - porque a partir de então a doença holandesa deixou de ser neutralizada e as empresas brasileiras passaram a ter uma desvantagem competitiva muito grande. Porque a taxa de juros é muito alta desde a abertura financeira de 1992. Porque essa taxa de juros muito alta implica um custo fiscal de juros para o Estado absurdo - em torno de 6% do PIB, no último ano, 8,7% do PIB. E porque a poupança pública é muito pequena, insuficiente para financiar os necessários investimentos públicos.
http://www.ocafezinho.com/2016/05/26/brasil-um-impeachment-com-jeito-de-golpe/