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6.08.2021

Será que a volta triunfal da vacina e do Zé Gotinha, após um ano é efeito CPI da pandemia?

Até então, a única aparição de destaque do personagem no governo federal havia sido empunhando uma arma

por Cynara Menezes, a Socialista Morena na Revista Forum – Sociedade e Governo Federal Sem Rumo

 

Queiroga, ministro da Saúde, apresenta campanha de vacinação. Foto: Tony Winston/MS

Ao contrário do sinistro mosquito da dengue, que manteve seu prestígio inabalado no governo eleito em pleno escândalo da lava-jato jurídico-parlamentar-militar-empresarial, o simpático Zé Gotinha andou escanteado das campanhas do Ministério da Saúde em 2020.

Durante os 10 meses da gestão truculenta no ministério da saúde de Pazuello, a única vez em que o personagem infantil ganhou destaque foi quando apareceu empunhando uma arma em postagem do filho do presidente, Eduardo, para indignação geral e de seu criador, o artista plástico Darlan Rosa. Agora, após a CPI do Genocídio ser instalada pelo Congresso brasileiro, o personagem  voltou a ser protagonista das campanhas do ministério e ganhou até uma família, a “família Gotinha”.

Nossa arma é a vacina! pic.twitter.com/hNPHLVueZr

— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) March 12, 2021

Criado em 1986 por Darlan, Zé Gotinha atravessou todos os governos desde então. Apenas neste governo federal foi deixado de lado, sobretudo após ganhar fama de “comunista” só porque seguiu as orientações sanitárias e não retribuiu o aperto de mão do presidente em uma cerimônia, em dezembro de 2020. Seu castigo: não estrelou, como aconteceu nos últimos anos, a mensagem de “feliz natal” no instagram do Ministério da Saúde.

Em março deste ano, no primeiro discurso após a anulação pelo STF de sua condenação, o ex-presidente Lula havia cobrado: “Cadê o Zé Gotinha? O Bolsonaro mandou embora porque pensou que ele era petista”. A “resposta” do bolsonarismo foi justamente o Zé Gotinha miliciano postado pelo filho do presidente Eduardo.

O retorno triunfal do Zé Gotinha ao centro das campanhas de saúde públicas federais, coincide exatamente com a CPI da Pandemia. No dia 27 de abril de 2021, a CPI é instalada; dois dias depois, no dia 29 de abril, como se fosse um membro do governo, Zé Gotinha aparece ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recebendo as doses da vacina Pfeizer dos EUA, que chegaram no aeroporto, em Campinas.

Zé Gotinha em Campinas com Queiroga. Foto: Ailton de Freitas/MS

No dia 12 de maio deste ano, o Ministério da Saúde lança a nova campanha de conscientização e medidas preventivas contra a Covid-19, com a “família Gotinha” como protagonista. Um ano e três meses depois de a doença ter chegado a nosso país, o governo federal utiliza o personagem para disseminar medidas básicas de proteção, como usar máscara, praticar distanciamento social e higienizar as mãos.

Detalhe: a médica infectologista Luana Araújo que não foi empossada e ficou no governo por 10 dias aparece ao lado dos personagens, da ministra (conservadora) da Mulher, Damares Alves, e de Queiroga (quarto ministro da saúde dos militares), no dia do lançamento da campanha. No dia 2 de junho deste ano, apenas 20 dias depois, Luana faria um depoimento demolidor na CPI em que acusaria o Palácio do Planalto de não homologar sua contratação por ser contra o falso “tratamento precoce” preconizado pelo bloco militar na administração federal brasileira, sem evidência científica para tal.

Damares, Luana Araújo e Queiroga com a família Gotinha em maio/2021. Foto: Tony Winston/MS

Vídeos com a “família Gotinha” inundam agora as redes sociais do governo e o horário comercial dos principais canais de televisão. Cartazes com Zé Gotinha alertando para o uso de máscaras estão sendo espalhados país afora.

Mesmo que “acabe em pizza”, como muitos temem, a CPI da pandemia tem feito o governo federal se mexer em direção à ciência e tentar sair do ostracismo militar. A volta do Zé Gotinha à mídia oficial, após um ano de invisibilidade, indica que finalmente que o presidente vai colocar a vacinação dos brasileiros como prioridade, a ser conferido... Será que um dia será possível agradeçer aos senadores membros da Comissão do Genocídio? E ao Zé Gotinha, o que restará...

Reedição: Mazinho Vieira

Publicado na Revista Forum: 8 jun 2021

Fonte: https://revistaforum.com.br/blogs/socialistamorena/efeito-cpi-a-volta-triunfal-do-ze-gotinha-apos-um-ano-de-ostracismo/